Qualificação não só eleva a qualidade dos serviços, mas também promove a segurança
Profissionais de HVAC-R devem estar atentos as tendências e inovações tecnológicas e se prepararem para adquirir as habilidades para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades futuras
À medida que enfrentamos desafios cada vez maiores relacionados ao aquecimento global e à adaptação às condições climáticas, a importância da formação em HVAC-R nunca foi tão evidente. O calor crescente dos últimos anos aliado as inovações tecnológicas nesta área têm impulsionado uma busca significativa por conhecimentos especializados nesse campo, destacando a necessidade de profissionais qualificados serem capazes de instalar e manter sistemas de climatização e refrigeração eficientes.
Investir na formação em HVAC-R não apenas promove conhecimento, mas também representa maior segurança para técnicos ao manusearem esses sistemas, adequando-se cada vez mais as novas tecnologias e fluidos refrigerantes mais sustentáveis.
“A qualidade da mão de obra especializada desempenha um papel fundamental na eficiência e na segurança dos serviços prestados na área de refrigeração e climatização. Profissionais bem treinados e qualificados são capazes de realizar instalações, manutenções e reparos de forma precisa e eficaz, garantindo o funcionamento adequado dos sistemas de refrigeração. Além disso, sua expertise reduz o risco de falhas ou danos, promovendo um ambiente mais seguro para os usuários e prolongando a vida útil dos equipamentos. Qualificar os profissionais de refrigeração não só eleva a qualidade dos serviços prestados, mas também promove a segurança, a eficiência energética e o cuidado com o meio ambiente, contribuindo para um futuro mais sustentável e confortável para todos”, enfatiza o Prof. Dr. Alexandre F. Santos, diretor do Grupo ETP que engloba a FAPRO (Faculdade Profissional, ETP (Escola Técnica Profissional) e ETP Processos Tecnológicos.
Segundo o professor, com a crescente preocupação com a sustentabilidade, os desafios estão intimamente ligados à capacidade de adaptação aos fluidos refrigerantes naturais e à integração da inteligência artificial, agregando mais valor aos serviços que oferecem. Devido ao notável aumento nas vendas de sistemas Split, é evidente que os profissionais que ingressam nesse mercado estão ansiosos por progresso. No entanto, muitas vezes, eles se aventuram nesse campo sem o devido preparo, o que apresenta um desafio significativo para o mercado de trabalho.
“No Brasil, existem excelentes escolas de refrigeração, tanto presenciais quanto online (EAD). No entanto, é inegável que, devido à necessidade e à demanda do mercado, a principal fonte de conhecimento para a maioria é a participação em treinamentos oferecidos por empresas autorizadas e a experiência prática adquirida no campo. Posteriormente, os treinamentos fornecidos por escolas renomadas de refrigeração contribuem significativamente para a formação profissional. Além disso, é importante destacar o papel das transmissões ao vivo realizadas em diversos grupos do YouTube, Facebook e outras mídias sociais. Apesar dos desafios, o Brasil se destaca como um exemplo de união digital, onde profissionais compartilham conhecimentos e experiências, enriquecendo ainda mais o cenário da refrigeração no país”, diz Santos.
Execução de serviços
Adalberto Neto, diretor e instrutor da RN Cursos Profissionalizantes, acrescenta que o setor se encontra no melhor momento, considerando os pré-requisitos para obter as certificações e que os treinamentos realizados podem contribuir para a qualidade da mão de obra e segurança do profissional.
“Estamos no melhor momento para o setor em termos de acesso à informação, seja diretamente com o fabricante através de canais a disposição do profissional, ou mesmo os canais que se encontram disponíveis em plataformas digitais e que podem ajudar bastante o instalador. Então, buscar as informações no lugar certo é a forma mais rápida do profissional estar atualizado. Porém, muitos instaladores não querem investir tempo em qualificação pensando que será prejuízo financeiro ou mesmo não buscam acessar o conteúdo que irá qualificá-lo. A frase de Larisse Ribeiro ‘A prática leva a perfeição e o erro à excelência’ é verdadeira! Embora o conteúdo teórico seja extremamente necessário, em nossa área é preciso obter experiência prática para adquirir habilidade e realizar a atividade de forma rápida e com qualidade. Em um dos milhares de atendimento em campo nesses últimos 21 anos de experiência, me deparei com um sistema de água gelada que estava reduzindo capacidade de refrigeração e os ambientes não estavam climatizados, como esse sistema é automatizado, existem válvulas de controle que podem apresentar falhas e não aparentar erro no funcionamento. Então, tive que verificar de forma manual através de instrumentos como termômetros e termo anemômetros e então constatei que um atuador da válvula 3 vias apresentava algum tipo de avaria e estava sem controle. Solicitamos a substituição do atuador e foi resolvido”, explica Neto.
