Setor reflete otimismo

Após sofrer os efeitos da crise financeira internacional, a economia brasileira dá sinais de que os maus momentos vividos no final de 2009 e no primeiro semestre deste ano já fazem parte do passado.

No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto do País cresceu 1,9% em relação ao período de janeiro a março, fazendo o Brasil sair da chamada recessão técnica.

Essa rápida recuperação tem sido responsável por uma grande onda de otimismo, tanto por parte de empresários quanto do poder público. De acordo com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho, o PIB deverá fechar 2009 com 1% de crescimento em comparação ao ano passado.

Já o Boletim Focus, que divulga semanalmente os resultados de pesquisas realizadas com uma centena de analistas do mercado financeiro sobre as expectativas em relação aos principais índices da economia, previu recentemente que o País crescerá 4,8% em 2010.
Diante deste cenário, as indústrias já vêm reaquecendo o mercado, notadamente nos setores que sofrem influência da construção civil, trazendo boas perspectivas também para o comércio do HVAC-R.

“A demanda tem aumentado gradativamente, devido principalmente ao aquecimento da indústria, que está investindo mais em peças de reposição”, comenta VarleiVeloso, gerente de vendas da Climoar, distribuidora de equipamentos, peças, acessórios, componentes e ferramentas para refrigeração e ar-condicionado comercial e industrial.

O diretor da A. Dias, Bruno Dias, é outro que vem percebendo os efeitos da recuperação da economia brasileira. “Já podemos sentir o mercado mais aquecido e com um maior número de consultas. Obras que estavam em standby agora estão sendo retomadas”, destaca o empresário dessa revenda paulistana do setor de ar condicionado.

Com percepção semelhante, o diretor da Devides & Viana, Marcus Viana Devides, revela que sua empresa já está voltando a registrar índices de faturamento no mesmo patamar do período pré-crise. “O consumo tem crescido mês a mês. As taxas de juros baixaram, tem mais moeda circulando no mercado, as construtoras voltaram a apresentar novos projetos, ou seja, a economia aqueceu de um modo geral”, analisa.

Para Luis Targão, diretor de desenvolvimento da Clima Útil, a crise nem mesmo foi sentida em sua empresa. “Atuamos em refrigeração doméstica em grande parte do nosso balcão de peças, sendo assim, por incrível que pareça, é no mercado difícil que os negócios são melhores. Quando não há segurança econômica para os consumidores, eles consertam mais os seus produtos, e vendemos mais peças”, justifica.

Esses mesmos aspectos são apontados pela diretora da Repal, Dulcema Tavares, ao destacar o bom desempenho da empresa durante o período de recessão internacional. “A crise existiu, mas não chegou a afetar de forma considerável o balcão, pois todo equipamento é passível de reparos e substituição de peças, e deixar produtos hoje sem a devida urgência de resfriamento é fator de prejuízo para qualquer comerciante ou indústria”, pondera.

CAMINHO DAS PEDRAS

Para superarem de vez as dificuldades provocadas pela recessão internacional e o outono-inverno rigoroso, as empresas do setor têm lançado mão de uma série de recursos, demonstrando otimismo em relação ao desempenho do mercado nos próximos meses.

“Procuramos atender a clientes de todas as regiões do Brasil, onde o impacto do inverno seja menor. Além disso, aproveitamos esse período em que há uma queda normal e histórica para programar um ciclo de treinamentos e palestras técnicas e motivacionais visando aprimorar e enriquecer o conhecimento de nossos colaboradores”, aponta o diretor comercial da Bandeirantes Refrigeração, Sergio Dias de Oliveira, ao destacar que, por atuar em diversos nichos, sua empresa não sofreu tanta influência do cenário econômico negativo.

Outra revenda que já superou os efeitos da crise e faz planos para expandir seus negócios é a Capital Refrigeração. “A curto prazo, pretendemos contratar novos vendedores e, a longo, devemos lançar novos produtos acabados”, revela o gerente de marketing da empresa, Vinicius Cardoso de Morais.

