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Futuro do HVAC-R une eficiência, sustentabilidade e ar mais saudável

Com foco em eficiência energética, uso de refrigerantes de baixo GWP e melhoria da qualidade do ar interno, o setor de HVAC-R no Brasil acelera sua transição para uma era mais sustentável

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À medida que o setor de HVAC-R no Brasil avança, as atenções se voltam para três pilares que definirão o futuro da climatização e refrigeração: eficiência energética, transição para refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global (GWP) e melhoria da qualidade do ar interno, e vem assumindo papel estratégico na agenda de sustentabilidade no país, além de representar participação significativa na produção industrial.

Representando cerca de 2,3% da produção industrial, nacional a eficiência energética é hoje uma das prioridades da política ambiental e industrial brasileira. O Ministério de Minas e Energia (MME), em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a organização internacional CLASP, promoveu em 14 de outubro último, o seminário “Brasil e a COP30: o papel da eficiência energética no setor HVAC-R”, que reuniu representantes do governo, entidades industriais e especialistas nacionais e internacionais.

Durante o encontro, foi lançado o Comitê de Acompanhamento do Projeto de Eficiência Energética como Instrumento de Política Industrial, iniciativa que reunirá representantes públicos e privados para sugerir ações que ampliem a competitividade e a sustentabilidade do setor. O grupo também será responsável pela elaboração de uma carta de compromisso com a eficiência energética, que poderá ser apresentada na COP30, em Belém (PA), este mês de novembro.

Para o MME, a cooperação entre ministérios, indústria e instituições de pesquisa é essencial para fortalecer a política energética brasileira e posicionar o país como referência global em inovação. O diretor do Departamento de Informações, Estudos e Eficiência Energética do MME, Leandro Andrade, destacou que o setor de HVAC-R representa cerca de 10% do consumo de energia elétrica do setor residencial no país, índice que evidencia o enorme potencial de economia e de crescimento.

Leandro Andrade destacou o papel da eficiência energética no setor HVAC-R durante seminário “Brasil e a COP30”

“A eficiência energética é o primeiro e mais imediato mecanismo de impacto para os sistemas HVAC-R. No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou diretrizes específicas para aparelhos de ar-condicionado, estabelecendo novos índices mínimos de eficiência com metodologia baseada na norma ISO 16358-1, que permite diferenciar os equipamentos com tecnologia inverter, capazes de consumir até 30 % menos energia que os convencionais de rotação fixa. A eficiência energética usualmente é como se fosse o combustível mais barato, a alternativa energética mais econômica para o consumidor de energia. Ela pode reduzir a necessidade de novos investimentos em geração e transmissão de energia e trazer benefícios diretos ao consumidor, com redução na conta de luz, sem perder qualidade de vida. Num contexto de COP, reforçar a eficiência dentro da política industrial brasileira é essencial para alcançarmos a transição energética inclusiva que desejamos”, afirmou Andrade.

A Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) vem alertando sobre os desafios na implementação de alternativas de refrigerantes de baixo GWP, tecnologias com máxima eficiência e QAI, destacando questões como infraestrutura, custo, capacitação técnica e normas de segurança e fabricantes já se movimentam.

“Durante o evento “Brasil e a COP30”, foi assinado o termo com os SENAI Amazonas e Paraná, que farão o mapeamento de toda cadeia produtiva do HVAC-R na intenção de apresentar iniciativas que impulsionam a sustentabilidade e a inovação no país. Além disso, eu e Felipe Raats representaremos a ABRAVA no Comitê de Acompanhamento do Projeto Eficiência Energética no setor”, informa Thiago Pietrobon, Diretor de Meio Ambiente da ABRAVA.

Tanto para os grandes fabricantes quanto para instaladores, esse tripé: pressão regulatória + mercado + tecnologia, significa que os sistemas devem ser projetados com componentes de alta eficiência, controles inteligentes, manutenção rigorosa e integração digital (IoT/monitoramento). O resultado: menor consumo de energia, menores custos operacionais e menor emissões de CO‚  no ciclo de vida.

A Daikin divulgou que pretende duplicar a eficiência energética de seus equipamentos até 2030 e zerar as emissões de carbono em 2050. Em sua participação no seminário “Brasil e a COP30”, a empresa apresentou sua visão de sustentabilidade e o avanço tecnológico em equipamentos inverter e VRV.

