Avanços e incentivos na aplicação de fluidos refrigerantes naturais

Brasil alinha sua política de refrigeração, promovendo a transição para tecnologias mais ecológicas na utilização de fluidos naturais.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado avanços significativos na adoção de fluidos refrigerantes naturais, impulsionados por preocupações ambientais e regulamentações mais rigorosas. Esses refrigerantes, como o CO2 (dióxido de carbono), amônia (NH3), e hidrocarbonetos, têm ganhado destaque devido ao seu baixo impacto ambiental e alta eficiência energética. O CO2, por exemplo, tem sido amplamente utilizado em sistemas de refrigeração comercial e industrial devido à sua capacidade de atuar como um refrigerante eficaz em diversas condições de temperatura e pressão. Além disso, sua pegada de carbono reduzida o torna uma escolha atraente para empresas comprometidas com a sustentabilidade.

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A amônia também, especialmente em aplicações industriais de grande porte, devido ao seu alto desempenho térmico e baixo custo operacional. Apesar de ser inflamável em concentrações específicas, seu uso é seguro quando aplicado corretamente e em conformidade com as normas de segurança.

Os hidrocarbonetos, como propano e isobutano, têm sido adotados em sistemas menores, como em refrigeradores domésticos e comerciais devido à sua excelente eficiência energética e compatibilidade ambiental. A tecnologia de compressores e componentes de sistemas foi desenvolvida para garantir o desempenho seguro desses refrigerantes em diferentes aplicações.

Tecnologias disponíveis

“Em nosso país, temos tido bons avanços nas aplicações de fluidos refrigerantes naturais tanto para aplicações comerciais quanto para aplicações industriais de refrigeração. O CO2 já é uma realidade, iniciada há 15 anos, e o propano (R-290) caminha a passos largos para ser uma referência nos novos projetos, principalmente como fluido primário em sistemas subcríticos em cascata com CO2 e propilenoglicol. A amônia dispensa apresentação e justificativas, uma vez que é um fluido centenário, que apresenta alto rendimento e baixo custo, porém, sua particular característica de toxicidade a faz limitada em certas aplicações e regiões”, informa Marcos Euzébio, engenheiro de aplicação da Bitzer Brasil.

Marcos Euzébio, engenheiro de aplicação da Bitzer

Todas as aplicações mencionadas já estão presentes em nosso país. Os três fluidos naturais como Amônia, CO2 e Propano (R-290) são realidade presente. “Sistemas tradicionais aplicados com amônia a 100% estão sendo redesenhados para condição híbrida em regime subcrítico com CO2, reduzindo a carga de amônia bruscamente e elevando a performance e segurança. Sistemas com CO2 em regime subcrítico e transcrítico se expandiram no mercado nacional devido a maior qualificação da mão de obra e disponibilidade interna de componentes. A Bitzer, por exemplo, disponibiliza compressores para propano, CO2 e amônia. Componentes constituintes dos circuitos também são encontrados no Brasil. Mão de obra qualificada sem dúvida é indispensável e fator determinante para a expansão dessas tecnologias em nosso mercado, bem como importante é a fiscalização e valorização dessa mão de obra empregada para a operação desses equipamentos”, comenta Euzebio.

 

Trazendo à tona as soluções inovadoras em fluidos refrigerantes naturais de baixo impacto ambiental e máxima eficiência, incluindo a sua aplicação, segurança das instalações, manutenção e operação, disponibilidade e normatização, Joana Canozzi, diretora de serviços de engenharia da Copeland, destaca vários pilares para discussão quanto as tendências na aplicação de fluido com baixo impacto ambiental: “Não existe ainda uma verdadeira solução, e sim, seguir as premissas de cada empresa elaborando sua estratégia de acordo com as necessidades do usuário final em diferentes situações. Hoje, tanto o fabricante quanto o OEM (Original Equipment Manufacturer ou Fabricante Original do Equipamento) podem dar um norte ao cliente final direcionando-o de acordo com a sua estratégia. No cenário nacional, acredito que ainda estamos buscando entender os diferentes nichos, sem uma definição clara de qual fluido entrará para a lista do mais utilizado, e sim, na necessidade de cada instalação. Já existe uma antecipação na transição dos fluidos refrigerantes de baixo impacto ambiental e disponibilidade de tecnologias. A Copeland dispõe do que há de mais moderno e inovador em termos de tecnologia como as aplicações de menor GWP com fluidos naturais (CO2 e Propano) como compressores Scroll de velocidade variável para máxima eficiência para operar com propano e soluções integradas”.

