Novos desafios para os trocadores de calor
O aquecimento dos mercados financeiro e produtivo no Brasil deve estender-se pelos próximos anos, segundo previsões de especialistas. Um cenário positivo, sem dúvida, mas que impõe novos desafios ao setor de refrigeração na busca pela eficiência crescente dos seus produtos.
A área dos trocadores de calor é uma das que mais devem ser cobradas nesse sentido, diante de um cenário marcado por normas internacionais regulamentando os equipamentos e suas diferentes aplicações, assim como o acesso à tecnologia facilitado pela maior oferta de crédito.
Frente a um parque industrial que coloca no mercado equipamentos com características e performances muito semelhantes, surge uma clientela a cada dia mais exigente, e que só considera fornecedores confiáveis as empresas realmente mais capacitadas.
“As tendências mais modernas na refrigeração apontam para produtos com conceitos tecnológicos avançados, capazes de apresentar alta performance e eficiência energética”, pondera Antônio Cláudio Montiani Palma, diretor geral de uma das empresas atuantes nesse segmento, a Mipal.
No seu entender, o mercado está cada vez mais consciente da responsabilidade de uma escolha nesse campo e, ao mesmo tempo, intolerante em relação à prática de ser usado como cobaia de empresas que não possuam corpo de engenharia e laboratório de ensaios para suas avaliações e desenvolvimentos.
Sem providências assim, ele considera impossível o acompanhamento de tendências como a busca constante não apenas por produtos, mas também uma produção limpa de fato.
“Na Mipal esta é uma preocupação que data de décadas, sendo que desde 2006 começamos a oferecer opções sustentáveis e, ao mesmo tempo, viáveis economicamente”, intervém o empresário, apresentando como claro exemplo disso o Selo Verde, que identifica produtos da marca compatíveis com a utilização de CO2 e Amônia, entre outros.
Há mais de 50 anos fabricando aletados para os diversos mercados ligados a refrigeração e ar condicionado , a empresa tem se esmerado em inovar sempre para manter-se competitiva. Agora em 2010, por exemplo, destaca a chegada ao seu portfolio dos evaporadores e condensadores eletrônicos. “São equipamentos altamente inovadores, silenciosos e econômicos, que proporcionam economia de energia de até 40%. Este é um exemplo de investimento permanente da Mipal em tecnologia e inovação”, garante Palma.
MAXIMIZAÇÃO DE RESULTADOS
Outro nome de peso no setor, a Deltafrio, concorda com o prognóstico do alto desempenho como meta para as empresas que querem crescer no negócio. “As que souberem desenvolver equipamentos que maximizem os resultados para os usuários são as que irão dominar o mercado. Por isso as grandes oportunidades no segmento de trocadores de calor envolvem criar soluções para reduzir consumo de energia e perda de produtos”, avalia seu diretor geral, Marcelo Max.
A Deltafrio opera com trocadores de calor para máquinas que necessitem de refrigeração, evaporadores de ar forçado e condensadores remotos para câmaras frias e ambientes a serem climatizados, além de serpentinas aletadas para balcões frigoríficos.
No conjunto, essa linha representa 60% do seu catálogo. O último lançamento da empresa nessa área se insere plenamente na proposta de sucesso exposta por Marx. “Em 2010, lançamos equipamentos com motores intermediários. São trocadores que contam com motores de 12 polegadas de diâmetro de hélice. Estas hélices são de alumínio e os motores possuem 34 w de potência. Os aparelhos foram desenvolvidos para aplicações como câmaras frias, pequenos túneis de resfriamento ou congelamento e ambientes a serem climatizados, entre outros”, explica o executivo.
Sua empresa também está avançando no mercado com os modelos da série DF 1100, que possuem espaçamento entre aletas de 6 mm e são indicados tanto para resfriamento quanto congelamento.
Já para as situações extremas, oferece a série DF 2000, cujo espaçamento entre aletas de 8 mm retarda o bloqueio em baixas temperaturas. “O diferencial desse produto é possuir motores mais potentes e hélices de maior diâmetro que os evaporadores comerciais, por isso funcionam muito melhor em câmaras de baixa. Vale ressaltar que estes equipamentos podem substituir, em diversas situações, os evaporadores de alta vazão, ou seja, são realmente modelos intermediários”, recomenda Marx.
Outra novidade da empresa é a linha Standart fornecida com tubulação em cobre e aletas de alumínio, com opcional proteção coating, e tubulação em Inox. O equipamento é indicado para ambientes agressivos como câmaras de salga, peixes e frutos do mar, sendo que a tubulação em Inox também é opção para fluídos que trabalhem com altas pressões, caso do CO2, por exemplo.
CUSTO BENEFÍCIO
Para Antonio Giovanelli, coordenador de vendas da Heatcraft do Brasil, o maior desafio mesmo a ser enfrentado pelo setor de trocadores é a concorrência com as empresas estrangeiras que, por terem menos gastos de fabricação, apresentam preços altamente competitivos.
“Principalmente as chinesas e turcas, com seus custos bem abaixo da média de mercado”, analisa o profissional dessa fabricante de serpentinas evaporadoras, condensadoras e de expansão indireta.
