Capa da Revista do Frio edição de fevereiro 2018

Atualização de infraestrutura tecnológica reaquece mercado de data centers

A receita do mercado de serviços de data centers na América Latina atingiu US$ 2,87 bilhões em 2016. Esse valor vai quase dobrar nos próximos anos, chegando a US$ 4,37 bilhões em 2021. A projeção é da consultoria Frost & Sullivan.

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Data Center em um ambiente climatizado

Embora o Brasil detenha quase 50% de participação neste setor no continente, o mercado interno sofreu forte retração nos últimos dois anos.

Apesar do cenário econômico e político ainda incerto, diversas empresas já estão levantando custos para ampliação ou execução de novos data centers, segundo o presidente da Star Center, Edson Alves.

Tais obras, em sua avaliação, deverão ser liberadas assim que houver maior segurança econômica e política no País.

Especializada em instalação, manutenção e retrofit de sistemas de missão crítica, a companhia brasileira foi a responsável pela climatização do Data Center Bovespa, que possui certificação TIER III, e do Data Center Santander, uma obra premiada pelo capítulo brasileiro da Smacna.

Com nove mil servidores virtualizados, o data center do Santander foi o primeiro da América Latina a receber a certificação TIER IV, que reconhece, em grau máximo, as condições de infraestrutura e segurança do projeto e das instalações.

Construído em um terreno de 800 mil metros quadrados, com investimento total de R$ 1,1 bilhão, o Santander Brasil inaugurou em abril de 2014, em Campinas (SP), o data center que concentrou todo o processamento e armazenamento de dados do banco.

O data center triplicou o espaço físico das instalações que abrigam os equipamentos responsáveis pelo processamento e armazenagem de dados do banco.

As instalações têm capacidade de armazenamento superior a cinco petabytes (equivalente a cinco milhões de gigabytes) em storage virtualizado, e o mainframe – principal computador do banco – pode realizar, em média, 210 milhões de transações por dia.

Com as máquinas, o banco diminuiu em cerca de 30% as emissões de carbono correspondentes às atividades de processamento de dados, o que equivale a menos 3,6 mil toneladas de CO2 .

Os geradores de energia são livres de baterias de chumbo e o sistema de refrigeração por condensação a ar dispensa o uso de água.

A climatização é garantida por chillers com compressores magnéticos, cujos rotores flutuam – giram sem tocar nos mancais –, eliminando o atrito das peças e, consequentemente, o consumo de energia, o ruído e a necessidade de uso de lubrificantes.

E o sistema free cooling permite que, à noite, o ar mais frio do exterior das instalações seja utilizado em substituição ao refrigerado.

Segundo o Santander, a eficiência energética, medida em PUE, melhorou 28% em relação à estrutura antiga e está em um nível 15% superior à média do mercado brasileiro.

O indicador compara o total de energia gasta no complexo com o consumo dos equipamentos que fazem o processamento dos dados. O ideal é estar o mais próximo possível de 1. O data center do Santander está em 1,53 – o que equivale a dizer que, para cada 1 W de energia fornecido ao hardware de TI, mais 0,53 W é consumido em refrigeração para abastecer o restante das instalações.

 

Expectativas positivas

Com a retomada lenta e gradual do crescimento econômico, as expectativas em relação ao futuro do mercado de missão crítica também melhoram para empresas do setor como a Mecalor. Sombra de executivo no fundo dados gerados por data centers

Enfim, o avanço do uso da internet no País, do comércio eletrônico e da digitalização das empresas incentiva a demanda por servidores.

“Esperamos que algumas tendências tecnológicas, como IoT, computação em nuvem compartilhada, Big Data e Indústria 4.0 demandem maior quantidade de consultas, além da necessidade de capacitação e crescimento deste mercado”, diz o diretor comercial da empresa brasileira, Marcelo Zimmaro.

Ao longo de sua história, a companhia acumulou uma lista extensa de clientes em diversos setores da indústria, comércio e serviços do País, tendo como referências mais recentes para climatização de data centers projetos como o da General Motors e o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, além do projeto realizado para a empresa americana HostDime, que incluiu forne-cimento de climatizadores de precisão de alta capacidade customizados, toda a infraestrutura hidráulica e chillers de alta precisão e eficiência energética.

“A Mecalor se orgulha de estar sempre na vanguarda do mercado oferecendo em seus produtos o que há de melhor e mais recente em tecnologia para soluções de engenharia térmica”, destaca Zimmaro.

Especificamente na linha de climatização de data centers, a empresa oferece equipamentos do tipo self contained, fan coils e splits de precisão voltados a atender diferentes projetos e necessidades dos clientes, utilizando componentes de mercado com alta eficiência e garantia de excelência na fabricação.

“Como exemplos, temos a adoção de materiais como aço inoxidável e tratamentos específicos para as pinturas de determinadas estruturas de equipamentos, o uso de compressores scroll fixos e variáveis com modulação precisa de capacidade, motores de alta eficiência energética, refrigerante ecológico R-410A e condensadores tipo microcanal, que são fabricados totalmente em alumínio e  garantem maior resistência à corrosão, reduzindo entre 30% e 50% a carga necessária de fluido refrigerante no sistema”, explica.

