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Boas Práticas, eficiência operacional e segurança dos profissionais

Boas Práticas no setor de refrigeração não se limitam apenas a aspectos técnicos, mas abrangem uma visão que incorpora formação profissional, inovação tecnológica, conformidade regulatória e responsabilidade ambiental

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O setor de HVAC-R, em especial o de Refrigeração e Ar-Condicionado (RAC), tem um papel-chave na proteção da Camada de Ozônio e na mitigação das mudanças climáticas. Um estudo recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, aponta que medidas-chave pode reduzir as emissões do setor em pelo menos 60% até 2050. No âmbito do Protocolo de Montreal, o Brasil elaborou o Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs – PBH, que contempla a estratégia de controle, redução e eliminação dos HCFCs por meio de ações apoiadas com recursos do Fundo Multilateral para implementação do Protocolo de Montreal.  Dentre essas ações estão os cursos de Boas Práticas de Refrigeração, que fazem parte do PBH – Projeto para o Setor de Serviços.

O PBH é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com implementação, em todo o Brasil, dos projetos para o Setor de Serviços, pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

Por meio do PBH, ao longo das Etapas I e II, com a implementação da GIZ, ocorreram diversas ações desde então, como cursos de Boas Práticas em Refrigeração em todo o país, conquistando resultados positivos, como mais de 16 mil técnicos capacitados em cursos de boas práticas, totalmente gratuitos, sobre instalação, manutenção e reparo de sistemas de refrigeração comercial e ar-condicionado de pequeno porte.

“Os módulos dos cursos de Boas Práticas em Refrigeração, que trazem as mais modernas técnicas da área (equipamentos e metodologia internacional), contemplam aulas teóricas (30%) e práticas (70%). A grande novidade neste ano é o início da capacitação de 1 mil profissionais para o uso seguro e eficiente dos fluidos naturais alternativos, tais como CO2 e HC-290, que não prejudicam a Camada de Ozônio e apresentam zero ou insignificante potencial de aquecimento global. No mês de abril, por exemplo, o PBH, ainda na Etapa II, lançou um novo curso no país, totalmente gratuito, para Treinamento e Capacitação no Uso Seguro de Fluidos Inflamáveis em Sistemas de Ar-Condicionado do tipo Split, que, inicialmente, irá capacitar 700 alunos em todo o país”, informa Stefanie von Heinemann, Consultora e Gerente de projetos da GIZ.

O novo curso sobre fluidos inflamáveis está disponível para inscrições em cinco escolas técnicas, de cinco estados, que contemplam as regiões geográficas do país: Centro Oeste (GO); Nordeste (RN); Norte (RO); Sudeste (SP); e Sul (PR):

– Escola Sesi Senai Toledo, em Toledo (PR);

– Escola Senai Oscar Rodrigues Alves, em São Paulo (SP);

– Escola Sesi Senai Jardim Colorado, em Goiânia (GO);

– Senai Centro de Excelência em Educação e Tecnologia Sebastião Camargo, em Porto Velho (RO).

– Centro de Tecnologias do Gás & Energias Renováveis (CTGAS-ER), em Natal (RN).

“Importante destacar que ainda na Etapa II do PBH está previsto o lançamento do novo curso de Capacitação e Treinamento do Uso Seguro de CO2 e de HC em Sistemas de Refrigeração Comercial. O lançamento desse curso, que demandou a construção de dois laboratórios no modelo mini supermercados (ETP em Curitiba-PR e SENAI RJ), acontecerá a partir de junho deste ano. Também destaco que na Etapa III do PBH, que se inicia em 2026, está prevista a continuidade dos cursos de Capacitação e Treinamento para a Contenção de Vazamentos e o Manejo Seguro de Fluidos Refrigerantes, incluindo o uso seguro de fluidos alternativos de baixo GWP. Serão capacitados na Etapa III mais 4 mil técnicos em sistemas de refrigeração comercial e mais 9 mil técnicos em sistemas de ar-condicionado split (projeto também a ser implementado pela GIZ)”, destaca Stefanie.

Capacitação contínua

Um dos pilares das Boas Práticas é a capacitação contínua. Profissionais certificados não apenas aumentam a eficiência das operações, mas também reduzem o impacto ambiental ao lidar de forma adequada com substâncias controladas. Com o avanço tecnológico, novos sistemas e fluidos refrigerantes mais eficientes e ecológicos estão sendo desenvolvidos. A introdução de compressores de última geração e a adoção de refrigerantes naturais como o R-290 são exemplos de como o setor está respondendo aos desafios ambientais. Empresas líderes, incentivadas por programas como o PBH, estão na vanguarda dessas inovações, contribuindo para um futuro mais sustentável. O SENAI, por exemplo, desempenha um papel importante oferecendo cursos especializados que cobrem desde o manejo seguro de fluidos refrigerantes até técnicas avançadas de manutenção preventiva.

“Para realizá-lo nas cinco escolas parceiras do PBH, aconteceram dois treinamentos. O primeiro ‘Treinamento dos Treinadores’ ocorreu em São Paulo, com a capacitação de 15 professores, e, na sequência, em Natal, foram treinados mais 12. Esses 27 instrutores têm toda a condição para ministrar esse curso, que é totalmente gratuito. As aulas desse novo curso são realizadas com toda segurança, utilizando equipamentos de ar-condicionado importados pela GIZ, e analisados e aprovados pela empresa líder mundial em certificação, a SGS, especialmente para esses treinamentos nas escolas parceiras do PBH”, diz Stefanie.

‘Treinamento dos Treinadores’ capacitou 15 professores da Escola SENAI Oscar Rodrigues Alves

“Essa capacitação, com carga horária de 40 horas, visa desenvolver competências relacionadas à instalação e manutenção de condicionadores de ar tipo split que utilizam fluidos inflamáveis, seguindo as normas ambientais e de segurança do trabalho. Essa iniciativa faz parte do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e implementado pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ)”, informa Mauro Airoldi, coordenador de atividades técnicas da Escola SENAI Oscar Rodrigues Alves, é um dos responsáveis pelos cursos de boas práticas de refrigeração. Ele destaca que os cursos são bem estruturados, com materiais de qualidade, e oferecem orientações que surpreendem até profissionais experientes.

No campo teórico, estão programados desde a introdução aos fluidos refrigerantes inflamáveis (R-290, R-32 e outros), até informações sobre riscos e precauções no manuseio, regulamentos, normas de segurança, procedimentos de instalação e recolhimento, ferramentas e equipamentos fundamentais, entre outros. Na parte de oficina, todo o aprendizado teórico é colocado em prática com novas instruções detalhadas, para fixar o conhecimento.

Maior desafio é o tempo

De acordo com Stefanie, na implantação dos cursos do PBH e no monitoramento das escolas parcerias, o maior desafio dos alunos é dispor de tempo para realizar o curso, devido aos compromissos de trabalho e família. Contudo, todos que vencem esse desafio, gostam muito, porque aprendem conceitos e técnicas que fazem a diferença no dia a dia e proporcionam crescimento pessoal e profissional.

Curso de Boas Práticas em Refrigeração capacitou mais de 16 mil técnicos

“As escolas parcerias recebem todo o apoio técnico e financeiro para formar seus alunos no novo curso. Esse apoio inclui, por exemplo, equipamentos e ferramentas importados (apoio na remodelação da oficina, para que esteja própria para uso de fluidos inflamáveis), manual com mais de 500 páginas com instruções e outros materiais didáticos. Todos os cursos do PBH, geralmente ministrados à noite ou aos sábados nas escolas, oferecem lanche para os alunos, também patrocinado pelo programa”.

Ela adianta que na Etapa III do PBH, “nós da GIZ, sob a coordenação do MMA, implementaremos para o PBH um Projeto Piloto de Qualificação, Certificação e Registro (QCR) de técnicos/as em RAC no Brasil. A capacitação é o caminho para evoluir pessoalmente e profissionalmente e, com certeza, trará benefícios para seus negócios, suas empresas e seus clientes”, conclui.

BITZER amplia linha de resfriadores de óleo

Tecnologia de defletores garante maior eficiência e reduz em mais de 40% os equivalentes de CO2 em relação à geração anterior.

