Mercofrio reaquece debate

Vistoso e muito bem organizado, no entender de boa parte dos seus expositores e visitantes, o 5º Mercofrio — nome do gênero masculino por referir-se a um evento composto por Feira e Congresso -, apresentou resultados que muitos consideram aquém do que se poderia esperar de uma iniciativa bienal, realizada numa região de reconhecida importância econômica e já em sua quinta edição.
Independentemente do que viu no Centro de Eventos da Fiergs, de 17 a 20 de outubro, o diretor de Distribuição da Trane do Brasil, Manoel Gameiro, tem uma opinião formada sobre as causas de tal paradoxo: “o mercado nacional não comporta o volume de feiras que nós temos”, avalia.
Esse raciocínio ele afirma compartilhar com um grupo crescente no setor, a começar pela empresa aonde trabalha desde 1985, e que resolver não participar da Climario, em maio último, tampouco da recém-realizada Expo Construção, na capital baiana, além de estar refletindo sobre a sua presença na Febrava do ano que vem.
“Precisamos encontrar um novo modelo de atuação nesse campo”, diz Gameiro, ressalvando que a presença da Trane no Mercofrio teve razões muito específicas, ligadas ao que ele resume como “operação forte no Sul”.
Alternativas
A saída, segundo o profissional, talvez seja o lançamento de uma grande feira itinerante, a ser realizada com intervalo de 3 ou 4 anos em substituição aos vários eventos regionais de hoje, pensamento que ele afirma vir ganhando força no setor.
“Mesmo assim, vale a pena considerar que até a Ashuare, nos Estados Unidos, já ressente a ausência de importantes fabricantes do setor a cada edição, e olhe que o mercado deles é bem maior que o nosso”, pondera.
Além dos altos custos exigidos para se expor, ele aponta como agravante o fato de que não imperar na área a cultura de feiras verdadeiramente de negócios, mas sim institucionais. “Nós, infelizmente, não temos conseguido fazer com que clientes como arquitetos e usuários finais nos visitem num encontro desse tipo. Quem sabe, um dia ainda, exerceremos sobre o público em geral a mesma atratividade que as feiras de automóveis, celulares e videogames. Por enquanto, porém, ainda não somos um sonho de consumo”, lamenta.
Já os congressos paralelos, como o realizado durante o próprio Mercofrio, e para o qual sua empresa trouxe o coordenador de engenharia de aplicação nos EUA, Mick Schwedler, para falar sobre edifícios verdes, ele vê com outros olhos. “Normalmente esses eventos, de cunho eminentemente, técnico trazem para a comunidade científica o que existe de realmente novo na área em âmbito internacional”, justifica.
Na mesma linha, Jovelino Vanzin, da Frioterm, não esconde de ninguém a restrição que tem quanto a feiras regionais. “Ainda não vi alguma coisa do gênero funcionar bem no Brasil”, diz ele. “Mas se for necessário fazer, como muitos argumentam, três dias são mais do que suficientes, acrescenta , tomando como parâmetro as grandes feiras realizadas no Japão, China e Estados Unidos.
A exemplo de Gameiro, Jovelino não relaciona seu parecer propriamente ao Mercofrio, onde ficou satisfeito pelo público recebido. “Fomos privilegiados por mostrar um produto diferenciado, o multi-system Inverter, e também porque entramos de cabeça no mercado do Sul neste ano”, explica.
Outro a defender a necessidade de uma mudança de rumo urgente é Alvacyr Leão, da Invensys. Segundo o gerente de Vendas da empresa, eventos regionais precisam ser diferentes. “Devemos criar salões para levar às várias regiões do País as novidades do setor e palestras técnicas. Esse tipo de ação poderá ser feito em um único dia, o custo será muito menor e os quatro cantos do País serão bem informados”, analisa.
Ao contrário daqueles que, mesmo questionando o modelo atual das feiras do setor saíram sorridentes do Mercofrio, Leão reclama do movimento registrado. “A organização para a realização da Feira foi boa, porém a divulgação não”, diz ele, ao comentar o pequeno número de técnicos, especificadores e até mesmo escolas que recebeu em seu estande. “Houve muito investimento para pouco retorno”, constata.
Até mesmo as palestras realizadas pela Invensys ele acredita que poderiam estar mais movimentadas, caso as datas e horários tivessem sido confirmadas com maior antecedência por parte da organização, permitindo assim que a própria empresa arrebanhasse maior número de participantes.