Ela acrescenta que o time de engenharia procura dar suporte ao cliente, além da decisão do GWP, incluindo na sua linha decisória, também, questões relevantes como equilibrar custos, disponibilidade de mão de obra, e de produto, guiando o usuário final em termos de conhecimento.

Joana Canozzi, diretora de serviços de engenharia da Copeland

“Acredito que o próprio mercado vai definir esse caminho através da demanda de aplicações. E ainda temos as questões das normatizações, e neste ponto, vejo o papel proativo de entidades nacionais para a regulamentação de normas brasileiras, acompanhando o que está definido na Europa e EUA. Neste momento, temos por missão promover esse debate e discussão, conciliando tecnologias por Região, ou seja, nem tudo que é aplicado em outros países será bom no Brasil, considerando fatores como eficiência, GWP e clima”, destaca Joana.

Incentivos e regulamentações

No contexto internacional, o Protocolo de Montreal e suas emendas, como a Emenda de Kigali, incentivam a redução progressiva do uso de HFCs, estimulando a adoção de alternativas de baixo GWP. O Brasil, como signatário desses acordos, tem buscado alinhar sua política de refrigeração com essas diretrizes, promovendo a transição para tecnologias mais ecológicas. O governo brasileiro, por meio de programas e políticas de eficiência energética e sustentabilidade, tem criado incentivos para a adoção de tecnologias que utilizam fluidos refrigerantes naturais. Além disso, parcerias com o setor privado e organizações internacionais têm sido fundamentais para a promoção de pesquisas e a implementação de projetos-piloto no país.

Desde o primeiro Programa Brasileiro de eliminação de CFC e, agora, no Programa Brasileiro de eliminação de HCFC, entidades e empresas vem contribuindo e acompanhando os esforços nacionais para proteção da camada de ozônio e seus impactos sobre o setor HVAC-R. A recente aprovação dos recursos para Etapa III do PBH é o reconhecimento dos esforços de todos e uma importante notícia para o setor, que será beneficamente afetado através de ações de proteção da camada de ozônio que receberam em junho de 2024, aporte de US$ 36,5 milhões.

Renato Cesquini, diretor de Meio Ambiente da Abrava

“Na semana em que mundialmente se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente (05 de junho), é muito encorajador receber a notícia deste significante aporte financeiro, que vai beneficiar o mercado na busca de inovação tecnológica para substituição dos HCFCs. Isto permitirá que o Brasil siga o legado de sucesso de estar sempre à frente na implementação do programa”, destaca Renato Cesquini, diretor de Meio Ambiente da Abrava.

A Etapa III do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH) foi anunciada em 27/05/2024, durante a 94ª Reunião do Comitê Executivo do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal – FML, que ocorreu em Montreal, Canadá. Essa é a última etapa do PBH e conta com recursos da ordem de US$ 36,5 milhões de dólares para apoiar o país a alcançar a meta de eliminar em 100% o consumo de HCFCs até 2030.

Além da efetiva contribuição para proteger a camada de ozônio, com a implementação da Etapa III, o Brasil evitará a emissão de mais de 19,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente para a atmosfera, trazendo efeitos benéficos para o regime climático global.

Estratégias

A estratégia para a Etapa III do PBH tem como o objetivo promover o uso seguro e eficiente de fluidos refrigerantes alternativos que não destruam a camada de ozônio, de baixo GWP e que proporcionem maior eficiência energética,  implementando projetos voltados para treinamento de diferentes níveis de profissionais que atuam no setor de serviços, bem como prestação de assistência técnica para a execução de projetos demonstrativos com potencial de serem reproduzidos nos setores abordados, evitando conversões transitórias. As atividades aprovadas se complementam e serão executadas em consonância e estreita colaboração entre a entidade coordenadora, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e as três agências implementadoras, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), agência implementadora líder, Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

Exemplo de aplicação

A Swift, alinhada com o compromisso da JBS em zerar o balanço das suas emissões de gases de 03até 2040, realizou a troca de equipamentos frigoríficos para modelos mais sustentáveis que consomem menos energia e utilizam gases que reduzem o impacto na camada de ozônio. A tecnologia fornecida utiliza o propano (R-290), selecionado devido ao seu baixo GWP. “O conjunto dessas iniciativas acarretou na redução de 65% do Impacto de Aquecimento Equivalente Total (Total Equivalent Warming Impact – TEWI) que expressa o impacto de um sistema de refrigeração combinando seu efeito direto e indireto no aquecimento global”, explica Airton Peres, gerente de engenharia e inovações da Swift. O monitoramento remoto dos equipamentos calcula a eficiência energética e atua diretamente na máquina se ela apresentar algum tipo de problema. Além de garantir a qualidade dos produtos da marca, isto evita o deslocamento humano até a loja.