De olho na “classe C”

Os aparelhos de condicionamento de ar caíram realmente no gosto do brasileiro. Pesquisas realizadas pelo IBGE em 2000 já demonstravam a presença desses sistemas em 7,4 % dos lares, total hoje estimado em torno de 15% por alguns fabricantes, ou seja, quase o dobro.

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Esse montante, porém, tem se referido mais propriamente à expansão do tipo split, principalmente depois da queda de preço verificada no setor e na redução da conta de luz que seu uso acarreta.

Entretanto, o janela tem se mantido forte na disputa, comemorando uma certa estabilidade durante os últimos anos, mesmo com o fantasma da extinção à solta. Esses modelos estão praticamente em extinção, mas por aqui ainda se revelam duros na queda. Por via das dúvidas, não falta na área quem defenda a necessidade de uma segmentação de mercado.

“A ‘Classe C’ está começando a ter acesso a diversos tipos de produtos, que antes eram privilégio das camadas mais altas. Isso nos faz acreditar que o janela continuará a apresentar volumes expressivos, por ser o de melhor custo-benefício para esse público”, acredita o diretor de Marketingda Springer Carrier, Sidney Ichi.

Confiante na prospecção de negócios, a indústria aposta na complementação da família Springer Duo que, lançada em 2007, possui aparelhos de 7,5K e 10K e seis opções de cores. “Buscamos desenvolver produtos com atributos diferenciados. No caso do Duo, o consumidor pode customizar como queira, trocando a cor da frente, por exemplo. Além disso, o produto tem distribuição de ar estéreo e baixo consumo energético”, explica Ichi.

Essa sinalização de tendências não é motivo, porém, para abrir a guarda frente aos indiscutíveis atrativos do concorrente mais jovem. “Permanecemos focados na qualidade de nossos produtos, já consagrada pelo consumidor”, revela o gerente regional de Vendas da Gree Ar Condicionado, Cláudio Loureiro Vares.

Ao apostar igualmente no critério novidade, a Elgin lançou em maio o aparelho de 30.000 BTU/h voltado a ambientes comerciais e prevê, para julho e outubro, a disposição dos modelos de 6.000 e 10.000 BTU/h, com compressores rotativos, no mercado. “Apesar de vir diminuindo sua participação em relação ao split, acreditamos que os janela continuarão em expansão nos próximos anos, devido à facilidade de instalação”, enfatiza o gerente de Serviços da Elgin — Divisão Ar Condicionado, Alexandre Faraco de Souza.

Já na opinião da gerente geral de Marketing da Consul, Andréa Apponi, o mercado de condicionadores do tipo janela é sazonal e sujeito às variações dos fenômenos climáticos, mas merece apostas. “Em 2008 houve uma retração em relação ao ano passado, entretanto, esse mercado é maduro e conta com consumidores fiéis, que continuarão procurando o produto assim que as ondas de calor retornarem”, observa a engenheira. Pensando nisso, a marca tem lançado produtos com funções de aquecimento, timer e desenho diferenciado.

Outro nicho a se explorar no que se refere aos modelos janela, na opinião do gerente de Produto — Ar condicionado da LG Electronics, Mauro Apor, é o de reposição, resistente à mudança na categoria, porém ele não ignora o crescimento indiscutível dos splits. “A popularização, a alta competitividade e a facilidade desses modelos vêm conquistando os consumidores do tipo janela. Acredito que em 2009 será atingida a marca de 1 ilhão de produtos/ ano nessa categoria”, prevê.

E A COMERCIALIZAÇÃO, COMO FICA?

Já nas revendas de ar condicionado o assunto divide opiniões, havendo os que não abrem mão do janela e aqueles que consideram em fim de carreira o antecessor do split.
Do lado otimista da corrente está, por exemplo, o diretor do Grupo Poloar, Luiz Cardoso, para quem o condicionador de ar está se tornando essencial nos lares e escritórios brasileiros, dando espaço inclusive aos do tipo janela. “Hoje, eles representam 10% de nossas vendas totais e, por isso mesmo, esses aparelhos sempre terão um lugar de destaque em nosso showroom, como uma opção barata e eficiente aos nossos clientes”, ressalta.

Visão semelhante tem Anny Gomes, coordenadora de Marketing da BHP Engenharia, revenda de janela da marca Springer Carrier, dentre outros produtos. Para ela, a procura por esses modelos deve aumentar no segundo semestre do ano, tido sempre como o melhor em vendas para a loja.

Mas nem todos os empresários da área estão tão otimistas. É o caso de Gerson A. Dias, que identifica a economia de até 40% com a utilização dos splits inverter, o uso dos gases ecológicos nesses modelos “verdes” e a unidade externa para atender até 50 ambientes como fatores prejudiciais à sobrevivência do janela. “Essa linha terá uma perda de mercado nos próximos anos, pois os splits estão se popularizando, com preços menores, e vão tomar o lugar dos janela aos poucos”, prevê o diretor dessa revenda de modelos mecânicos e eletrônicos.

“Como os splits estão com preços reduzidos e, às vezes, até iguais aos do janela, os consumidores têm preferido esse modelo, principalmente pela maior economia energética”, intervém Ariel Durski da Silva, consultor de Vendas da Climasul Ar Condicionado, que comercializa modelos de 7 mil a 30 mil BTUs.

Já na opinião do gerente de Negócios da Só-Frio Comércio, André Alves, não há mais espaço para os janelas no mercado atual. “O produto ficou ultrapassado e a tendência é ele deixar de ser comercializado de vez”, conclui.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, o gerente comercial da STR, Roberto Lichtenfels, espera que os condicionadores do tipo janela continuem estáveis como vêm se mantendo nos últimos anos, dando oportunidade também para que sua revenda invista igualmente nos splits. Talvez esteja nessa idéia o futuro do mercado para os janelas: a convivência pacífica com os splits, porém sem grandes ambições.

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