Automação, um setor à prova de crises
“Estamos vivendo o momento de maior crescimento da economia mundial desde o pós-guerra, um fato a ser considerado, pois mesmo que o Brasil não esteja com a sua economia crescendo na mesma razão, as oportunidades de negócios estão aparecendo e criando um cenário econômico extremamente favorável, com investimentos em todas as áreas de negócios”.
As considerações de Carlos Barbosa Navarro, gerente de Vendas HVAC-R América Latina da Danfoss, dão bem a medida do clima reinante nas empresas que incluem a área da automação no seu portfólio.
Há até quem diga não haver, propriamente, períodos negativos neste setor.
“Quando a economia está aquecida, nossa área ajuda a produzir mais e melhor. Quando a situação é inversa, racionaliza processos, economiza matéria-prima e, principalmente, energia”, exemplifica o diretor da Full Gauge, Antonio Gobbi.
“Na área de automação e controle está o grande diferencial para a economia tão necessária de energia, água e outros insumos”, endossa o diretor-presidente da Servi-Control, Vagner Nhoqui, para quem, em linhas gerais, o momento vivido hoje pelo Brasil é extremamente favorável para o setor.
Ao dar sustentação e essa tese, ele cita exemplos como o do ar condicionado, que responde por, no mínimo, 60% dos gastos mensais de energia elétrica de um prédio e o da válvula Hidra que gasta, em média, 23 litros de água em cada acionamento.
Levando a análise para o lado econômico, o engenheiro de Aplicação e Vendas da Invensys, Daniel Limoeiro, também se anima. “Temos boas perspectivas de crescimento no mercado brasileiro para 2007, principalmente no setor de Refrigeração.
Na Microblau, Luciana Kimi enriquece com números a pintura desse quadro positivo. “De acordo com os dados da balança do agronegócio, divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apesar dos problemas fitosanitários e do temor da gripe aviária, as exportações brasileiras de carne apresentaram em 2006 um crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior. Estes indicadores, segundo a gerente de Marketing, demonstram a preocupação com a melhoria contínua das instalações frigoríficas, “o que ,conseqüentemente, abrange a necessidade de sistemas de automação mais precisos e que atendam o SIF e o mercado comprador internacional”, acrescenta ela.
O supervisor de Vendas da Jonhis, Orlando Vasques, também comemora o aquecimento nas exportações do setor frigorífico, bem como o aumento nas exigências de controle sanitário neste segmento. E acrescenta à lista um outro aspecto favorável: “a crescente busca que os clientes têm feito por soluções tecnológicas para os processos industriais”.
Já para Gilberto Dantas, gerente de Desenvolvimento de Sistemas da Johnson Controls, o momento econômico, principalmente após a divulgação do Plano de Aceleração do Crescimento, tem fortalecido o mercado da construção civil, um dos principais motores da economia, e isso traz reflexos altamente positivos para o mercado da automação predial.
Senões remanescentes
O diretor da By Import, Marcelo de Resende Matta, concorda com Dantas, mas lamenta que ainda falte segurança no mercado para deflagrar de vez o tão aguardado reaquecimento econômico. “O primeiro trimestre do ano começou com muito entusiasmo, devido a vários projetos, mas as ações ainda estão muito tímidas, porque dependem de posicionamento político”, emenda Mario Camargo, gerente de Vendas da Brasiterm.
No seu entender, o baixo crescimento do PIB inibe várias ações de desenvolvimento de produtos e de atuação no mercado nacional, fazendo com que todos busquem opções de negócios no mercado externo.
Visão semelhante é a de Claudio Tiago, diretor Comercial da Encon, para quem a insegurança econômica está reduzindo investimentos, o que prejudica os negócios da área. “Mas temos que ser otimistas e acreditar em dias melhores”, afirma.
Já na opinião de Marcos Eugenio Dauernheimer, um dos sócios e diretor Comercial da Digiport, se por um lado a valorização do Real frente ao dólar favorece a importação de componentes, por outro torna menos atrativas as exportações. “Na prática, um efeito acaba por anular o outro, uma vez que o nosso mercado não é exclusivamente dependente de vendas externas”, pondera.
No mercado interno, por sua vez, a falta de estabilidade estaria prejudicado em muito o planejamento e as ações de médio e longo prazos das empresas.
“Junte-se a isso uma taxa de juros das mais altas do mundo e os riscos resultantes acabam por inibir movimentos mais agressivos por parte dos investidores e empresários em geral no Brasil, dependentes que são dos recursos de mercado”, acentua.
A complexa e pesada estrutura tributária brasileira também não pode ser esquecida no entender de Dauernheimer, o que obriga as empresas a verdadeiros malabarismos para realizarem um bom planejamento fiscal.
Segundo ele, a simples aplicação de uma tabela de preços estadual para uma venda interestadual pode transformar um negócio aparentemente lucrativo em prejuízo real pela aplicação de alíquotas diferenciadas, diante da guerra fiscal travada hoje entre os estados. “Urge que o Congresso atue fortemente na Reforma Fiscal pois o país corre o risco de se tornar inviável dentro de pouco tempo”, defende.
Mas já que as coisas no Brasil não estão evoluindo como poderiam, o diretor Comercial da Every Control, Fabio Cardoso, vê como solução exportar para países onde as taxas de crescimento têm sido maiores que as nossas e, internamente, adotar práticas como uma atuação maior no mercado de reposição.