A BITZER lançou a série OWD, nova linha de resfriadores de óleo resfriados a água, com capacidade de até 300 kW e tecnologia de defletores que melhoram a transferência de calor e a flexibilidade operacional.

Desenvolvida para os compressores de parafuso HS e OS da marca, a série OWD atende a diversos refrigerantes sintéticos, incluindo HFCs, misturas HFC-HFO, HFOs e hidrocarbonetos, e é compatível também com sistemas de outros fabricantes.

A linha é composta por 17 variantes, com configurações de 2 e 4 passagens. Os defletores de disco e rosca garantem distribuição uniforme do óleo, otimizam o fluxo, reduzem perda de pressão e aumentam a vida útil do equipamento. Segundo a BITZER, o design permite padrões simétricos de fluxo e ajuste no espaçamento dos defletores para melhor desempenho conforme o tamanho do resfriador.

Em relação à série anterior OW, a OWD reduz o espaço morto interno, aproveita melhor a superfície do tubo e eleva a densidade de potência, com redução de mais de 40% nos equivalentes de CO2. O sistema opera com temperaturas de óleo entre –20 °C e +150 °C, pressões de até 32 bar, e temperaturas da água entre –20 °C e +95 °C a 10 bar.

Certificada pelas normas CE-PED, SELO CML, BV e DNV, a série é indicada para bombas de calor, sistemas de baixa temperatura, uso marítimo e industrial, e pode trabalhar com água doce ou salgada.

A configuração pode ser feita pelo BITZER SOFTWARE, que seleciona o compressor ideal conforme as condições operacionais e calcula a capacidade necessária, além de permitir ajustes manuais e fornecer dados técnicos detalhados.

Perspectiva otimista para o setor de HVAC-R em 2025

Especialistas do setor preveem um crescimento acelerado em função de novas oportunidades de negócios, com destaque para soluções inovadoras e demandas específicas impulsionadas pelo mercado.

Com avanços tecnológicos, regulações ambientais mais rigorosas e a busca por eficiência energética, o setor de HVAC-R promete atravessar 2025 com crescimento significativo e abertura de novas oportunidades de negócios. O ano de 2025 já desponta como promissor para o mercado de aquecimento, ventilação, ar-condicionado e refrigeração, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, avanços tecnológicos e a crescente preocupação com a sustentabilidade.  Entidades como a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) e a Federação Internacional de Refrigeração (IIR) apontam que um dos grandes motores de crescimento para o setor será a adoção de soluções sustentáveis e a eficiência energética. De acordo com a ABRAVA, as vendas de equipamentos que utilizam fluidos refrigerantes naturais ou de baixo GWP (Potencial de Aquecimento Global) devem aumentar em até 25% em 2025. Há também uma expectativa de que novas legislações ambientais estimulem investimentos em equipamentos mais modernos e em projetos de retrofit, especialmente em sistemas industriais e comerciais, que ainda dependem de tecnologias antigas e menos eficientes.

A digitalização continua a transformar o setor de HVAC-R. Sistemas inteligentes de gerenciamento de energia, como a Internet das Coisas (IoT) e soluções em nuvem, estarão no centro dos novos negócios. Essas tecnologias permitem que empresas otimizem o desempenho de seus sistemas, reduzam custos operacionais e atendam aos requisitos de eficiência estipulados pelas normativas nacionais e internacionais. Estima-se que o segmento de controle inteligente de HVAC-R registre um crescimento anual composto (CAGR) de 8% até 2025, segundo um estudo recente da Allied Market Research.

Demanda por climatização

No mercado brasileiro, a venda de equipamentos para climatização residenciais também está em alta. Dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) indicam que a penetração do ar-condicionado em residências deve crescer 12% no próximo ano, reflexo de uma combinação entre aumento da renda disponível e programas de financiamento que facilitam a aquisição.

Walter Miyagi Corrêa, Fujitsu

Para 2025, a Fujitsu General do Brasil espera expandir sua atuação no mercado e investir em inovações tecnológicas, destacando-se pela eficiência energética e sustentabilidade de seus produtos. “A empresa planeja expandir o portfólio de produtos, com novas linhas e designs, sempre focados em tecnologia, qualidade e conforto. Em termos de negócios, a expectativa é incrementar ainda mais o market share e fortalecer nossa parceria juntos aos clientes e instaladores”, revela Walter Miyagi Corrêa, Gerente Nacional de Vendas da Fujitsu.

Por outro lado, o setor comercial prevê aumento na adoção de soluções completas, como sistemas de HVAC que combinam controle de qualidade do ar interno, eficiência energética e personalização para diferentes aplicações, incluindo hospitais, escolas e shopping centers.

Carlos Murano, Gree

A Gree projeta um crescimento de até 15% em 2025, ligado à evolução do portfólio da companhia, que foi atualizado em 2024 para incluir 100% de equipamentos com tecnologia inverter e gás R-32, uma escolha que visa alta eficiência energética e baixo impacto ambiental. “O R-32 é um fluido refrigerante que apresenta um potencial de aquecimento global 68% inferior ao R-410A, gás comumente utilizado no Brasil. Além disso, não causa danos à camada de ozônio, alinhando-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as crescentes demandas por soluções ecológicas no mercado”, destaca Carlos Murano, gerente executivo da Gree.

Sistemas sustentáveis

Especialista preveem que em 2025, espera-se que o setor de HVAC-R atinja cifras recordes, com previsão de que o mercado global ultrapasse a marca de US$ 300 bilhões. O Brasil, em particular, se destaca pela adoção de sistemas sustentáveis, como os que utilizam propano e CO2 como fluidos refrigerantes.

O setor de refrigeração apresentou um desempenho sólido em 2024, impulsionado pela crescente demanda por tecnologias sustentáveis e eficientes. Para 2025, as expectativas são ainda mais positivas, com o mercado se consolidando em torno de soluções inovadoras que combinam sustentabilidade e tecnologia.

Joana Canozzi, Copeland

“No Brasil projetamos um aumento na demanda por soluções eficientes e compactas que proporcionam baixo impacto ambiental, tais como as que oferecemos para aplicação de propano e CO2 ‚ principalmente para refrigeração comercial. A narrativa da transição energética continuará guiando nossas ações em 2025, com investimentos em tecnologias que promovam eficiência energética e sustentabilidade”, informa Joana Canozzi, Diretora de Serviços de Engenharia para América do Sul da Copeland.

Segundo a diretora da Copeland, 2025 será um ano promissor para o setor de HVAC-R, impulsionado pela inovação, sustentabilidade e transição energética. “A eficiência energética, redução de emissões e conectividade serão os pilares para atender às demandas globais por soluções mais responsáveis e tecnológicas e estamos trabalhando para esse crescimento”, acrescenta.

Já a Elgin está mais cautelosa. “O desempenho de refrigeração foi muito bom para a Elgin em 2024, especialmente no primeiro semestre, garantindo um crescimento por volta de 25% em relação ao ano anterior. O cenário atual do mercado sugere cautela nas decisões. No momento, o real está fortemente desvalorizado e isso pode acarretar algum arrefecimento do mercado. Mesmo assim, temos planos de crescimento relevante para 2025, assim como nos anos anteriores”, diz Omar Martins Aguilar, Diretor Comercial de Refrigeração da Elgin.

Omar Martins Aguilar, Elgin

Atualmente, o cenário econômico global se mostra muito desafiador, especialmente diante de tantos conflitos acontecendo ao redor do mundo, algo que sempre impacta a economia global. “Como o mercado de refrigeração usa muitos insumos adquiridos no mercado internacional, essas instabilidades econômicas afetam diretamente os custos de matéria prima. Estamos em fase adiantada de desenvolvimento de soluções para os produtos que ainda precisam de atualização, e já comercializamos em nosso portfólio diversos produtos que atendem essa demanda, como por exemplo a linha fracionária e as unidades inverter, que está em fase de lançamento. Mantemos uma postura otimista e seguiremos comprometidos com nosso trabalho firme e compromissado, com expectativas de mais um ano de sucesso e crescimento”, aponta o diretor da Elgin.

Capacitação e novos negócios

O setor também trabalha para capacitar mão de obra especializada. O Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), lançado recentemente, é um exemplo claro de como investimentos em qualificação podem fortalecer as empresas e expandir seus horizontes no mercado internacional, promovendo crescimento e geração de trabalho especializado.

