O “boom” dos aquecedores de água

Em tempos de escassez de recursos naturais e esforços de todas as partes para reduzir a emissão de gases do efeito estufa à atmosfera, nada melhor do que aplicar uma energia limpa, renovável e não poluente no aquecimento da água utilizada em banhos, piscinas, torneiras e processos industriais.

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É tomado por este pensamento que o setor de aquecedores solares vem alcançando resultados pra lá de positivos nos últimos anos, e vislumbra alçar voos ainda mais altos daqui em diante.

Até o ano de 2008, por exemplo, foram instalados 4,5 milhões de metros quadrados de coletores solares térmicos no País. Já em 2009, estima-se que o crescimento tenha sido de 15% em relação aos doze meses anteriores.

Entre 2010 e 2011, a previsão é que a demanda dê um salto significativo na indústria, setor de serviços e residências.

Contribui para esse cenário positivo a crescente utilização de coletores solares nos projetos de conjuntos habitacionais elaborados por diversos governos estaduais. Além disso, o próprio “Minha Casa, Minha Vida” já vem gerando bons dividendos ao setor, que espera ver o rograma crescer ainda mais num futuro próximo, sobretudo neste período que antecede as eleições presidenciais.

“Atualmente, menos de 2% das casas brasileiras usam aquecedores solares. Entretanto, o Brasil é um dos países com maior potencial de crescimento nesse campo”, aponta Marcelo Mesquita, gestor do Departamento de Energia Solar (DASOL) da Abrava.

PREPARANDO-SE PARA O MELHOR

Atentas a tudo isso, as empresas do segmento vêm investindo cada vez mais em soluções destinadas às camadas menos favorecidas da população. É o caso da Komeco, que já faz planos para ampliar a sua planta industrial, a fim de atender ao aumento da demanda. “Os produtos com foco nas classes populares não diferem, em qualidade, dos que já comercializamos, mas temos uma atenção especial ao atendimento destas com custos diferenciados e soluções personalizadas”, destaca Maykel Motta, engenheiro responsável pela área solar da indústria.

Segundo ele, a intenção é alcançar o faturamento de R$ 1 milhão por mês até setembro de 2010, resultado que, para se concretizar, deverá ter forte influência do “Minha Casa, Minha Vida”.

Quem também conta com o programa governamental para expandir suas vendas é a Unasol, empresa que possui produtos populares sendo comercializados e outros em desenvolvimento. “Estamos recebendo muitas consultas geradas pelo ‘Minha Casa, Minha Vida’ e algumas vendas já foram concretizadas. A expectativa é muito boa para 2010 e 2011″, prevê José Augusto Lawisch, diretor executivo da indústria.

A Heliotek é outra que tem dado atenção especial à baixa renda, a quem atende com a linha ECO, composta por coletor e reservatório de 200 litros. “O desempenho de vendas deste produto tem crescido 20% ao ano”, comemora Washington Alves de Souza, do Departamento de Marketing.

No mesmo caminho, a Soletrol diz estar buscando intensamente a popularização do aquecedor solar de água. “Fabricamos equipamentos com custo acessível e trabalhamos com planos de parcelamento especiais à população de menor poder aquisitivo”, afirma Luís Augusto Mazzon, diretor presidente da empresa.

Um dos exemplos mais marcantes dessa busca por soluções voltadas às residências populares vem da Transsen. Além de atendê-las com o sistema Acoplado — composto por reservatório fechado de 200 litros e coletor Itapuã V1.7 —, a empresa fez uma parceria com o Consórcio Luiza (empresa do grupo Magazine Luiza), o primeiro no País destinado à aquisição de coletores solares para banho e piscina. “Os pagamentos podem ser feitos em até 36 parcelas, a partir de R$ 75,47 mensais”, ressalta Alander Brandão, gerente comercial da empresa.

No ano passado, informa Brandão, a Transsen venceu licitação pública para instalar aquecedores solares em mais de 2,5 mil residências populares nas regiões de Araçatuba e

Rio Preto. “Mais de 800 unidades já foram equipadas nos conjuntos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), e estima-se que o restante seja instalado ainda este ano”, complementa.

A Tuma também tem atendido a diversos projetos governamentais para instalação de sistemas de aquecimento solar em casas populares. “Temos uma linha completa de produtos totalmente desenvolvida para este segmento. Com ela, instalamos equipamentos em casas da CDHU (SP), COHAB (Companhia de Habitação de Minas Gerais) e em Santa Catarina, por meio de parceiros, e em outros projetos de eficiência energética que contemplam as habitações de interesse social”, ressalta Frederico Dantas, gerente comercial da empresa.

NOVIDADES

Mas não é apenas no segmento popular que o setor de aquecimento solar tem centrado suas atenções. As instalações de grande porte também revelam um significativo espaço a ser explorado. Acreditando nisso, a Hidrotécnica — empresa especializada em sistemas de aquecimento para hotéis, motéis, hospitais, dentre outros empreendimentos — tem investido em alternativas para tornar ainda mais econômico o consumo de energia gerado pelos aquecedores nestes locais.

A empresa desenvolveu e patenteou um aquecedor de água que queima biomassa sem emitir fumaça, outra fonte ecológica de energia renovável, sustentável e que não contribui para o efeito estufa.

