Futuro do HVAC-R une eficiência, sustentabilidade e ar mais saudável

Com foco em eficiência energética, uso de refrigerantes de baixo GWP e melhoria da qualidade do ar interno, o setor de HVAC-R no Brasil acelera sua transição para uma era mais sustentável

Veja a edição completa
Visualizar em PDF

À medida que o setor de HVAC-R no Brasil avança, as atenções se voltam para três pilares que definirão o futuro da climatização e refrigeração: eficiência energética, transição para refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global (GWP) e melhoria da qualidade do ar interno, e vem assumindo papel estratégico na agenda de sustentabilidade no país, além de representar participação significativa na produção industrial.

Representando cerca de 2,3% da produção industrial, nacional a eficiência energética é hoje uma das prioridades da política ambiental e industrial brasileira. O Ministério de Minas e Energia (MME), em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a organização internacional CLASP, promoveu em 14 de outubro último, o seminário “Brasil e a COP30: o papel da eficiência energética no setor HVAC-R”, que reuniu representantes do governo, entidades industriais e especialistas nacionais e internacionais.

Durante o encontro, foi lançado o Comitê de Acompanhamento do Projeto de Eficiência Energética como Instrumento de Política Industrial, iniciativa que reunirá representantes públicos e privados para sugerir ações que ampliem a competitividade e a sustentabilidade do setor. O grupo também será responsável pela elaboração de uma carta de compromisso com a eficiência energética, que poderá ser apresentada na COP30, em Belém (PA), este mês de novembro.

Para o MME, a cooperação entre ministérios, indústria e instituições de pesquisa é essencial para fortalecer a política energética brasileira e posicionar o país como referência global em inovação. O diretor do Departamento de Informações, Estudos e Eficiência Energética do MME, Leandro Andrade, destacou que o setor de HVAC-R representa cerca de 10% do consumo de energia elétrica do setor residencial no país, índice que evidencia o enorme potencial de economia e de crescimento.

Leandro Andrade destacou o papel da eficiência energética no setor HVAC-R durante seminário “Brasil e a COP30”

“A eficiência energética é o primeiro e mais imediato mecanismo de impacto para os sistemas HVAC-R. No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou diretrizes específicas para aparelhos de ar-condicionado, estabelecendo novos índices mínimos de eficiência com metodologia baseada na norma ISO 16358-1, que permite diferenciar os equipamentos com tecnologia inverter, capazes de consumir até 30 % menos energia que os convencionais de rotação fixa. A eficiência energética usualmente é como se fosse o combustível mais barato, a alternativa energética mais econômica para o consumidor de energia. Ela pode reduzir a necessidade de novos investimentos em geração e transmissão de energia e trazer benefícios diretos ao consumidor, com redução na conta de luz, sem perder qualidade de vida. Num contexto de COP, reforçar a eficiência dentro da política industrial brasileira é essencial para alcançarmos a transição energética inclusiva que desejamos”, afirmou Andrade.

A Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) vem alertando sobre os desafios na implementação de alternativas de refrigerantes de baixo GWP, tecnologias com máxima eficiência e QAI, destacando questões como infraestrutura, custo, capacitação técnica e normas de segurança e fabricantes já se movimentam.

“Durante o evento “Brasil e a COP30”, foi assinado o termo com os SENAI Amazonas e Paraná, que farão o mapeamento de toda cadeia produtiva do HVAC-R na intenção de apresentar iniciativas que impulsionam a sustentabilidade e a inovação no país. Além disso, eu e Felipe Raats representaremos a ABRAVA no Comitê de Acompanhamento do Projeto Eficiência Energética no setor”, informa Thiago Pietrobon, Diretor de Meio Ambiente da ABRAVA.

Tanto para os grandes fabricantes quanto para instaladores, esse tripé: pressão regulatória + mercado + tecnologia, significa que os sistemas devem ser projetados com componentes de alta eficiência, controles inteligentes, manutenção rigorosa e integração digital (IoT/monitoramento). O resultado: menor consumo de energia, menores custos operacionais e menor emissões de CO‚  no ciclo de vida.

A Daikin divulgou que pretende duplicar a eficiência energética de seus equipamentos até 2030 e zerar as emissões de carbono em 2050. Em sua participação no seminário “Brasil e a COP30”, a empresa apresentou sua visão de sustentabilidade e o avanço tecnológico em equipamentos inverter e VRV.

“A promoção do inverter e o desenvolvimento do VRV foram fundamentais para o salto tecnológico que resultou em equipamentos mais eficientes. Em cada COP, a Daikin buscar trazer novas ideias e aplicações com o objetivo de reduzir sua pegada de carbono e transformar o setor. Na COP30, o foco será em soluções para descarbonização de edificações e combate ao overcooling (arrefecimento excessivo)”, enfatiza João Aureliano, Gerente Sênior de Engenharia de Produto da Daikin.

Já a Hitachi, teve projeto pelo retrofit do Condomínio Edifício Villa Lobos com a substituição de chillers, infraestrutura elétrica e hidráulica que resultou em redução de consumo de energia elétrica de cerca de 20% e água em 25%. O retrofit substituiu a Central de Água Gelada (CAG), condicionadores de ar, infraestrutura elétrica e hidráulica, além da instalação das seis unidades resfriadoras de água gelada com Chiller Parafuso com Condensação a Ar de capacidade 140 TR cada, totalizando 840 TR.

Transição para refrigerantes de baixo GWP

O segundo grande vetor é a transição para refrigerantes com baixo potencial de aquecimento global (GWP). No Brasil, esse movimento é impulsionado tanto por compromissos internacionais como a Protocolo de Kigali (sobre HFCs), quanto por iniciativas setoriais. A Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ASBRAV), por exemplo, publicou recentemente um alerta sobre “Desafios na implementação de refrigerantes de baixo GWP no Brasil”, mencionando barreiras como infraestrutura, custo e capacitação técnica.

