Mercado de câmaras frias deve experimentar nova fase de expansão
O segmento de câmaras frigoríficas industriais tem se mostrado mundialmente aquecido. No Brasil, um levantamento divulgado pela Abiaf – Associação Brasileira da Indústria de Armazenagem Frigorificada – mostra que as áreas frigorificadas cresceram 20% nos últimos quatro anos, uma média anual de 5%, totalizando cerca de seis milhões de metros cúbicos.
A expansão da demanda por instalações com temperatura controlada vem sendo impulsionada, principalmente, pelo consumo cada vez maior de alimentos resfriados e congelados.
“A expectativa para os próximos anos é de um crescimento contínuo da cadeia de armazenamento frigorificado, pois as pessoas querem minimizar o tempo necessário para preparar as refeições”, afirma o vice-presidente do Departamento Nacional de Refrigeração Industrial da Abrava, Silvio Guglielmoni.
Com a evolução do comportamento do consumidor e com foco na segurança operacional, eficiência energética e sustentabilidade, o setor está passando por diversas mudanças que impactam os projetos e as obras de instalações refrigeradas.
“Consumo de energia e redução da carga de fluido refrigerante são, neste momento, o nome do jogo para os fornecedores de tecnologias para armazéns frigoríficos”, salienta.
As instalações do gênero, prossegue Guglielmoni, exigem uma análise avançada e detalhada durante a fase inicial de projeto para que resultem em melhor eficiência energética e menores custos operacionais gerais.
“A refrigeração representa a maior parte do consumo de energia destas instalações, em que os sistemas centrais com utilização de amônia (R-717) são a referência mundial para uma instalação eficiente”, diz.
Entre a lista de refrigerantes usados em aplicações modernas de refrigeração, a amônia é a substância que se manteve como uma opção viável desde que foi introduzida pela primeira vez na década de 1930 e classificada como um refrigerante natural. Por sinal, a amônia é elogiada por suas excelentes propriedades termodinâmicas e custo relativamente baixo.
Contudo, sua toxicidade também faz com que ela seja um refrigerante potencialmente letal, exigindo que os operadores garantam procedimentos seguros. “Ao longo dos anos, usuários, projetistas e fabricantes têm adotado padrões de segurança para ajudar a mitigar seus perigos e garantir locais de trabalho seguros e saudáveis. Toxicidade à parte, podemos afirmar que a amônia é uma das alternativas naturais mais ecológicas disponíveis”, informa.
Um dos métodos utilizados para diminuir a carga total de amônia nos sistemas de refrigeração é a sua combinação com o dióxido de carbono (R-744), a fim de removê-la dos espaços ocupados por pessoas ou produtos, ficando restrita somente à sala de máquinas.
“Sistemas de refrigeração baseados em R-744 têm experimentado uma crescente popularidade nos EUA, Europa e Ásia nos últimos anos, porque o CO2 também é um refrigerante natural, não é tóxico e pode ser uma alternativa efetiva para baixas e médias temperaturas”, destaca.
Dentre estas novas tecnologias, os fabricantes de unidades compressoras têm se dedicado a desenvolver sistemas de refrigeração indireto que utilizam CO2 Brine como um fluido secundário para o resfriamento do produto ou local desejado, no qual em vez de enviar amônia através da tubulação para um forçador de ar nos espaços refrigerados, utiliza-se uma pequena carga de amônia no estágio primário do ciclo de refrigeração, e confinada na sala de máquinas para baixar a temperatura do CO2 para congelados (-30 ºC) ou resfriados (-10 ºC).
“Em um sistema do gênero, o fluido refrigerante tóxico fica contido na sala de máquinas, e não em toda a instalação, garantindo que o potencial de exposição à amônia seja significativamente reduzido”, reforça.
Atualmente, os fabricantes de unidades compressoras têm desenvolvido novos projetos de câmaras frigoríficas que utilizam quantidades inferiores a um quilo de amônia por tonelada de refrigeração (1 TR = 3.024 Kcal/h), isto quando combinado com o uso de CO2 Brine como um fluido secundário.
“De qualquer forma, se houver um vazamento de CO2 em um espaço ocupado, isso não representa um risco iminente para a saúde ou segurança do trabalhador com as mesmas proporções que haveria no caso de vazamento da amônia”, garante.
“Salientamos também que este é um método eficiente em termos energéticos, que permite manter uma pegada ecológica com um sistema de refrigeração natural NH3/CO2 e, ao mesmo tempo, atenua os riscos operacionais”, acrescenta.
O sistema de refrigeração por NH3/CO2 também oferece outras vantagens, como eficiência energética, simplicidade da instalação, facilidade de manutenção, forçadores de ar com redução de tamanho e peso, tubulação com redução de diâmetro, sistema de CO2 isento de óleo, operação com pressão positiva em todo o sistema – o que dispensa a necessidade de um subsistema de purga de ar –, pressões e operação similar ao sistema de NH3 convencional.
“Todo o sistema de refrigeração também possui uma malha de controle e supervisão com um software integrado e projetado especificamente para as condições operacionais de cada cliente e suas respectivas aplicações”, explica Guglielmoni.
Mercado e tendências
Os fluidos refrigerantes ainda predominantes no setor são o R-404A, R-717 e R-22, que está sendo descontinuado, além dos fluidos secundários.
“As hidrofluorolefinas (HFOs), uma nova geração de fluidos refrigerantes, também estão se destacando no setor, devido ao seu menor impacto climático”, lembra o presidente da Multifrio Refrigeração, Marcos Zanotti.