Com a finalidade de minimizar este impacto, a empresa oferece trocadores de calor com maior valor agregado, ou seja, incluindo componentes que antes eram inseridos pelo próprio cliente na montagem final do equipamento.
Sua linha na área se destina aos segmentos automotivo, de geladeiras expositoras, ar condicionado industrial e hospitalar, bem como baús frigorificados, bebedouros e toda a gama de produtos para refrigeração industrial e câmaras frigoríficas.
Entre os seus lançamentos mais recentes destaca-se o trocador de calor utilizando tubulação de cobre com diâmetro de 7 mm, voltado aos segmentos onde o espaço para montagem é restrito. A proposta, nesses casos, é propiciar a substituição do tradicional trocador de calor que utiliza o tubo de 3/8″, aumentando com isso a capacidade do sistema.
Seguindo também a tendência ecológica do mercado, a Heatcraft investe ainda em medidas que beneficiam a preservação ambiental. Além da implantação da coleta seletiva em toda a fabrica, do tratamento de efluentes antes do descarte e da destinação de mais de 95% dos resíduos gerados para reciclagem, a empresa tem um sistema de selos, o E-solutions, que certifica baixo impacto ambiental, bem como menores gasto energético e nível de ruído.
VIA INVERSA
Mas nem sempre pode se considerar uma ameaça a presença de empresas de fora no competitivo mercado brasileiro de trocadores de calor.
A Evacon está entre as que pensam assim. Tanto é que essa empresa fabricante do produto nas modalidades casca e tubo, aletado e normal, também comercializa três modelos por meio de parcerias internacionais: trocadores de placas brasadas da sueca Swet; com placas gaxetadas, da dinamarquesa Sondex, e o resfriador de óleo a ar fabricado pela Emmegi, da Itália. Segundo o gerente de Vendas Leandro Guittis, os volumes colocados no mercado provenientes de itens importados já equivalem ao total produzido internamente, um mix onde os trocadores respondem por 40% dos negócios da empresa, mas que deve aumentar, “graças aos investimentos que estão sendo feitos em novidades agregadas aos produtos atuais e novos itens também trazendo diferenciais”, assegura o profissional.
A Apema também está empregando recursos de ponta na variedade de soluções que oferece em trocadores casco e tubo, placas brasadas, placas desmontáveis e trocadores tipo radiador. “Procuramos sempre atender as necessidades do mercado”, garante Hugo Matos, do Departamento de Vendas da empresa. Um exemplo disso, segundo ele, é o sistema Hydro Cooler para melhorar o trabalho das torres, já que essas instalações representam gastos consideráveis com água, tratamento, energia, desgaste de equipamento e perda de eficiência. “O Hydro Cooler elimina completamente as incrustações, reduz o consumo de energia e o de água, sem ocasionar paradas na produção, além de atender às exigências da ISO 14000”, acrescenta Matos.
MÃO DE OBRA QUALIFICADA
Outro desafio atual destacado pelas fabricantes de trocadores de calor é a qualificação da mão obra especializada.
Além de produzir e comercializar bem, todas consideram fundamental garantir excelência na instalação e manutenção dos equipamentos, como forma de aproveitar plenamente o aquecimento econômico e o consequente crescimento das vendas. É o caso de Arnaldo Parra, gerente de vendas e marketing da Rheem, que explica porque sua empresa investe constantemente em treinamento. “A corrida pela melhor fatia do mercado passa pela equação de um grande problema brasileiro, qual seja, equilibrar o crescimento das vendas com a quantidade e qualidade da mão de obra especializada. A assistência técnica, por exemplo, é um gargalo para o setor, por isso os investimentos da Rheem nesse quesito são prioritários”, comenta Parra.
Outras apostas dessa empresa de origem norte-americana incluem a utilização de novos materiais para aumentar a eficiência e a vida útil dos aparelhos. “No caso do aquecimento de piscinas, estamos trazendo para o Brasil o trocador tipo titânio, que é muito usado nos Estados Unidos em substituição ao convencional, de cobre e níquel. Só para ficarmos na questão da vida útil, esse metal pode significar mais cinco anos de atividade para o equipamento”, explica Parra.
Marcelo Marx, diretor geral da Deltafrio, concorda que o principal obstáculo do setor seja a qualificação profissional. “De um lado temos o momento otimista pelo qual o Brasil está passando. A estabilidade econômica é, sem dúvida, o alicerce deste momento que trás consigo oportunidades incríveis para quem estiver preparado. Mas o grande empecilho para se aproveitar plenamente este momento é a falta de pessoas qualificadas”, lamenta.
Embora reconheça a existência de uma demanda gigante por instalações de refrigeração em nosso país, ele ainda identifica uma lacuna enorme de bons profissionais, realmente preparados com uma formação sólida, na teoria e na prática, “devidamente capacitados para maximizar os resultados da instalação”, avalia.
Uma dica para as empresas e os profissionais interessados em qualificação é o Senai Oscar Rodrigues Alves. Localizada no paulistano bairro do Ipiranga, a Escola oferece vários cursos de capacitação e formação na área de refrigeração, e abrirá inscrições, de 18 de outubro a 5 de novembro próximos , para o curso gratuito “Técnico em Refrigeração”. São 64 vagas para o período matutino, igualmente divididas entre os turnos vespertino e noturno (www.sp.senai.br/refrigeracao).