Ventilação industrial busca fatia maior do mercado
Surge uma necessidade inesperada para melhorar as condições atmosféricas no chão de fábrica. Para supri-la, o comprador acaba considerando como critério apenas o menor preço, até mesmo por não contar com o devido aporte técnico para avaliar outros aspectos da aquisição.
Com uma frequência ainda grande no setor, essa é a mecânica de um comportamento que prejudica o pleno desenvolvimento da ventilação industrial brasileira, gerando como resultado direto a coexistência entre equipamentos de fabricação local realmente de ponta com outros, também produzidos aqui ou então vindos de fora, porém com qualidade visivelmente inferior.
Dentre as testemunhas desse quadro preocupante está Paulo Stivalli Júnior, diretor da Qualitas Indústria Eletromecânica. “Na área dos ventiladores, a concorrência com produtos importados de baixa qualidade é o principal problema”, diz ele.
Para contornar a questão, sua empresa tem procurado aumentar as escalas de produção para reduzir preços, além de incrementar ações de marketing ressaltando as características técnicas e a qualidade do seu portfólio. “Também temos incentivado a criação de barreiras técnicas para tentar limitar a importação indiscriminada de produtos de baixa qualidade”, acrescenta.
Na área industrial, com exceção de grandes empresas, o mercado comprador não tem conhecimento para especificar o produto que realmente necessita. “Por isso oferecemos um departamento de engenharia para auxiliar o cliente a definir seu problema e apresentar a solução ideal”, complementa Stivalli.
No mercado desde 1989, a Qualitas fabrica ventiladores de parede, de coluna, de teto e de mesa, além de exaustores axiais e centrífugos para banheiro e micro-ventiladores. A empresa é especialista no setor e todo o seu faturamento vem dessa linha de produtos. Entre os próximos lançamentos previstos, exaustores axiais com cinco modelos específicos para transformadores elétricos, uma linha de ventilação com filtros acoplados para painéis e uma família de exaustores centrífugos de baixa rotação com 4; 5 e 7,5 HP.
A proposta é conquistar mais espaço no mercado aliando custo competitivo a um alto valor agregado. “Procuramos desenvolver alternativas com foco no baixo consumo elétrico e também no funcionamento mais silencioso”, exemplifica o diretor da indústria.
Outro ponto importante, segundo ele, é o pós venda, com ênfase em aspectos incluindo manutenção fácil e de baixo custo.
A ebm-papst também se preocupa com o atendimento ao cliente após a instalação. “Temos um departamento de engenharia de aplicação preparado para dar suporte técnico para todo tipo de produto que vendemos aqui no Brasil”, acentua Carlos Rito, gerente comercial da indústria alemã.
A empresa fabrica moto-ventiladores de rotor externo, tecnologia que promete mais eficiência no consumo de energia elétrica, aliada ao conforto sonoro nos ambientes. “Nosso equipamento apresenta o menor nível de ruído do mercado. Somos especialistas na fabricação desse item no mundo. Quando iniciamos a comercialização no Brasil existia pouco conhecimento desta tecnologia. Acreditamos que temos uma participação no mercado de refrigeração de 50% e pretendemos avançar, pois o mercado está mais receptivo a novas tecnologias e busca eficiência e sustentabilidade”, declara Rito.
Segundo o gerente, sua empresa investe 50% do faturamento em inovação tecnológica e tem a meta mínima de crescer 20% ao ano. A principal estratégia para isso está focada justamente no moto-ventilador de rotor externo, procurado principalmente por supermercados.
Outra novidade da ebm-papst é a linha de moto-ventiladores Hy-blade, cuja hélice em poliamida e alumínio garante menor consumo de energia e um nível de ruído até 10% inferior. “Também estamos introduzindo a linha de ventiladores eletrônicos, que reduzem em até 70% o consumo elétrico e, dependendo da aplicação, traz benefícios adicionais como estabilidade e controle da pressão do gás refrigerante, aumento da vida útil dos equipamentos do sistema de refrigeração, diminuição do custo da manutenção e intervenções”, enumera Rito.
Preço x qualidade
Mesmo confiante em trunfos assim, o executivo da ebm-papst concorda com Stivalli, da Qualitas, com relação ao desafio de manter no mercado produtos de qualidade. “O aspecto mais favorável para a aplicação da tecnologia de ponta que estamos trazendo é o reconhecimento de parte do setor quanto à necessidade desse investimento. Por outro lado, o mercado busca soluções de baixo custo, algo que resolva seu problema imediato, o que impede a avaliação do retorno em médio e longo prazos, bem como os demais benefícios de um sistema de ventilação controlada. Mudar essa perspectiva é um dos nossos desafios”, avalia Rito.
