Conectando mulheres do setor de HVAC-R
Plataformas e iniciativas empresariais abrem caminhos para que mais mulheres ingressem e prosperem em um setor tradicionalmente dominado por homens.
Nas últimas décadas, houve uma crescente conscientização global sobre a importância da equidade de gênero em todos os setores da sociedade, alcançando o mercado de HVAC-R no Brasil há aproximadamente cinco anos. O empoderamento feminino no setor de HVAC-R tem ganhado força nos últimos anos, impulsionado significativamente pelas redes sociais e grupos empresariais focados em promover a inclusão e a diversidade.
Neste cenário, as plataformas digitais tornaram-se ferramentas significativas para conectar mulheres no setor de HVAC-R, permitindo a troca de experiências, conhecimentos e oportunidades. Grupos no WhatsApp, Facebook, LinkedIn, e Instagram, além de canais no YouTube dedicados ao tema, têm proliferado, oferecendo oportunidades para discussão, aprendizado e suporte mútuo, permitindo compartilhar suas histórias de sucesso, desafios superados, experiências profissionais e pessoais, inspirando outras a perseguirem suas carreiras no setor.
“Vejo muitos avanços através de eventos e movimentos para discutirmos o tema, como o Grupo Elas no AVAC-R e o Comitê de Mulheres da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), atualmente os mais representativos em nosso setor”, revela Graciele Davince, empresária, mentora da Rede Mulher Empreendedora e diretora da Eletrofrigor.
“Muitas mulheres começam a empreender em nosso segmento como parceiras de maridos profissionais. Os grupos que vêm sendo formados e os inúmeros eventos promovidos tem gerado senso de pertencimento e mais segurança, como também a busca por qualificação técnica e em gestão, e consequentemente, ao longo do tempo, esses movimentos geram também melhor qualidade de vida para ela e sua família. Fico feliz em pode viver esse momento de tanta transformação para todas nós, mulheres, e poder ouvir relatos em muitas conversas de avanços, e numa pequena porção, poder inspirar mais e mais mulheres a buscarem seu espaço em qualquer segmento. Sabemos que o caminho é longo, no entanto, vejo grandes avanços nos últimos anos, alavancados pelos movimentos femininos que dão visibilidade ao tema, pela questão da diversidade estar em evidência, além dos indicadores do sucesso da produtividade e do bom resultado em empresas que tem a mulher e a diversidade em seus quadros. A pandemia trouxe à tona grandes desafios para as mulheres que são mães, e nesse campo é necessário criar iniciativas públicas, com alcance em massa, que possam acolher as crianças em período escolar, num ambiente educativo de qualidade e segurança, para que mais mulheres tenham acesso ao trabalho, benefícios esses não só para o mercado de HVAC-R”, acrescenta Graciele.
Neste contexto, as redes sociais facilitaram a mentoria e o networking entre mulheres, desde estudantes que buscam orientação até profissionais experientes dispostas a compartilhar seus conhecimentos.
Movimentos expressivos de dois grupos do setor, como o Comitê de Mulheres da Abrava e o Grupo Elas no AVAC-R, chamam a atenção com iniciativas específicas para capacitar mulheres em habilidades técnicas e de liderança, preparando-as para cargos de responsabilidade.
“O fato de o tema equidade de gênero estar entre os ODSs (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) que compõe a Agenda 2030, proposto pela ONU (Organização das Nações Unidas) e firmado por diversos países – entre eles o Brasil, seguramente fortaleceu as ações relacionadas a ele, trazendo as discussões para fóruns de maior importância e representatividade. O setor HVAC-R, assim como diversos setores da economia brasileira e mundial, vem se esforçando para tratar o tema da equidade de gênero com ações mais efetivas do que no passado, quando já se falava sobre o assunto, mas nenhuma atitude era tomada em relação a ele. Considero que, especificamente em nosso setor, este movimento vem ganhando força desde 2018, quando pela primeira vez em uma premiação do setor as mulheres deixaram de ser apenas homenageadas e passaram a ser indicadas aos prêmios – podendo mostrar que estavam qualificadas e preparadas para integrar o grupo dos profissionais de referência do nosso setor. Desde este acontecimento, muitos movimentos liderados por mulheres se formaram e as ações em prol do tema só aumentaram. Posso dizer que a evolução não é na velocidade que eu gostaria, mas ela está sendo construída de maneira sólida em nosso setor, que para mim é o que fará a diferença no futuro, não pode ser apenas ‘modinha’ se queremos um cenário diferente lá na frente. Acredito que as ações acabaram sendo muito impactadas com a pandemia da Covid, não só impedindo a evolução do tema, mas em alguns casos, como podemos ver em dados estatísticos disponíveis, houve retrocessos, um triste exemplo disso é o aumento da violência doméstica. Felizmente, acredito que as ações estão de volta ao seu curso normal, e que com o trabalho e a união de mulheres e homens, em prol deste assunto tão importante para o desenvolvimento sustentável da nossa sociedade, teremos uma realidade diferente num futuro próximo”, diz Priscila Baioco, presidente do Comitê de Mulheres da Abrava.