“A promoção do inverter e o desenvolvimento do VRV foram fundamentais para o salto tecnológico que resultou em equipamentos mais eficientes. Em cada COP, a Daikin buscar trazer novas ideias e aplicações com o objetivo de reduzir sua pegada de carbono e transformar o setor. Na COP30, o foco será em soluções para descarbonização de edificações e combate ao overcooling (arrefecimento excessivo)”, enfatiza João Aureliano, Gerente Sênior de Engenharia de Produto da Daikin.

Já a Hitachi, teve projeto pelo retrofit do Condomínio Edifício Villa Lobos com a substituição de chillers, infraestrutura elétrica e hidráulica que resultou em redução de consumo de energia elétrica de cerca de 20% e água em 25%. O retrofit substituiu a Central de Água Gelada (CAG), condicionadores de ar, infraestrutura elétrica e hidráulica, além da instalação das seis unidades resfriadoras de água gelada com Chiller Parafuso com Condensação a Ar de capacidade 140 TR cada, totalizando 840 TR.

Transição para refrigerantes de baixo GWP

O segundo grande vetor é a transição para refrigerantes com baixo potencial de aquecimento global (GWP). No Brasil, esse movimento é impulsionado tanto por compromissos internacionais como a Protocolo de Kigali (sobre HFCs), quanto por iniciativas setoriais. A Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ASBRAV), por exemplo, publicou recentemente um alerta sobre “Desafios na implementação de refrigerantes de baixo GWP no Brasil”, mencionando barreiras como infraestrutura, custo e capacitação técnica.

“Globalmente, a indústria de HVAC-R é incentivada a diminuir o uso de refrigerantes tradicionais devido ao seu alto GWP, que contribui significativamente para o aquecimento global. O Protocolo de Kigali, uma emenda ao Protocolo de Montreal, exige uma redução substancial na utilização destes gases até 2030. Para o Brasil, a adesão a este protocolo significa necessidades urgentes de adaptação às novas normativas internacionais que promovem um mercado mais sustentável. A transição para refrigerantes de baixo GWP no Brasil é inevitável e essencial para alinhar o país com objetivos globais de sustentabilidade. Enquanto os desafios são consideráveis, as oportunidades para inovar e liderar em eficiência energética e redução de emissões são vastas. Com o apoio governamental adequado através de incentivos fiscais e programas de financiamento, juntamente com um ambiente regulatório claro e estável, o Brasil pode superar esses obstáculos e estabelecer um novo padrão em sustentabilidade ambiental no setor de HVAC-R”, comenta Mario Henrique Canale, presidente da ASBRAV.

No setor industrial, as fabricantes já lideram esse movimento. A Daikin iniciou em Manaus a produção de equipamentos que utilizam o R-32, fluido com GWP até 68% menor que o R-410A. A Midea também investe em linhas com R-32 e em projetos que testam o uso do R-290 (propano), considerado uma solução natural e de baixíssimo impacto ambiental. Já a Copeland oferece compressores e sistemas compatíveis com refrigerantes A2L, CO2‚  (R-744) e R-290, desenvolvidos para aplicações comerciais e industriais de alta eficiência.

Esses avanços colocam o Brasil em sintonia com os compromissos do Protocolo de Kigali, que prevê a redução gradual dos HFCs. No entanto, para consolidar a transição, é indispensável investir na capacitação de técnicos e instaladores, pois o manuseio de novos gases requer normas de segurança, ferramentas específicas e procedimentos de comissionamento adequados.

Grandes fabricantes já oferecem sistemas compatíveis com refrigerantes A2L, CO2‚ (R-744) e R-290, desenvolvidos para aplicações comerciais e industriais


Qualidade do ar interno e saúde

A pandemia reforçou a importância da qualidade do ar interno (QAI) como fator de saúde pública e produtividade. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a ABRAVA têm enfatizado que a QAI deve integrar políticas ambientais e de edificações sustentáveis. Segundo dados da ABRAVA, em ambientes fechados onde passamos cerca de 90% do tempo, a poluição interna pode ser 2 a 5 vezes maior do que a externa. Isso reforça o papel crítico de projetistas, instaladores e técnicos em garantir sistemas bem dimensionados e limpos, com ventilação adequada, filtragem eficiente, controle de umidade, troca de ar e manutenção periódica.