Quem também já vê o futuro com outros olhos é a Climoar, que está investindo na ampliação da sua revenda localizada na Alameda Glete, em São Paulo. “O imóvel ao lado da nossa loja já está em fase de demolição para ampliarmos o nosso local de atendimento”, destaca Varlei Veloso.

A Devides & Viana, instalada em Salvador (BA), segue caminho semelhante. “Abrimos mais uma loja na região para descentralizar a operação da matriz e poder atender melhor o cliente”, conta Marcus Devides. “Nosso crescimento tem sido constante e esperamos neste verão faturar o que deveríamos ter faturado se não tivesse ocorrido a crise”, complementa.

A Friopeças, por sua vez, aposta na parceria fechada recentemente com a Frascold para ampliar a sua atuação no mercado. “Nos tornamos distribuidores autorizados, visando atender aos mercados de transporte frigorificado para caminhões e compressores semi-herméticos”, afirma o gerente geral da empresa mineira, Pablo Lima.

FRUTOS DA FEIRA

Realizada em setembro último, a Febrava novamente movimentou o HVAC-R, ao gerar boas expectativas de negócios e levar novos conhecimentos aos profissionais do setor.

Enquanto alguns comerciantes enxergaram efeitos positivos trazidos pela Feira, para outros o evento pouco influenciou nas vendas até aqui.

“Considero a Febrava um importante momento de contato pessoal com o mercado e fornecedores. Esse ano conseguimos plantar uma semente e colheremos esses frutos ainda nesse verão, pois conseguimos fechar durante o evento uma nova e importante parceria”, ressalta Marcus Devides.

Outra empresa que já enxerga efeitos concretos de sua participação na Feira é a Friopeças. “Como somos mais novos na área em relação aos nossos principais concorrentes, a Febrava serve para nos dar mais visibilidade no mercado nacional. Os primeiros resultados já estão sendo colhidos e o relacionamento com novos clientes vem aumentando”, comemora Pablo Lima.
A avaliação da Bandeirantes Refrigeração é igualmente positiva. “A Febrava sempre ajuda, pela possibilidade de estreitar as nossas relações com os já clientes, permitir o acesso a novos mercados e, principalmente, a divulgação do nosso trabalho com fluidos refrigerantes, que é outra atividade da nossa empresa”, afirma Sergio de Oliveira.

Vinicius Morais, da Capital Refrigeração, faz coro aos que veem na Feira uma grande oportunidade para o comércio do HVAC-R. “A Febrava é um marco no lançamento de novos produtos, o que acaba gerando demanda para as revendas e distribuidores que comercializam as marcas expostas na Feira”, analisa o gerente de marketing.

Já Luis Targão, da Clima Útil, não acredita em mudanças expressivas pós-Febrava. “O evento está menor a cada edição e grandes nomes do setor não estiveram presentes, porém há de se observar que, para alguns, é uma oportunidade de angariar novos fornecedores”, enfatiza.

Varlei Cardoso, da Climoar, segue na mesma linha. “Faltaram os grandes e houve poucas novidades”, lamenta.

A diretora da Repal, Dulcema Tavares, também não acredita em grandes mudanças no mercado no curto prazo. “Nesta feira foi visto que muita marca nova entrou no mercado. Talvez por isso o cliente ainda não tenha confiança suficiente para investir seu dinheiro nestes equipamentos. Hoje, o nosso cliente preocupa-se muito mais com a manutenção dos aparelhos. Olhando por esse parâmetro, pode-se dizer que esse caminho cliente-loja-manutenção é mais moroso”, pontua.

REVENDAS E FABRICANTES

O relacionamento entre comércio e indústria também ainda desperta polêmicas no setor.

“A necessidade de expansão de vendas por parte dos fabricantes está tornando a comercialização muito difícil, frente à concorrência dos grandes magazines. A regularização de preços ao consumidor, como ocorre em outros setores, talvez tornasse o mercado mais saudável”, sugere Luis Targão, da Clima Útil.

