Clima local determina estratégias nos projetos de HVAC-R
Análises de chuvas, ventos, temperaturas, umidade e incidência solar desempenham papéis importantes na determinação dos requisitos de carga térmica de edificações.
A climatização eficiente de ambientes é uma questão importante no Brasil, dado o seu vasto território e diversidade climática. As estratégias de climatização variam conforme a região, pois cada uma possui características climáticas distintas que influenciam não apenas o conforto térmico dos habitantes, mas também a eficiência energética das edificações. A concepção de projetos de HVAC-R que sejam eficientes e eficazes exige uma análise cuidadosa das condições climáticas locais. Fatores como clima local, chuvas, ventos e a incidência solar influenciam o projeto de sistemas de climatização e nas estratégias regionais. Abordar estas variáveis conforme a região é fundamental para otimizar o conforto térmico, a qualidade do ar interior e a eficiência energética dos sistemas de HVAC-R.
“Desde a concepção da edificação, cada vez mais os projetistas de HVAC-R se envolvem com arquitetos e áreas de utilidades para ajudar na simulação energética do empreendimento, usando toda tecnologia para definir materiais, face solar, face do vento dominante e índices pluviométricos. As variações climáticas no Brasil têm provocado uma enorme demanda por instalação de sistemas de climatização do tipo split para proporcionar maior conforto térmico, seja em residências ou escritórios, com isso a matriz energética fica cada vez mais sobrecarregada. Hoje, independente da região, em todos os projetos é mandatório o conforto térmico, a qualidade do ar interior e a eficiência energética, não dá para fazer projetos sem essa espinha dorsal”, informa o projetista Roberto Montemor, diretor da Fundament-Ar .
Segundo ele, as análises climáticas regionais incluem a variação de temperatura e umidade ao longo do ano, definindo as necessidades básicas de aquecimento e refrigeração de um edifício. Em regiões com alta umidade e temperaturas elevadas, como o litoral brasileiro, os sistemas devem ser projetados para desumidificar eficientemente o ar, além de resfriá-lo. Em contraste, áreas com climas secos e frios exigem sistemas eficientes de aquecimento e umidificação.
Também a quantidade e a frequência das chuvas influenciam no projeto de sistemas HVAC-R, principalmente em relação à captação e drenagem de água, bem como à umidade externa. Em áreas com alta pluviosidade, é importante considerar sistemas de ventilação que possam lidar com a umidade externa, prevenindo problemas de condensação e crescimento de mofo.
Outro ponto destacado é a análise da direção e a velocidade dos ventos promovendo a ventilação natural e a dissipação de calor dos edifícios. Projetos que tiram proveito dos ventos dominantes podem reduzir a necessidade de refrigeração mecânica, aproveitando a ventilação cruzada para o resfriamento passivo. Além disso, barreiras naturais ou construídas podem ser utilizadas para proteger os edifícios dos ventos frios, reduzindo a demanda de aquecimento.
“Na minha trajetória profissional, consegui por duas oportunidades usar o vento dominante com a utilização de sistemas automatizados, onde dependendo da velocidade do vento e da temperatura externa, desligávamos os sistemas e abríamos as janelas automaticamente voltadas para o vento dominante. Esses dois projetos receberam a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida pelo Green Building Council Brasil (GBC Brasil)”, informa Montemor.
Já para regiões com alta incidência solar, é crucial integrar proteções solares, como brises e coberturas para minimizar o ganho de calor. Sistemas de HVAC-R em tais regiões podem também se beneficiar do uso de energia solar térmica ou fotovoltaica para aquecimento de água e geração de eletricidade, respectivamente. A quantidade de radiação solar que um edifício recebe influencia significativamente suas necessidades de climatização.
“Usar bons materiais isolantes como telhas sanduíches e vidros com nanotecnologia e sombreamento com painéis fotovoltaicos precisam ser incluídos em projetos nessas regiões, proporcionado menor carga térmica no dimensionamento do sistema. Hoje, por exemplo, muitos resorts do Norte, Nordeste e Centro-Oeste optam por instalar os painéis solares fotovoltaicos sobre a edificação. Além de gerar energia limpa, eles diminuem a carga térmica de insolação, e isso é uma sinergia maravilhosa”, aponta o projetista.
Estratégias conforme a região
Implementar estratégias de acordo com as condições locais pode resultar em uma melhoria significativa do conforto térmico e da eficiência energética em edificações pelo Brasil, promovendo um ambiente mais sustentável. De acordo com as características específicas de cada região, é possível desenvolver estratégias de climatização que garantam o conforto, a saúde dos ocupantes e a eficiência energética dos edifícios.
Por exemplo, a Região Norte do Brasil é caracterizada por um clima equatorial, quente e úmido durante quase todo o ano. Estratégias eficazes de climatização nesta área incluem ventilação natural aproveitando a ventilação cruzada para promover a circulação de ar e reduzir a sensação de abafamento; utilização de jardins no telhado para ajudar a reduzir a temperatura interna das casas; e implementação de varandas e uso de árvores para prover sombra, reduzindo assim a carga térmica direta sobre as edificações
Já para a Região Nordeste, que possui clima predominantemente semiárido em seu interior, com altas temperaturas e baixa umidade, e áreas costeiras com clima tropical, algumas estratégias incluem construção com materiais isolantes que refletem a radiação solar e isolam o calor, como telhas claras e paredes com bom isolamento térmico; sistemas de sombreamento e resfriamento evaporativo – técnica que pode ser eficaz em áreas mais secas, aproveitando a baixa umidade para resfriar os ambientes.
Na Região Centro-Oeste, que possui um clima tropical com duas estações bem definidas, uma seca e uma chuvosa, e altas temperaturas na maior parte do ano, recomenda-se assegurar que as edificações sejam bem isoladas para manter o calor fora durante o período seco; promover a instalação de ventiladores de teto e outros sistemas de ventilação para os períodos mais quentes, e utilização de painéis solares para aproveitar a alta incidência solar para geração de energia.
O Sudeste apresenta um clima mais variado, com verões quentes e úmidos e invernos frios em algumas partes. Estratégias podem incluir sistemas de ar condicionado com tecnologia inverter, que são mais econômicos e eficientes; reduzir a entrada de calor através das janelas com o uso de películas refletivas e cortinas de cores claras, além de utilizar plantas para criar barreiras naturais contra o vento e o sol.
Por fim, o Sul do Brasil tem um clima subtropical, com invernos frios e verões amenos. A climatização pode se concentrar no aquecimento durante o inverno instalando sistemas de aquecimento central ou localizados, como lareiras ou aquecedores; isolamento térmico eficiente para assegurar que paredes, tetos e pisos tenham bom isolamento para manter o calor interno e garantir que janelas e portas estejam bem vedadas para evitar perdas de calor.
Ao calcular as cargas térmicas de acordo com as estratégias regionais, Montemor orienta que se deve “calcular pela média das máximas e média das mínimas, não podemos calcular pelo pico, pois oneramos o custo inicial e o custo de energia na vida útil do empreendimento. Precisamos nos acostumar que uma instalação projetada com média de 33ºC externo e 23ºC interno, podemos no pico de uma onda de calor conviver com 26ºC ou 27ºC quando tiver 43ºC no ambiente externo”, conclui.