Uma via láctea de possibilidades
Cada vez mais tecnificada, a pecuária leiteira do Brasil movimenta anualmente cerca de R$ 70 bilhões e emprega, direta e indiretamente, quatro milhões de pessoas. E mesmo com a crise financeira internacional, as perspectivas quanto ao futuro desse pujante mercado são positivas, tanto no âmbito interno quanto lá fora.
De acordo com uma pesquisa divulgada em junho, o consumo mundial de leite e de outros produtos lácteos líquidos — puxado pelos países emergentes — deverá crescer
a uma taxa anual média de 2,2% nos próximos três anos.
A previsão foi publicada no Tetra Pak Dairy Index, um novo relatório sobre as tendências de consumo na indústria de laticínios, destinado a auxiliar os produtores a identificar as oportunidades de mercado.
Ainda segundo o estudo, a demanda global cresceu, nos últimos quatro anos, a uma taxa anual média de 2,4%, apesar da variação que fez os preços do leite subirem até 75% em alguns mercados, antes de se estabilizarem no fim do ano passado, quando o consumo de produtos lácteos líquidos
atingiu o recorde de 258 bilhões de litros em todo o mundo — aumento de 1,6% em relação a 2007.
Os números, portanto, corroboram as expectativas otimistas da Tetra Pak em relação ao Brasil, onde a economia já mostra sinais de recuperação. Na avaliação do presidente mundial da empresa, Dennis Jönsson, o índice de crescimento previsto para o setor está próximo à expansão média calculada para os outros emergentes.
“O País tem visto grandes investimentos e consolidações de grandes empresas”, aponta o executivo. “Duas tendências continuarão a impulsionar o consumo do produto até 2012: o crescimento ininterrupto dos mercados emergentes e a mudança em direção a um maior consumo do produto embalado”, acrescenta o CEO da multinacional líder em soluções de processamento e envase de alimentos, informando que a demanda por leite envasado também está em expansão ao redor do mundo.
As razões para isso são diversas e estão relacionadas, principalmente, aos aspectos saúde, segurança alimentar e praticidade inerentes aos estilos de vida de consumidores cada vez mais ocupados e em constante deslocamento nos centros urbanos, o que também estimula o aumento no consumo de outros alimentos e bebidas mantidos sob atmosfera controlada. Nos balcões e expositores climatizados dos supermercados, há muito tempo é notória a presença de centenas de itens do gênero em embalagens que facilitam o dia a dia das famílias e aumentam o lucro das redes de varejo, das empresas de food service, das lojas de conveniência, da indústria de refrigeração e, obviamente, dos próprios fabricantes dos invólucros destinados a proteger esses produtos durante as etapas de distribuição, armazenagem, exposição e estocagem nos freezeres e refrigeradores domésticos.
AVANÇOS LEGAIS
Outro fator que tem contribuído para a expansão e modernização da cadeia produtiva do leite está no campo legal. Assinada em 2002, a Instrução Normativa nº 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, substituiu a legislação de 1952 e estabeleceu índices mais rígidos de contagem de células somáticas, bacteriana e de resíduos de antibióticos.
Segundo a pesquisadora Vânia Oliveira, da divisão de Gado de Leite da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), uma das principais exigências diz respeito ao resfriamento, uma vez que, para conservar a qualidade do leite, o produto deve ser resfriado a uma temperatura de 7ºC em até 3 horas após a ordenha.
Os produtores também são obrigados a possuir instalações adequadas para a ordenha, dotadas de sala de leite com equipamento de refrigeração em placas ou por expansão direta, com a transferência do leite do tanque estacionário para o veículo coletor por meio de circuito fechado em local devidamente coberto.
A câmara frigorífica, por sua vez, precisa ficar anexa à dependência de beneficiamento e em fluxo lógico em relação aos locais de envase e expedição. São aceitas câmaras pré-moldadas ou construídas em outros materiais, desde que apresentem bom acabamento e funcionamento perfeito, com as aberturas de aço inoxidável, fibra de vidro ou algum outro material adequado.
Já o ambiente climatizado deve possuir termômetro de leitura para o exterior e assegurar a manutenção do leite em temperatura máxima de 4°C, e os demais produtos conforme as recomendações técnicas específicas.
“É importante ressaltar que, quanto mais tempo se demorar entre a ordenha e o recebimento do leite no posto de coleta, maior será a probabilidade de o produto se tornar ácido e ter sua qualidade prejudicada”, explica.
De acordo com a chefe da Divisão de Inspeção de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Luciana Meneghetti Maraschin, embalagem, armazenagem e transporte devem manter a segurança do alimento e preservar suas características de qualidade.
“A manutenção da cadeia do frio é de fundamental importância para a conservação dos produtos lácteos refrigerados”, afirma a especialista, lembrando que, para garantir o cumprimento da lei, o ministério fiscaliza os estabelecimentos produtores in loco, por meio da verificação dos documentos e registros de produção da empresa, auditorias, bem como coleta e envio de amostras de produtos para análises laboratoriais.
INIMIGOS INVISÍVEIS
A pesquisadora Maria Aparecida Paiva Brito, da Embrapa Gado de Leite, salienta que quantidades excessivas de unidades formadoras de colônias interferem diretamente no processo de fabricação, no tempo de armazenagem e no sabor dos produtos lácteos.
As bactérias são os microrganismos que mais contaminam e, em menor grau, vem o contágio por fungos, leveduras e vírus. Dependendo do tipo de microrganismo e da contaminação microbiana podem haver, inclusive, riscos para a saúde humana.