Eventos e feiras poderão promover o desenvolvimento de parcerias e apresentação de inovações como a FEBRAVA 2025, que acontece em setembro, e consequentemente, um crescimento significativo. A expectativa é que esses encontros movimentem bilhões em novos contratos e coloquem o Brasil como referência internacional na implementação de tecnologias limpas e seguras no setor de HVAC-R.

Os desafios permanecem, como a falta de componentes no mercado e a necessidade de avançar em regulamentações locais. Ainda assim, o momento é de otimismo.

Práticas de eficiência e operação tornam frigoríficos mais sustentáveis

Nos últimos anos, práticas sustentáveis e soluções inovadoras no setor de HVAC-R têm transformado a forma como os frigoríficos brasileiros operam, promovendo uma abordagem mais ecológica para os processos de refrigeração e isolamento térmico. A adoção de novas tecnologias, sistemas de refrigeração mais eficientes e o uso de equipamentos e insumos sustentáveis têm sido fundamentais para minimizar as emissões de gases de efeito estufa, reduzir o consumo de energia e melhorar a eficiência geral das operações.

No Brasil, empresas de câmaras frigoríficas estão adotando soluções inovadoras para minimizar o impacto ambiental, desde a utilização de fluidos refrigerantes naturais, sistemas que ajustam a capacidade de refrigeração conforme a demanda, recuperação de calor, até aplicação de isolamento térmico sustentável, visando a economia de energia.

Na busca por frigoríficos mais sustentáveis, a adoção de fluidos refrigerantes naturais, como o dióxido de carbono (CO2) e a amônia (NH3) já é uma realidade. O CO2, por exemplo, é um refrigerante natural com GWP quase zero, o que reduz significativamente o impacto ambiental das operações de refrigeração. Além disso, sistemas de refrigeração com CO2 oferecem uma performance altamente eficiente em baixas temperaturas, sendo ideais para ambientes de armazenamento frigorífico, onde o controle rigoroso da temperatura é essencial. A Mebrafe, por exemplo, desenvolveu sistemas de cascata que combinam CO2 e amônia, aproveitando as melhores características de ambos os refrigerantes. Esses sistemas são ideias para aplicações de congelamento e reduzem a necessidade de grandes quantidades de energia, maximizando a eficiência. O uso combinado de fluidos naturais contribui para a redução do impacto ambiental e atende às regulamentações globais de redução de gases de efeito estufa.

Outra tecnologia sustentável que vem ganhando espaço nos frigoríficos é o uso de compressores inverter de alta eficiência, que ajustam a capacidade de operação de acordo com a demanda de refrigeração, economizando energia e reduzindo o desgaste dos equipamentos. Esse tipo de compressor pode ser integrado a sistemas de controle inteligentes, que monitoram as condições ambientais e ajustam automaticamente a potência necessária para manter a temperatura ideal, maximizando a eficiência energética.

JBS implementa sistemas de refrigeração com fluidos refrigerantes naturais como amônia (NH3) e CO2, e adota práticas de isolamento térmico eficiente

A São Rafael, por exemplo, indica câmaras frigoríficas modulares com sistema de compressores inverter de alta eficiência, operando de maneira mais econômica e sustentável. A eficiência energética também contribui para a diminuição das emissões de carbono, alinhando-se às metas ambientais globais.

Na mesma linha, a empresa afirma que a tecnologia de monitoramento remoto permite que os operadores acompanhem o desempenho dos equipamentos em tempo real, evitando falhas e melhorando a eficiência operacional. Essas câmaras frigoríficas ainda têm processo de montagem modular que minimiza o desperdício de materiais e reduz o impacto ambiental durante a construção.

Já a Thermoprol, por sua vez, aposta em sistemas de recuperação de calor que permitem aproveitar o calor residual gerado pelos sistemas de refrigeração e usá-lo em outros processos do frigorífico. O calor recuperado pode ser reutilizado para aquecer água ou ser aplicado em processos industriais, reduzindo a necessidade de energia externa. Essa solução diminui o desperdício de energia, tornando a operação do frigorífico mais sustentável e econômica.

O isolamento térmico também é fundamental para a sustentabilidade de sistemas frigoríficos. De acordo com Dânica, painéis isotérmicos feitos com materiais isolantes, como poliuretano (PUR) ou poliisocianurato (PIR), ajudam a reduzir a perda de energia. Além disso, os materiais usados nesses painéis são recicláveis e produzidos por meio de processos de baixo impacto ambiental.

Outra solução, segunda a empresa, são as telhas térmicas aplicadas nas coberturas dos frigoríficos, que evitam o aumento da temperatura interna devido à exposição solar. Essas telhas melhoram a eficiência térmica, mantendo o ambiente mais fresco e o esforço dos sistemas de refrigeração, o que resulta em menor consumo de energia.

Marfrig investe em câmaras frias operando com compressores inverter de alta eficiência e sistemas de congelamento

Exemplos de caso

O avanço em tecnologias sustentáveis, como o uso de fluidos refrigerantes naturais, sistemas de refrigeração eficientes e isolamento térmico, tem permitido que frigoríficos no Brasil operem de forma mais ecológica e eficiente. Empresas como JBS, Marfrig e Aurora Alimentos, lideram essas iniciativas, adotando práticas que ajudam a reduzir o impacto ambiental, melhorar a eficiência operacional e atender às demandas por sustentabilidade no setor alimentício.

A JBS tem investido em iniciativas de sustentabilidade e implementa sistemas de refrigeração com fluidos refrigerantes naturais, como o CO2, em diversas de suas plantas frigoríficas. Também possui projetos voltados para a recuperação de calor nos sistemas de refrigeração, utilizando o calor gerado no processo de resfriamento para outras operações, como aquecimento de água e ambientes. A empresa se comprometeu a neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa até 2040, o que envolve também a melhoria contínua de suas operações de refrigeração.

A Marfrig vem substituindo os refrigerantes sintéticos por fluidos refrigerantes naturais, como amônia (NH3) e CO2, e adota práticas de isolamento térmico eficiente, utilizando materiais avançados para minimizar as perdas de energia e maximizar a eficiência de suas câmaras frias e sistemas de congelamento em conformidade com as regulamentações ambientais. A empresa se comprometeu a reduzir emissões absolutas de gases do efeito estufa em 68% até o ano de 2035 e diminuir a intensidade das emissões de CO2 em 33% até 2035 e aumentar o uso de energia renovável de 27% para 100% até 2030.

Já a Aurora Alimentos tem feito esforços para modernizar suas plantas frigoríficas investido na implementação de refrigerantes naturais e em sistemas de refrigeração de alta eficiência. A empresa também se destaca por adotar práticas de economia circular, aproveitando o calor residual de seus sistemas de refrigeração para aquecimento de água e outros processos, reduzindo assim a dependência de fontes externas de energia e diminuindo suas emissões de carbono e a utilização de cavaco como fonte de biomassa, proveniente de florestas próprias de eucalipto. A empresa está comprometida em reduzir suas emissões de carbono em 20% até 2025.

Aurora Alimentos aproveita o calor residual de seus sistemas de refrigeração para aquecimento de água e outros processos

Processos eficientes de renovação do ar em sistemas de climatização

A exaustão e a pressurização são estratégias essenciais para manter a qualidade do ar em ambientes climatizados e devem ser projetadas de maneira equilibrada.

A renovação do ar em ambientes climatizados é essencial e obrigatória para garantir a qualidade do ar interior e preservar a saúde dos ocupantes. Em locais fechados, o ar tende a acumular poluentes, como gases nocivos, poeira, microrganismos e dióxido de carbono (CO2), especialmente em ambientes com alta circulação de pessoas. Sem uma renovação adequada, esses poluentes podem causar desconforto, irritações respiratórias e agravar doenças como alergias e problemas pulmonares. Além disso, o acúmulo de umidade favorece o crescimento de fungos, mofo e bactérias, o que compromete ainda mais a saúde e o bem-estar. Outro aspecto importante da renovação do ar é manter níveis adequados de oxigênio e evitar o aumento excessivo de CO2, que pode causar fadiga, dores de cabeça e dificuldade de concentração. Ao trazer ar externo tratado para o ambiente, evita-se também o “ar viciado”, criando um ambiente mais saudável e confortável. O processo de renovação do ar pode ser realizado de diversas maneiras, dependendo das características do ambiente e dos sistemas de climatização instalados.