Até recentemente, a Resolução RE 09/2003 da ANVISA era o principal documento que definia padrões referenciais de QAI no país. Contudo, ela foi substituída pela nova ABNT NBR 17.037:2023, que modernizou e ampliou os critérios de avaliação. A norma estabelece parâmetros para contaminantes biológicos, químicos e físicos, além de condições térmicas ideais e taxas mínimas de renovação de ar.

“A publicação dessa norma representa um avanço importante, pois substitui padrões antigos e alinha o Brasil às práticas internacionais de controle de qualidade do ar. A NBR 17.037 dialoga com outras referências, como a NBR 16.401-3, voltada ao projeto e manutenção de sistemas de ar-condicionado central e unitário, e as normas ASHRAE 62.1 e 55, que orientam o conforto térmico e a ventilação adequada em edifícios. Além disso, em 2024 foi sancionada a Lei nº 14.850, que institui a Política Nacional de Qualidade do Ar. Embora voltada principalmente ao ar externo, a legislação reforça a necessidade de monitoramento, divulgação de dados e integração de políticas públicas, o que influencia diretamente os esforços pela melhoria da QAI”, diz Leonardo Cozac, Presidente da ABRAVA.

Essas mudanças normativas refletem uma nova mentalidade no setor HVAC-R. Hoje, não basta climatizar, é preciso purificar, ventilar e monitorar o ar que se respira. Essa evolução tecnológica e regulatória vem acompanhada de desafios, como o custo das medições e adequações, a necessidade de atualização profissional e a substituição de equipamentos antigos por sistemas mais eficientes.

A LG, por exemplo, em sua plataforma de soluções, afirma adotar uma abordagem “digital e ecologicamente correta” e aponta que suas soluções ajudam a “garantir ambientes mais seguros e saudáveis”, com filtros de alta eficiência, monitoramento de qualidade do ar e ventilação térmica otimizada.


Desafios de instaladores e técnicos

Mesmo com equipamentos de ponta e fluidos de baixo impacto, se a instalação for inadequada, a manutenção negligente ou os controles inexistentes, o ganho se perde. Entre os desafios destacados estão:

– Capacitação técnica para os novos refrigerantes (manuseio, instalação, segurança) e para manutenção de sistemas inverter e de vazamento reduzido.

– Necessidade de projetos bem dimensionados e execução com qualidade (tubulação, isolantes térmicos, carga correta, comissionamento).

– Manutenção periódica que garanta desempenho real, qualidade do ar e vida útil dos equipamentos.

– Conscientização dos usuários finais para optar por soluções de maior eficiência, ainda que com investimento maior.

– Alinhamento regulatório, incentivos fiscais ou programas de apoio para acelerar a substituição de sistemas obsoletos, inclusive em edificações públicas ou industriais.

Projetos-piloto para reciclagem de fluidos

Recigases propõe a instrutores do PBH iniciativas para recolhimento e destinação correta de refrigerantes

Filipe Colaço, diretor da Recigases e presidente do Departamento Nacional de Meio Ambiente da Abrava, apresentou aos instrutores do Programa Brasileiro de Hidrocarbonetos (PBH) a proposta de criação de projetos-piloto de reciclagem e regeneração de fluidos refrigerantes em escolas técnicas parceiras. A iniciativa foi anunciada durante palestra no Encontro Nacional 2025 do PBH – Treinamento Sênior em Fluidos Naturais, realizado entre 20 e 31 de outubro na Firjan-Senai-Benfica, no Rio de Janeiro, que reuniu 39 instrutores e três professores-especialistas.

Segundo Colaço, a Recigases pretende desenvolver, em conjunto com cada escola, um projeto-piloto que inclui a disponibilização gratuita de alguns cilindros para coleta de fluidos. O objetivo é incentivar o recolhimento e o encaminhamento dos refrigerantes para destinação adequada.

O diretor afirma que a proposta busca responder a uma dúvida recorrente no setor — o destino dos fluidos recolhidos. Ao provocar os instrutores a aderirem ao piloto, Colaço ressaltou que cada professor do PBH poderá construir sua própria solução ao encaminhar os materiais para a Recigases, contribuindo para a estruturação de práticas de tratamento e descarte no país.