“Globalmente, a indústria de HVAC-R é incentivada a diminuir o uso de refrigerantes tradicionais devido ao seu alto GWP, que contribui significativamente para o aquecimento global. O Protocolo de Kigali, uma emenda ao Protocolo de Montreal, exige uma redução substancial na utilização destes gases até 2030. Para o Brasil, a adesão a este protocolo significa necessidades urgentes de adaptação às novas normativas internacionais que promovem um mercado mais sustentável. A transição para refrigerantes de baixo GWP no Brasil é inevitável e essencial para alinhar o país com objetivos globais de sustentabilidade. Enquanto os desafios são consideráveis, as oportunidades para inovar e liderar em eficiência energética e redução de emissões são vastas. Com o apoio governamental adequado através de incentivos fiscais e programas de financiamento, juntamente com um ambiente regulatório claro e estável, o Brasil pode superar esses obstáculos e estabelecer um novo padrão em sustentabilidade ambiental no setor de HVAC-R”, comenta Mario Henrique Canale, presidente da ASBRAV.

No setor industrial, as fabricantes já lideram esse movimento. A Daikin iniciou em Manaus a produção de equipamentos que utilizam o R-32, fluido com GWP até 68% menor que o R-410A. A Midea também investe em linhas com R-32 e em projetos que testam o uso do R-290 (propano), considerado uma solução natural e de baixíssimo impacto ambiental. Já a Copeland oferece compressores e sistemas compatíveis com refrigerantes A2L, CO2‚  (R-744) e R-290, desenvolvidos para aplicações comerciais e industriais de alta eficiência.

Esses avanços colocam o Brasil em sintonia com os compromissos do Protocolo de Kigali, que prevê a redução gradual dos HFCs. No entanto, para consolidar a transição, é indispensável investir na capacitação de técnicos e instaladores, pois o manuseio de novos gases requer normas de segurança, ferramentas específicas e procedimentos de comissionamento adequados.

Grandes fabricantes já oferecem sistemas compatíveis com refrigerantes A2L, CO2‚ (R-744) e R-290, desenvolvidos para aplicações comerciais e industriais


Qualidade do ar interno e saúde

A pandemia reforçou a importância da qualidade do ar interno (QAI) como fator de saúde pública e produtividade. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a ABRAVA têm enfatizado que a QAI deve integrar políticas ambientais e de edificações sustentáveis. Segundo dados da ABRAVA, em ambientes fechados onde passamos cerca de 90% do tempo, a poluição interna pode ser 2 a 5 vezes maior do que a externa. Isso reforça o papel crítico de projetistas, instaladores e técnicos em garantir sistemas bem dimensionados e limpos, com ventilação adequada, filtragem eficiente, controle de umidade, troca de ar e manutenção periódica.

Até recentemente, a Resolução RE 09/2003 da ANVISA era o principal documento que definia padrões referenciais de QAI no país. Contudo, ela foi substituída pela nova ABNT NBR 17.037:2023, que modernizou e ampliou os critérios de avaliação. A norma estabelece parâmetros para contaminantes biológicos, químicos e físicos, além de condições térmicas ideais e taxas mínimas de renovação de ar.

“A publicação dessa norma representa um avanço importante, pois substitui padrões antigos e alinha o Brasil às práticas internacionais de controle de qualidade do ar. A NBR 17.037 dialoga com outras referências, como a NBR 16.401-3, voltada ao projeto e manutenção de sistemas de ar-condicionado central e unitário, e as normas ASHRAE 62.1 e 55, que orientam o conforto térmico e a ventilação adequada em edifícios. Além disso, em 2024 foi sancionada a Lei nº 14.850, que institui a Política Nacional de Qualidade do Ar. Embora voltada principalmente ao ar externo, a legislação reforça a necessidade de monitoramento, divulgação de dados e integração de políticas públicas, o que influencia diretamente os esforços pela melhoria da QAI”, diz Leonardo Cozac, Presidente da ABRAVA.

Essas mudanças normativas refletem uma nova mentalidade no setor HVAC-R. Hoje, não basta climatizar, é preciso purificar, ventilar e monitorar o ar que se respira. Essa evolução tecnológica e regulatória vem acompanhada de desafios, como o custo das medições e adequações, a necessidade de atualização profissional e a substituição de equipamentos antigos por sistemas mais eficientes.

A LG, por exemplo, em sua plataforma de soluções, afirma adotar uma abordagem “digital e ecologicamente correta” e aponta que suas soluções ajudam a “garantir ambientes mais seguros e saudáveis”, com filtros de alta eficiência, monitoramento de qualidade do ar e ventilação térmica otimizada.


Desafios de instaladores e técnicos

Mesmo com equipamentos de ponta e fluidos de baixo impacto, se a instalação for inadequada, a manutenção negligente ou os controles inexistentes, o ganho se perde. Entre os desafios destacados estão:

– Capacitação técnica para os novos refrigerantes (manuseio, instalação, segurança) e para manutenção de sistemas inverter e de vazamento reduzido.

– Necessidade de projetos bem dimensionados e execução com qualidade (tubulação, isolantes térmicos, carga correta, comissionamento).

– Manutenção periódica que garanta desempenho real, qualidade do ar e vida útil dos equipamentos.

– Conscientização dos usuários finais para optar por soluções de maior eficiência, ainda que com investimento maior.

– Alinhamento regulatório, incentivos fiscais ou programas de apoio para acelerar a substituição de sistemas obsoletos, inclusive em edificações públicas ou industriais.