Mas para Gilmar Pedro Bampi, da Perfilisa Indústria de Plásticos de Engenharia, o volume de público é uma questão relativa num evento como o Mercofrio. “Nós vendemos de indústria para indústria e temos que diferenciar muito bem o que é volume de pessoal e perspectiva de negócios”. E o diretor industrial explica: “participamos de outra feira e, hipoteticamente, atendemos 2 mil pessoas, mas identifico apenas 100 com possibilidade de negócios. Aqui, se eu atender 200 pessoas, tenho certeza de que terei boas possibilidades com pelo menos 150 delas”, estima.
Arnaldo Basile Jr., da Armacell, também não duvida da qualidade do público do evento. “E não nos surpreendemos com esse fato, pois o alto nível profissional encontrado nas empresas da região já é há muito conhecido. Fomos visitados por projetistas, instaladores, clientes finais, tanto da região quanto de outros estados que prestigiaram o evento. Consideramos excelentes todos os contatos recebidos”, assegura o diretor Comercial.
Mesmo assim, ele admite que seu estande estava preparado e estruturado para receber um público maior. “Em contrapartida, tivemos mais tempo para dedicar aos amigos e clientes que nos visitaram”, ressalva.
De uma forma geral, no entanto, Basile Jr acredita que os profissionais do setor não se incomodariam com uma redução para 3 ou até mesmo 2 dias, a exemplo do que já ocorre nas feiras internacionais. “Isso propiciará reduções de custos aos expositores, o que – de uma maneira direta ou indireta – acabará por beneficiar a todo o mercado”, prevê.
Dias e horários
A ausência de alguns grandes fabricantes, principalmente da refrigeração foi outro aspecto do 5º Mercofrio lembrado por visitantes e expositores.
Os refrigeristas também poderiam ter comparecido em maior número, na visão de muitos.
Foi o caso de Adão Webber Lumertz, diretor da portoalegrense Capital Refrigeração, conhecida revenda local de peças e componentes para HVAC-R, que, a exemplo de outro forte nome do comércio local, a Frigelar, teve seu estande lotado a maior parte do tempo.
“O resultado foi bom, mas poderia ser melhor”, pondera Adão, engrossando o coro dos que acham que três dias seriam suficientes para um evento do gênero. Principalmente, se o horário fosse das 16h00 às 22h00, e não das 14h00 às 21h00. “Muitos não podem se ausentar de suas empresas durante o dia”, argumenta Adão, lembrando que uma mudança assim, combinada à extensão do Mercofrio para o sábado, faria com que os mecânicos de refrigeração visitassem a Feira e Congresso sem correria.
André de Oliveira, da Vulkan do Brasil, concorda com essa análise e estende sua validade para quem trabalha por conta. “Muitos instaladores e autônomos deixam de vir no meio da semana porque simplesmente deixariam de ganhar se largassem o serviço para visitar uma Feira”, pondera,
Como exemplo de sucesso dessa fórmula, o supervisor Técnico Comercial aponta um evento do setor automotivo do qual tomou parte no começo de outubro. “Foi de sexta a domingo e teve um movimento excepcional”, recorda-se.
Mas no entender da promotora da Feira, a Hannover Fairs Sulamerica, dificilmente algo sim acontecerá com o Mercofrio. “Feiras que funcionam nos finais de semana, geralmente são aquelas visitadas pelo grande público, e não eventos profissionais como este”, sentencia a assistente de (?) ———-, Priscila Isler.
Embora muitos expositores atribuam não apenas ao período de terça a sexta mas, principalmente, à sobreposição do evento com mostras internacionais como a IKK, na Alemanha, a profissional da Hannover comemora a fidelidade de tradicionais expositores.
“No geral, o resultado pode ser considerado positivo, pois além da qualidade vista no próprio nível dos estandes, tivemos conosco empresas como Full Gauge, Carrier e Trane, que sempre expuseram e, mais uma vez, estiveram presentes”, acrescenta.
Embora até o fechamento desta edição ela não tivesse nas mãos as estatísticas finais sobre as presenças do exterior, Priscila não acredita que esse tipo de visitação tenha praticamente se restringido a um ônibus procedente do Uruguai, como se chegou a comentar pelos corredores do evento.
Sua crença se baseia em fatos com o trabalho realizado pelo representante de sua empresa na Argentina no sentido de atrair público do país vizinho, aLém do anúncio em publicações especializadas da região e ações como e-mail marketing.
Mesmo assim, o presidente da Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação admite que alguns aspectos para melhorar a visitação brasileira e externa serão repensados para a próxima edição do evento. Dentre eles, um menor número de dias e a não coincidência com o calendário da IKK. “Nossa preferência são os meses de agosto e setembro, o que não foi possível seguir neste ano, em função das disponibilidades da Fiergs. Se o próximo Mercofrio for em Florianópolis, deverá ficar mais fácil conseguir algo assim, pois lá não ocorrem tantos eventos quanto em Curitiba e Porto Alegre”, explica Eduardo Hugo Muller.