Transição para A2L nos splits exige preparo técnico e combate à desinformação
Os refrigerantes A2L ganham protagonismo nos sistemas split, combinando eficiência energética e menor impacto ambiental. Sua aplicação, no entanto, exige atenção técnica, conformidade com normas e adoção de boas práticas para garantir segurança e desempenho
A transição para refrigerantes de baixo impacto ambiental é uma realidade no setor de HVAC-R, especialmente nos sistemas split de ar-condicionado. Entre os novos fluidos que vêm ganhando espaço, os classificados como A2L merecem atenção especial. Com menor potencial de aquecimento global (GWP), esses refrigerantes equilibram eficiência energética e sustentabilidade, mas exigem cuidados específicos quanto à instalação, manutenção e segurança.
Para muitos técnicos e consumidores, o termo “A2L” ainda é uma novidade e, infelizmente, alvo de desinformação em redes sociais e fóruns não especializados. Nesta matéria, reunimos informações técnicas, recomendações práticas e depoimentos de especialistas e fabricantes para esclarecer o que são os A2L, porque estão substituindo fluidos como o R-410A e como garantir uma instalação segura e eficiente.
Segundo a classificação da ASHRAE Standard 34, os refrigerantes são categorizados de acordo com sua inflamabilidade e toxicidade. Os A2L são levemente inflamáveis (classe 2L) e de baixa toxicidade (classe A). Diferem dos A2 e A3 por terem uma inflamabilidade significativamente menor e serem considerados seguros quando utilizados conforme normas técnicas. O R-32, por exemplo, já é adotado extensivamente em splits em países da Europa e Ásia.
“O A2L, como o R-32, está se tornando o novo padrão nos sistemas splits porque combina eficiência energética com um GWP muito mais baixo do que o R-410A. Temos em nosso portfólio produtos realmente inovadores, como fluidos refrigerantes que otimizam a performance energética dos sistemas de refrigeração e ar-condicionado e reduzem o impacto climático dos negócios dos nossos clientes”, explica Renato Cesquini, líder da área comercial de fluidos refrigerantes da Chemours na América. “O R-32, por exemplo, tem GWP de 675, comparado aos 2.088 do R-410A”.
Além do R-32, outros exemplos de A2L incluem o R-454B, o R-1234yf e outros HFOs usados em diversas aplicações. Esses fluidos estão alinhados com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil na Emenda de Kigali, que visa à redução gradual do uso de HFCs com alto GWP. A Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal exige que países reduzam o uso de HFCs de alto GWP e os A2L se apresentam como solução eficaz. São refrigerantes com pressão operacional compatível com os sistemas split tradicionais, o que facilita a adoção sem reengenharia completa. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, somente entre 2020 e 2022 foi estabelecida a linha base para HFCs, buscando cortar 50% até 2040 e 80% até 2045.
Normas técnicas e diretrizes de segurança
Normas como ISO 5149, ABNT NBR 16069, ASHRAE 15 e ASHRAE 34 regulam os requisitos de segurança para manuseio, instalação e operação de A2L. Entre os principais pontos estão a limitação da carga de fluido por ambiente fechado, instalações com ventilação adequada, detectores de vazamento específicos para A2L, e uso de equipamentos certificados para fluidos levemente inflamáveis.
Natanael Oliveira Lima, diretor técnico da RLX Fluidos Refrigerantes, afirma que “Não se trata de um risco novo e descontrolado, mas sim de um cenário técnico que exige capacitação. Há décadas se trabalha com fluidos inflamáveis no setor e, com os A2L, temos segurança desde que os protocolos sejam seguidos. Contudo, como qualquer inovação, esses refrigerantes exigem atenção às normas técnicas. A ISO 5149, a ABNT NBR 16069 e a própria ASHRAE 15 abordam os critérios de segurança para instalações com fluidos levemente inflamáveis. Entre os pontos críticos estão a limitação da carga máxima de fluido por ambiente, sistemas de ventilação apropriados e detectores de vazamento em espaços confinados”.
Instalação, manutenção e boas práticas com A2L
A instalação de sistemas com refrigerantes A2L não é radicalmente diferente das rotinas já adotadas pelos profissionais qualificados, mas existem algumas recomendações como: evitar fontes de ignição no ambiente durante a instalação e manutenção; utilizar ferramentas certificadas e adequadas a fluidos inflamáveis (bombas de vácuo, manifolds, detectores); realizar testes de estanqueidade rigorosos com detectores específicos para A2L; ventilar o ambiente adequadamente, principalmente em locais fechados ou abaixo do nível do solo.
Para os profissionais que atuam na linha de frente, é fundamental investir em capacitação contínua. “O técnico que busca atualização está preparado para lidar com A2L com total segurança e pode até se destacar em um mercado cada vez mais exigente e regulado”, afirma André Dorta, gerente regional da divisão de fluidos refrigerantes da Honeywell. E ele faz um alerta: “Atualmente, no Brasil, não existe uma legislação federal específica que imponha limites obrigatórios de carga ou aplicação para o uso de refrigerantes A2L (como o R-32) em sistemas de ar-condicionado split. Porém, existem normas técnicas nacionais e internacionais que servem como base de orientação para projetos, instalações e segurança”.
Combate à desinformação: o perigo dos tutoriais não oficiais
Apesar dos avanços técnicos, cresce nas redes sociais uma onda de vídeos e postagens que espalham desinformação sobre os refrigerantes A2L. De tutoriais sem qualquer respaldo técnico a boatos alarmistas sobre riscos de explosão, o que se vê é um desserviço à categoria dos instaladores sérios e às empresas comprometidas com a qualidade.
Os fabricantes alertam: confiar em vídeos de procedência duvidosa pode comprometer a segurança da instalação e expor o profissional a riscos legais. A recomendação é buscar informações apenas em fontes reconhecidas, como: Associações técnicas; documentação oficial de fabricantes; cursos profissionalizantes com instrutores certificados; Normas da ABNT e manuais de boas práticas.
Além disso, a responsabilidade é também dos distribuidores e revendedores, que devem orientar corretamente seus clientes e oferecer produtos com especificações claras e atualizadas.
Com a evolução regulatória, a demanda por soluções mais sustentáveis deve crescer. A migração para refrigerantes A2L em sistemas splits já é realidade em países da Europa e da Ásia, e o Brasil caminha para seguir o mesmo rumo, especialmente com a chegada de novos modelos e linhas de fabricantes que já adotam esses fluidos como padrão. A fase de transição exige diálogo entre indústria, instaladores, técnicos e entidades de classe. Com treinamento, boas práticas e informação técnica, os A2Ls representam um avanço positivo, seguro e necessário para o setor.