Em sistemas de HVAC, o ar externo é captado e tratado antes de ser introduzido no ambiente interno. Esse tratamento envolve a filtragem de partículas, controle da umidade e, em alguns casos, a adição de calor ou frio para que o ar esteja dentro dos parâmetros de conforto antes de ser distribuído. Sua eficiência depende da taxa de renovação, que é medida em trocas de ar por hora (ACH – Air Changes per Hour). Essa taxa define quantas vezes o volume total de ar em um espaço é renovado em uma hora. Para ambientes fechados, como escritórios, shopping centers e residências, as normas recomendam uma taxa mínima de trocas por hora, que pode variar de 4 a 6, dependendo do uso e ocupação do local. Em locais como hospitais ou laboratórios, essa taxa pode ser ainda maior devido à necessidade de manter um ambiente estéril e livre de contaminantes. Além da troca de ar, o controle da qualidade do ar também envolve o monitoramento de gases nocivos, como o dióxido de carbono (CO2), compostos orgânicos voláteis (COVs) e outros poluentes através de sensores de CO2, que ajustam automaticamente a quantidade de ar renovado com base nos níveis de ocupação do ambiente. Esse tipo de sistema é conhecido como ventilação por demanda, pois adapta a renovação do ar conforme a necessidade, evitando o desperdício de energia.

Cesar Oliveira, Especialista em Desenvolvimento de Negócios da Century e Consultor da Projelmec

“A exaustão e a pressurização são estratégias essenciais para manter a qualidade do ar em ambientes climatizados. Elas devem ser projetadas de maneira equilibrada para garantir que o ar viciado seja removido eficientemente e o ar fresco seja introduzido de forma controlada. O resultado é um ambiente seguro, confortável e energeticamente eficiente, que favorece o bem-estar dos ocupantes e a longevidade dos sistemas HVAC. O mercado oferece uma gama de soluções tecnológicas para exaustão e pressurização de ambientes climatizados. Esses métodos e tecnologias são desenhados para proporcionar eficiência energética, redução de emissões de carbono, conforto dos ocupantes e otimização dos recursos naturais, ao mesmo tempo que garantem o cumprimento das normas ambientais e de saúde ocupacional”, informa Cesar Oliveira, Especialista em Desenvolvimento de Negócios da Century e Consultor da Projelmec.

Ele diz ainda que a implementação de sistemas eficazes de exaustão e pressurização traz diversos benefícios econômicos e ambientais, especialmente em ambientes climatizados e edificações comerciais ou industriais. “Esses sistemas desempenham um papel importante na manutenção da qualidade do ar interior e no controle de pressão dos ambientes, resultando em melhorias significativas tanto para a eficiência operacional quanto para a sustentabilidade. Neste sentido podemos destacar a redução de custos operacionais, menor desgaste de equipamentos, aumento da eficiência energética, valorização da propriedade, melhoria na qualidade do ar, redução das emissões de gases de efeito estufa, menor impacto no consumo de recursos e cumprimento de regulamentações ambientais”.

Maurilio Oliveira, Engenheiro de Aplicação e Novos Negócios da Multivac

Maurilio Oliveira, Engenheiro de Aplicação e Novos Negócios da Multivac, acrescenta que um sistema bem balanceado, onde a pressão de trabalho esteja condizente com a necessidade e, principalmente, com a vazão dentro dos reais limites necessários, seguramente, a carga térmica adicional é menor. Com isso, o próprio sistema de ar condicionado vai necessitar de menos potência para trabalhar. “Sem falar que as novas tecnologias de motores eletrônicos dos ventiladores para TAE (Tomada de Ar Exterior) propiciam a modulação do ventilador conforme a necessidade preestabelecida, respeitando as variações intrínsecas da própria vida útil do sistema. Se trabalharmos com um motor eletrônico, ele manterá a vazão constante através de leitura de CO2, por exemplo, necessitando de menos força no início da vida útil dos filtros (quando eles estão mais limpos, menos perda de carga) e aumentando progressivamente a potência. Temos que lembrar ainda, que o consumo de energia é relacionado a potência, que por sua vez é uma grandeza cúbica. Sendo assim, com redução exponencial no consumo, isso é muito importante ser considerado quando falamos de eficiência energética”.

Outro aspecto importante no processo de renovação do ar é o controle da umidade relativa. Manter a umidade entre 40% e 60% é indicado para evitar o crescimento de mofo, fungos e ácaros, que podem ser prejudiciais à saúde. O excesso de umidade pode causar problemas respiratórios e aumentar a proliferação de bactérias, enquanto a baixa umidade pode provocar ressecamento das vias respiratórias e desconforto.

Exaustor atua como insuflador de ar promovendo a dissipação de substâncias tóxicas e reduz o tempo de renovação do ar no ambiente

Exigências legais

A implementação de processos eficientes de renovação do ar em sistemas de climatização também está ligada às exigências legais. No Brasil, a NBR 16401, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que passou recentemente por atualizações importantes para se adequar às novas exigências de qualidade do ar interior, eficiência energética e conforto térmico em ambientes climatizados, foi dividida em três partes, priorizando os avanços tecnológicos e a necessidade de atender a padrões de sustentabilidade. Uma das atualizações mais significativas ocorreu na Parte 3, que trata a qualidade do ar interior. Foram reforçadas as exigências para a renovação do ar, com maiores cuidados em relação aos níveis de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes. A norma agora exige taxas mínimas de renovação de ar mais rigorosas em ambientes fechados, como escritórios e escolas, para garantir um nível adequado de oxigênio e minimizar o acúmulo de CO2 e outros compostos nocivos. Essa atualização foi motivada por uma preocupação crescente com a saúde, especialmente após a pandemia, destacando a importância de um bom controle de ventilação. A NBR 16401-3 ainda inclui novos parâmetros para a medição e monitoramento contínuo da qualidade do ar, promovendo o uso de sensores de CO2 e outros dispositivos inteligentes para ajustar automaticamente a ventilação conforme a necessidade. Esses sensores permitem uma ventilação baseada em demanda, o que otimiza o uso de energia, aumentando a eficiência do sistema.

Além disso, o Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC), regulamentado pela Lei 13.589/2018, prevê a obrigatoriedade de uma rotina de manutenção para garantir a eficiência dos sistemas de HVAC e a qualidade do ar nos ambientes climatizados. O PMOC exige a manutenção periódica de filtros, dutos e componentes do sistema de climatização para evitar a contaminação do ar e assegurar que a renovação do ar ocorra adequadamente, funcionando de forma eficiente e segura, protegendo a saúde pública em ambientes climatizados. Essas normas garantem que os ambientes climatizados mantenham um ar de boa qualidade, reduzindo riscos à saúde e promovendo o bem-estar dos ocupantes.

“A manutenção e operação de sistemas de exaustão e pressurização são essenciais para garantir a eficiência, segurança e qualidade do ar em diversos tipos de edificações e ambientes industriais. No entanto, esses sistemas apresentam desafios específicos que, quando não gerenciados corretamente, podem afetar o desempenho e aumentar os custos operacionais. Podemos mencionar alguns pontos tais como acúmulo de sujidade e partículas, desgaste de componentes mecânicos, falhas em sistemas de controle e sensores, desbalanço de pressão, variações nas condições de operação, controle de ruído, eficiência energética, conformidade com normas regulamentares e capacitação da equipe de manutenção. Atualmente, diversas tendências tecnológicas vêm sendo aplicadas para melhorar a eficiência dos sistemas de exaustão e pressurização, tanto em termos de desempenho quanto de sustentabilidade e exigências legais. Essas inovações visam otimizar o uso de energia, melhorar o controle da qualidade do ar e garantir o conforto e a segurança dos ocupantes como Sistemas de Automação e Controle Inteligente (BMS), Ventiladores de Alta Eficiência e Motores de Frequência Variável (VFD), recuperação de calor, sistemas de filtragem de alta eficiência (HEPA e filtros eletrostáticos), exaustão inteligente baseada em demanda, tecnologias de monitoramento remoto e Internet das Coisas (IoT), pressurização e exaustão com controle zonal, sistemas híbridos de ventilação natural e mecânica e uso de materiais sustentáveis e tecnologias de recuperação de energia”, explica Cesar.