Porém, a exemplo do que tem ocorrido em vários outros setores do HVACR, a área de automação tem sido alvo, de forma cada vez mais freqüente, da concorrência com empresas estrangeiras, atraídas para cá pela baixa do dólar.
“O ponto que podemos considerar prejudicial às empresas que atuam neste segmento no Brasil não é o momento econômico, mas sim a facilidade da entrada de produtos importados de mercados cujo custo de produção, em linhas gerais, são muito inferiores aos nossos”, constata Sebastião Batista de Oliveira, engenheiro de aplicação e desenvolvimento de projetos da Sictron.
A alternativa encontrada por outra empresa da área, a Globus, tem sido intensificar as parcerias com vistas às exportações para países como Argentina, México, Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Turquia e África do Sul.
Desafios prioritários
Um dos pontos básicos para que o setor de automação continue crescendo no Brasil tem sido o desenvolvimento de bons produtos a preços competitivos, já que os principais concorrentes das empresas aqui estabelecidas muitas vezes operam a milhares de quilômetros do chamado Custo-Brasil.
Ao comentar o assunto, Daniel Limoeiro, da Invensys, aponta como crucial a necessidade não apenas de produtos que conciliem preço competitivo e qualidade , mas que também ajudem o cliente a economizar ao utilizá-los, com a diminuição no consumo de energia, por exemplo.
Encontrar sempre o timing ideal para lançar novos produtos é igualmente crucial no setor. “É cada vez menor o período de depreciação dos novos projetos”, afirma Vagner Nhoqui, da Servi-Control.
Não é, porém, tão simples manter em dia o cronograma de lançamentos. “Um dos maiores desafios relacionados ao desenvolvimento de produtos é a falta de subsídios e financiamentos específicos”, lamenta Nhoqui, aludindo ao elevado custo de projetos e ferramentais, bem como à falta de proteção contra os chamados países de baixo custo, que tem invadido o mercado local.
Ao inovar, porém, não se deve errar na dose. Quem adverte é Luciana Kimi, da Microblau. “Não adianta termos um produto inovador se o mercado não está preparado para absorvê-lo”, dispara.
Desenvolver soluções muito específicas também requer atenção especial, conforme adverte Sebastião Batista, da Sictron, pois muitas vezes o cliente pede algo tão específico que só ele utiliza, o que acaba por completo com a possibilidade de um boa economia de escala.
Para Antonio Gobbi, da Full Gauge, o maior desafio hoje já não é lançar produtos revolucionários, mas sim comunicar devidamente os recursos e valores dos que estão disponíveis no mercado, razão pela qual sua empresa expõe constantemente em feiras dentro e fora do país.
Na By Import, que trabalha com toda a linha de produtos Honeywell, a estratégia para estabelecer uma boa comunicação com o mercado inclui o corpo-a-corpo diário, uma verdadeira catequese colocada em prática para demonstrar aos clientes finais, usuários e instaladores, que a qualidade e durabilidade dos produtos é mais relevante do que um eventual menor investimento inicial.
Entretanto, por incrível que pareça, excesso de informação também pode atrapalhar. “A facilidade do acesso à Internet faz com que os movimentos de mercado sejam constantes e prontamente identificados. Portanto, diferenciais nos produtos, na faixa de preços e no pacote promocional são monitorados e neutralizados com relativa facilidade”, assegura Marcos Eugenio.
Futuro promete
Além do seu próprio potencial em criar sem novas e sofisticadas soluções, o segmento de automação conta a seu favor com a possibilidade de problemas crônicos em áreas com a fiscalização do frio alimentar serem atenuados.
Daniel Limoeiro, da Invensys, está entre os acreditam nessa tendência. Segundo ele, a deficiência existente na inspeção de alimentos ainda faz com que produtos se deteriorem precocemente.
Em casos assim, ele considera quase certo que tenha havido alguma falha no sistema de refrigeração ou desligamento à noite, como forma de economizar energia elétrica, “um grande equivoco, pois para inicializar todo o sistema pela manhã o consumo de energia aumenta em demasia”, observa.
Mas com um bom sistema de gerenciamento em supermercados é possível saber, por exemplo, qual a temperatura correta do expositor ou ilha refrigerada em um determinado dia e horário, algo que chega a ser comum nos hipermercados, mas que boa parte dos estabelecimentos menores ainda não cultiva.
“No futuro, para regularizar o setor de refrigeração, será necessária a certificação dos equipamentos e de suas instalações por órgãos competentes e credenciados pelo Inmetro e a Anvisa”, prevê Limoeiro.
Mas Luciana Kimi, da Microblau, reconhece terem ocorrido avanços importantes neste campo. A rastreabilidade da qualidade do frio, segundo ela, já foi algo impensável no agronegócio, face ao custo elevado e à falta de boas soluções tecnológicas com esse fim. “Hoje já é possível monitorar o alimento desde a sua extração ou abate até o transporte e a chegada às gôndolas dos supermercados”, uma prática que ela considera em ascensão e que ainda deverá dar origem a muitos e bons negócios para o setor.
Enquanto aguardam essas e outras melhorias gerais no mercado, empresas como a Danfoss vêm buscado soluções dentro de casa. Ao perseguir um atendimento dedicado e especializado nos mercados em que atua, recentemente reestruturou suas equipes em Áreas Estratégicas de Negócios, dentre elas, uma totalmente voltada ao HVAC-R, com equipamentos e profissionais altamente especializados. De acordo com Carlos Navarro, só assim é possível atuar numa área tão competitiva como a da automação não apenas com produtos, mas também soluções tecnológicas realmente inteligentes.