O que esperar de 2015?
Os desafios a enfrentar não são poucos, em meio à crise institucional que envolve a maior companhia estatal brasileira e as muitas dúvidas remanescentes sobre os destinos políticos e econômicos do País neste novo ano.
Defende-se muito entre os analistas, por exemplo, a necessidade de o crescimento do PIB deixar a tímida média anual de 1,6%, acumulada no primeiro mandato do governo recém-reeleito, e voltar ao desejável patamar de no mínimo 3,5%.
Uma vez superada a questão do “pibinho”, espera-se que o montante a ser dedicado a investimentos de infraestrutura finalmente suba dos atuais 17% para pelo menos 22% do Produto Interno Bruto, como forma de começarmos a ter portos, rodovias, aeroportos, armazéns e outras instalações dignas de uma retomada realmente consistente do crescimento.
Paralelamente, anseia-se pelo retorno da inflação ao centro da meta (em torno de 4,5% ao ano), assim como um ajuste fiscal suficientemente expressivo para gerar o superávit primário de pelo menos 1,2% do PIB.
Este último quesito, aliás, é o conhecido ‘nunca gaste além do que arrecada’, um paradigma de adoção aparentemente óbvia, mas que precisa ser assumido de forma tão decisiva no Planalto Central quanto o choque de transparência e governança reclamado por Mensalão, “Petrolão” e tantos outros episódios recentes.
Ano de ajustes
Embora as grandes pendências nacionais tenham nítido caráter de urgência, a crença predominante entre as lideranças empresariais do HVAC-R é que teremos um 2015 marcado pelo início de uma mudança gradativa de rota, com o anúncio de medidas duras, porém com resultados efetivos apenas no ano seguinte.
Igualmente generalizada é a dúvida existente sobre a real autonomia da nova equipe econômica, composta por nomes respeitados aqui e lá fora, mas cujo bom desempenho certamente vai depender em muito da disposição da presidente em afrouxar seu notório estilo centralizador.
O certo, porém, é que pelo menos algumas tendências básicas precisam mudar o quanto antes, conforme defende Rogélio Medela, presidente do Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (SINDRATAR-SP).
“O governo Dilma, em seu primeiro mandato, deixou de apoiar a indústria nacional, que atualmente não tem como competir”, reclama o empresário, referindo-se a políticas como a abertura crescente ao comércio internacional.
No seu entender, isto explica em grande parte a queda acentuada da participação da indústria no PIB, que já chegou perto dos 30% e hoje mal passa da metade desse índice, até mesmo porque as empresas locais enfrentam realidades tributária e trabalhista bem diferentes das vividas por concorrentes agora diretos que operam em outros países.
A preocupação já demonstrada pelo novo comando da economia com o déficit da balança comercial igualmente inquieta Medela. “As matérias-primas que nós exportamos caíram no mercado externo e vamos ter de ser extremamente criativos também para competir neste campo”, prevê ele.
São tantas as mudanças necessárias, que o presidente da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) acredita que, apesar da reeleição de outubro último, o País praticamente terá um novo governo, pelo menos em tese.
“Dentro da nossa Associação e no HVAC-R como um todo, não se vê aquele pessimismo irresponsável, que estanca todos os negócios; muito menos otimismo delirante”, reconhece Wadi Tadeu Neaime, ressalvando o fato de o setor já ter superado momentos piores.
Cautela também é o estado de ânimo demonstrado pelo presidente da SMACNA Brasil, Áureo Salles de Barros, pois embora ele se anime com as possibilidades trazidas para o segmento de serviços, notadamente em função da procura crescente pelos retrofits, prevê que a área de concorrências públicas fatalmente irá se ressentir da onda de escândalos que acabou vindo à tona.
“Mesmo falando na imprensa que sabia do ocorrido na Petrobras, a presidente da estatal não foi imediatamente afastada, e esse tipo de coisa afeta muito o fator credibilidade de uma forma geral”, lamenta.
Sobre o mesmo tema, Medela observa o importante papel a ser esperado da oposição neste segundo governo Dilma, ao adotar uma conduta bem mais construtiva e vigilante. “Quem descobriu tudo neste caso da Petrobras foi a imprensa investigativa”, relembra o presidente do SINDRATAR-SP, ao justificar seu ponto de vista.
Bons Trunfos
Embora o atual mapa político e econômico brasileiro possa lembrar um canteiro de obras ainda caótico, face às muitas providências a serem tomadas antes que surjam melhorias realmente visíveis, o próprio HVAC-R comprova a existência de verdadeiros bolsões de boas possibilidades a explorar.
“Estamos trabalhando a quase quatro milhões de unidades por ano”, exemplifica Wadi Tadeu, ao falar da pujança do mercado de mini-splits, que ele afirma vir garantindo a manutenção de um faturamento médio razoável para o setor.
O segmento residencial, de forma genérica, também promete muito, diante de levantamento demonstrando a inexistência de ar-condicionado em 80% dos lares brasileiros. E isto num país onde esse hábito de consumo tem contado com o empurrão extra da grande exposição existente nos locais de lazer, trabalho e meios de transporte.
Wadi lembra ainda a tendência de aumento da temperatura média externa, o que amplia significativamente a necessidade, tanto de ar condicionado nas diversas modalidades, quanto de equipamentos para refrigeração alimentar e de outras naturezas.
No Rio de Janeiro, Áureo Salles aponta como alento a proximidade das Olimpíadas, havendo também o impacto positivo trazido para as instalações de HVAC pelas obras no Porto Maravilha, “onde estão sendo construídos vários complexos comerciais”, observa o presidente da SMACNA Brasil.
Diante de fatos assim, a recomendação de ambos ao mercado, neste ano repleto de interrogações, é não titubear em cuidados como a boa formação dos profissionais, dotando as equipes das melhores condições possíveis para progredir intelectualmente, o que deve fazer toda a diferença quando o ritmo dos negócios voltar a aumentar.
Dentro dessa mesma ótica, Medela invoca a necessidade de o empresariado brasileiro seguir o exemplo de países onde se pensa no mínimo em uma década adiante, e não apenas em curto prazo, como é muito frequente ocorrer por aqui.
“O Brasil tem uma população enorme e necessidades igualmente gigantescas. As empresas que enxergam isto e têm fôlego precisam investir mesmo em momentos como o atual e depois ir com tudo”, diz o presidente do SINDRATAR-SP, antevendo recompensas interessantes já em 2016 para quem agir dessa forma.