Ventilador para tomada de ar exterior propicia a modulação conforme a necessidade preestabelecida

Processos eficientes

Com o avanço das tecnologias de HVAC, tornou-se possível realizar esse processo de forma mais eficiente, garantindo a troca adequada de ar, o controle da umidade e a eliminação de poluentes, tudo isso com menor consumo de energia e maior eficiência operacional.

“Existem estudos falando de um ganho de produtividade na ordem de 20%, apenas com uma boa qualidade do ar interior. Entendemos que uma boa forma de discutirmos sobre QAI seja através de uma reposição bem dimensionada. Quando falamos sobre TAE (Tomada de Ar Exterior) estamos falando dos diferentes fatores envolvendo essa boa qualidade de ar de reposição, como ponto de captação, que não pode estar próximo de sistemas de exaustão de sanitários, por exemplo; o tipo de filtragem, onde normas específicas tratam as diferentes classes de filtragens com base no tipo do ambiente, seja para um escritório e outra para um hospital; o cuidado com a quantidade de ar externo sendo insuflado no ambiente, com taxas preestabelecidas de ar de reposição que, inclusive com as novas revisões normativas, foram substituídas por taxas variáveis baseadas nos diferenciais de CO2 entre o ar de fora para o de dentro. Lembrando que o ar externo é mais quente e úmido, forçando assim o trabalho do sistema de refrigeração, que pode perder parte da eficiência se essas quantidades não forem bem ajustadas.

Trago essa reflexão para chegarmos no seguinte ponto: tão importante quanto uma boa TAE, é ter um bom sistema, com equipamentos de boa qualidade e dimensionamentos corretos através de um bom projeto de ar condicionado, mesmo em ambientes menores, como escritórios, clinicas, residências, etc.”, explica Maurílio.

Dentre os produtos desenvolvidos para processos de exaustão, o mercado com gabinetes para aplicações conforme a faixa de vazão necessária para cada sistema, caixa de filtragem com o motor centrífugo com balanceamento eletrônico e modulação conforme o diferencial de CO2 através do acoplamento de sensores; caixa de ventilação com múltiplos motores; filtragens e atenuação acústica.

Cesar chama a atenção para a instalação de sistemas de exaustão e pressurização em edificações, que deve seguir critérios técnicos e normas regulatórias específicas para garantir segurança, eficiência e conforto para os ocupantes, além de atender às exigências de saúde pública e sustentabilidade. “No Brasil e no mundo, essas normas variam conforme o tipo de edificação (residencial, comercial, industrial, etc.), mas há uma base comum de regulamentação voltada à qualidade do ar, controle de poluentes, eficiência energética, segurança e proteção contra incêndios. As normas que regulam projetos e implantações, além da NBR 16401, são NBR 14679 – Controle de Poluentes, NR-17 – Ergonomia, NBR 15575 – Desempenho de Edificações Habitacionais, ASHRAE 62.1 – Ventilation for Acceptable Indoor Air Quality, NBR 10844 – Sistemas de Ventilação e Exaustão, Instruções Normativas e Específicas para Controle de Incêndio (IT-08 e IT-13 – SP) e Norma NR-15 – Atividades e Operações Insalubres”, conclui Cesar.

Supermercados investem em sustentabilidade

A aplicação de fluidos refrigerantes combinada às novas tecnologias e práticas sustentáveis já são realidade em instalações de refrigeração comercial no Brasil.

A implementação de tecnologias que aumentam a eficiência energética é uma das principais estratégias de sustentabilidade adotadas por supermercados. A instalação de sistemas de refrigeração com fluidos refrigerantes naturais, compressores de alta eficiência, iluminação LED em toda a loja e o uso de sensores para controlar o consumo de energia são exemplos de como essas redes estão reduzindo o uso de eletricidade.

Em função de novas regulamentações e da maior conscientização ambiental, a utilização de fluidos refrigerantes naturais como propano (R-290) e CO2 (R-744), aliado as novas tecnologias em compressores, controles de capacidades e velocidade variável vem se tornando cada vez mais frequente, tanto em supermercados de grande e médio porte como em redes de atacarejo. O propano, por exemplo, indicado especialmente para sistemas de refrigeração em soluções de racks, resfriando o fluido secundário, no caso o propileno glicol, utilizado em equipamentos incorporados pode se tornar uma opção eficiente energeticamente e operacional.

“O desenvolvimento de novas tecnologias visa atender às demandas da Emenda de Kigali, além da busca pela eficiência energética. Fluidos refrigerantes de baixo GWP e controle de capacidade nos compressores são ações efetivas que trouxeram novas perspectivas e já é realidade em diversos supermercados. Temos projetos em operação que já usufruem deste tipo de aplicação”, informa Rogério Marson Rodrigues, gerente de engenharia da Eletrofrio.

Segundo Marson, a empresa oferece equipamentos HighPack, que são racks de refrigeração que operam tanto com propano como com CO2, resfriando um fluido secundário, proporcionado ao usuário final um ótimo retorno em termos de eficiência energética, quanto na redução de custos operacionais.

Rede Atacadão implementa sistemas de refrigeração com R-290 e compressores com tecnologia inverter

 

“São máquinas simples, de baixo custo, boa eficiência energética e reduzida carga de fluido refrigerante, ou seja, um conjunto de características consideradas estratégicas na análise de viabilidade de um projeto que busca atender às demandas atuais e futuras de um sistema de refrigeração para supermercados”, diz Marson.

Vários supermercados brasileiros estão adotando medidas eficientes em seus sistemas de refrigeração, combinado o R-290, especialmente devido às suas propriedades ecológicas e de eficiência energética. O Grupo Carrefour, em várias unidades de sua rede, tem investido em tecnologias sustentáveis, incluindo o uso de R-290 em seus sistemas de refrigeração para reduzir o impacto ambiental e melhorar a eficiência energética.

A Rede Atacadão é outro exemplo, em uma de suas lojas localizada na região metropolitana de Curitiba (PR), está implementando sistemas de refrigeração com R-290, buscando soluções mais sustentáveis e econômicas para suas unidades. O sistema de refrigeração integra um rack High Pack PRO composto por dois compressores com tecnologia Inverter operando a partir do R-290 no circuito primário (instalado na parte externa da loja) e resfriando o propileno glicol no circuito secundário, atendendo as médias temperaturas (entre 6°C a 10°C), resfriando balcões e expositores da loja.

“Conseguimos instalar um sistema com baixíssimo impacto ambiental, sem a utilização de fluidos sintéticos. Esse é o primeiro projeto com soluções de compressores com máxima eficiência que serão disponibilizados ao mercado a partir de outubro deste ano”, diz Marson.

Supermercado Verdemar, primeiro a adotar o CO2 em sua unidade em Nova Lima

Ele acrescenta que a combinação da tecnologia inverter com o propano oferece vantagens significativas, permite o ajuste contínuo da capacidade de refrigeração de acordo com a demanda, resultando em uma operação mais eficiente e econômica. O uso de propano, além de ser ambientalmente amigável, proporciona uma transferência de calor eficaz, o que se traduz em maior eficiência energética e menor consumo elétrico.

Já o CO2, utilizado há algum tempo em grandes instalações, principalmente em sistemas subcríticos em casas de máquinas remotas, conquistou supermercadistas como a Rede de Supermercados Verdemar de Belo Horizonte (MG). Primeira instalação na América a utilizar o CO2, há oito anos, os proprietários Alexandre Poni e Hallison Moreira, desde então vêm adotando medidas verdes.

“O caminho da sustentabilidade é algo que a gente quer levar na empresa como um todo. Quando se fala nisso, não é só a questão ecológica que tem que ser levada em conta, mas a econômica, reduzindo custos com a energia elétrica”, informam Poni e Moreira.

Primeiro projeto da Plotter & Racks em parceria com a Bitzer, a unidade localizada em Nova Lima, instalou o sistema Skyrack Breeze, que utiliza o dióxido de carbono (R-744) como fluido refrigerante. “Trata-se de um sistema de refrigeração em cascata que utiliza o CO2 como fluido refrigerante no estágio de baixa pressão com expansão direta para atender os equipamentos de congelados (câmaras e ilhas de congelados). Já nos equipamentos de resfriados, o propileno glicol é utilizado como fluido de transferência de calor num circuito bombeado que circula nos expositores e câmaras de resfriados”, explica Marcelo Merolli, diretor da Plotter & Racks.

