Os invisíveis amigos do peito e da produtividade
As alterações trazidas pela NBR 16401 — que substituiu, desde agosto último, a NBR 6401 — têm interferido diretamente no trabalho dos fabricantes e instaladores de filtros para ar-condicionado, na medida em que reviram de forma decisiva uma série de práticas na área da IAQ (Indoor Air Quality).
A norma estabelece os parâmetros e requisitos mínimos exigidos para sistemas de ar condicionado, como vazões e níveis de filtragem de ar, além de aspectos técnicos e ligados a outros componentes.
“Com a revisão da NBR 6401, trabalho desenvolvido pelo Comitê Brasileiro de Refrigeração, Ar condicionado, Ventilação e Aquecimento, tendo à frente o dr. Simon
Jacques Levy, houve uma importante alteração no que se refere à qualidade do ar interior das instalações de HVAC e, por consequência, dos filtros necessários para que sejam cumpridas as exigências da norma”, comenta o engenheiro
Duílio Terzi, sócio-gerente da Fundament-AR, empresa paulistana especializada em projetos, assessoria e consultoria em ar-condicionado, ventilação e acústica nas áreas comercial e industrial.
Para atender os ambientes abrangidos pela norma, a Traydus está lançando uma nova geração de fancoils da linha Flexair com filtragem G3 + F5. “Os condicionadores dessa linha têm de vir com filtragem F5 e ventiladores limit load de maior pressão para vencer a perda de carga dos filtros finos”, explica o diretor executivo dessa fabricante de equipamentos e componentes para climatização, Ricardo Facuri, acrescentando que as evaporadoras destinadas às aplicações de conforto também estão sofrendo um processo de padronização visando se adequar ao novo texto.
Já o coordenador de projetos da BTU, Ednaldo Vicente Gonzaga, relata que a revisão da norma provocou para essa empresa sediada na cidade de Paulínia (SP) mais alterações do ponto de vista comercial do que técnico. “A NBR 16401 tem um conteúdo muito parecido com a Ashrae Fundamentals 2005, que já aplicávamos em nossos projetos. Mas como alguns concorrentes utilizavam a norma antiga, que não focava tão detalhadamente a questão dos filtros, às vezes isso dava margem a discussões”, conta o especialista.
MERCADO ATENTO
Tão exigente quanto a nova norma, o cliente final tem obrigado as empresas do setor a cada vez mais aumentar a qualidade de seus produtos e serviços. “Eles estão mais conscientizados da importância da utilização de um sistema de filtragem adequado, de qualidade e de acordo com as normas vigentes em suas instalações de ar condicionado, exaustão e ventilação mecânica”, afirma o gerente de projeto da Ambient Air, Sergio Martins.
Essa tendência, na avaliação de Ednaldo Gonzaga, da BTU, deve-se também ao crescimento da automação nas instalações, especialmente em salas limpas. “Hoje o cliente consegue enxergar a obra dele e monitorar o fluxo, a temperatura de saída e a qualidade do ar, aspectos totalmente amarrados à aplicação dos filtros”, observa o especialista dessa empresa cujo foco principal de atuação na área são as instalações farmacêutica e veterinária.
O diretor da CACR, Samoel Vieira de Souza, acredita que isso só tende a beneficiar o setor. “Temos muito a crescer, pois a cada dia as exigências relacionadas à saúde e qualidade do ar interior e do produto final são maiores, o que faz aumentar também a necessidade de uma filtragem eficiente nos sistemas de climatização e ventilação, dentre outros”, ressalta ele, lembrando que sua empresa fabrica filtros rotativos com dispositivo de limpeza automática para ar e água, aplicados em centrais de alta vazão destinadas à climatização, sobretudo, dos ambientes ligados aos setores têxtil e de papel e celulose. “Estes filtros foram desenvolvidos para aplicação exclusiva em sistemas CACR e não são comercializados como produtos em separado”, ressalva.
Diz ainda que a sua empresa aplica filtros dos tipos plano, bolsa, mangas e cartuchos, adquiridos de fornecedores especializados e utilizados em obras de salas limpas, sistemas HVAC-R, linha farma, coleta de pós e recuperação de resíduos, dentre outros.
OBSTÁCULOS A SUPERAR
Se sobram motivos para se acreditar no crescimento do setor pelos próximos anos, alguns aspectos ainda precisam ser melhorados para que essa tendência realmente se concretize.
Com a experiência de quem atua há 30 anos neste mercado, o engenheiro de manutenção da Riberar, Sérgio Sakamoto, afirma que nem sempre os estabelecimentos dão o devido valor à manutenção do ar condicionado. “Como o aparelho trabalha com gás sobre pressão, se não tiver manutenção frequente ele começa a desarmar a segurança”, enfatiza, ao recomendar que esses procedimentos preventivos sejam realizados mensalmente. “O reaperto dos quadros, por exemplo, é importante neste processo, para que não sejam danificados os componentes eletrônicos”.
A causa desses problemas relativos à manutenção, segundo Ednaldo Gonzaga, da BTU, está estritamente relacionada à má qualificação de alguns profissionais, que “não sabem verificar, por exemplo, se o filtro está saturado ou limpo, sendo que às vezes o material é trocado sem necessidade, enquanto em outras ocasiões o cliente passa a vida toda com ele saturado”, constata.
Ricardo Facuri, da Traydus, também vê na falta de qualificação um grande empecilho para um crescimento mais acelerado do setor. “A determinação de que os ambientes de conforto térmico utilizem filtragem fina F5 está exigindo uma adequação dos projetos e equipamentos de ar condicionado. Sabemos que essa mudança será traumática, pois temos visto uma grande parte de projetistas e instaladores lançando mão de soluções no mínimo inusitadas para adequar a aplicação de equipamentos de pequeno porte a ambientes claramente determinados em norma como pertencentes ao grupo que deve ter essa classe como filtragem mínima”, observa o profissional.
OTIMISMO PREVALECE
Embora ressintam os efeitos da crise financeira internacional, as empresas do setor vislumbram um cenário favorável para o crescimento de seus negócios.
“Obviamente, não podemos negar que a crise tenha afetado todo o mercado, porém, para o próprio País como um todo, os sinais foram pequenos. Os investimentos estão caminhando, sendo que aos poucos os recursos vão aparecendo”, avalia Ricardo Facuri. “Este ano comemoramos 20 anos de vida e, dentro de nossas previsões, dobraremos a nossa planta, tanto o espaço de escritório quanto fabril. Estamos nos preparando para que em 2010 possamos dar um grande salto quantitativo em nosso faturamento”, reforça.
Igualmente entusiasmado, Duilio Terzi, da Fundament-AR, comemora os resultados alcançados em 2008 e prevê a repetição desse quadro. “O ano passado foi excepcional, pois crescemos quase 70% em relação a 2007. Vínhamos crescendo anualmente, desde a fundação da empresa, a uma média de 10%, e 2009 está se apresentando muito melhor, o que nos deixa tranquilos em relação ao futuro do mercado em que atuamos”, ressalta.
Por atuar principalmente com sistemas para aplicação industrial, a CACR sentiu o impacto do cenário econômico desfavorável. Mas seguirá investindo normalmente. “Vários projetos foram divididos em etapas, reduzidos ou simplesmente postergados. Entretanto, outros surgiram em função da concentração ou transferência de produção entre plantas”, comenta Samoel de Souza. “A administração dos custos e a redução das despesas têm sido feitas de forma muito mais rigorosa do que se fazia anteriormente, mas não alteramos a programação dos investimentos”, conclui.