“Utilizado como sistema de apoio para aquecimento solar, pode-se chegar a uma economia de 95%”, acentua o diretor Waldomiro Gross Junior.

Na área de controladores de temperatura para automação de sistemas de aquecimento solar, o mercado também tem novidades. A Full Gauge acaba de lançar o Microsol II Power, para gerenciamento de temperatura de água nos reservatórios térmicos e piscinas.

“Seus principais atrativos são a versátil fonte chaveada universal (90 a 264Vac) e os potentes relés (dois de 16A e um de 30A) que podem comandar diretamente (sem contatoras) motores de até 1 HP e resistências elétricas de até 7500W, proporcionando ao usuário economia na instalação”, comenta o diretor da empresa, Antonio Gobbi.

Outra inovação que promete dar o que falar é o Chuveiro Solar Topsol, da Soletrol, que deve começar a ser comercializado no segundo semestre do ano.

“Trata-se de um aquecedor solar ultracompacto, com capacidade para 110 litros, preço acessível e de fácil instalação, pois já vem pronto para ser colocado na rede hidráulica pré-existente, sem requerer mão de obra especializada”, informa Luís Mazzon. “Basta conectar o sistema — coletor solar e reservatório térmico — na entrada de água fria da rede de abastecimento e a saída de água quente na rede de consumo apropriada”, complementa.

Em dias chuvosos, prossegue o executivo, o sistema permitirá ainda o funcionamento conjunto com o chuveiro elétrico, para complementar a temperatura da água. Na versão Topmax, com coletores de cobre e alumínio, é possível atender aos hábitos médios de banho de até três pessoas.

Quem também tem procurado inovar é a Transsen. Sua linha Porto Seguro, por exemplo, traz a tecnologia Flex — para banho ou piscina —, conferindo versatilidade e total resistência a ataques químicos decorrentes de maresia e águas corrosivas.

De acordo com Alander Brandão, o equipamento é indicado para regiões litorâneas e piscinas com área de instalação restrita ou alta incidência de ventos.

Igualmente atenta às variações provocadas pelo clima, a Komeco lançou, no início do ano, um coletor solar com os tubos em aço inox e destinado, prioritariamente, às regiões frias, onde há o risco de congelamento da água contida nas tubulações.

Para Maykel Motta, engenheiro da empresa, uma grande tendência do setor para os próximos anos são as células fotovoltaicas. Renováveis, elas transformam a energia solar em elétrica. “Em um futuro próximo, assim que os custos forem reduzidos, a adesão a estes produtos será enorme, como já vem acontecendo na Europa, notadamente na Alemanha”, prevê o profissional.

GARGALOS

Apesar do futuro promissor reservado às empresas de aquecimento solar, é preciso superar alguns obstáculos para imprimir um ritmo de crescimento mais vigoroso.

Para Waldomiro Gross, da Hidrotécnica, ainda há um desconhecimento por parte do mercado quanto aos benefícios proporcionados pelos aquecedores movidos a energia solar. “A economia é tão grande que paga o investimento, ou seja, o cliente não desembolsa nada, apenas ganha”, enfatiza.

José Lawisch, da Unasol, também percebe uma falta de informação por parte do público generalizada sobre a energia solar. “Além disso, falta formação de profissionais técnicos capacitados para todas as fases da cadeia (produção, projeto e instalação)”, critica.

Já Washington Sousa, da Heliotek, identifica a ausência de linhas de financiamento de longo prazo com taxas de juros menores que 10% ao ano como empecilho para que o mercado possa evoluir de maneira mais acelerada.

Problema semelhante é apontado por Luís Mazzon, da Soletrol. “Temos encontrado dificuldades na busca de alternativas para ampliar os financiamentos”, revela.

Na avaliação de Maykel Motta, da Komeco, uma das dificuldades é o alto custo das matérias-primas. “Quanto maior a qualidade e a certificação, maior é o preço”, observa.

Outro ponto negativo, segundo ele, é a concorrência desleal, feita por empresas que utilizam matérias-primas de baixa qualidade que resultam em índices insatisfatórios de eficiência energética, “desacreditando os consumidores quanto à real importância e qualidade dos sistemas de aquecimento solar”, ressalta o profissional.

SAÚDE NOS LEITOS E NAS FINANÇAS

O Hospital Nossa Senhora das Dores, em Itabira (MG), comemora os resultados que a instalação de um sistema de aquecimento solar, recém-concluída, deverá gerar às suas despesas mensais.

De acordo com o coordenador de manutenção do HNSD, Antônio Cristóvão Gomes, os aquecedores vão garantir uma economia de R$20 mil por mês com os gastos em energia.

Distribuído em seis pontos, o sistema atende a toda a instituição, que tem hoje 127 leitos e, em breve, deverá chegar a 161. Os investimentos foram de R$115 mil, o que significa que o valor gasto nos equipamentos será compensado em pouco mais de seis meses.

Além de oferecer um banho de melhor qualidade para o paciente, o sistema aquece 8,1 mil litros de água, com temperatura média entre 85ºC e 95ºC, garantindo uma média de 440 banhos por dia.

Os aquecedores solares permitirão ainda que a caldeira, maior fonte de gastos com energia no hospital até então, seja desligada.

O sistema, adquirido da empresa Universol, conta com a tecnologia alemã de Aquecimento Solar de Tubos a Vácuo e é resistente até a chuva de granizo.