Grupo Pão de Açúcar investe em certificação verde, como o LEED ofertado pelo GBC Brasil

Com esse sistema, o Supermercado Verdemar se destacou como um exemplo de pioneirismo na utilização de tecnologias verdes no setor de varejo, aliando responsabilidade ambiental com eficiência energética e operacional.

O Grupo GPA (Pão de Açúcar), por exemplo, é um dos que têm investido em lojas que operam com menor impacto energético, buscando certificações como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedido pelo Green Building Council Brasil.

A adoção de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, também é uma estratégia importante entre os supermercados que buscam a sustentabilidade. A Rede Assaí já utiliza energia solar em algumas de suas unidades, diminuindo os custos operacionais e o impacto ambiental, instalando painéis solares em suas lojas, contribuindo para a redução das emissões de carbono.

Rede Assaí já utiliza energia solar em algumas de suas unidades, instalando painéis fotovoltaicos

Retorno do investimento

Impulsionadas por uma combinação de benefícios econômicos, ambientais e de conformidade com regulamentações, a adoção de soluções sustentáveis por supermercadistas traz uma série de vantagens que vão além da sustentabilidade, impactando diretamente a operação e a imagem das empresas.

Segundo a Associação Paulista de Supermercados (APAS), o investimento em tecnologias sustentáveis por parte de supermercados tem se mostrado uma estratégia altamente vantajosa, tanto em termos econômicos quanto no fortalecimento da marca reputação os consumidores. Embora possa exigir um aporte inicial considerável, o retorno desse investimento (ROI) vem de diversas frentes, incluindo a redução dos custos operacionais, aumento da eficiência energética e valorização da marca.

“Tecnologias sustentáveis, como sistemas de refrigeração que utilizam fluidos naturais, iluminação LED, painéis solares e automação no controle de consumo de energia, resultam em economia significativa nas despesas operacionais. A eficiência energética gerada por esses sistemas reduz o consumo de eletricidade, que é uma das maiores despesas em supermercados. Por exemplo, a substituição de lâmpadas convencionais por LEDs pode reduzir o consumo de energia em até 75%, e os sistemas de refrigeração com fluidos naturais, como o R-290 e o CO2, tendem a operar com maior eficiência, gerando economia de até 30% nos custos energéticos”, informa Marcelo Souza, Coordenador de Operações de Loja da Associação Paulista de Supermercados.

Dentre os benefícios, podemos destacar a alta eficiência energética em aplicações com CO2 e propano, onde os sistemas de refrigeração conseguem operar com maior desempenho utilizando menos energia. A longo prazo, essa eficiência resulta em economia significativa nas contas de eletricidade, impactando positivamente os custos operacionais dos supermercados. Além da economia de energia, costumam ter maior durabilidade e exigem menos manutenção, estabilidade térmica e confiabilidade, otimizando o orçamento de operações de refrigeração.

“Supermercadistas que optam por esses sistemas se posicionam como pioneiros em inovação tecnológica, mostrando liderança no setor e promovendo um ambiente de negócios dinâmico e adaptado às demandas do futuro. As práticas sustentáveis, como o uso de refrigerantes naturais, a eficiência energética, a redução de resíduos e o apoio a produtores locais, não apenas reduzem o impacto ambiental, mas também trazem benefícios econômicos para as empresas, onde investir em sustentabilidade tornou-se uma estratégia essencial para o sucesso a longo prazo no setor supermercadista”, conclui Souza.

Avanços e incentivos na aplicação de fluidos refrigerantes naturais

Brasil alinha sua política de refrigeração, promovendo a transição para tecnologias mais ecológicas na utilização de fluidos naturais.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado avanços significativos na adoção de fluidos refrigerantes naturais, impulsionados por preocupações ambientais e regulamentações mais rigorosas. Esses refrigerantes, como o CO2 (dióxido de carbono), amônia (NH3), e hidrocarbonetos, têm ganhado destaque devido ao seu baixo impacto ambiental e alta eficiência energética. O CO2, por exemplo, tem sido amplamente utilizado em sistemas de refrigeração comercial e industrial devido à sua capacidade de atuar como um refrigerante eficaz em diversas condições de temperatura e pressão. Além disso, sua pegada de carbono reduzida o torna uma escolha atraente para empresas comprometidas com a sustentabilidade.

A amônia também, especialmente em aplicações industriais de grande porte, devido ao seu alto desempenho térmico e baixo custo operacional. Apesar de ser inflamável em concentrações específicas, seu uso é seguro quando aplicado corretamente e em conformidade com as normas de segurança.

Os hidrocarbonetos, como propano e isobutano, têm sido adotados em sistemas menores, como em refrigeradores domésticos e comerciais devido à sua excelente eficiência energética e compatibilidade ambiental. A tecnologia de compressores e componentes de sistemas foi desenvolvida para garantir o desempenho seguro desses refrigerantes em diferentes aplicações.

Tecnologias disponíveis

“Em nosso país, temos tido bons avanços nas aplicações de fluidos refrigerantes naturais tanto para aplicações comerciais quanto para aplicações industriais de refrigeração. O CO2 já é uma realidade, iniciada há 15 anos, e o propano (R-290) caminha a passos largos para ser uma referência nos novos projetos, principalmente como fluido primário em sistemas subcríticos em cascata com CO2 e propilenoglicol. A amônia dispensa apresentação e justificativas, uma vez que é um fluido centenário, que apresenta alto rendimento e baixo custo, porém, sua particular característica de toxicidade a faz limitada em certas aplicações e regiões”, informa Marcos Euzébio, engenheiro de aplicação da Bitzer Brasil.

Marcos Euzébio, engenheiro de aplicação da Bitzer

Todas as aplicações mencionadas já estão presentes em nosso país. Os três fluidos naturais como Amônia, CO2 e Propano (R-290) são realidade presente. “Sistemas tradicionais aplicados com amônia a 100% estão sendo redesenhados para condição híbrida em regime subcrítico com CO2, reduzindo a carga de amônia bruscamente e elevando a performance e segurança. Sistemas com CO2 em regime subcrítico e transcrítico se expandiram no mercado nacional devido a maior qualificação da mão de obra e disponibilidade interna de componentes. A Bitzer, por exemplo, disponibiliza compressores para propano, CO2 e amônia. Componentes constituintes dos circuitos também são encontrados no Brasil. Mão de obra qualificada sem dúvida é indispensável e fator determinante para a expansão dessas tecnologias em nosso mercado, bem como importante é a fiscalização e valorização dessa mão de obra empregada para a operação desses equipamentos”, comenta Euzebio.

 

Trazendo à tona as soluções inovadoras em fluidos refrigerantes naturais de baixo impacto ambiental e máxima eficiência, incluindo a sua aplicação, segurança das instalações, manutenção e operação, disponibilidade e normatização, Joana Canozzi, diretora de serviços de engenharia da Copeland, destaca vários pilares para discussão quanto as tendências na aplicação de fluido com baixo impacto ambiental: “Não existe ainda uma verdadeira solução, e sim, seguir as premissas de cada empresa elaborando sua estratégia de acordo com as necessidades do usuário final em diferentes situações. Hoje, tanto o fabricante quanto o OEM (Original Equipment Manufacturer ou Fabricante Original do Equipamento) podem dar um norte ao cliente final direcionando-o de acordo com a sua estratégia. No cenário nacional, acredito que ainda estamos buscando entender os diferentes nichos, sem uma definição clara de qual fluido entrará para a lista do mais utilizado, e sim, na necessidade de cada instalação. Já existe uma antecipação na transição dos fluidos refrigerantes de baixo impacto ambiental e disponibilidade de tecnologias. A Copeland dispõe do que há de mais moderno e inovador em termos de tecnologia como as aplicações de menor GWP com fluidos naturais (CO2 e Propano) como compressores Scroll de velocidade variável para máxima eficiência para operar com propano e soluções integradas”.

Ela acrescenta que o time de engenharia procura dar suporte ao cliente, além da decisão do GWP, incluindo na sua linha decisória, também, questões relevantes como equilibrar custos, disponibilidade de mão de obra, e de produto, guiando o usuário final em termos de conhecimento.

