Por um mercado literalmente limpo

Para os sistemas de ar-condicionado, refrigeração ou mesmo abastecimento de água, os filtros têm, basicamente, a mesma importância dos pulmões para as pessoas. Se estiverem defeituosos e, ainda por cima, forem utilizados de maneira inadequada, certamente acarretarão diversos problemas para o sistema do qual fazem parte.

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Apesar de este segmento do HVAC-R estar em plena expansão, ainda amarga a concorrência desleal de produtos importados a preços mais baixos, qualidade duvidosa — na maior parte das vezes — e até copiados dos originais. A situação negativa atinge todo tipo de fabricante, seja de filtros secadores, de sucção de impurezas ou purificação de água.

Os fabricantes brasileiros estão se movimentando para que esse tenebroso cenário se reverta com a mesma intensidade com que o consumo desses itens tende a aumentar, na estréia dos grandes eventos internacionais que o Brasil vai sediar nos próximos anos.

Por isso, os fabricantes da área estão demandando das entidades do setor ações para pressionar os importadores a trabalhar apenas com produtos certificados, ou ainda, que sejam criados parâmetros locais de qualidade e rigorosos testes, a fim de evitar incidentes nas instalações.

“No Brasil sentimos a falta de um instituto voltado a certificar o material importado. Não há, ainda, a operação de um laboratório para validar os filtros”, argumenta o engenheiro mecânico Marco Adolph, supervisor de laboratório da alemã Trox, que produz filtros finos, de fibra sintética e de vidro e microplissados.

Segundo ele, o País precisa desenvolver um selo de qualidade semelhante ao Eurovent europeu, que, infelizmente, ainda é confundido por alguns fabricantes brasileiros como gênero de classificação.

“O Eurovent é apenas um selo, e os testes são baseados na Revised EN-779:2002, servindo para determinar o desempenho dos filtros. Hoje, nossa empresa, por exemplo, encaminha o material para a matriz para laboratórios neutros na Europa, com o objetivo de obter certificação”, explica.

Com fábrica brasileira em Curitiba (PR), a empresa participa de comitês e fóruns de discussão na Abrava e ABNT, para o desenvolvimento de uma norma brasileira e, posteriormente, a criação de um selo de qualidade para filtros. “Já iniciamos discussões para a criação de selos de qualidade do ar para edificações”, ressalta o executivo.

Sua opinião é compartilhada pelo tecnólogo em refrigeração Carlos Henrique Costa da Silva, supervisor de vendas e marketing da Parker Hannifin, que comercializa no Brasil os mundialmente conhecidos filtros da marca Sporlan.

“A importação da China não é algo ruim em si , o problema está no produto que chega ao nosso mercado sem critérios de certificação”, defende o especialista. De acordo com ele, é fundamental haver uma entidade que pressione os importadores para que comprem filtros com certificação. “Da maneira como está, muitos estão deixando de atuar no segmento”, reclama.

Para a Danfoss, a questão dos produtos piratas também é um pesadelo, tendo em vista a identificação de cópias de seus produtos, em geral, feitas na Ásia, com embalagem e visual similares aos filtros secantes da empresa.

Assim como acontece com roupas e calçados, muitas vezes os pseudofabricantes usam a marca da companhia, provocando confusão no mercado e entre os clientes mais desavisados.

“O produto pirata gera diversos problemas, como obstruções, acúmulo de resíduos e passagem de material dessecante, que acaba atingindo e danificando o compressor”, alerta o engenheiro mecânico Newto da Silva, gerente de marketing da Danfoss para a América Latina.

“O cliente acaba achando que o filtro danificou o equipamento, mas na verdade isso aconteceu porque ele está utilizando um filtro falsificado. No Brasil, em especial, ainda não é tão grande a incidência, mas temos visto muitos casos em outros países da América Latina, como o Peru”, enfatiza o executivo.

Para concluir, Marco Adolph, da Trox, lembra que o consumidor final de splits pode estar tendo problemas com sistemas sem filtragem adequada, sem ao menos suspeitar. “Trata-se de um problema grave que precisa ser mais bem analisado pelos usuários, pois tais sistemas não cumprem, na maior parte das instalações, as condições de qualidade do ar estabelecidas pela NBR 16401”, sentencia.

APAGÃO IMINENTE

Paralelamente a este cenário preocupante, a utilização de produtos cada vez mais modernos está tornando imperativo ao mercado trabalhar com profissionais qualificados, aptos a mexer com quaisquer tipos de filtros. Sem isso, certamente haverá um “apagão” de mão-de-obra.

“Devido à desqualificação técnica que temos hoje no mercado, vivemos duas realidades: a primeira é a dos clientes comprando em qualquer fabricante e pedindo o filtro mais barato, ou seja, sem atentar para a qualidade de filtragem do sistema”, afirma o engenheiro mecatrônico Danilo Gualbino, coordenador técnico de distribuição da norte-americana Emerson, fabricante de filtros secadores para as linhas de líquido e também os modelos aplicados na área de sucção.

Especializado em refrigeração e ar-condicionado e membro do Instituto Internacional de Amônia (IIAR), o executivo lembra que, em geral, a manutenção preventiva fica em segundo plano. “A limpeza das tubulações é deixada de lado e são colocados gases com qualidade inferior, o que vai gerar problemas futuros.

A expansão do mercado, por outro lado, levará muitos clientes a se arriscarem com a contratação de mão-de-obra desqualificada para este tipo de serviço.

“Para mudar esse panorama, será necessária a capacitação dos profissionais diretamente no fabricante e na revenda, por meio de treinamento, material técnico de divulgação e conscientização, tudo o que for possível para minimizar essas perdas”, enfatiza Gualbino.

Em função desse quadro, a Parker promove treinamento para os futuros profissionais, com palestras e cursos a alunos das Escolas do SENAI, como a Oscar Rodrigues, em São Paulo, além do Colégio Técnico e Industrial de Rio Grande (RS).

Já a Emerson, dividida em três setores: refrigeração, ar condicionado e distribuição (revenda), possui um técnico para atender cada área específica, a fim de conscientizar fabricantes, treinar engenheiros e refrigeristas.

SUSTENTABILIDADE

Sejam filtros secadores; para sucção de impurezas ou purificação de água, este segmento do HVAC-R está se beneficiando de uma maior consciência ambiental quanto ao descarte de materiais e à preferência por produtos capazes de realizar altas remoções de ácidos e líquidos.

Um exemplo disso é a Policarbon Brasil, fabricante de filtros e bebedouros, sediada em São Carlos (SP). Após pesquisar a questão das trocas de refil dos filtros, a empresa constatou que o mercado descarta na natureza cerca de 5 toneladas por mês de material plástico somente no Brasil.

“Atualmente não existe um programa de recolhimento e reciclagem desse material”, explica o diretor Deonir Tofolo. Sua empresa, no entanto, está desenvolvendo produtos biodegradáveis e hoje, com os novos processos já implantados, deixa de descartar 2 kg diariamente no lixo da coleta pública.