Câmaras frigoríficas: sabendo usar…
O bom funcionamento de uma câmara fria depende de vários procedimentos e cuidados diários. Mas essa, sem dúvida, é uma das áreas da refrigeração onde fica evidente a importância de se agir corretamente antes mesmo do start-up, ou seja, quando a obra sequer
saiu do papel. Do contrário, corre-se o risco de gastar demais no dia-a-dia e até mesmo deixar de atingir os objetivos inicialmente almejados.
Especificação de materiais, montagem, instalação elétrica e acabamento são alguns dos muitos passos que marcam o caminho de quem tem como meta a armazenagem de produtos perecíveis, mas sem nunca se afastar da temperatura ideal. Essa viagem, invariavelmente, começa no subjetivo campo das idéias, quando ainda se está diante de projetos, desenhos de engenharia e, principalmente, o desafio de encontrar alguém realmente capaz de cumprir uma tarefa de tanta responsabilidade, que muitas vezes transforma essas obras em verdadeiros cofres-fortes gelados.
“Quando o cliente vai encomendar uma câmara fria, precisa dizer exatamente o que deseja, sem generalizações”, defende o engenheiro Orlando Marinho Bailer. Por pensar assim, com base nos seus mais de dez anos de atuação como sócio-diretor da Refri-Leste, empresa localizada em Guararema (SP) e cuja especialidade é a fabricação de portas e painéis, ele considera inconcebível que se faça uma encomenda do gênero sem passar ao fabricante informações detalhadas. “Apenas desse jeito é possível orçar de forma correta os materiais e acessórios a empregar”, pondera.
Ao agir de maneira diferente, segundo ele, corre-se o risco de adquirir uma instalação que, simplesmente, jamais estará de acordo com o solicitado.
Produtos como queijos, que passam pelo processo de cura, são apontados por Bailer como um exemplo bastante ilustrativo dessa realidade. “Se a câmara não for construída em aço 304 numa aplicação assim terá uma vida útil bem menor, devido ao efeito corrosivo desse tipo de alimento”, assegura.
A localização da obra é outro fator determinante para a adoção de um material mais resistente, já que em cidades litorâneas o efeito da maresia chega a ser devastador, ao mesmo tempo em que nos hospitais a oxidação preocupa em dobro, já que favorece as contaminações.
PÉS NO CHÃO
Pior do que omitir informações na hora da encomendar uma câmara só mesmo distorcer a realidade. É o caso de se utilizar uma mesma instalação para guardar congelados e resfriados, conforme explica o diretor Técnico da Bandeirantes Refrigeração, Sergio
Barton. “Se forem produtos semelhantes como carnes e lingüiças, tudo bem, mas misturar esse tipo de item com legumes não dá certo”, sentencia o profissional.
Igualmente convicto de que não existem milagres quando se busca uma câmara que realmente funcione, Álvaro Freitas, da KitFrigor, garante já ter visto gente jogar dinheiro fora na tentativa de improvisar. “A pessoa estava fazendo uma câmara de lixo e aproveitou todos os equipamentos que tinha disponíveis, inclusive uma máquina de 7,5 HP que estava encostada em sua empresa”, diz ele. Após checar o projeto, com base nos seus mais de 30 anos de experiência na área, Álvaro logo percebeu que apenas 1,5 HP resolveria a questão. “Ele estava gastando cerca de R$ 18 mil a mais de energia elétrica por ano”, estima Freitas, ao sublinhar quanto pode sair caro superdimensionar algo tão crítico, em funcionamento 24 horas, 365 dias por ano.
Para Alessandro Rodrigues, da sorocabana Brastek, desperdícios na conta de luz também são gerados quando não se observam detalhes importantes na hora de escolher onde a câmara vai ficar. “Manter a temperatura ideal sob folhas de zinco, que irradiam calor o tempo todo a partir do teto, freqüentemente requer um equipamento com capacidade dobrada”, exemplifica.
A ventilação do local, segundo o empresário, também pesa muito, pois condensadoras sobre lajes ensolaradas, bem como galpões que mais parecem estufas, perdem nesse quesito apenas para as câmaras que ficam do lado de fora, recebendo insolação constante.
“No interior do prédio, com um pé-direito razoável, você não precisa dimensionar o frio de forma exagerada e acaba economizando bastante energia com isso”, observa Rodrigues.
Erros como esses, porém, podem ser evitados por projetos bem feitos e avaliações técnicas a cada nova montagem. É o que assegura Francisco Oliveira Neto, gerente de Marketing
da Termkcal, empresa de Itaquaquecetuba (SP) especializada em câmaras, isolantes e acessórios.
“Zelamos por isso e sempre assessoramos nossos clientes”, diz ele, acrescentando que trabalhar apenas com montadores certificados também é muito importante.
