Economia energética
Fabricantes de equipamentos, instaladores e supermercadistas têm dedicado boa parte do seu tempo à análise de como obter a melhor relação custo-benefício na hora de investir para economizar energia elétrica. Não só o tamanho das lojas, mas também da própria visão dos empresários do setor depende a definição de diferentes estratégias nesse campo.
Imagine várias pessoas correndo de mãos dadas, porém umas mais rápidas que as outras. Essa imagem talvez sintetize o que ocorre atualmente no segmento de supermercados, onde os fornecedores de equipamentos e controles apregoam a importância de se acompanhar nas lojas a evolução tecnológica dessas áreas. “Justamente na fatia do mercado que mais cresce – lojas com até três checkouts — é que a coisa está mais complicada”, avalia Higor Souza de Almeida, engenheiro de aplicação e Vendas da Divisão Refrigeração da Danfoss.
Com a experiência de quem veio da área de assistência técnica e suporte de campo, o engenheiro vive de perto, há três anos, a realidade de supermercados de todos os portes, instalados nas mais diversas localidades, e não titubeia ao afirmar: “percebo nítidas mudanças por parte de fabricantes de equipamentos e instaladores, mas o empresário da área supermercadista, de uma forma geral, reage bem mais lentamente”.
Colocar o conceito de eficiência energética na cultura do setor não é tarefa das mais simples, e isso se deve aos custos normalmente altos envolvidos nesse tipo de obra. “Eu gastava ‘x’ reais, e agora vem o pessoal falando em economia energética para justificar orçamentos bem maiores?”. Esse tipo de questionamento, segundo Higor, tem sido freqüente como escudo protetor na boca, até mesmo, de contratantes de grandes redes, onde o principal argumento conservador prende-se ao fato de já terem montado lojas bem mais em conta e que hoje estariam funcionando muito bem, obrigado.
Já os pequenos, muitas vezes não têm parâmetros comparativos, pois vários deles sequer abriram a primeira filial. Nem por isso, porém, deixam de colocar a questão do custo em evidência quando examinam um projeto de reforma.
Na ponta dos instaladores, outro empecilho: no afã de não perder novos negócios para a concorrência, a maioria faz o que pode para enxugar seus orçamentos, o que restringe sensivelmente a possibilidade de adesão aos inúmeros recursos disponíveis hoje quando a meta é encolher a conta de luz.
Aliás, geralmente são os menores preços que costumam ganhar essas concorrências, o que ratifica a teoria de Higor quanto à supervalorização da economia imediata, em detrimento ao payback que uma instalação realmente inteligente oferece.
“Nos pequenos, principalmente, existe até um certo retrocesso, com a substituição de controles eletrônicos por eletromecânicos para reduzir custos”, acrescenta o profissional. É o caso de tecnologias do tipo PID (Proporcional, Integral, Derivativo) e também por Zona Morta, que estão cedendo espaço aos controles eletromecânicos restritos a valores predeterminados para ligar ou desligar equipamentos.
“É nesse ponto que está o desperdício energético, já que uma instalação de supermercado é instável, com grandes variações de cargas térmicas em curtos espaços de tempo. O equipamento de frio, num ambiente assim, precisa se adaptar a diferentes cargas, tarefa que apenas a eletrônica facilita”, acrescenta Almeida.
PERDAS GERAIS
O interior de São Paulo é uma praça que o engenheiro da Danfoss aponta como exemplar em matéria de guerra de preços. Isto, segundo ele, acaba prejudicando o consumidor final, que não tem segurança de que o produto que leva para casa permaneceu na temperatura ideal durante todo o tempo em que ficou armazenado.
O supermercadista, por sua vez, acaba pagando por mais energia para obter certa quantidade de frio, ao mesmo tempo em que as fábricas de equipamentos vêem seus esforços em desenvolvimento e engenharia escorrer pelos dedos.
Nas lojas de médio a grande porte, no entanto, o momento é outro. “Eu acredito que foi dado o start nesse tipo de loja para uma mudança profunda de conceito”, arrisca Higor. “Eles já estão percebendo a necessidade de obter mais da instalação por menos de energia”, acrescenta o engenheiro.
Essa diversidade de compor-tamento leva empresas como a Danfoss a agir com muito jogo-de-cintura para oferecer eficiência técnica a custos mais acessíveis. “Não se pode mais trabalhar da mesma forma com hipermercados de 5 mil metros quadrados e até sessenta checkouts” e lojas bem menores, na faixa dos 500 metros quadrados “, diz Higor.
Segundo ele, por isso mesmo o catálogo da Danfoss reúne hoje produtos eficientes, mas que permitem a implantação de soluções bem mais em conta, relacionadas apenas ao campo da refrigeração, ou seja, que dispensando os recursos extras que só as grandes lojas utilizam. É o caso do gerenciamento de ar-condicionado, iluminação e estacionamento. Essas soluções mais abrangentes, dependendo do caso, podem proporcionar no mínimo trinta por cento de economia, dependendo do estágio da tecnologia empregada quando a loja foi inaugurada e também do seu tempo de vida.
HARDWARE EM DIA
A eficiência energética da refrigeração de um supermercado é diretamente proporcional aos recursos tecnológicos empregados na obra. No tocante a compressores, por exemplo, os abertos dão mais trabalho, por ser reconhecidamente menos eficientes. Por isso, têm prevalecido nas instalações atuais os herméticos e semi-herméticos recíprocos.