A Mecalor também oferece ao cliente todo o suporte necessário para o selecionamento correto e customização do equipamento conforme necessidades do projeto, mantendo a assistência técnica especializada a postos para atendimento dos chamados em regime de missão crítica.

 

Gestão de carga térmica

A miniaturização e a concentração de muitos servidores em um mesmo rack nos projetos de data centers causa variação extrema nos fluxos de ar quente ao longo de seus corredores.

“Os racks de baixa densidade criam pontos de maior e menor calor latente. Em alguns casos, a saída de ar quente não fica uniforme, causando perda de rendimento do sistema de climatização”, explica o diretor comercial da Setfrio Engenharia, Vandic Rocha, lembrando que a gestão da carga térmica é o ponto mais crítico para o funcionamento adequado de um data center.

“Somado a isso, em comissionamentos realizados por nossa empresa, constantemente verificamos fugas de ar frio pelos dutos (insuflamento por duto em cima do forro e pelo piso) em projetos já em funcionamento”, diz.

“Somente com ajustes nesses pontos de fugas, podemos reduzir as perdas entre 15% e 30%. Com ajustes nos controladores de temperatura e umidade, conseguimos entre 10% e 15%. E com a implantação de automação remota ativa, não somente passiva, conseguimos de 10% a 15% mais”, afirma.

“Há casos de conseguirmos 35% de eficiência somente com uma dessas ações”, acrescenta.

Para o executivo, as principais tendências tecnológicas no setor são corredores quentes e frios em pontos de maior densidade, utilização do calor proveniente dos condensadores para uso em chiller de adsorção ou absorsão, serpentinas frias conjugadas aos racks e automação ativa.

De acordo com o empresário, uma otimização realizada pela companhia fluminense nas instalações da LIQ no Rio de Janeiro proporcionou excelentes resultados para o grupo de contact center que nasceu da fusão da Contax e da Ability e atende clientes como Claro, Oi, TIM e Vivo.

“Dentro da premissa de busca por eficiência térmica e energética que perseguimos continuamente, mesmo numa instalação antiga, com um projeto de melhoria bem ajustado e uma empresa parceira excelente, chegou-se a um resultado acima da expectativa no projeto do CPD Mauá”, afirma o coordenador de infraestrutura da LIQ, Mário Meireles.

“Buscamos constantemente oportunidades de redução do consumo de energia em nossos prédios. A separação dos corredores quente e frio do CPD, seguida do balanceamento de ar de acordo com a carga de cada corredor, trouxe economia de energia e eliminou os temidos bolsões de ar dentro dos CPDs, proporcionando maior confiabilidade na operação do ambiente”, diz o engenheiro mecânico Arthur Moura, da LIQ.

Segundo Vandic Rocha, o mercado de data centers deverá registrar dois dígitos de crescimento a partir deste ano, depois da queda brusca sofrida em 2015 e 2016

“Moedas virtuais irão exigir cada vez mais servidores. Inclusive, há muitos casos de data centers sendo criados somente para a mineração desses ativos virtuais”, diz o executivo.

Para ele, a miniaturização de servidores e o aumento do custo de energia deverão impulsionar a demanda por equipamentos mais eficientes e instalações mais otimizadas nos próximos anos.

 

Calor de bitcoins ajuda na produção de alimentos

Bruce Hardy, um empreendedor da província de Manitoba, no Canadá, conseguiu reutilizar o calor gerado por sua plataforma de mineração de bitcoins para produzir plantas comestíveis e peixes que são compatíveis com as temperaturas do aparato tecnológico exigido pela famosa criptomoeda.

Hardy possui e opera 30 equipamentos de mineração, que estão posicionados em um prédio de 20 mil metros quadrados localizado no município de St. Francois Xavier.

O calor produzido pelos aparelhos, que realizam cálculos matemáticos complexos para solucionar equações criptográficas, circula por todo o edifício e é usado para cultivar plantas e peixes comestíveis.

Aproximadamente 800 trutas árticas da espécie Salvelinus alpinus, um peixe semelhante ao salmão, são criadas em um grande aquário localizado no primeiro andar do prédio.

A água em que são criadas torna-se altamente rica em nitratos e, portanto, constitui um excelente fertilizante de plantas. Ao apertar um simples botão, Hardy é capaz de bombear remotamente a água rica em nitratos para alimentar os pés de alface, o manjericão e a forragem de cevada germinada que é cultivada em um sistema de hidroponia no andar acima do peixe.

Hardy é também o presidente do Grupo Myera – uma empresa que busca desenvolver sistemas inovadores e sustentáveis para a produção de alimentos.

A empresa ainda está na fase inicial dos estudos sobre o calor gerado pela mineração de bitcoins. Um quarto do segundo andar está cheio de computadores e plantas, mas Hardy planeja ocupar todo o local no futuro.

Ele trabalha com bitcoins há aproximadamente dois anos. Depois de tentar investir em um sistema de ar condicionado de grande escala para arrefecer o equipamento de mineração, percebeu que o calor produzido pela mineração poderia ser desviado para ser usado na produção agrícola, aumentando o leque de negócios.

Diante dessa inovação, pesquisadores australianos e investidores chineses já mostraram interesse na atividade sustentável da empresa.