O ar que incomoda
A reclamação sobre o ruído constante na cela de Jair Bolsonaro traz à tona os efeitos do barulho produzido por sistemas de ar-condicionado e ventilação, assunto analisado em estudo científico publicado em 2025.
A queixa do deputado Flávio Bolsonaro sobre as condições de encarceramento do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre elas a convivência com barulho constante de geradores e equipamentos de ventilação, coloca em evidência um tema técnico que raramente chega ao debate público: o impacto do ruído produzido por sistemas de HVAC (Heating, Ventilation and Air Conditioning) em ambientes fechados.
O estudo Noise from heating, ventilation, and air conditioning (HVAC) systems: A review ofits characteristics, effects and control, cujo título em tradução literal, seria “Ruído de sistemas de aquecimento, ventilação e ar-condicionado: uma revisão de suas características, efeitos e controle”, publicado em 2025 na ScienceDirect, aponta que os ruídos de sistemas de climatização se concentram principalmente em baixas frequências, gerados por ventiladores, compressores e pelo fluxo de ar que circula nos dutos. O trabalho mostra que a exposição prolongada ao chamado low-frequency noise (ruídos graves de baixa frequência, abaixo de 300 Hz) pode gerar distúrbios do sono, irritação, fadiga e perda de desempenho cognitivo, mesmo quando os níveis medidos em decibéis não são considerados elevados.
Para referência, equipamentos de ar-condicionado comuns operam entre 50 e 60 dB, intervalo comparável a uma conversa moderada. Embora esse limite seja aceito em áreas comerciais, pesquisadores apontam que ambientes destinados ao repouso, como dormitórios e hospitais, exigem níveis bem menores, teoricamente abaixo de 45 dB, para garantir conforto acústico e evitar consequências fisiológicas associadas à exposição contínua.
No caso relatado por Flávio Bolsonaro, o funcionamento simultâneo de geradores, ventilação e possíveis compressores cria um cenário de ruído perene, que pode ultrapassar os padrões considerados adequados para permanência prolongada. A reclamação, ainda que apresentada no campo político, ecoa problemas conhecidos por profissionais do setor HVAC-R: falta de isolamento acústico, ausência de manutenção e operação de equipamentos em condições que elevam vibração e turbulência.
Para técnicos e empresas da área, o episódio reforça a necessidade de práticas como seleção de máquinas com menor emissão sonora, instalação de barreiras acústicas, uso de materiais de absorção e monitoramento contínuo de vibração e fluxo de ar. O estudo de 2025 sugere ainda soluções de active noise control (controle ativo de ruído), capazes de atenuar frequências críticas em ambientes sensíveis.
A discussão sobre o barulho na cela de Bolsonaro, portanto, aponta para uma questão mais ampla: evidencia a importância de normas acústicas e de boas práticas de climatização em espaços confinados, onde a saúde e o bem-estar dependem também da forma como o ar se move e do som que ele produz.