Queixa semelhante é feita por arcus Devides, da Devides & Viana. “O maior ponto de reflexão em nosso setor é a centralização das fábricas em duas ou três atacadistas, esquecendo assim o restante do mercado. Poucas são as indústrias que se preocupam em ter parceiros fortes por estado. Muitas preferem fortalecer os atacadistas, que hoje estão se tornando varejistas e abrindo lojas em diversas cidades. É um risco para a indústria ficar dependente dessas empresas”, acentua o empresário.

Já Dulcema Tavares, da Repal, observa outros problemas. “Há um número considerável de representantes que não estão aptos a executar essa tarefa. Observa-se também que muitas vezes a fábrica deixa o representante sem posicionamento do produto, seja em relação à garantia ou na questão de valores, condições e fidelizações”, critica.

Pablo Lima, da Friopeças, também aponta aspectos a serem melhorados nessa relação. “Temos uma dificuldade histórica por parte de nossos fornecedores quanto à falta de confiabilidade nas programações de demanda. Os pedidos firmados ao longo do ano não têm seus prazos e quantidades respeitados, o que nos causa impactos diretos na previsibilidade e atendimento de demanda”, critica.

Por outro lado, o diretor comercial da Bandeirantes, Sergio de Oliveira, tem visto avanços nessa convivência. “Vemos aspectos positivos que têm nos permitido estreitar o relacionamento com as indústrias que, em alguns casos, nos permitiram ser seus distribuidores”, afirma.

PRINCIPAIS TENDÊNCIAS

Muitas das tendências seguidas pela indústria do setor nascem nos balcões dos comércios, onde os clientes costumam apresentar suas exigências, elogios e queixas sobre determinadas características dos produtos.

É nas revendas também que se pode notar com mais clareza o comportamento do mercado em relação ao consumo de itens tradicionais, como fluidos, compressores e unidades evaporadoras/condensadoras.

“Temos percebido uma procura cada vez maior por preços mais baixos e muitas vezes sendo descartado o conserto dos produtos, inviabilizando assim a venda de peças”, opina a sócia gerente da revenda curitibana Super Útil.

Para o gerente comercial da STR, Eulógio Ramaciotti, “a tendência é que os consumidores passem a se preocupar um pouco mais com a qualidade do que utilizam e não apenas com o preço. Hoje, principalmente nos segmentos comercial e residencial, o produto tem mais apelos ecológicos”, avalia.

Essa mudança de hábito dos clientes também vem sendo percebida pelo diretor comercial da Bandeirantes Refrigeração, Sergio Dias, principalmente em relação aos equipamentos que zelam pela qualidade dos alimentos congelados, prontos ou semiprontos.

“Temos nos adaptado às novas exigências de um mercado de entrada (pequeno porte) desenvolvendo e aperfeiçoando equipamentos para congelamento ultra-rápido de alimentos, proporcionando a nossos clientes produtos de alta eficiência e baixos custos operacional e aquisitivo”, explica.

Uma das novidades da empresa, segundo ele, são os sistemas paralelos para congelados e resfriados que atendem a vários pontos de refrigeração com apenas uma unidade central, “proporcionando baixo consumo de energia e facilidade de manutenção, além de poderem ser montados com compressores herméticos, semi-herméticos e scroll”, acrescenta.

Com clientes cada vez mais exigentes quanto a equipamentos capazes de preservar o meio ambiente e economizar energia elétrica, a A. Dias tem apostado na comercialização de condicionadores de ar com o gás R410A e em aparelhos com compressores inverter.

“Ainda aproveitando esta tendência, estamos oferecendo produtos com compressores rotativos que proporcionam economia de energia acima de 30%. Apesar da diferença de preços de até 40% em relação aos convencionais, estamos notando uma aceitação excelente e vamos focar mais nestes produtos durante o verão”, revela Bruno Dias.

Além desses aspectos, os clientes têm privilegiado soluções que proporcionem conforto, comodidade, confiabilidade e facilidade na instalação. “Por isso, introduzimos na linha de produtos acabados os quadros elétricos de comando padronizados, cujo principal diferencial é a comodidade oferecida ao instalador, que não precisa mais realizar a montagem do quadro de comando, bastando somente a realização de sua ligação elétrica”, exemplifica Vinicius Morais, da Capital Refrigeração.