Joana Canozzi, diretora de serviços de engenharia da Copeland

“Acredito que o próprio mercado vai definir esse caminho através da demanda de aplicações. E ainda temos as questões das normatizações, e neste ponto, vejo o papel proativo de entidades nacionais para a regulamentação de normas brasileiras, acompanhando o que está definido na Europa e EUA. Neste momento, temos por missão promover esse debate e discussão, conciliando tecnologias por Região, ou seja, nem tudo que é aplicado em outros países será bom no Brasil, considerando fatores como eficiência, GWP e clima”, destaca Joana.

Incentivos e regulamentações

No contexto internacional, o Protocolo de Montreal e suas emendas, como a Emenda de Kigali, incentivam a redução progressiva do uso de HFCs, estimulando a adoção de alternativas de baixo GWP. O Brasil, como signatário desses acordos, tem buscado alinhar sua política de refrigeração com essas diretrizes, promovendo a transição para tecnologias mais ecológicas. O governo brasileiro, por meio de programas e políticas de eficiência energética e sustentabilidade, tem criado incentivos para a adoção de tecnologias que utilizam fluidos refrigerantes naturais. Além disso, parcerias com o setor privado e organizações internacionais têm sido fundamentais para a promoção de pesquisas e a implementação de projetos-piloto no país.

Desde o primeiro Programa Brasileiro de eliminação de CFC e, agora, no Programa Brasileiro de eliminação de HCFC, entidades e empresas vem contribuindo e acompanhando os esforços nacionais para proteção da camada de ozônio e seus impactos sobre o setor HVAC-R. A recente aprovação dos recursos para Etapa III do PBH é o reconhecimento dos esforços de todos e uma importante notícia para o setor, que será beneficamente afetado através de ações de proteção da camada de ozônio que receberam em junho de 2024, aporte de US$ 36,5 milhões.

Renato Cesquini, diretor de Meio Ambiente da Abrava

“Na semana em que mundialmente se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente (05 de junho), é muito encorajador receber a notícia deste significante aporte financeiro, que vai beneficiar o mercado na busca de inovação tecnológica para substituição dos HCFCs. Isto permitirá que o Brasil siga o legado de sucesso de estar sempre à frente na implementação do programa”, destaca Renato Cesquini, diretor de Meio Ambiente da Abrava.

A Etapa III do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH) foi anunciada em 27/05/2024, durante a 94ª Reunião do Comitê Executivo do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal – FML, que ocorreu em Montreal, Canadá. Essa é a última etapa do PBH e conta com recursos da ordem de US$ 36,5 milhões de dólares para apoiar o país a alcançar a meta de eliminar em 100% o consumo de HCFCs até 2030.

Além da efetiva contribuição para proteger a camada de ozônio, com a implementação da Etapa III, o Brasil evitará a emissão de mais de 19,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente para a atmosfera, trazendo efeitos benéficos para o regime climático global.

Estratégias

A estratégia para a Etapa III do PBH tem como o objetivo promover o uso seguro e eficiente de fluidos refrigerantes alternativos que não destruam a camada de ozônio, de baixo GWP e que proporcionem maior eficiência energética,  implementando projetos voltados para treinamento de diferentes níveis de profissionais que atuam no setor de serviços, bem como prestação de assistência técnica para a execução de projetos demonstrativos com potencial de serem reproduzidos nos setores abordados, evitando conversões transitórias. As atividades aprovadas se complementam e serão executadas em consonância e estreita colaboração entre a entidade coordenadora, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e as três agências implementadoras, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), agência implementadora líder, Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

Exemplo de aplicação

A Swift, alinhada com o compromisso da JBS em zerar o balanço das suas emissões de gases de 03até 2040, realizou a troca de equipamentos frigoríficos para modelos mais sustentáveis que consomem menos energia e utilizam gases que reduzem o impacto na camada de ozônio. A tecnologia fornecida utiliza o propano (R-290), selecionado devido ao seu baixo GWP. “O conjunto dessas iniciativas acarretou na redução de 65% do Impacto de Aquecimento Equivalente Total (Total Equivalent Warming Impact – TEWI) que expressa o impacto de um sistema de refrigeração combinando seu efeito direto e indireto no aquecimento global”, explica Airton Peres, gerente de engenharia e inovações da Swift. O monitoramento remoto dos equipamentos calcula a eficiência energética e atua diretamente na máquina se ela apresentar algum tipo de problema. Além de garantir a qualidade dos produtos da marca, isto evita o deslocamento humano até a loja.

Legislação impulsiona inovação no setor de HVAC-R

Para a Qualidade do Ar Interior (QAI), a legislação tem sido um divisor de águas

As prioridades legislativas que impactam a indústria de HVAC-R estão cada vez mais focadas em sustentabilidade, eficiência energética e segurança. As mudanças nas regulamentações influenciam diretamente a forma como a indústria opera, desde a fabricação de equipamentos até o seu uso e manutenção. A recente atualização regulatória na qualidade do ar interno nos ambientes de uso público e coletivo no Brasil, foi decretada a partir de 25 de julho de 2024, através da Resolução 09 da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que estabelecia os Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, foi substituída pela NBR 17037 – Qualidade do Ar Interior em ambientes não residenciais climatizados artificialmente – Padrões referenciais. Entre os pontos de mudança, está limite da concentração de Dióxido de Carbono – CO2. O valor máximo aceitável deixa de ser um valor fixo de 1.000 ppm (partes por milhão) e passa a ser 700 ppm acima do valor medido no ambiente externo.

“Para a Qualidade do Ar Interior (QAI), a legislação existente tem sido um divisor de águas. Desde a criação da Portaria 3.523/98 pelo Ministério da Saúde, colocou em evidência a importância dos sistemas de climatização para a saúde e bem-estar das pessoas. Os sistemas de ar-condicionado começam a ser percebidos como elementos que vão além do conforto térmico, mas na melhoria da qualidade do ar dentro dos ambientes fechados, tornando-se um grande aliado para a saúde dos usuários”, informa Leonardo Cozac, presidente do Brasindoor (Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade do Ar de Interiores).

Leonardo Cozac presidente da Brasindoor e CEO da Conforlab

Assim como a Resolução 09 de 2003 foi uma atualização da Resolução 176 de 2001, agora a sociedade brasileira dispõe de uma nova regulamentação. Essas alterações visam a modernização da legislação nacional de acordo com a evolução tecnológica e conhecimento da sociedade adquirido ao longo dos anos e embora as novas regulamentações possam aumentar os custos de produção inicialmente, elas também incentivam a criação de produtos mais avançados, que podem oferecer uma vantagem competitiva no mercado, como por exemplo, a necessidade de conformidade com normas de segurança e manuseio de novos refrigerantes que requer um foco maior na capacitação profissional, criando uma demanda por técnicos especializados.

Dentre os avanços legislativos conquistados pelo setor de HVAC-R, Cozac cita a PEC 07/2021– Proposta de Emenda à Constituição da Senadora Mara Gabrili, que garante o direito qualidade do ar entre os direitos garantias fundamentais da Constituição, especialmente em ambientes internos. Já na cidade de São Paulo está sendo discutida a votação em 2º turno de Projeto de Lei 110/2012 do ex-vereador Gilberto Natalini, que está sendo revisado pelo vereador Eliseu Grabriel, que trata o plano municipal de qualidade do ar interno, um projeto pioneiro que pode colocar a cidade de São Paulo na vanguarda do tema.

“Meu mandato tem feito discussões com especialistas do setor da Qualidade do Ar Interno visando a formulação de uma Política Municipal da Qualidade do Ar Interno, por meio da elaboração de um Substitutivo ao Projeto de Lei (PL) 110/2012.  Estamos focados na conclusão da proposta do Substitutivo ao PL 110/2012, que já será um avanço muito importante para melhorar a saúde do cidadão paulistano. Como São Paulo é referência, acredito que o que for feito aqui poderá se ampliar para o Brasil inteiro. Temos um projeto aprovado em primeira votação na Câmara Municipal. No entanto, para colocarmos em segunda (e definitiva) votação é preciso adequá-lo aos pontos observados pelo Executivo na tramitação do projeto. Com base nisso, com este grupo qualificado, estamos concluindo o trabalho de reformulação deste projeto, para propor um Substitutivo e, a seguir, reiniciarmos a conversa com os setores responsáveis na prefeitura para poder fazer os ajustes necessários para colocar o PL para segunda votação, sem correr o risco de ter vetos do prefeito. Aprovar este projeto criará a Política Municipal da Qualidade do Ar Interno, um passo muito importante para a cidade e a saúde da população”, informa o vereador por São Paulo, Eliseu Gabriel.

