Indústria do Frio aposta em ano melhor
Enquanto o “espetáculo do crescimento” não chega para valer, aproveitar ao máximo tudo de bom que os cenários brasileiro e internacional puderem oferecer no momento parece ser a preocupação central, hoje, das fábricas do HVAC-R brasileiro. Como se estivessem no grid de largada, as empresas da área esperam a bandeirada para, finalmente, pegar embalo e ir o mais longe possível.
Ano eleitoral, com perspectivas de redução de juros e maiores investimentos governamentais, 2006 tem tudo para favorecer o crescimento dos setores de refrigeração e ar condicionado. É o que se pode deduzir ao analisar as respostas dos representantes de diversos segmentos da área que participaram de mais uma enquete da Revista do Frio sobre as perspectivas do mercado para o ano novo.
O gerente de Marketing da Divisão de Fluorquímicos da DuPont, por exemplo, pretende aproveitar tais tendências positivas para reforçar diferenciais de qualidade nos produtos e serviços de sua empresa, bem como promover soluções amigáveis do ponto de vista ambiental. “Neste sentido, estaremos promovendo a nova linha de fluídos refrigerantes alternativos Isceon à base de HFC’s, destinados à substituição dos CFC’s e HCFC’s”, antecipa Maurício Xavier.
Outro profissional da área decidido a ampliar seu mercado é o coordenador de Vendas e Marketing da Parker Hannifin Indústria e Comércio Ltda, Jonathan Fáber Pretel. “Nosso maior objetivo é ganhar espaço no setor de refrigeração industrial”, diz ele, lamentando que 2005 tenha sido marcado por dificuldades como o alto custo do cobre e o dólar declinante praticamente todos os meses.
A fabricante de bombas e dosadores Brasbom até especifica de quais segmentos espera as primeiras notícias realmente boas do ano. Seu diretor, Damián Gaston Prola, não esconde o entusiasmo ao falar das possibilidades que vislumbra em setores como petróleo; papel e celulose; açúcar e álcool, entre outros. “Nossa meta prioritária será a nacionalização e a fabricação de produtos importados como bombas dosadoras e de vácuo”, explica.
O gerente Comercial de Refrigeração da Emerson Climate Technologies, Alberto Cury, prevê crescimento mínimo de 15% em dólares, considerando a vasta linha de produtos que comercializa.
Baseado nas previsões de especialistas, o gerente Comercial da Apema, James José Angelini, acredita que 2006 deverá repetir o resultado de 2005. “Nossa meta já estabelecida é de crescer 20% em faturamento”, diz ele.
Na LG, que atua no mercado residencial com foco no Hi Wall, e que agora está intensificando sua presença no segmento comercial, o gerente geral da área de condicionadores de ar, Ivo Lutfi, avalia que o volume de unidades vendidas em 2006 cresça entre 45% e 50% , ou seja, em patamares semelhantes aos registrado no ano passado.
O diretor de vendas e marketing da Armacell, Arnaldo Basile, também tem uma expectativa positiva para este ano. Satisfeito com a aceitação da borracha elastomérica em isolamento térmico, ele espera que sua empresa evolua em vendas nos mercados brasileiro, sul-americano, bem como nos países do Hemisfério Norte. Para atingir tais objetivos, antecipa planos como o desenvolvimento de novos nichos de mercado e o reforço de suas revendas em regiões onde o produto Armaflex ainda precisa ser mais conhecido,
Na Delta Frio Indústria de Refrigeração Ltda, o diretor Marcelo Marx é outro profissional do setor que espera um ano promissor e aposta num nível de investimentos mais elevado. “Acreditamos que a economia brasileira esteja, a cada dia, desenvolvendo uma espécie de blindagem contra as turbulências políticas do país”, expectativa diante da qual ele informa estar disposto a investir em tecnologia e também na abertura de mercado, inclusive no Mercosul.
Mudanças Internas
Tão significativos quanto os rumos da economia para as empresas do setor traçarem seus planos têm sido as expectativas alimentadas em função de acontecimentos dentro de casa que se demonstraram relevantes ao longo de 2005.
Um exemplo típico disso é a gaúcha Termoprol, do gerente técnico Bruno Wilson Ronchetti, que se associou no ano passado à italiana Zanotti, união da qual surgiu uma nova empresa, a CTZ – Companhia Termoprol Zanotti. “Teremos uma gama infinitamente maior de equipamentos, além de uma considerável redução de custos pela compra em escala de componentes”, prevê Ronchetti ao justificar seu otimismo com relação a 2006, ano em que sua empresa pretende abocanhar uma parcela expressiva do mercado de equipamentos dos tipos monobloco e split.
Também no Sul, a Polipex Indústria e Comércio Ltda. espera colher este ano resultados de um 2005 bastante movimentado por acontecimentos como a certificação pela ISO 9001:2000 e o lançamento de um novo isolante de polietileno expandido especialmente resistente à incidência dos raios ultravioleta do Sol, o Polipex UV Plus.