O avanço da etapa inicial do Programa HFCs

Evento em São Paulo no dia 1º/12 apresentará diretrizes da primeira fase da estratégia nacional para redução do consumo de HFCs

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) farão no dia 1º de dezembro a Apresentação da Proposta de Estratégia para a Etapa I do Programa Brasileiro de Redução do Consumo de Hidrofluorcarbonos (Programa HFCs). O encontro ocorrerá às 14h30, no auditório da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), em São Paulo, com participação presencial e online.

A atividade tem como foco apresentar as diretrizes estratégicas da primeira fase do Programa, alinhadas às metas da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal para redução do consumo de hidrofluorcarbonos. O evento incluirá a exposição do diagnóstico do consumo brasileiro de HFCs por substâncias e setores e detalhará ações previstas para apoiar a transição para tecnologias de menor potencial de aquecimento global e maior eficiência energética.

Também serão tratadas iniciativas voltadas ao cumprimento das metas assumidas pelo Brasil, à modernização tecnológica e ao fortalecimento da indústria nacional no processo de substituição dos HFCs.

Calor intenso expõe fragilidades da COP30

O histórico climático de Belém e a vulnerabilidade térmica reforçam a necessidade de projetos adequados de climatização e ventilação para garantir segurança e conforto.

As falhas no sistema de ar-condicionado em diversas áreas da COP30 foram destacadas pelo secretário-executivo da ONU, evidenciando que o desconforto térmico não é apenas questão de conforto, mas de segurança.

Belém pertence à zona climática Af (clima tropical úmido ou equatorial), segundo a classificação de Köppen, o que significa clima tropical chuvoso, quente e extremamente úmido. Dados do INMET entre 1967 e 1996 indicam que a temperatura média máxima anual gira entre cerca de 30 °C e 33 °C, com mínimas próximas a 23 °C. A umidade relativa do ar também é elevada, frequentemente entre 79 % e 89 %.

Além disso, as medições de temperatura de bulbo úmido (que combinam calor, umidade e vento para estimar o impacto real no corpo humano) já mostraram picos de até 31,5 °C em Belém.

Valores desse tipo comprometem a eficiência da transpiração como mecanismo de resfriamento corporal, e, segundo especialistas, representam situação de risco térmico elevado.

Esse histórico climático reforça por que um projeto de climatização para a COP30 deveria ter levado em conta não apenas a instalação de aparelhos de ar-condicionado, mas também a concepção de um sistema com ventilação natural bem desenhada, zonas sombreadas, postos de hidratação adequados, e consideração da densidade de público. Na prática, no entanto, participantes relataram longas filas nas zonas Azul e Verde sob forte sol, poucas áreas sombreadas no Parque da Cidade e hidratação insuficiente — evidências de que o planejamento do conforto térmico ficou aquém do necessário.

O professor Fabio Teixeira Gonçalves, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, destacou que a ocupação excessiva, mais de oito mil pessoas na Blue Zone, aliada à baixa ventilação intensifica o estresse térmico. A combinação de umidade entre 60% e 80%, temperaturas acima de 30°C e radiação solar exerce grande pressão sobre o sistema de termorregulação do corpo, especialmente em grupos vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas enfermas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), parceira do Brasil no plano de adaptação a extremos, estar na sombra é essencial, já que a sensação térmica ao sol pode ser de 10 °C a 15 °C mais alta do que a temperatura medida oficialmente. Essa orientação reforça que medidas simples, cobertura solar, ventilação e sombras, são tão importantes quanto um ar-condicionado funcional, especialmente em climas como o de Belém.

No evento, esforços para amenizar o calor já se fizeram visíveis. Na última quarta-feira, a primeira-dama Rosângela Silva pediu desculpas aos artistas pelo calor durante o painel “Narrativas e histórias para enfrentar a crise climática”. No mesmo dia, um encontro com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no Pavilhão do Brasil, contou com o barulho constante de leques para contrabalançar o abafamento, mesmo com ventilador extra — sem sucesso para resolver completamente o problema.

O espaço interno da COP30 é administrado pela ONU, enquanto a prefeitura de Belém dá suporte em segurança e zeladoria urbana. A prefeitura afirmou que as ações planejadas para garantir conforto e infraestrutura estão sendo executadas diariamente, mas os relatos de calor persistente mostram que, para evitar riscos à saúde e garantir bem-estar, será necessário reforçar e revisar o projeto de climatização.