Outro fato consumado nesse mercado são as aplicações em paralelo, distribuindo a capacidade de frio em vários compressores, tanto para evitar paradas de manutenção quanto permitir a obtenção de vários níveis de capacidade, de acordo com as oscilações de demanda ao longo do dia. Em outras palavras, os chamados racks instalados do lado de fora das lojas, no lugar de vários equipamentos menores que antes ficavam no interior dos estabelecimentos, permitem conciliar melhor e sem desperdício a potência elétrica empregada e a necessidade de frio alimentar. Soma-se a isso o fato de o calor residual ficar bem longe de freezers e expositores, constituindo um fator a mais para a redução da carga de frio e, conseqüentemente, de consumo energético.
Muitos desses fatos, porém, ainda são grego para boa parte dos supermercadistas. “De fato, os equipamentos antigos, como os compressores por correia, ainda não foram superados em preferência pelos mais modernos, os ‘pretinhos’, como os proprietários das lojas costumam chamar os novos herméticos”, constata José Ricardo Ucha Campos, diretor Comercial da Totaline de São José dos Campos (SP).
Isso ocorre, segundo ele, porque economizar energia não é uma prioridade unânime no meio. “Os clientes dão importância ao consumo de energia, mas não mensuram isso muito bem. Eles aproveitam quando vamos fazer alguma coisa na loja e solicitam a troca por um equipamento que economize”, acrescenta o profissional.
Mas para Nerizon Batista de Souza, proprietário da prestadora de serviços Termo Frio, empresa com atuação predominante na região Centro-Oeste, os estabelecimentos de pequeno e médio portes tendem a acompanhar as instalações frigoríficas industriais. “Mesmo os mercadinhos de bairro estão tirando os equipamentos de refrigeração que causam aquecimento, e optando cada vez mais pelas casas de máquinas externas”, diz ele.
Um empurrãozinho extra para que isso ocorra, no seu entender, fica por conta da obediência à legislação cada vez mais rigorosa no setor de alimentos. “A maioria dos super-mercados descuidava da manutenção mensal, consertando as máquinas apenas quando havia algum problema. Agora, que a Vigilância Sanitária está mais em cima, estamos notando os supermercadistas mais preocupados com esse aspecto”, acrescenta.
EXCEÇÃO NO NORDESTE
Com quatro lojas em Fortaleza e duas no interior do Ceará (Maracanau e Aracati), o Frangolândia é um claro exemplo de que a questão energética é levada mais a sério à medida que um supermercado cresce, passando a ter no consumo mensal neste campo um peso cada vez mais expressivo em sua planilha de despesas.
Com tamanho médio de 900 m2 e até 12 checkouts em suas lojas, a casa dirigida na área comercial por Antônio Tabosa Junior, um dos sócios da empresa, possui ainda um Centro de Distribuição na capital cearense cuja área total é de 8 mil m2 e a capacidade de armazenagem frigorificada chega a 550 toneladas.
“Ao fechar o pacote de uma loja nós focamos mais a questão da economia energética, em detrimento a outros aspectos também importantes ligados a layout e estilo”, observa o executivo.
“Energia, atualmente, consome 1.4% do nosso faturamento bruto, sendo que esse índice, historicamente, ficava em 0,8%”, acrescenta o empresário, ao colocar em destaque o aumento expressivo das tarifas energéticas registrado nos últimos anos.
Ao mesmo tempo, a importância dos perecíveis na composição desse mesmo faturamento vem crescendo de forma exponencial, já respondendo por 40% das vendas realizadas pela empresa.
Diante desse quadro, a alternativa que resta, segundo Tabosa Junior, é conciliar o investimento constante na área de refrigeração à busca também permanente pela redução de consumo, até mesmo para continuar competindo com nomes do naipe de um Pão de Açúcar, hoje uma verdadeira referência naquele mercado.
Foi pensando assim que o Supermercado Frangolândia, um parceiro de indústrias como Heatcraft, Copeland e Danfoss, bem como da instaladora local Autofrio, substituiu em metade de suas lojas e também no Centro de Distribuição os antigos compressores abertos, que funcionavam com correia, por motores skroll rotativos instalados em paralelo.
Essa mudança trouxe uma redução de consumo da ordem de 30%. “Pretendemos fazer alteração se-melhante nas outras três unidades”, anima-se o empresário. convicto do resultado positivo da opção por casas de máquinas carenadas ao invés de pequenas máquinas espalhadas pelo interior de suas lojas.
Ao mesmo tempo, o Frangolândia adquiriu geradores para utilização em horários de pico em todos os seus pontos-de-venda e também no CD. Em função disso, acabou obtendo condições especiais junto à companhia energética local, a COELCE, a ponto de a energia pública estar saindo mais em conta do que a gerada inter-namente.
Outro ganho expressivo decorre, segundo o empresário, da própria evolução dos equipamentos adquiridos de fabricantes como Eletrofrio e Arneg. “De cinco anos para cá as ilhas tornaram-se bem mais eficientes, proporcionando economia energética de até 55%”, constata o diretor.
Isso não o impede de também investir em tecnologia dentro de casa. Tanto é que em duas de suas seis lojas, por exemplo, está reaproveitando a água quente produzida pela casa de máquinas para esterilização nas salas de preparo de carnes e peixes.