“Elas se dividem em três grupos principais, de acordo com a temperatura em que crescem e se multiplicam. São denominadas psicrófilas, mesófilas e termófilas. Outros grupos são os das psicrotróficas e das termodúricas”, ensina. Do ponto de vista da qualidade, as bactérias psicrotróficas, capazes de crescer a baixas temperaturas, formam o grupo que mais contribui para a deterioração do leite e derivados, quando se multiplicam antes ou após a pasteurização.
“Os microrganismos psicrotróficos produzem enzimas que degradam as proteínas e lipídios e são as principais responsáveis pelas alterações no rendimento, textura, sabor e odor do leite e seus derivados. Isso porque essas enzimas são resistentes ao ○ calor e não são eliminadas pela pasteurização ou pelo processo UHT”, observa.
Como os demais grupos de bactérias, as altas contagens de microrganismos psicrotróficos estão associadas à deficiência na higiene da ordenha, falhas na limpeza e sanitização do tanque de refrigeração e ordenhadeiras ou refrigeração inadequada.
“Já as bactérias termodúricas podem diminuir o tempo de prateleira dos lácteos porque esses microrganismos resistem à pasteurização”, afirma Maria Aparecida Brito, ressaltando que as baixas temperaturas impedem ou retardam a multiplicação da maioria desses inimigos invisíveis.
A pesquisadora lembra ainda que a temperatura ótima para o crescimento dos principais microorganismos que contaminam o leite está na faixa de 4ºC a 6º para os psicrófilos, de 25ºC a 35ºC para os mesófilos e de 50ºC para os termófilos.
“As bactérias termodúricas sobrevivem à pasteurização (30 minutos a 63ºC ou 15 segundos a 72ºC) e as psicrotróficas multiplicam-se a temperaturas iguais ou menores que 7ºC”, complementa.
QUALIDADE EMBALADA
Considerado mundialmente parte essencial de uma dieta saudável e nutritiva para todas as idades, o leite é um alimento básico para o homem. Nesse contexto, as embalagens destinadas ao produto pasteurizado — altamente perecível e que deve ser conservado sob refrigeração — não podem conter microorganismos patogênicos e devem estar livres de outros que possam se desenvolver durante as etapas de estocagem e venda.
A proteção proporcionada pelas embalagens aos outros produtos lácteos fermentados é também indispensável, devido à distribuição necessária dos alimentos do gênero em todo o território nacional, demandando transporte em grandes distâncias.
Entre as modalidades de invólucros para leite e bebidas lácteas disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se os saquinhos, as garrafas plásticas e as cartonadas.
A embalagem asséptica da Tetra Pak, conhecida como longa vida, é composta por seis camadas de diferentes materiais — plástico, papel e alumínio — cada qual com uma função importante na proteção do alimento.
Segundo a empresa, o papel mantém a embalagem rígida, o plástico permite a integridade do fechamento da embalagem e o alumínio bloqueia a luz e o oxigênio.
Antes de serem envasados em embalagens assépticas, os alimentos passam por um tratamento térmico conhecido como ultrapasteurização (UHT), a fim de eliminar microrganismos eventualmente presentes.
Devido à estrutura das embalagens longa vida, é possível proteger o produto, mantendo a sua qualidade sob condição ambiente, dispensando o transporte refrigerado e mantendo as bactérias e demais microorganismos longe dos alimentos como leite, bebidas de soja, sucos de frutas e polpa de tomate.
Além do invólucro para UHT, a Tetra Pak — que produziu 9,7 bilhões de embalagens em 2008 — fechou o ano com faturamento de R$ 3,18 bilhões no Brasil, atuando também no setor de alimentos que demandam refrigeração.
A gigante multinacional estima que o consumo mundial de leite ultrapasteurizado irá crescer a uma taxa anual média de 5,2% nos próximos três anos, ultrapassando 70 bilhões de litros em 2012.
Segundo a companhia, o consumo de leite envasado e de outros produtos lácteos líquidos apresenta crescimento mais acelerado do que toda a categoria e estima-se que atinja mais de 72% do consumo total mundial até 2012.
SUSTENTABILIDADE EM FOCO
A Abre (Associação Brasileira de Embalagem) estima que mais de 50% da produção do setor seja destinada ao mercado de alimentos e bebidas. Hoje, todas as estruturas de embalagem — aço, alumínio, cartão, vidro e plásticos — acondicionam esses produtos, protegendo-os contra agentes de degradação e impactos físicos da distribuição, otimizando custos e garantindo qualidade aos consumidores.
Em decorrência de diversos fatores, a moderna indústria brasileira da embalagem vem se fortalecendo ano a ano. “Até 2008 contamos com um aumento contínuo do poder de compra das famílias e expansão da oferta de crédito”, exemplifica a diretora executiva da entidade, Luciana Pellegrino.
Outro aspecto em que o Brasil se destaca é o da sustentabilidade. “Em se tratando de produto alimentício com um impacto ambiental de referência de 100%, a embalagem representa 10% deste total, enquanto a produção do alimento responde pela outra metade, sendo que distribuição, armazenamento e preparo, 40%”, calcula.
“Mesmo assim, a indústria de embalagens investe em reciclagem, sendo um modelo para outros países, assim como na inclusão do tema na pauta de desenvolvimento do setor”, informa a profissional.
Para subsidiar todos esses esforços do setor, a Abre lançou recentemente a cartilha Diretrizes de Sustentabilidade para a Indústria de Embalagens e Bens de Consumo, disponível para download no site: http://www.abre.org.br/meio_ambiente.php