ONU alerta que demanda por ar-condicionado deve triplicar até 2050

Relatório do Pnuma indica que emissões do setor podem dobrar e defende acesso ao resfriamento como infraestrutura essencial.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou, durante a COP30, em Belém, o relatório Global Cooling Watch 2025, que aponta o crescimento acelerado da demanda global por refrigeração. Segundo o documento, o uso de aparelhos de ar-condicionado e sistemas de refrigeração deve triplicar até 2050, o que pode dobrar as emissões de gases de efeito estufa associadas ao setor.

O relatório relaciona o aumento da população mundial e a intensificação das ondas de calor extremo ao maior acesso de famílias de baixa renda a equipamentos de refrigeração ineficientes e mais poluentes. A projeção é de que as emissões atinjam 7,2 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2050, mais do que o dobro do registrado em 2022.

O Pnuma aponta que a adoção de equipamentos mais eficientes e o uso combinado de ventiladores e ar-condicionado poderiam reduzir as emissões do setor em 64% até meados do século. A medida evitaria US$ 43 trilhões em gastos com energia e infraestrutura e protegeria 3 bilhões de pessoas dos impactos do calor extremo. Se houver uma descarbonização rápida da matriz energética, a redução da poluição poderia chegar a 97%.

A diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen, afirmou que o acesso ao resfriamento deve ser tratado como infraestrutura essencial, a exemplo de água e saneamento, e destacou que “não é possível resolver a crise do calor apenas com ar-condicionado”, alertando para o aumento das emissões e o risco de sobrecarga nas redes elétricas.

Segundo o relatório, mais de um bilhão de pessoas vivem hoje sem acesso adequado à refrigeração, número que também deve triplicar até 2050, com impacto maior sobre mulheres, idosos e pequenos agricultores.

Entre as soluções propostas estão o resfriamento passivo, por meio de projetos arquitetônicos que favorecem ventilação e sombreamento; sistemas de baixo consumo energético, como ar-condicionado híbrido e soluções solares off-grid; e a redução do uso de hidrofluorcarbonetos (HFCs), substâncias com alto potencial de aquecimento global.

O Pnuma alerta ainda que o estresse térmico pode inviabilizar 80 milhões de empregos em tempo integral até 2030, tornando o acesso ao resfriamento sustentável fundamental para a continuidade de atividades em escolas, hospitais e empresas.

COP30 e PNUMA lançam fase de implementação do Mutirão Global contra o Calor Extremo

Iniciativa quer acelerar ações de resfriamento sustentável e ampliar o acesso à refrigeração como infraestrutura essencial.

A Presidência da COP30 e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançaram, em 12 de novembro de 2025, a fase de implementação do Mutirão Global contra o Calor Extremo (Beat the Heat). A ação é promovida em parceria com a Coalizão pelo Resfriamento (Cool Coalition) e tem como meta acelerar a adoção de soluções sustentáveis de resfriamento e resiliência ao calor em cidades de todo o mundo.

Até o momento, 185 cidades aderiram ao Mutirão Global e 72 países firmaram o Compromisso Global pelo Resfriamento, que prevê a redução das emissões relacionadas à refrigeração em 68% até 2050.

A CEO da COP30, Ana Toni, destacou que a iniciativa facilita a comunicação dos objetivos da conferência com o público. Segundo ela, a experiência direta do calor permite que as pessoas compreendam e apoiem acordos multilaterais sobre mudanças climáticas.

De acordo com o PNUMA, a demanda global por refrigeração deve triplicar até 2050, o que pode agravar as mudanças climáticas e sobrecarregar as redes elétricas. O novo relatório da Cool Coalition, liderado pelo Programa, aponta que o Caminho de Resfriamento Sustentável pode fornecer acesso a refrigeração de espaços, edifícios resilientes e espaços verdes urbanos para todos, incluindo grupos vulneráveis e de baixa renda, como pequenos agricultores, mulheres e idosos — sem agravar a crise climática.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou que cerca de 20 milhões de crianças e adolescentes estudam em escolas brasileiras sem climatização adequada e defendeu medidas articuladas em torno das agendas de mitigação, adaptação e transformação.

A diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, afirmou que o acesso ao resfriamento deve ser tratado como infraestrutura essencial, a exemplo de água, energia e saneamento, uma vez que “o resfriamento salva vidas e mantém economias, escolas e hospitais funcionando”.

