HCFCs: O que fazer enquanto os substitutos não vêm?
De um lado, o PBH – Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs, prevendo a restrição gradativa na importação dessas substâncias, em função do seu alto potencial de agravar o aquecimento global. Do outro, um mercado brasileiro em franco crescimento e batendo sucessivos recordes de produção e consumo, inclusive em segmentos do HVAC-R que ecessitam dos hidroclorofluorcarbonos para realizar reposição no atual parque instalado, além de bastecer equipamentos novos que apresentam um giro cada vez mais rápido nas revendas.
A combinação desses fatores leva a um quadro que beira a unanimidade entre os profissionais da área: escassez crescente e alta de preços desde já, com um sério risco de agravamento nos próximos anos.
Soma-se a isso a dificuldade de obtenção de matérias-primas como a Fluorita, abundante na China, México e África do Sul, e que chega cada vez mais cara aos países que precisam importá-la para produzir R 22, tornando esse fluido não apenas mais oneroso, como também suscetível à ação crescente de contrabandistas e falsificadores, o mesmo ocorrendo com as blendas (misturas).
Mas a grande questão nisso tudo é como deverão se comportar os diversos agentes do mercado para que a transição rumo ao substituto ideal de produtos hoje consagrados ocorra da forma mais indolor possível.
A DuPont, por exemplo, afirma estarem em ritmo acelerado os estudos em torno da família Opteon, voltada para refrigeração comercial e ar condicionado automotivo, mas acredita que esse processo se conclua apenas em 2015.
Diante desses e outros aspectos, o gerente de negócios da área de Fluorquímicos para a América Latina da empresa, Maurício Xavier, aposta na intensificação da prática do Retrofit, mas defende outras providências, sobretudo a revisão geral de comportamentos e posturas.
Atitude e informação
O primeiro passo nessa direção, segundo ele, é treinar as pessoas para que saibam usar de forma racional o HCFC disponível, tendo em vista que a melhor maneira de reduzir seu impacto ambiental implica a diminuição dos vazamentos, paralelamente ao aprimoramento das instalações e o uso de tecnologias eficientes.
“Não adianta fazer a substituição com um gás que tenha baixo GWP, mas apresente maior consumo energético”, exemplifica.
O papel ideal dos fabricantes de equipamentos, por sua vez, Xavier acredita que seja a busca de tecnologias mais eficientes, acompanhada por um esforço constante em se comunicar melhor e capacitar técnicos, instaladores e engenheiros, para que possam aplicar os fluidos refrigerantes de tal forma que haja o mínimo possível de desperdício e emissões para a atmosfera.
Grandes setores usuários, como o dos supermercados e a indústria de transformação, por exemplo, ele espera que também adiram de forma decisiva a essas práticas, além de mudar o enfoque de privilegiar o mais barato no curto prazo, passando a preferir soluções que se demonstrem realmente vantajosas ao longo do tempo.
De uma forma geral, ele considera recomendável que todos os elos dessa cadeia não esperem um do outro alguma solução mágica caindo pronta do céu, tampouco uma mudança de rota significativa por parte do governo, no sentido de reconsiderar a diminuição das importações do R22, uma espiral cujo ápice se aguarda para 2013.
“Os resultados acima do esperado obtidos na redução voluntária do 141b, no caso da expansão de espuma na indústria de refrigeração doméstica, foi significativo, mas até aqui não resultaram diminuição nas metas assumidas pelo País com relação aos outros gases previstos pelo PBH”, exemplifica o executivo da DuPont.
Flexibilidade
Outra fabricante de fluidos refrigerantes que não esconde sua inquietação quanto aos rumos que a substituição dos HCFCs vem tomando é a Solvay do Brasil.
De origem belga, a indústria atua no mercado brasileiro via importações de suas plantas internacionais, e já considera gritante o descompasso aqui existente entre oferta e procura.
“A produção de aparelhos de ar condicionado no país simplesmente quadruplicou de 2009 para cá, sendo que, além das cerca de 1 milhão de unidades fabricadas localmente, pelo menos 1,8 milhão vêm de fora a cada ano e um dia também vão precisar de R22 para reposição”, justifica o gerente de Vendas e Marketing da empresa, Mário Avezu.
Segundo ele, a demanda por esse fluido no Brasil é da ordem de 14 mil tonelas/ano, sendo cerca de 15% destinados às montadoras de ar-condicionado e equipamentos de refrigeração, segmentos atendidos por sua empresa.
“Diante desses dados, não vejo como a substituição por algum alternativo possa ocorrer em curto prazo”, acrescenta o profissional, para quem a maior flexibilidade no Programa Brasileiro seria a melhor forma de se equacionar a questão.
Sua queixa reside no fato de as cotas do PBH terem sido estabelecidas com base no consumo registrado de 2006 a 2008.
“Mas o mercado brasileiro cresceu de forma acentuada a partir de 2009, tornando esses números defasados”, constata.
Esse quadro ele teme que se agrave quando houver o congelamento das importações, daqui a dois anos, tomando como base a demanda registrada até 2010.
“Se for alterada a especificação de cotas por produtos, essa modificação tem que levar em conta as mudanças no perfil local de consumo”, defende o engenheiro químico, para quem problemas de abastecimento serão praticamente inevitáveis caso tal raciocínio, no seu entender totalmente lógico, não venha a prevalecer.
Supermercados
O assunto também tem povoado discussões entre segmentos usuários, conforme se viu claramente na recém-realizada edição 2011 da Apas, maior evento brasileiro do setor supermercadista.
Ao comentar o PBH, o diretor de sustentabilidade e presidente do conselho Deliberativo da Associação Paulista dos Supermercados, João Sanzovo Neto, foi incisivo.
Segundo ele, o setor ainda não está preparado para substituir certos itens nos moldes estabelecidos pelo Programa Brasileiro de Eliminação de HCFCs. “Como nós vamos viver sem o R-22?”, disse ele, acrescentando que opções existem, mas a transição tem custo alto e a eficiência não é necessariamente a mesma. “Dá certo para alimentos resfriados, mas para congelados, não”, sentencia Sanzovo, aludindo a obstáculos técnicos que resume como “uma série de problemas”.
Cauteloso, o empresário ressalta ainda que a tecnologia não avançou a ponto de oferecer a solução ideal para os supermercados. “Há algumas alternativas sendo analisadas e testadas, mas não dá para saber ainda qual será a melhor”, concluiu.