O impacto da refrigeração de alta performance nos data centers
Com investimentos crescentes em refrigeração de alta eficiência, sistemas redundantes e fontes de energia renovável, data centers garantem estabilidade térmica e segurança operacional em ambientes críticos
A digitalização global colocou os data centers no centro da infraestrutura do século XXI e a refrigeração está no núcleo deste sistema. Com o setor avaliado em US$ 3,4 bilhões em 2024 e projetado para crescer 9,8% ao ano até 2030, esse segmento cresce aceleradamente, impulsionado por demandas de computação em nuvem, IA e Internet das Coisas. O Brasil tem ganhado destaque no cenário internacional como um polo estratégico de Data Centers, mobilizado por sua capacidade de atrair investimentos em infraestrutura, pela maturidade digital crescente e pela posição geográfica privilegiada na América Latina. Estima-se que a receita do setor atinja US$ 5,63 bilhões em 2025, com um CAGR (Taxa de Crescimento Anual Composta) de 5,82% até 2029, segundo a Statista.
Outra projeção, da Grand View Research, aponta que o mercado brasileiro de Data Centers pode alcançar US$ 6,84 bilhões até 2030, impulsionado pela demanda por serviços em nuvem, armazenamento seguro de dados e conectividade de baixa latência. O Estado de São Paulo concentra a maioria dessas instalações, liderando toda a América Latina com 50% dos investimentos regionais.
Segundo a Agência Internacional de Energia, os data centers consomem entre 1% e 1,5% da eletricidade global, com proporção crescente conforme o setor se expande. Em muitas instalações, 30% a 40% dessa energia é destinada exclusivamente à refrigeração. Para manter a estabilidade térmica, empresas nacionais e internacionais têm adotado estratégias robustas de gestão térmica e energética.
Além de investir em soluções térmicas avançadas, como energia renovável, contenção térmica ativa, resfriamento adaptativo, resfriamento a ar de alta eficiência e sistemas híbridos ar-líquido, as empresas estão fortalecendo a segurança operacional por meio de redundância energética, sistemas de backup robustos, e proteção contra falhas de conectividade. Essas práticas asseguram operação contínua mesmo diante de falhas críticas.
“A evolução da inteligência artificial, especialmente no contexto da IA generativa, está impulsionando a demanda por estruturas de processamento cada vez mais potentes e sustentáveis de Data Centers com resfriamento de alta eficiência. À medida que modelos avançados exigem progressivamente um maior poder computacional, os centros de dados precisam lidar com um volume crescente de calor gerado pelos servidores. O desafio é crítico, sobretudo em infraestruturas que utilizam aceleradores para o treinamento de grandes modelos de linguagem e cargas de inferência, exigindo soluções térmicas inovadoras para manter a estabilidade operacional e a eficiência energética”, revela o CEO da ODATA, Ricardo Alário.

Delta Cube é um sistema de resfriamento a ar projetado para resfriar densidades de potência de até 50 kW por rack
Inovações e práticas emergentes
Na vanguarda da sustentabilidade, há iniciativas de incorporar energia renovável própria: Universidades como a USP, com apoio da FAPESP, lideram pesquisas em gestão energética para reduzir a pegada de carbono dos data centers. Um exemplo é o grupo liderado por Daniel Cordeiro, que desenvolve tecnologias para integração de painéis solares ou turbinas eólicas em operações.
Grandes multinacionais também sinalizam compromisso com energia limpa. Em 2023, o Google afirmou que 64% da energia usada em seus data centers era renovável, chegando a 90% em alguns locais, mas alertou que 75% de sua pegada de carbono vem de emissões indiretas, como produção de hardware. A Microsoft reportou que 96% de suas emissões também são indiretas.
Operadoras como Equinix implementam sistemas de contenção de corredores quente e frio, controle adaptativo de airflow com sensores inteligentes, telhados verdes e uso de células de combustível para reduzir PUE (Eficiência no Uso de Energia) operacional e consumo energético. A exportação de calor residual também tem ganhado atenção no Brasil, com projetos que reaproveitam calor de data centers para aquecimento comunitário ou industrial.
Servidores de IA de alto desempenho operam com densidades térmicas elevadas, que tornam insuficientes os métodos tradicionais de dissipação de calor. Portanto, sem um resfriamento eficaz, o superaquecimento pode comprometer a confiabilidade do hardware, reduzir a vida útil dos equipamentos e, ainda, aumentar exponencialmente o consumo de energia.
“Além das pressões internas de operação, as organizações ainda enfrentam um cenário climático desafiador. O aquecimento global e as ondas de calor cada vez mais frequentes elevam a complexidade da refrigeração dos servidores, tornando essencial o desenvolvimento de estratégias ambientalmente sustentáveis para manter a resiliência da infraestrutura digital”, diz Alário.
Caso de sucesso: ODATA SP04
Um exemplo de inovação e adoção de tecnologia emergente de resfriamento é o DC SP04, novo Data Center da ODATA, inaugurado no início de 2025. Instalado em Osasco, na Grande São Paulo, o novo campus recebeu um investimento total de R$ 2,6 bilhões e contará com capacidade de 48 MW de TI. Trata-se do primeiro Data Center a integrar a tecnologia Delta Cube (Delta³), um sistema de resfriamento a ar de alta eficiência e toda a operação é alimentada com 100% de energia proveniente de fontes renováveis e de autoprodução nacional, desenvolvida pela Aligned Data Centers.
“O Delta Cube é um sistema de resfriamento a ar projetado para resfriar densidades de potência de até 50 kW por rack permitindo aos data centers maximizar o uso do espaço com economia de energia e sem desperdício de ar e água, devido à sua combinação com o design de circuito fechado de água da ODATA. Além disso, é preparado para ser facilmente integrado com sistemas de refrigeração líquida para atender de maneira rápida as novas demandas de alta densidade das aplicações de Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning”, informa o CEO da ODATA.
Diferente dos métodos convencionais que simplesmente empurram ar frio para o data hall, o Delta Cube captura e remove o calor na fonte, resultando em um ambiente hiper escalável e extremamente eficiente que se adapta dinamicamente às demandas de cargas de TI dos clientes, capaz de suportar diversas densidades de potência chegando a até 50 kW por rack na mesma fileira, sem deixar capacidade ociosa.
O Delta Cube responde de forma rápida e fácil a variação das cargas de TI, fazendo otimizações em tempo real. Os arrays (também chamado de arranjo ou vetor) do Delta Cube são acoplados aos racks, permitindo que o sistema de remoção de calor adapte sua intensidade instantaneamente com base na demanda dos servidores. A velocidade dos ventiladores reage em tempo real a mudança das cargas de TI, suportando dinamicamente as necessidades atuais e futuras.
“A tecnologia utiliza menos energia e, combinada com um sistema de circuito fechado de água, elimina o desperdício de água e aumenta a eficiência da operação, reduzindo o impacto ambiental”, acrescenta Alário.
O investimento em potência fria, sob controle, é uma exigência essencial para data centers modernos. Em um cenário de expansão acelerada, garantir estabilidade térmica e eficiência energética não é mais opcional, é condição para a competitividade digital e a responsabilidade sustentável do setor.

SP04 adotou sistema de resfriamento a ar de alta eficiência com 100% de energia proveniente de fontes renováveis