O prefeito de Fortaleza (CE), Evandro Leitão, destacou que o enfrentamento da crise climática deve estar vinculado à justiça social, com ações intersetoriais nas áreas de saúde, educação e infraestrutura.

Brasil avança em projeto para eliminar uso de HCFC-22 na manufatura de equipamentos RAC

Iniciativa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e executada pela UNIDO busca substituir o HCFC-22 por alternativas de menor impacto ambiental.

O Projeto para o Setor de Manufatura de Equipamentos de Refrigeração e Ar-Condicionado (RAC), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), foi aprovado em dezembro de 2015 durante a 75ª Reunião do Comitê Executivo do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal (FML).

A iniciativa tem como objetivo reduzir o consumo de HCFC-22 utilizado na fabricação de equipamentos de refrigeração e ar-condicionado, responsável por cerca de 17% do consumo total da substância no país. O projeto faz parte da Etapa 2 do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH) e prevê a eliminação de 65,64 toneladas PDO de HCFC-22, por meio da conversão tecnológica em empresas elegíveis.

As empresas participantes receberão recursos doados pelo Fundo Multilateral para realizar a substituição por alternativas que não agridem a camada de ozônio e apresentem baixo impacto climático. O projeto inclui ainda assistência técnica, testes-piloto, treinamentos de operação segura e ações de conscientização voltadas aos setores de refrigeração comercial e ar-condicionado.

Com a execução do projeto, o Brasil reforça seu compromisso com o Protocolo de Montreal, contribuindo para a eliminação das substâncias que destroem a camada de ozônio e para a mitigação das mudanças climáticas globais.

Sindratar-SP celebra 55 anos e reforça atuação no fortalecimento do setor HVAC-R

Evento em São Paulo reuniu lideranças e destacou o papel do sindicato na defesa e integração das indústrias de refrigeração e climatização.

O Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (Sindratar-SP) realizou, em 5 de novembro, no Espaço Fiesp, na capital paulista, o jantar comemorativo de 55 anos de fundação. O encontro reuniu cerca de 90 convidados, entre diretores do Sindratar-SP, da ABRAVA, da Fiesp, do Ciesp e de entidades parceiras, além de empresários e profissionais do setor HVAC-R.

O presidente do Sindratar-SP, Pedro Evangelinos, ressaltou a importância da entidade na união e representatividade do setor. Durante o evento, foi apresentado o vídeo institucional de 55 anos, que reuniu marcos da trajetória do sindicato. As empresas associadas que patrocinaram a celebração receberam certificados de reconhecimento: Diamante – Arneg Brasil, CACR, Heating Cooling, Hitachi, Indústrias TOSI e RAC Brasil; Ouro – Apema, São Rafael e TBS; Prata – Bitzer, FAM e Projelmec.

Fundado oficialmente em 23 de dezembro de 1970, o Sindratar-SP surgiu da iniciativa de empresários que buscaram representação patronal específica para o setor. Entre os presidentes que conduziram a entidade estão Paulo José Garcia Palma, Armando Taddei, Paulo Francini, Aristides Molina, Pedro Evangelinos, José Rogélio Miguel Medela e Carlos Eduardo Tombini.

A filiação à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o convênio com o SENAI, firmado em 1975, foram marcos institucionais. A parceria resultou no primeiro curso técnico de refrigeração do país e, mais tarde, na transformação da Escola SENAI Rodrigues Alves em Escola Temática para Refrigeração e Ar-Condicionado. O sindicato atualmente preside o Conselho Consultivo da escola.

A atuação recente inclui participação em discussões com o Ministério do Trabalho e Emprego, o Inmetro e o Ministério do Meio Ambiente sobre normas regulamentadoras, eficiência energética, qualidade do ar interno e descarbonização. O Sindratar-SP também teve papel relevante na ratificação da Emenda de Kigali, em articulação com a ABRAVA, a Fiesp, a CNI, a Eletros e a Amcham Brasil.

Durante a pandemia, o sindicato participou de ações que garantiram o reconhecimento do setor como atividade essencial, assegurando a continuidade dos serviços e a preservação de empregos. Também colaborou na regulamentação da Lei do PMOC, voltada à manutenção preventiva de sistemas de climatização.

