Reposição de peças se torna desafio central no setor HVAC-R

A falta de peças de reposição para sistemas HVAC-R e a diferença entre produtos originais e paralelos desafiam distribuidores, instaladores e consumidores. Estratégias logísticas, hubs regionais e capacitação técnica tornam-se essenciais para garantir disponibilidade, qualidade e eficiência, enquanto políticas externas e custos logísticos pressionam o setor
O mercado brasileiro de HVAC-R é um dos mais dinâmicos da indústria nacional, com estimativas de faturamento de R$ 54 bilhões em 2025, segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento – ABRAVA, representando cerca de 2,3% do PIB industrial do país. Embora não existam estimativas públicas precisas sobre o valor do mercado de peças de reposição no Brasil, é possível inferir sua importância com base no crescimento do setor como um todo. O aumento na demanda por sistemas de climatização e refrigeração impulsiona diretamente a necessidade de manutenção e reposição de componentes.
Com a atual política externa brasileira e os gargalos logísticos, lojas e distribuidores do setor de climatização e refrigeração enfrentam desafios no acesso a peças de reposição. As dificuldades de importação, a diferença entre peças originais e paralelas, e a pressão por entregas mais rápidas têm alterado as dinâmicas de mercado.
Eletrofrigor, Frigelar, Disparcon e Leveros, entre outros distribuidores, estão no olho do furacão, buscando estratégias para garantir estoque, confiabilidade e atendimento regional. Como esses distribuidores estão lidando com uma realidade marcada por atrasos, certificações obrigatórias e exigência de qualidade?
No Brasil, os desafios desse setor foram aumentados por fatores externos e internos como variação cambial, custos de importação, políticas tarifárias, regime de comércio internacional, dificuldades logísticas e pelas exigências regulatórias para certificações e garantia das peças.
“Para quem revende ou distribui peças no Brasil, desde evaporadores, compressores e válvulas até componentes elétricos, filtros, mangueiras, manifolds e outros ferramentais, o acesso confiável, rápido e certificado é imperativo. A falta de peças ou atrasos impactam não só os instaladores e consumidores finais, mas também arriscam a reputação e a sustentabilidade dos distribuidores”, informa Graciele Davince, CEO da Eletrofrigor.
Em todo o território nacional, distribuidores enfrentam escassez, atrasos na entrega e altos custos de importação, enquanto consumidores e instaladores precisam decidir entre peças originais com garantia e certificação, e paralelas, com custo baixo e qualidade duvidosa.

Muitos fabricantes exigem o uso exclusivo de peças originais para manter a cobertura de garantia
Escassez e demora na entrega
Diversos fatores explicam por que peças e componentes de HVAC-R nem sempre estão disponíveis com rapidez. O primeiro é a dependência de importações: “Mesmo quando a produção é local, os insumos frequentemente vêm do exterior, tornando o setor vulnerável a oscilações cambiais, barreiras alfandegárias e tarifas elevadas. Qualquer atraso nos processos aduaneiros pode impactar diretamente os prazos de entrega”, esclarece Graciele.
A logística nacional desigual é outro gargalo. O Brasil é extenso e heterogêneo em infraestrutura. Regiões como Norte e Nordeste enfrentam custos de frete mais altos e menor frequência de transporte, o que encarece o produto final e alonga o tempo de reposição. Soma-se a isso o impacto das políticas externas e tarifárias, com exigências de certificações internacionais e restrições ambientais sobre gases refrigerantes e componentes químicos, o que gera incertezas e retarda a entrada de peças no país.
Por fim, a alta demanda sazonal, especialmente durante verões mais intensos, provoca rupturas de estoque, dificultando o atendimento de emergências em supermercados, indústrias e sistemas de refrigeração crítica. “As consequências são evidentes: equipamentos parados, custos de manutenção elevados e o aumento do uso de peças paralelas como solução temporária, com o risco de perda de garantia e menor eficiência operacional, comenta Alexandre Fiss, CEO da Frigelar.
Um dos dilemas comentados pelos especialistas é escolher entre a peça original, certificada pelo fabricante, e a peça paralela, geralmente mais acessível e de disponibilidade imediata. As peças originais asseguram compatibilidade técnica, durabilidade e manutenção da garantia, além de cumprirem normas ambientais e de eficiência energética. Já as peças paralelas, embora mais baratas e com ampla presença no mercado, apresentam qualidade variável, riscos de desgaste prematuro e ausência de certificações, o que pode comprometer o desempenho e a vida útil do equipamento.
“No HVAC-R, a decisão entre custo e confiabilidade é estratégica. Muitos fabricantes exigem o uso exclusivo de peças originais para manter a cobertura de garantia. Ao optar por similares, instaladores e clientes assumem o risco de comprometer o sistema, especialmente em equipamentos de alto valor e complexidade técnica”, enfatiza a CEO da Eletrofrigor.

Distribuidores buscam estratégias para garantir estoque, confiabilidade e atendimento regional
Caminhos possíveis e perspectivas
O acesso a peças de reposição nos setores de refrigeração e climatização no Brasil enfrenta desafios variados, que não se distribuem de forma homogênea. Regiões mais afastadas dos grandes centros industriais, como Norte e parte do Nordeste, convivem com transporte irregular, rotas logísticas longas e fretes elevados. A criação de hubs regionais, como os da Leveros, ajuda a reduzir esses impactos, mas o custo logístico ainda limita a competitividade. No interior de estados extensos, manter estoques locais é oneroso, e muitas vezes os lojistas dependem de redistribuição interestadual. A sazonalidade agrava ainda mais o cenário: verões mais longos e quentes pressionam o abastecimento, enquanto a escassez de mão de obra especializada dificulta a instalação e manutenção adequadas.
A política externa brasileira também exerce influência direta sobre o setor. Tarifas de importação, acordos internacionais e tratados ambientais afetam tanto o custo quanto a disponibilidade de insumos. Mudanças em normas sobre gases refrigerantes, por exemplo, exigem adaptações rápidas e novas certificações. Quando há instabilidade cambial ou entraves alfandegários, distribuidores precisam elevar margens para absorver riscos, repassando parte dos custos ao consumidor final.
O grande desafio do setor é equilibrar preço competitivo, garantia e disponibilidade imediata. Para o presidente da Abrava, Leonardo Cozac, “o setor de HVAC-R precisa de políticas públicas que incentivem a produção nacional de peças e simplifiquem processos de importação. Ao mesmo tempo, é fundamental investir em certificações acessíveis e treinamento técnico para instaladores, garantindo que as peças mantenham a eficiência e a confiabilidade dos equipamentos”.
Entre as soluções apontadas por especialistas e distribuidores, destacam-se o fortalecimento da produção nacional, o uso de estoques inteligentes, a criação de parcerias regionais com transportadoras e o investimento em tecnologia, como previsão de demanda e digitalização logística. A capacitação técnica continua sendo essencial para assegurar que as peças sejam aplicadas corretamente, preservando a performance e a durabilidade dos sistemas, ao mesmo tempo em que se minimizam riscos e custos adicionais.






