Câmara Frigorífica: Todo detalhe é muito importante

A qualidade de uma câmara frigorífica pode ser vista, literalmente, logo na entrada, em função de aspectos de sua porta que incluem leveza, facilidade de manuseio e existência de dispositivos de segurança, até mesmo para que ninguém fique trancado acidentalmente no seu interior.


Os acessórios também dizem muito sobre a forma como pessoas, mercadorias e objetos de toda ordem convivem com ela, contribuindo em maior ou menor escala para a sua
longevidade e, principalmente, a boa conservação dos perecíveis ali armazenados.

A importância de tantos detalhes fica mais clara ainda diante das rígidas normas sanitárias internacionais às quais se submetem na atualidade os exportadores de carnes,
freqüentemente inspecionados pelos seus clientes estrangeiros, o que requer a manutenção de tudo sempre em ordem, desde o abate até etapas de embalagem e expedição.

“As câmaras frigoríficas têm um papel muito grande nisto tudo , fazendo com que as temperaturas corretas sejam mantidas em todas as fases, sob pena de diminuir em muito a produção ou até mesmo a qualidade dos produtos”, afirma Rafael Tomaz Zacarias, coordenador do Departamento de Engenheira da Isoeste.

Com 23 anos de mercado, matriz em Anápolis (GO) e filiais localizadas em Várzea Grande (MT) , Castanhal (PA) e São José dos Pinhais (PR), sua empresa também considera a perfeita vedação das portas um aspecto fundamental.

Por isso mesmo, acabou desenvolvendo a “dobradiça em rampa”, sistema exclusivo agregado a alguns modelos cujo formato cônico evita o desgaste normalmente sofrido pela borracha ao raspar no chão.

Para Daniel Kroin, coordenador de Marketing da Dânica, outra gigante do setor, com 45 anos de atuação nesse mercado e sede em Joinville (SC), além de qualidade, durabilidade e funcionalidade, a boa performance de uma porta frigorífica passa, obrigatoriamente, pelo bom isolamento térmico.

A composição recomendada por ele é o revestimento em aço zincado pré-pintado ou em inox, com núcleo isolante em PUR (poliuretano) ou PIR (poliisocianurato) e acessórios e ferragens em aço galvanizado, alumínio, inox ou plástico de engenharia.

Em alguns casos, Kroin considera a automação imprescindível, tendo em vista o volume e a velocidade no fluxo de funcionários, operadores de carrinhos, empilhadeiras e tudo o mais que integra o cotidiano de um grande frigorífico.

Segundo ele, a agilidade nas operações abre-e-fecha, além de proporcionar a redução do consumo de energia, preserva o equipamento de refrigeração.

“Integrado ao comando elétrico, na folha da porta é instalado um sistema de foto-célula de segurança para reverter o movimento de fechamento quando for de encontro ao obstáculo, garantindo a segurança de que o funcionário não corra o risco de ser prensado contra a porta”, acrescenta.

BOAS PRÁTICAS

Mas para o sucesso de uma câmara frigorífica, tão importantes quanto as suas portas e acessórios são os procedimentos cotidianos adotados.

A preocupação inicial, segundo Alberto Hernandez Neto, coordenador do Grupo de Pesquisa de Refrigeração e Ar Condicionado do Depto de Engenharia Mecânica da Poli — USP, é especificar com exatidão qual produto congelado ou resfriado será armazenado, bem como a temperatura ideal a ser mantida com o auxílio de controles eletrônicos.

Membro da ANPRAC — Associação Nacional dos Profissionais de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação, Hernandez aponta como segunda prioridade o hábito de minimizar aberturas e fechamentos de portas, pois isso aumenta a migração de umidade para dentro da câmara e, conseqüentemente, a freqüência dos degelos,
que sempre acarretam maior consumo de energia.

Outros aspectos importantes, segundo ele, são a limpeza e a manutenção, pois além de garantir boas condições sanitárias, os procedimentos adotados podem ser determinantes na própria longevidade da câmara.

Manter a mínima umidade possível no seu interior é outra necessidade básica para evitar corrosão, ocorrência que pode abreviar em muito os intervalos para a troca de peças e conexões. “Com muita umidade você tem placas metálicas que, com o tempo, vão enferrujando e isso ocasiona problemas de vedação e má operação do sistema”, conclui.
No entanto, para Hamilton Romeu Tedesco, da empresa paulistana Refrigeração Friolar, muitas vezes o sucesso da instalação está mesmo é nas mãos do usuário. Os pequenos e médios comerciantes, segundo ele, nem sempre têm o costume de comprar estantes adequadas para acondicionar as mercadorias de maneira correta no interior da câmara,
o que provoca inúmeros problemas em virtude da má acomodação dos produtos.

Isso é conseqüência do alto custo das estantes de aço inox que, mesmo sendo as ideais, muitas vezes tornam-se economicamente inviáveis. “Por isso mesmo nossa empresa acaba de lançar uma linha completa de alumínio, que não enferruja e chega custar, em média 50% menos”, diz ele.