O diretor de marketing da Sell Parts, empresa que fornece ventiladores do tipo axial convencional e de rotor externo, além dos radiais centrífugos e micro-ventiladores, acredita que a demanda por baixo custo seja constantemente alimentada pela oferta de equipamentos improvisados. “Muitas empresas que não são da área, embora trabalhem com outros itens da refrigeração, acabam colocando o ventilador no pacote”, lamenta Fernando Sandini. Nesses casos, segundo ele, a meta é simplesmente vender, ou seja, sem qualquer preocupação com qualidade, performance ou manutenção, mas apenas com os aspectos preço baixo e fechamento de pedidos.
Voltada exclusivamente para o setor, nos últimos dois meses a Sell Parts lançou novos produtos como as bombas para extração de água de condensação de aparelhos de ar-condicionado e as hélices para aplicação geral. “É a primeira vez que trabalhamos com bombas, o produto é importado e nosso diferencial é o preço competitivo, pois conseguimos baixar o custo e manter a qualidade. As hélices são de fabricação própria, e foram desenvolvidas durante muitos anos em consonância com as necessidades do mercado, daí sua eficiência”, completa Sandini.
Thiago Amaral, analista comercial da Telstex Artefatos de Arame, também aponta a baixa exigência dos compradores como um entrave para as empresas que trabalham com equipamentos de qualidade. “É preocupante que as indústrias brasileiras aceitem produtos de baixa qualidade, que priorizem o preço mais acessível independente do material empregado. Esse é nosso principal gargalo enquanto setor”, avalia Amaral.
Segundo ele, sua empresa fabrica proteções para toda a linha de ventiladores e exaustores, negócio responsável por 80% do faturamento da indústria. Para continuar crescendo, a Telstex investe em pesquisa de materiais mais duráveis e tem vários lançamentos previstos. “O foco é a sustentabilidade, por isso optamos por materiais mais rígidos, feitos à base de metal com menor troca, menos matéria-prima e que se adaptem a reformas, ao invés de plásticos, por exemplo, que pedem reposição frequente e, uma vez descartados, demoram a se decompor, comprometendo o meio ambiente”, explica Amaral.
Solução completa
Redução de ruído e consumo energético são mesmo as palavras de ordem para as empresas de ventilação industrial nos dias de hoje. José Eduardo Rapacci, diretor geral da Ziehl-Abegg do Brasil, acrescenta que nesse escopo a variedade de alternativas oferecidas também pode significar aumento nas vendas. “Comercializamos moto-ventiladores, com rotor externo e interno, axiais, centrífugos, tangenciais e de fluxo misto, com motores AC (corrente alternada) e EC (eletronicamente comutados). Mas nosso foco mesmo é o negócio de movimentação de ar, para o qual ofertamos solução completa, ou seja, controles, inversores de frequência, sensores, controladores de voltagem e acessórios para direcionamento do ar, além dos moto-ventiladores”, lista Rapacci.
Apesar do contínuo aumento nas vendas de controles e acessórios, a maior fatia do faturamento da empresa, cerca de 60%, vem das negociações com os moto-ventiladores, mas esse predomínio tende a diminuir. “Acreditamos que vamos aumentar a cada dia a participação dos produtos de alta eficiência e baixo nível de ruído, com destaque para os da linha EC”, acentua.
Embora apresentem preços iniciais maiores, frente a outras opções, com o passar do tempo demonstram custos operacionais nitidamente vantajosos, o que Rapacci atribui não apenas ao menor consumo de energia, como também aos materiais reciclados que empregam.
Nessa linha, lançamentos como a série ECblue, composta por moto-ventiladores axiais e centrífugos de pequena, média e alta capacidades. “Eletronicamente comutados, eles possuem três versões, inclusive com a possibilidade de controle sem fio que permite, por exemplo, uma interface rápida e fácil com um forçador de ar a oito metros de altura em local de difícil acesso”, assegura o executivo.
Ainda segundo ele, a tendência do mercado aponta para a valorização do controle de velocidade no setor, “o que propicia um custo operacional menor e o retorno mais rápido do investimento”, avalia Rapacci.