Ele diz que a aplicação do conhecimento se faz a todo o momento: “Em nossa área de atuação não teremos chances reais de evolução sem a aplicação do conhecimento. Somos o braço da engenharia, os engenheiros criam e desenvolvem o equipamento e nós teremos que validar o projeto em campo. Então, a aplicação do conhecimento técnico é diária. Quando me deparo com um problema já tenho que debruçar sobre o funcionamento e listar as possíveis causas que levaria aos sintomas apresentados e iniciar testes até chegar no defeito e diagnosticar. Recorro aos manuais técnicos, em seguida procuro os canais de suporte do fabricante. Quando existe tempo para capacitação, faço treinamentos específicos com o fabricante. Para executar um serviço de excelência, é necessário ter conhecimento sobre o equipamento e ter boas ferramentas. Depois adotar boas práticas na execução se baseando na NBR 16655, NR10, NR35 entre outras que normatizam nossa atividade. É necessário também ter aptidão para o aprendizado, procurar atualização em novas tecnologias aplicadas em novos equipamentos e saber gerir sua conduta profissional, e por fim, ter uma boa gestão empresarial”, orienta Neto.
Educação continuada
A educação continuada desempenha um papel vital na formação de profissionais completos e verdadeiramente educados. Embora os treinamentos não regulamentados forneçam uma base de conhecimento, é a educação continuada por meio de cursos regulares que permite aos profissionais ampliarem seus horizontes e desenvolverem habilidades além do básico, essencial para capacitar os profissionais não apenas a realizar tarefas técnicas, mas também para compreender aspectos mais amplos do trabalho, como elaboração de relatórios técnicos, laudos, memorandos descritivos, compreensão de data books de obras, elaboração de memorandos de cálculo, além dos fundamentos da metodologia científica.
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“Além disso, a formação contínua ajuda os profissionais a expandirem seus conhecimentos além do que é fornecido pelos fabricantes, permitindo que adquiram uma compreensão mais profunda e abrangente da área. Isso é especialmente importante em campos como a refrigeração e a climatização, que estão intimamente ligados a conceitos matemáticos e análise de dados. Ao investir em educação continuada, os profissionais não apenas melhoram suas habilidades técnicas, mas também desenvolvem uma mentalidade mais aberta e crítica, permitindo-lhes transformar dados em informações significativas e, por fim, em conhecimento acionável. Essa abordagem mais ampla e integrada é fundamental para impulsionar a excelência profissional e promover avanços significativos na indústria de refrigeração e climatização”, revela Santos.
Tendências
Tanto a inteligência artificial (IA) quanto a Internet das Coisas (IoT) estão se tornando cada vez mais presentes no cotidiano dos profissionais da área de refrigeração e climatização como ferramentas que visam integrar os produtos às necessidades em tempo real dos clientes.
“Portanto, é fundamental que esses avanços sejam incluídos nos currículos de ensino dos profissionais da área. Isso significa que os programas de formação devem abordar não apenas os conceitos tradicionais de refrigeração e climatização, mas também as aplicações práticas e o uso de tecnologias emergentes, como IA e IoT. Ao integrar essas tecnologias nos currículos de ensino, os profissionais serão capazes de compreender e utilizar de forma eficaz os sistemas de refrigeração e climatização mais avançados disponíveis no mercado. Isso não apenas os preparará para atender às demandas dos clientes, mas também os ajudará a se manterem atualizados em um campo em constante evolução. Em resumo, a incorporação da IA e da IoT no aprendizado dos profissionais é essencial para garantir a excelência e a relevância da indústria de refrigeração e climatização no futuro”, orienta Santos.
Além da qualificação técnica, ele acrescenta que as empresas estão cada vez mais valorizando habilidades comportamentais e éticas nos profissionais de refrigeração. Ter um profissional tecnicamente competente é importante, mas não é suficiente se ele não possuir habilidades como pontualidade, controle emocional, resiliência, independência, atitude positiva, ética e honestidade.
A desinformação
A desinformação entre técnicos em HVAC-R é um problema sério que não apenas compromete a eficiência dos sistemas, mas também representa uma ameaça à segurança pública e ao meio ambiente. Dois exemplos de casos emblemáticos como o trágico incidente do Ninho do Urubu e a morte envolvendo um instalador, destacam as consequências da má educação profissional nesse campo. Em 2019, o incêndio no centro de treinamento do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, resultou na morte de 10 jovens jogadores e ferimentos em outros três. A tragédia ressalta a importância crítica de técnicos qualificados em HVAC-R, capazes de projetar, instalar e manter sistemas de forma segura e eficiente. Mais recentemente, um instalador de ar condicionado faleceu enquanto realizava uma instalação. Este trágico incidente destaca a importância de medidas rigorosas de segurança e treinamento adequado.
Torna-se urgente investir em programas de treinamento de alta qualidade, padronização de práticas e fiscalização eficaz para garantir a segurança e a sustentabilidade dos sistemas de climatização. Somente assim podemos evitar futuras tragédias e proteger vidas enquanto avançamos em direção a um setor mais seguro e responsável.