FAZENDO A DIFERENÇA

Abastecer a exigente indústria de câmaras com os acessórios fundamentais para que ela continue atendendo bem seus clientes dentro e fora do País vem requerendo criatividade e superação por parte do verdadeiro mundo estabelecido ao redor desse mercado.
Portglass, de Ribeirão Preto, por exemplo, é uma das únicas no País a produzir portas para câmaras frigoríficas em fibra de vidro.

Tradicional fabricante de modelos giratórios, ela acaba de lançar uma nova versão de correr, projetada sob medida para a busca de economia de espaço que o mercado tanto faz hoje em dia. Núcleo de isolamento em poliuretano e ferragens do tipo Fermod completam os atrativos do produto, que alem de bem visto pela Vigilância Sanitária, devido à ausência de frestas convidativas a fungos e bactérias, pesa 37 quilos, contra os até 90 das portas convencionais.

“O pasto está verde e acho que tem muito mercado para as portas de câmaras frigoríficas em fibra de vidro, por sem um produto inovador, totalmente novo e que concorre diretamente com as portas em chapa de aço”, sintetiza o diretor da empresa, Alexandre de Jesus Jacob.

Essa perspectiva, segundo ele, compensa plenamente os investimentos realizados até aqui em moldes e maquinários, cujos resultados concretos obtidos dentro no Brasil somam-se aos registrados nas exportações que a empresa já fez para o Chile, por exemplo.

Sediada no Rio de Janeiro, a Embraflex também está preocupada em mudar as coisas.
Tanto é que resolveu modificar as tradicionais cortinas plásticas cuja missão é diminuir a troca de calor a cada abertura e fechamento da câmara.

Produzidas em PVC flexível cristal importado, com espessuras entre 1,0 e 5,0 mm para resistir a temperaturas baixíssimas, suas cortinas da linha Flex agora estão chegando ao mercado numa versão batizada, não por acaso, como Light. Suas tiras de 10,0 cm por
15,0 cm são mais finas do que as tradicionais, o que torna mais prática e confortável a passagem do pessoal em serviço. “A idéia foi facilitar as coisas nas câmaras onde há grande movimento de pessoas e objetos”, resume a gerente de Vendas da empresa, Aline Soares, lembrando que a Embraflex também atua com prateleiras e portas para a divisão de ambientes de produção.

Buscar sempre o melhor também é uma rotina na Refri-Leste, de Guararema (SP).

Há 38 anos no setor de portas para câmaras de congelamento, resfriamento e estocagem, a empresa não abre mão de trabalhar com materiais de primeira linha, mesmo reconhecendo a competição desleal dos que sacrificam a qualidade em função do preço.

“O importante é investir em material de ponta, entregas rápidas e o trabalho em conjunto com uma equipe bem treinada para que se tenha um produto de qualidade com
preço acessível e garantia”, ensina o seu diretor, Orlando Marinho Bailer, prometendo para breve novos dispositivos de segurança internos e externos, cujos detalhes ele ainda não pode revelar.

DEGELO, UM MOMENTO DELICADO

Especialistas não pestanejam ao definir o degelo como uma das operações mais importantes na rotina de uma câmara frigorífica. Afinal, gelo em excesso acaba funcionando como isolante prejudicial à troca de calor, principalmente quando se
concentra em grande quantidade na evaporadora.

Diante disso, empresas como a Invensys Aplliance Controls possuem controladores específicos com esse fim. Neste caso, da marca Eliwell, da empresa italiana pertencente ao grupo.

“Existem modelos nos quais você programa os intervalos de degelo ou seus horários específicos, dependendo do modelo do controlador, para o desligamento periódico do compressor, em alguns casos ligando a resistência para acelerar o processo”, afirma o engenheiro de Aplicação da Invensys, Daniel Limoeiro.

Segundo ele, há ainda a forma natural de se fazer o degelo, que consiste no desligamento puro e simples do compressor; e uma terceira modalidade de procedimento: inverter o fluxo do gás refrigerante por intermédio de uma válvula de reversão que trabalha à semelhança de um ar-condicionado quente-frio.

O certo, porém, é que essa prática tem um papel tão crucial na vida de uma câmara que chega a ser comum o usuário contar com a segurança extra de uma programação temporizada, ou seja, que funcione por tempo, e não em virtude da temperatura detectada, pois assim o degelo será iniciado haja o que houver.

Se o sensor falhar, por exemplo, o sistema considera o tempo necessário para desligar o compressor com base nas dimensões da câmara e do tipo de produto que ela armazena.
É possível ainda monitorar tudo isso a distância, por meio de sistemas como o Televis, também da Eliwell, que permitem o monitoramento permanente, em tempo real, via fax-modem, emitindo gráficos e relatórios ao longo do dia.

“Esse banco de dados oferece todo o histórico da câmara, dados extremamente importantes para manter a instalação em dia com as fiscalizações da Anvisa”, conclui Daniel.