MUITOS RECURSOS
Uma vez bem projetada e montada, resta a uma câmara que se pretenda econômica e eficaz contar com a atenção especial do usuário para protegê-la no dia-a-dia quase sempre agitado dos grandes frigoríficos e centros de distribuição.
As facilidades para isso hoje disponíveis no mercado vão das mais simples e baratas até o emprego de ferramentas tecnológicas de última geração.
No campo das providências menos complexas, mas nem por isso desprezíveis quando se pensa em aspectos como bom funcionamento e longevidade, Sérgio Barton, da Bandeirantes, inclui a substituição periódica de borrachas, limpeza do condensador e calafetação de pontos vulneráveis a infiltração de água.
Uma boa isolação é igualmente desejável na avaliação do gerente da área Comercial e de Marketing da Fibra-flex, Evandro Kochi, para quem revestimentos como o produzido pela
sua empresa, além de oferecer barreira de vapor contra a penetração de umidade, permitem a completa higienização de uma câmara, fator diretamente ligado à boa conservação
dos produtos acondicionados no seu interior.
Mas uma outra ameaça permanente para painéis isotérmicos e portas, praticamente tão grave como os fungos e as bactérias, é a colisão acidental de carrinhos, empilhadeiras
e outros equipamentos muito usados no interior das grandes instalações.
Contra esse risco, a goiana Isoeste costuma recorrer à instalação de bumpers nas câmaras que produz. Fabricadas em plástico ABS, essas proteções consistem em placas com 3 milímetros de espessura, afixadas a cerca de um metro de altura nas portas, onde absorvem impactos com grande eficácia.
Sua relação custo-benefício é extraordinária na avaliação do assistente da Gerência Comercial, Felipe Saraiva, pois podem evitar grandes prejuízos. Outras práticas relativamente simples, porém bastante funcionais apontadas por ele, incluem a instalação de muretas de concreto semelhantes a rodapés e tubos que funcionam como guardrails protegendo as quinas das portas.
Manter atenção especial com a qualidade da energia elétrica empregada, segundo Saraiva, também ajuda a evitar outro tipo de acidente, a queima da resistência que serve para impedir o emperramento das portas, em virtude do gelo que normalmente se acumula ao seu redor.
Toda essa simplicidade altamente funcional não significa a inexistência de aparatos bem mais sofisticados em prol do sucesso das câmaras frigoríficas. O gerente Técnico da portoalegrense Termoprol, por exemplo, atribui à adoção de tecnologia de ponta uma expressiva redução no volume de homens/hora dedicados às atividades de manutenção, bem como uma durabilidade bem maior dos sistemas monoblocos e unidades multicompressoras.
Os softwares para monitoramento a distância, hoje disponibilizados pela grande maioria dos fabricantes de controles eletrônicos, fazem parte da lista de recursos hi tech com que a
empresa de Bruno Ronchetti está acostumada a lidar no seu dia-a-dia.
Ele reconhece, porém, que a combinação entre alta tecnologia, correta seleção de materiais, boa capacitação da mão-de-obra e programa de manutenção preventiva adequado só pode eliminar, gradativamente, as improvisações que ainda existem na área mediante uma mudança também cultural. “A câmara frigorífica deve ser, efetivamente, uma ferramenta e não mais um item gerador de problemas que requeira pessoal exclusivo para sua operação, bem como contratos externos caros e inconvenientes”, arremata o gerente.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Habituada a atender usuários de salas limpas sujeitas a normas da Comunidade Européia e validações de órgãos como a norte-americana FDA e a brasileira Anvisa, desde 2005 a Dânica Termoinduistrial entrega um book personalizado aos seus clientes, benefício que agora está estendendo aos usuários de grandes câmaras frigoríficas industriais.
Trata-se de uma espécie de memorial descritivo, no qual a empresa, sediada em Joinville (SC), informa documentos e registros relacionados a projetos/desenhos de engenharia (iniciais e finais); diagramas de ligações elétricas; especificações e certificados de qualidade de produtos e materiais, assim como procedimentos de montagem, acabamento, operação, utilização, higienização e manutenção (preventiva/corretiva).
“Além de reduzir o número de chamadas de assistência técnica, a iniciativa deverá aumentar sensivelmente a vida útil das câmaras”, prevê o coordenador de Qualidade da empresa, Sérgio Toshio Ogava.
Um dos pontos nem sempre observados e que merece a atenção desse trabalho é a necessidade de lavagem, pelo menos a cada seis meses, da cobertura de alumínio, sobretudo quando há exposição ao tempo.
Todavia, de acordo com o engenheiro, tão importante quanto manter em dia as rotinas de manutenção e limpeza, inclusive das adjacências de uma câmara, é o hábito de treinar e informar os profissionais ao seu redor para que evitem, no seu dia-a-dia, danos acidentais à pintura de portas e paredes, o que também pode prejudicar de forma expressiva a vida útil da instalação.