Idealizado e encabeçado por Carmosinda Santos, o Grupo Elas no AVAC-R, representa uma iniciativa pioneira e inspiradora focada no empoderamento feminino dentro do setor, surgindo como plataformas de apoio, networking, desenvolvimento profissional e promoção da inclusão e diversidade na indústria.
“O Grupo Elas no AVAC-R e iniciativas semelhantes desempenham um papel na transformação do setor, tornando-o mais inclusivo e diversificado. Ao oferecer apoio, recursos e uma voz para mulheres do setor, esses grupos não apenas empoderam as participantes, mas também indicam caminhos para uma indústria mais inovadora e resiliente. A presença e o sucesso de tais grupos evidenciam uma mudança positiva, refletindo um futuro no qual o gênero não define a capacidade profissional ou as oportunidades de carreira. O Elas no AVAC-R foi criado com a intenção de promover um ambiente inclusivo e acolhedor para mulheres no nosso setor, incentivando-as a seguir carreiras técnicas e de engenharia, além de facilitar o networking entre essas profissionais, desde estudantes a cargos expressivos, como também, oferecer oportunidades de mentoria para o desenvolvimento de carreira”, afirma Carmosinda.
Esforços e ações
Os esforços para promover o empoderamento feminino no HVAC-R têm contribuído para aumentar a representação feminina no setor, embora ainda haja um longo caminho a percorrer. As mulheres que atuam na área relatam uma maior sensação de pertencimento e reconhecimento, além de uma mudança gradual nos ambientes de trabalho, que estão se tornando mais inclusivos e receptivos à diversidade.
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“Considero que mapear as mulheres do setor, identificando quais eram suas necessidades e seus anseios profissionais, tenha sido uma das ações mais importantes, pois a partir disso, conseguimos desenhar no Comitê de Mulheres da Abrava, todos os planos e iniciativas construindo um calendário de atividades que efetivamente pudesse contribuir com o desenvolvimento profissional e pessoal destas mulheres. Com um projeto sólido, obtivemos apoio de outras entidades do setor e também, entidades e sindicatos em sinergias com HVAC-R, bem como escolas técnicas e movimentos internacionais que estão trabalhando em prol da equidade de gênero”, comenta Priscila.
Ela diz que, desde 2019, foram muitas conquistas relevantes, mas três delas merecem um destaque especial:
– Em uma parceria entre o MMA, GIZ e SENAI Ocar Rodrigues Alves o Comitê de Mulheres montou a primeira turma feminina para o curso de Boas Práticas para melhor contenção de HCFC R-22 em Sistemas de Ar Condicionado;
– Em parceria com mídias do setor, oito artigos técnicos foram publicados no ano de 2023, escritos por mulheres voluntárias;
– Em 2024; temos mulheres integrando a diretoria das principais entidades e sindicatos do setor HVAC-R;
“Também conseguimos manter no calendário da Febrava, o Encontro Nacional de Mulheres do setor AVAC-R, atraindo mais de 200 profissionais, que contou com a participação especial de Chieko Aoki, CEO do grupo Blue Tree Hotels. São inúmeras as conquistas, muitas mulheres impactadas e muito trabalho realizado e ainda por realizar” comemora a presidente do Comitê de Mulheres da Abrava.
Ela acrescenta que o Comitê de Mulheres da Abrava seguirá trilhando esta jornada durante os próximos anos: “Mas em 2024, teremos um novo marco, no V Encontro Nacional de Mulheres, dirigido pelo novo grupo de liderança que assumirá a próxima gestão, contando com Juliana Reinhardt como presidente, e Ana Carolina Rodrigues Sousa, como vice-presidente”.