Outro atrativo para o mercado é a capacidade do ventilador se adaptar às necessidades específicas do cliente. A Airway, por exemplo, fabrica o BigFan, destinado a grandes ambientes, nos modelos fixo, móvel e articulado, para aplicações na indústria e comércio.
Trata-se, na visão do sócio da empresa, Túlio Zattera, de um produto conceitual que já se demonstrou perfeitamente adequado a esses segmentos.
“Nosso último lançamento do gênero, ocorrido em setembro, é o BigFan Móvel, equipamento de ventilação com 2,5m de diâmetro, disposto sobre rodas, o que torna possível levá-lo facilmente para qualquer ambiente que necessite de grande volume de deslocamento de ar em baixa velocidade”, explica.
Segundo Zattera, o clima no Brasil favorece o segmento, assim como a busca generalizada por aumento da produtividade proporcionada por melhores condições de trabalho, uma necessidade sob medida ao atual estágio de desenvolvimento econômico do País.
Para atender essa demanda, a Airway investiu decidida em tecnologia High Volume Low Speed , capaz de ventilar grandes áreas com baixo nível de ruído. “A HVLS presente no BigFan gera uma brisa uniforme, melhorando a sensação térmica e reduzindo o risco de acidentes”, analisa.
A Sictell, empresa voltada para a área de exaustão com linhas residências e comerciais, também vem se adaptando às necessidades do atual mercado. “Dez anos atrás éramos focados apenas na distribuição de elementos de exaustão, desde exaustores industriais até micro exaustores para máquinas, mas observando as tendências do mercado resolvemos mudar o foco do negócio, passando a fabricar equipamentos de menor porte. Hoje essa linha é praticamente 100% de nossa produção”, esclarece Rafael Munhoz, gerente operacional da empresa, cujos lançamentos recentes da área incluem as linhas MDT, MAXX, e ACI. “Nossos diferenciais básicos são preço com qualidade, atendimento e produtos inovadores”, completa Munhoz.
Umidade agregada
As possibilidades de expansão do setor de ventilação são amplas e rentáveis. Um exemplo é a ventilação evaporativa, que resfria e umidifica o ar. Também conhecida como resfriamento evaporativo, essa tecnologia se baseia num princípio simples: o ar cede energia (calor) para que a água evapore, resultando numa corrente de ar mais fria à saída do resfriador. Desse modo, os aparelhos não geram apenas frio, como o ar-condicionado, nem vento apenas, como o ventilador, ficando em um meio termo bastante interessante que agrega o benefício da umidificação para potencializar a sensação de frescor.
Uma das empresas que se destacam nesse campo específico é a Basenge Termodinâmica, que hoje dedica 90% de sua operação à ventilação evaporativa industrial, incluindo dentre os segmentos prioritários as lojas de departamentos e os supermercados.
O principal motivo da excelente aceitação dessa tecnologia é a questão econômica, pois como não usa compressor, o consumo de energia pode cair para cerca de 10% do que gasta o ar-condicionado, por exemplo.
Outro aspecto a seu favor é permitir ao estabelecimento funcionar de porta abertas, característica comum a vários tipos de negócio.
O princípio de funcionamento parece simples, pois o sistema apenas movimenta o ar, com a ajuda de um ventilador que o conduz a um meio úmido onde fica bem mais fresco, antes de retornar ao ambiente.
No entanto, Marcelo Gouvêa de Souza, diretor geral da Basenge, explica que a qualidade das peças do sistema, sua instalação e também a manutenção são cruciais para um funcionamento realmente bom e durável.
“De um modo geral, precisamos somente de um ventilador, ar, água e uma bomba de circulação. Mas tudo isso tem de ser de primeira qualidade, muito bem instalado e receber manutenção apropriada regularmente. É dessa forma que trabalhamos”, garante.
Automação, segundo ele, tem sido outra fonte de sucesso em sua empresa. “No passado, o evaporativo era visto como limitado, hoje não é mais. Nossos aparelhos funcionam de acordo com a demanda do ambiente e possuem secagem, purga e drenagem automáticas, que além de facilitar o uso, garantem eficiência ao sistema e boa saúde para os seus usuários, pois matêm o aparelho livre de fungos”, garante Gouvêa.
O empresário acredita ainda que a tendência do setor seja continuar crescendo, com a eliminação natural da concorrência menos qualificada. “Muitos procuram o menor preço, mas nós apostamos na depuração do mercado e atendemos os clientes que querem qualidade. Nesse sentido, buscamos oferecer o melhor custo benefício”, conclui Gouvêa.