Samoel Vieira, vice-presidente do Sindratar-SP, destacou a relevância da entidade na integração entre as áreas técnica e trabalhista e na aproximação com instituições como o Instituto Mauá de Tecnologia e a Escola SENAI Oscar Rodrigues Alves. Segundo ele, o sindicato atua de forma contínua na formação de lideranças e na defesa dos interesses das empresas do setor.

Entre o leque e o ar-condicionado na COP30

Alta umidade de Belém durante a COP30 evidencia a importância do conhecimento técnico em climatização.

Os leques viraram símbolo involuntário da COP30. No primeiro dia da conferência, realizada em Belém, participantes recorreram a leques, pedaços de papel e até crachás para aliviar o calor amazônico. O ar-condicionado dos pavilhões não deu conta do clima da cidade, onde a sensação térmica pode chegar a 40 °C e a umidade relativa do ar se mantém alta durante boa parte do ano.

A própria organização da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), responsável pela COP, flexibilizou o código de vestimenta: terno e gravata foram dispensados, e a recomendação passou a ser o “esporte fino”, com roupas leves. Ainda assim, quem transita entre os espaços abertos e os auditórios percebe o contraste. Lá fora, o leque é quase obrigatório; dentro, o ar-condicionado em temperatura baixa pode pedir um casaco leve.

Essa alternância de calor úmido e frio seco chama atenção para um ponto essencial: climatizar uma cidade próxima à linha do Equador não é simples. O desafio não está apenas em resfriar o ar, mas em retirar o excesso de umidade. Quando o ar está saturado, o corpo tem mais dificuldade de evaporar o suor e a sensação de calor se torna mais intensa, mesmo em temperaturas que seriam suportáveis em climas mais secos.

Nessas condições, um sistema de ar-condicionado mal ajustado pode gerar o efeito contrário ao desejado: o ambiente fica frio, mas “pegajoso”. Evitar isso requer equipamentos corretamente dimensionados e regulados, levando em conta tanto a temperatura quanto a umidade. Boa parte do esforço de climatização, afinal, destina-se à desumidificação, não apenas ao resfriamento.

Também é preciso atenção ao sistema de drenagem, ao isolamento térmico das tubulações e à manutenção regular dos aparelhos, detalhes que garantem eficiência, conforto e prevenção de mofo ou odores indesejados.

A conferência, organizada pela UNFCCC, tem entre seus temas centrais a redução de emissões e o uso responsável da energia, tópicos em que a climatização exerce papel direto. Entre o leque dos estrangeiros e o ar-condicionado dos auditórios, Belém oferece ao mundo uma amostra de como o conhecimento técnico local é determinante para enfrentar o calor global.

Temperatura certa melhora o sono e o desempenho mental

Ambientes entre 18 °C e 22 °C favorecem o sono profundo e a recuperação cognitiva, segundo estudo conduzido por universidades da Dinamarca, China e Japão.

Pesquisadores do International Centre for Indoor Environment and Energy, da Technical University of Denmark, em parceria com a University of Science and Technology Beijing e a Kyushu University, avaliaram os efeitos da ventilação e da temperatura sobre o sono e o desempenho cognitivo no dia seguinte. O experimento, publicado na revista Building and Environment, foi conduzido por Xiaojun Fan, Huiqi Shao, Mitsuharu Sakamoto, Kazuki Kuga, Li Lan, David P. Wyon, Kazuhide Ito, Mariya P. Bivolarova, Chenxi Liao e Pawel Wargocki.

Os testes foram realizados em câmara climática, onde dez participantes dormiram sob diferentes condições de temperatura e ventilação. O estudo concluiu que o sono apresenta melhor eficiência e menor latência de início quando o ambiente permanece em torno de 24 °C, e que o aumento para 28 °C provoca piora da qualidade do sono e maior sensação de fadiga. Com base nas revisões citadas pelos autores, temperaturas entre 18 °C e 22 °C são consideradas ideais para manter conforto térmico e favorecer o descanso fisiológico.

A pesquisa também observou que a ventilação adequada reduz o acúmulo de dióxido de carbono e compostos orgânicos voláteis, fatores associados à sonolência e à queda no desempenho em tarefas cognitivas após o despertar.

Os resultados indicam que o ajuste preciso dos sistemas HVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) pode contribuir para ambientes de repouso mais saudáveis e para o aprimoramento da performance mental durante o dia.