Segundo o presidente do Departamento Nacional de Refrigeração Comercial da Abrava, Eduardo Almeida, o mercado está passando por uma conscientização bastante ampla, e hoje o investimento inicial não é o mais importante. Assim, leva-se em conta uma visão para todo o processo, com o objetivo de se obter o menor custo operacional.
“As expectativas do segmento são bastante animadoras para o próximo ano, pois o Brasil em breve receberá o status de país livre da febre aftosa, reconquistando assim mercados que, por ora, suspenderam as importações de nossa carne bovina”, diz.
Entretanto, o desempenho do setor em 2018 está abaixo do verificado no ano passado, motivado pelas incertezas políticas e econômicas, criando um ambiente de insegurança para os investidores.
Outro fator que contribui para o baixo nível de investimentos é a falta ou restrição de linhas de crédito, como Finame e cartão BNDES, o que seria essencial para o reaquecimento do setor.
Segundo Almeida, as principais tendências tecnológicas do segmento estão focadas em melhoria dos sistemas de automação para transporte, movimentação e estocagem, principalmente os verticais, otimizando as áreas de armazenamento.
O controle e o monitoramento das temperaturas das câmaras também têm merecido especial atenção nos projetos. “A automação e o monitoramento da abertura/fechamento das portas são responsáveis por assegurar a estabilidade da temperatura interna e garantir a qualidade do produto, além de melhorar a performance energética”, salienta.
Segundo empreiteiros do ramo de projeto, montagem e manutenção de equipamentos, outras tendências fortes no mercado são o uso de evaporadores especiais com rendimento e flecha de ar otimizados, válvulas de expansão eletrônicas e inversores de frequência, componentes que já são utilizados em ar-condicionado e agora serão aplicados na maioria dos sistemas de frio.
“Os compressores scroll, adotados hoje em larga escala na climatização, estão cada vez mais presentes em projetos de refrigeração”, exemplifica o engenheiro Marcos Guedes, da São Rafael Câmaras Frigoríficas.
“Sistemas de degelo a gás quente de maior eficiência e com automação ativa e condensadores utilizando a água para absorver parte do calor para processos internos dos centros logísticos junto com energia solar (para aquecimento de água) e outras aplicações com energia solar fotovoltaica ligada à rede elétrica darão o tom das instalações autossustentáveis da próxima década”, prevê o empresário Vandic Rocha, diretor técnico da Setfrio Engenharia e do Centro de Treinamento em HVAC-R Industrial, Naval e Offshore.
Segundo o consultor técnico e encarregado de engenharia de aplicação da Full Gauge Controls, Fábio Tedesco, o uso de válvula de expansão eletrônica mantém um superaquecimento totalmente desejado, independentemente das condições, resultando em um sistema frigorífico mais eficiente.
“Além disso, com o gerenciamento remoto das câmaras frigoríficas é possível ter acesso a todas as informações a distância, inclusive por meio do telefone celular, receber alertas, alterar as temperaturas e elaborar gráficos”, ressalta.
Fabricantes como a EOS Termoisolantes – que são especialistas em painéis isolantes e portas frigoríficas – confirmam tendências assim nos muitos projetos que têm atendido para grandes entrepostos.
O setor de cross docking também está em alta, segundo a empresa. Trata-se de um sistema logístico em que a mercadoria não chega a ser estocada no armazém ou centro de distribuição, sendo imediatamente preparada para entrega ao cliente ou consumidor final.
“Temos participado de diversos fornecimentos de soluções para as aplicações de armazenagen frigorificada”, confirma o coordenador nacional de vendas da empresa, Rui Ribeiro.
O desempenho do setor, segundo ele, vem sendo positivo em comparação aos últimos anos e a expectativa é que o mercado siga em crescimento. “A demanda, que ficou reprimida nos últimos três anos, está sendo retomada em 2018”, diz.
“Devagar, a economia está voltando a ficar aquecida”, avalia o empresário Orlando Marinho Bailer, da Refri-Leste, fabricante de painéis em poliuretano e portas frigoríficas. “Esperamos que, após as eleições, os negócios voltem ao normal”, completa.
“Este ano, temos um cenário político que deixa algumas incertezas quanto ao segundo semestre. Contudo, observando o movimento de grandes empresas em relação aos investimentos em expansão e obras, o cenário mostra-se promissor para o próximo ano”, acredita o gerente corporativo da divisão de câmaras frigoríficas da Dufrio, Roger Afonso Barchfeld.
Com a recuperação da economia, o setor vê a retomada dos projetos nessa área. “Vale lembrar que alguns segmentos do agronegócio no Brasil podem estar num nível diferenciado da economia geral do País, mas é inegável que, de forma macro, todos seguem o mesmo ritmo de recuperação”, destaca o gerente de engenharia da Kingspan Isoeste, Rafael Tomaz Zacarias.
Em termos de projeto, prossegue o gestor, uma das principais tendências no segmento é o uso da tecnologia BIM (sigla em inglês para Modelagem de Informações da Construção).
“A Kingspan Isoeste já entrega seus projetos nessa plataforma BIM, garantindo assim uma melhor compatibilidade entre todas as disciplinas do empreendimento, melhorando o levantamento de materiais e prevendo com antecedência todas as interferências entre projetos”, diz.
“Esse ganho inicial se mostra também extremamente importante na fase de execução e uso da obra, inclusive com a redução de custos em retrabalhos”, afirma.