Na esteira de toda essa efervescência, sua fábrica, localizada em São José (SC) , consumiu investimentos de US$ 250 mil na aquisição de novas máquinas extrusoras, que logo a permitirão fornecer tubos em espessuras maiores, na medida exata para aumentar a presença da empresa no setor de refrigeração. “Vamos expandir de 75 para 100 toneladas/mês nossa capacidade de produção total”, acrescenta o diretor presidente da empresa, John Johannes van Mullem.
Pendências Preocupantes
Embora, em sua grande maioria, as empresas falem em crescimento ao rememorar 2005, também são quase unânimes ao reconhecer alguns fatos que ainda preocupam no cenário econômico do país, alguns deles com desdobramentos automáticos para o novo ano.
Um dos gargalos remanescentes é o crescimento modesto, fenômeno que James Angelini, da Apema, atribui, em grande parte, à escassez de investimentos nos setores privado e estatal.
Maurício Xavier, da DuPont, concorda e acrescenta as altas taxas de juros ao rol das maiores preocupações herdadas do ano velho. Em contrapartida, anima-se ao considerar a manutenção da estabilidade da economia entre os acontecimentos positivos que também acompanharam a virada de calendário.
A queda do dólar foi outra coisa boa, na avaliação de Damián Prola, da Brasbom, que lamenta apenas o estrago causado pelas greves em portos e aeroportos, o que acabou prejudicado as exportações de sua empresa. “O andamento e as previsões das importações também foram prejudicados por conta de uma greve no Ministério da Agricultura em novembro”, constata.
Já a Emerson Climates, segundo seu gerente Alberto Cury, foi beneficiada pela abertura de novos supermercados e a reforma de outros, juntamente com investimentos realizados pelos edifícios comerciais, shopping centers, hospitais e residências de alto padrão. No entanto, reclama da queda do dólar que afetou a lucratividade, principalmente no campo das exportações.
A Armacell, por sua vez, afirma ter amargado negócios não concretizados ou suspensos em função da queda no ritmo dos investimentos, o que freou um crescimento maior, aguardado desde o início do ano. “Mas reconhecemos o amadurecimento político da sociedade possibilitando à economia desvincular-se da política, o que nos faz pensar de maneira positiva sobre o futuro”, argumenta o diretor da empresa, Arnaldo Basile.
Marcelo Marx, da Delta Frio, lamenta que muitos clientes ainda necessitem de financiamento parcial, algo sempre preocupante diante dos elevados juros praticados no país. “Temos sinais de uma redução dessas taxas, o que deverá, gradativamente, intensificar os negócios”, analisa o diretor da empresa.
Enfático, o diretor Claudio Palma, da Mipal, aponta o desgaste político do governo, e a visão míope da política de juros altos, aliada ao fortalecimento ‘plastificado’ do Real, como as principais forças negativas que empurraram o Brasil para o fim da fila no ranking do crescimento entre os países emergentes.
Para o presidente e diretor-gerente da Tecumseh do Brasil, Gerson Veríssimo, 2005, realmente, não deixará saudades.
Além da queda na demanda internacional por compressores herméticos, ele lamenta que as commodities ainda estejam nas alturas, a exemplo das taxas de juros e do próprio câmbio.
Veríssimo também deseja que o governo “não quebre regras do jogo justo”, aludindo com isso à transferência de crédito do ICMS aos fornecedores prevista pela Lei Kandir. “O câmbio injusto nos tira o oxigênio e o novo tema do ICMS nós toma o pouco de sangue que ainda temos”, arremata.
Frases
Alguns profissionais do setor foram contundentes ao expressar como viram 2005 e o que esperam para o novo ano. Confira:
Valor Real
“O mercado, em geral, tem que se conscientizar de que nem sempre preço baixo é sinônimo de qualidade” – Ariane Fuser De Ângelo (CRC – Central Recondicionadora de Compressores Ltda.), ao atribuir não apenas a fatores econômicos, mas também a aspectos culturais os pré requisitos para um 2006 melhor.
Desafio
“Este ano promete exigir muito da gestão empresarial, podendo surpreender tanto os otimistas quanto os pessimistas. Cautela e estabilidade serão, portanto, muito importantes para a vida saudável de uma empresa” – Claudio Palma (Mipal).
Cortando Caminho
O processo de importação no Brasil é realmente muito complicado: custo elevado, liberação de mercadoria muito demorada, greves no portos etc. Por esses e outros motivos, estamos montando uma fábrica no Brasil – Damián Gaston Prola (Brasbom)
Pior e Melhor
O fator mais prejudicial de 2005 foram a insegurança política e o contingenciamento das verbas destinadas ao fomento industrial e agro-pecuário. O que mais favoreceu, o otimismo da iniciativa privada – Bruno Wilson Ronchetti Empresa (Termoprol)
Solução
Se as commodities aumentaram para nós, também aumentaram para as outras empresas. Vantagem competitiva se consegue quando se ajusta o negócio, através de custos enxutos internos e estratégias comerciais eficientes – Marcelo Marx (Delta Frio).
Melhor Esquecer
A atividade da linha branca, que alavanca a venda de compressores herméticos, foi muito mal, principalmente no Brasil e na Europa. O fato está ligado ao câmbio, à taxa de juros , falta de dinheiro e outros hábitos de consumo da população em geral. Em suma, 2005 é um ano para ser esquecido em nosso negócio. Gerson Veríssimo (Tecumseh)