De acordo com Carmosinda, grupos como Elas no AVAC-R promoveram o networking entre mulheres, desde estudantes que buscam orientação até profissionais experientes dispostas a compartilhar seus conhecimentos através de conteúdos educativos sobre técnicas, tecnologias emergentes e melhores práticas no HVAC-R, contribuindo para o desenvolvimento profissional contínuo, além da ajuda mútua e troca de informações entre as profissionais que participam ativamente.
“Além das redes sociais, o Grupo segue engajado em promover workshops, seminários e cursos de formação específicos para ajudar as mulheres a adquirir novas habilidades e avançar profissionalmente. Uma das maiores conquistas foi a premiação do ‘Agora é que são Elas- Mulheres no AVAC-R’, realizada em 2018, na Fiesp, que expôs ao mercado a atuação da mulher no setor, abrindo caminho para discussão sobre o empoderamento feminino. Através do Elas no AVAC-R, o grupo chamou a atenção de empresas e organizações do setor para implementação de programas e iniciativas em promover a diversidade e a inclusão, além de recursos internos para mulheres, oferecendo um fórum para discussão, compartilhamento de recursos e apoio profissional. Ressalto ainda as colaborações com escolas técnicas para encorajar e apoiar mulheres que desejam entrar no setor”, esclarece Carmosinda.
Graciele comenta sobre a rede de mulheres Brasil afora que apoiam as ações do setor de HVAC-R para maior representatividade feminina: “Admiro muito o trabalho da Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, que tem grande abrangência nacional, integrando ações junto ao setor de HVAC-R através de sua rede de relacionamentos, além dos movimentos no nosso segmento, com o Grupo Mulheres do Brasil, que atua no país e em vários outros do mundo, e atende as mulheres em várias frentes”.
Desafios
Priscila destaca um dos principais desafios nos últimos três anos para manter o engajamento das mulheres, homens e empresas com as iniciativas em prol da equidade de gênero frente à pandemia: “Em particular, para nós do setor HVAC-R, tivemos que trabalhar muito para abrir espaço e trazer essa pauta para discussão, buscar o apoio das empresas e das entidades do setor, o que exigiu de nós um plano detalhado para mostrar que esta iniciativa era importante e benéfica para o setor, com a dedicação de várias mulheres, que de maneira voluntária, se propuseram a fazer isso pelo bem comum”.
Embora ainda haja disparidades significativas, incluindo representação política, igualdade salarial e acesso a oportunidades educacionais e econômicas, Graciele se mantém otimista: “Desde 2010, quando a ONU criou a Entidade das nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), incorporando o UNIFEM (assistência financeira e técnica para promover o fortalecimento da mulher e a igualdade dos gêneros), a pauta ganhou expressão internacional, fazendo com que as empresas e grandes corporações abrissem espaço para as mulheres. Acredito que essa foi uma grande iniciativa e tem trazido grandes conquistas nos últimos anos, com muitas gigantes do setor de HVAC-R incluindo mais mulheres em seus quadros de profissionais, porém, ainda precisamos trabalhar as questões da melhoria na igualdade salarial, programas de apoio a maternidade mais longos e linhas de crédito para microempresárias como o Fundo Dona de Mim”.
Para Carmosinda, desafios ainda persistem, incluindo a necessidade de combater estereótipos de gênero, garantir igualdade de oportunidades e remuneração, e continuar a criar ambientes de trabalho que suportem a inclusão de todos dentro da sociedade e não só no segmento de HVAC-R.
“Algumas empresas do nosso setor aderiram a Agenda 2030 e olham para o tema com carinho e cuidado, porém, muitas só cumprem a agenda e não têm uma liderança comprometida com o tema equidade de gênero. E devemos lembrar também, a inclusão dos homens no assunto. A realidade é que ainda temos um número de mulheres inexpressivo da presença feminina no setor em comparação a atuação dos homens, por isso, precisamos cada vez mais oferecer apoio e recursos para essas mulheres, não apenas para empoderar as participantes, mas também auxiliar no caminho para uma indústria mais inovadora e resiliente. A presença e o sucesso de tais grupos evidenciam uma mudança positiva, refletindo um futuro próspero, em defesa da capacidade profissional ou as oportunidades de carreira”, conclui Carmosinda.