Ele acrescenta ainda que as principais normas técnicas (ABNT – NBR 17.037, 16.401-3, 16.000-40) que orientam o setor são boas, porém, a legislação precisa se adequar, para atendê-las, incorporando a necessidade de garantir o monitoramento, controle e melhoria da qualidade do ar interno nas edificações públicas e privadas.

Eliseu Grabriel, vereador por São Paulo

”Acho fundamental que todos os interessados e especialistas colaborem no processo de construção das políticas públicas. Eu sempre convido os grupos para colaborarem quando me proponho a fazer um projeto de lei. Meu foco é ouvir as demandas do setor e avaliar o que pode beneficiar o cidadão e a cidade de São Paulo. Mas, já adianto, a equipe multidisciplinar que está conosco na construção desse projeto para a cidade tem os conhecimentos necessários das melhores tecnologias e práticas. Nela, há empresas, engenheiros, membros dos conselhos nacionais, como o CREA, integrantes de academias (das melhores universidades do país), como também estrangeiros. É muito bom construir um projeto dessa importância com uma equipe tão qualificada. Estamos atentos às mudanças no clima e, a priori, a nossa iniciativa é a única que conheço, considerando que a piora da qualidade do ar externo e as ondas de calor extremo farão com que cada vez mais as pessoas precisem ficar em ambientes fechados e climatizados e, por isso, é fundamental a regulação para garantir a boa qualidade do ar interno. É para isso que estamos trabalhando”, comenta Eliseu.

Arnaldo Basile, presidente executivo da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) destaca o trabalho da senadora Mara Gabrilli, uma grande colaboradora dos avanços legislativos para o setor de HVAC-R, mobilizando dezenas de seus pares nesse sentido: “Por esse motivo, foi homenageada na Noite do Pinguim em 2022. Não podemos nos esquecer também das assertivas atuações parlamentares dos Deputados Estaduais Arnaldo Faria de Sá e Adalberto Freitas, que foram decisivas para a promulgação da Lei Federal 13.589/18, que regulamenta o PMOC (Plano de Manutenção, Operação e Controle). Questões relacionadas com a Qualidade do Ar de Interiores tem sido tratada de maneira proativa desde a ocorrência da pandemia da Covid-19. A interlocução que a Abrava mantém com esses parlamentares tem propiciado notória exposição do Setor de HVAC-R para a sociedade civil”, informa Basile.

Indústria competitiva

À medida que as regulamentações se tornam mais rigorosas, centradas na sustentabilidade, eficiência energética, segurança e gestão de resíduos, a indústria de HVAC-R precisa adaptar-se, investindo em inovação, treinamento e novas tecnologias para permanecer competitiva e em conformidade com as exigências legais. Essas mudanças legislativas, embora desafiadoras, também representam oportunidades para o setor se tornar mais sustentável e eficiente no longo prazo.

Arnaldo Basile, presidente executivo da Abrava

“A missão da Abrava é incentivar o desenvolvimento tecnológico e competitivo do setor defendendo os legítimos interesses empresariais, legais, tecnológicos, mercadológicos e normativos. Representa as empresas e profissionais do setor, e visa promover e incentivar de maneira confiável a criação correta de ambientes internos climatizados, sistemas e processos de refrigeração, aquecimento e ventilação por meio do uso responsável de tecnologias e das boas práticas de engenharia. A reforma tributária tramitada recentemente na Câmara dos Deputados, por exemplo, provocará efeitos distintos nas atividades operacionais, administrativas e fiscais de todas as empresas do HVAC-R. O setor manufatureiro (indústria) interpreta que deverá sofrer menor impacto, com tendências de até poder usufruir de alguma redução na carga tributária. O mesmo não ocorrerá no setor prestação de serviços. Com base nesses princípios, em 2018, a Abrava passou a integrar o Grupo “Entidades Do Mesmo Lado”, conduzido pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), que atua de maneira coordenada para desenvolver soluções que promovam um ambiente de negócios mais saudável, fortalecendo a relação com o poder público para que as demandas do setor e setores afins sejam atendidas, aumentando a competitividade, gerando riqueza e empregos de forma sustentável. Esse Grupo tem trabalhado ativamente junto aos Parlamentares da Câmara dos Deputados e Senadores para que a reforma tributária seja neutra e que não gere aumento no custo dos serviços nos setores direta e indiretamente atuantes na cadeia da construção civil.  O segmento do ar-condicionado e climatização é um dos mais importantes nessa cadeia”, destaca Basile.

Outro Grupo de Trabalho é o liderado pela CEBRASSE, Central Brasileira de Segurança e Serviços, da qual é membro associada. Esse GT esteve reunido recentemente com a Deputada Estadual por SP, Renata Abreu, para elaborar um PL mais adequado à realidade do Setor de Serviços, identificado como o mais afetado pela reforma tributária.

Embora as legislações voltadas para a qualidade do ar interior têm sido um grande motor para a inovação no setor, Cozac acredita que o estado brasileiro ainda não tem uma agenda pautada no QAI: “Entendem a importância do tema, porém não está entre as prioridades. Na ausência do estado, a sociedade se organizou e criou o PNQAI (Plano Nacional da Qualidade do Ar Interno) para conduzir o tema no país. Composto atualmente por mais de 45 organizações aderentes, tem um plano de ação baseado em iniciativas com objetivo principal de informar a população a cuidar do ar que respiram”.

Já as tecnologias desenvolvidas, não apenas cumprem as exigências mandatórias, mas também contribuem para a criação de ambientes internos mais saudáveis e sustentáveis. À medida que as regulações continuam a evoluir, espera-se que novas soluções tecnológicas surjam para atender às necessidades de saúde e bem-estar das populações.

Cozac destaca novas tecnologias como o peróxido de hidrogênio, lavadores de ar e lâmpadas UVCs. “São tecnologias que devem ser aplicadas juntamente com os tradicionais e conhecidos filtros de ar para a remoção de impurezas do ar. Sistemas de monitoramento online também tem ganhado importância, com custos mais acessíveis e produtos mais confiáveis e que atendem requisitos de normas e legislações vigentes”.

ABNT redefine padrões para qualidade do ar em ambientes climatizados

Entrou em vigor a NBR 17037, uma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estabelece novos padrões para a qualidade do ar interior em ambientes não residenciais climatizados artificialmente. A nova norma substitui a Resolução 09, de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que até então regulava os parâmetros para a qualidade do ar em espaços públicos e coletivos.

A mudança está em conformidade com o disposto na Lei Federal 13.589/2018, que determina que os padrões de qualidade do ar interior, incluindo temperatura, umidade, velocidade do ar, taxa de renovação e grau de pureza, sejam regulados tanto pela resolução da ANVISA quanto pelas normas técnicas da ABNT.

Entre as principais alterações introduzidas pela NBR 17037, destacam-se:

O limite de concentração de dióxido de carbono (CO2) deixa de ser fixo em 1.000 ppm e passa a ser de 700 ppm acima do valor medido no ambiente externo.

A avaliação de partículas em suspensão PM10 e PM2,5 substitui a antiga análise de aerodispersóides, com limites de concentração de 50 μg/m³ e 25 μg/m³, respectivamente.

O valor máximo aceitável para a velocidade do ar foi reduzido de 0,25 m/s para 0,20 m/s.

A temperatura e a umidade relativa do ar agora têm limites definidos entre 21 a 26°C e 35 a 65%, independentemente da estação do ano.

A norma também exige a realização de pelo menos uma amostra de ar externo no mesmo período da avaliação interna para considerar as variações climáticas ao longo do dia.

As análises de qualidade do ar devem ser realizadas por laboratórios acreditados conforme a ABNT NBR ISO/IEC 17025, que assegurem a existência de um sistema de gestão da qualidade.

Além das análises semestrais, é necessário implementar um programa de gestão da qualidade do ar interno conforme a ISO 16000-40.