Momento especial no mundo dos dutos

Metálicos ou flexíveis, industrializados ou artesanais. Seja qual for a modalidade de duto, o setor se encontra hoje entre os que melhor demonstram o quanto o aquecimento da construção civil brasileira tem se refletido de forma positiva no HVAC.

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Tão frequente quanto esta constatação entre as empresas da área é a crença reinante no meio de que um dos seus maiores desafios continua sendo preparar mão de obra realmente apta a fazer desse componente um fator de eficiência energética, baixo nível de ruído, boa distribuição do ar e, mediante práticas corretas de manutenção, a própria preservação da saúde dos ocupantes dos edifícios climatizados.

“É imensurável o número de obras que estão em andamento com forte demanda de ar condicionado em todo o país, tais como estádios, shopping centers, hotéis e aeroportos”, exemplifica o coordenador de Mercado da Divisão Isover da Saint-Gobain do Brasil, Leandro Marques Feitosa.

“Para obras de grande porte, os sistemas de ar condicionado que dependem dos dutos para distribuição e ventilação são necessários, e talvez a única opção em muitos casos”, acrescenta o engenheiro civil, cuja empresa oferece soluções do gênero produzidas em lã de vidro, agregando isolamentos térmico e acústico.

Visão semelhante tem Cleide Mercia dos Santos, da Kao Dutos, indústria que reúne em seu portfólio dutos helicoidais, circulares e ovais, bem como os calandrados, soldados e do tipo TDC.

“Aumentamos e melhoramos o nosso departamento comercial visando atender outras regiões do País”, informa a diretora da empresa localizada em Cajamar (SP), ao comentar os efeitos sobre o seu negócio trazido pelo cenário que tem feito várias cidades brasileiras se assemelharem a um canteiro de obras gigante, tal o número de empreendimentos imobiliários em curso.

Boa parte desses lançamentos tem contratado a instalação de dutos no último momento, com prazos de entrega cada vez mais apertados. Mas nem isso chega a causar preocupação em players da área como a Dutover, que chega a enxergar nisto mais um ponto a favor. “Sempre foi nossa meta entrar na obra o quanto antes e entregá-la o mais rápido possível”, afirma o diretor executivo da empresa paulistana, Newton Ota.

Ele próprio, no entanto, toca numa das feridas da área que parecem longe da sicatrização: “a mão de obra está ficando cada vez mais cara e difícil de encontrar”, constata o administrador de empresas. “Estamos sempre investindo em treinamento e qualificação, nossos profissionais são formados internamente”, acrescenta.

GARGALOS

Praticamente todas as empresas ouvidas nesta reportagem disseram estar fazendo o mesmo, algumas delas recorrendo também a cursos externos, diante da exigência crescente do mercado por instalações sem vazamentos danosos à eficiência energética dos prédios, algo vinculado não apenas à utilização de bons sistemas, mas também à existência de profissionais capacitados a instalá-los.

Quanto à qualidade de materiais e métodos, há também quem se ressinta na área da ausência de normatização, o que ainda abre um verdadeiro abismo entre os produtos realmente de ponta e os de procedência duvidosa, inclusive vindos de fora.

“Quem tem garantias e certificados sofre muito com isso, pois muitas vezes o mercado dos instaladores visa apenas o custo total da obra, sacrificando a qualidade em função do orçamento”, lamenta o gerente geral da Masterduct Brasil, Edson José Cardoso de Souza.

Com sede brasileira na cidade de Santana de Parnaíba, em São Paulo, sua empresa fornece dutos flexíveis, colarinhos, portas de inspeção, braçadeiras e outros acessórios para o HVAC.

De acordo com o engenheiro, apenas o incremento da normatização, abrangendo uma gama de aplicações e produtos, poderia reverter esse quadro, juntamente com uma nova visão do cliente final sobre o real custo-benefício de uma instalação do gênero.

“No Brasil ainda são utilizados produtos sem certificação nacional ou com laudos e testes de confiabilidade questionável. Este é certamente um ponto de atenção que o mercado de HVAC deve ter ao longo dos próximos anos, uma vez que a demanda crescente deste mercado tem incentivado a chegada de novos competidores com produtos e soluções que não estão em conformidade com a legislação vigente no segmento”, concorda Leandro Feitosa, da Isover.

Existe também, segundo o engenheiro civil, um aspecto natural no mercado que, especificamente para o setor, não é muito favorável: o desenvolvimento de sistemas autônomos de ar condicionado que não utilizam dutos para distribuição e ventilação.

“Eles estão ganhando cada vez mais espaço no mercado, mas acredito que não se trate propriamente de uma ameaça, visto que se destinam a construções específicas de pequeno e médio porte. Porém, é uma realidade que temos que reconhecer e respeitar”, pondera o profissional.

PROCESSOS APRIMORADOS

Aos fabricantes desejosos em permanecer naquilo que se poderia chamar de a banda boa do segmento, resta continuar investindo na capacitação de suas equipes e também no aperfeiçoamento dos procedimentos de produção e montagem empregados no dia a dia.

“Nosso processo de fabricação recebeu, no final do ano passado, uma inovação no sistema de corte, com a importação de uma cortadora longitudinal de tecido a quente (hot knife) – primeira do gênero utilizada em nosso país – e que garante um corte sem desfiamento, melhorando com isso a qualidade do produto final e reduzindo a necessidade de acabamento”, exemplifica o sócio-gerente da paulistana Montef, Einar Ingo Mühle.

Ao longo dos últimos dois anos, sua empresa também já havia inovado com um sistema de corte conhecido como GGtech e a perfuração de tecidos a laser.

Mais recentemente, a Montef inovou ao colocar em prática um sistema de sustentação por trilho, fabricado totalmente em alumínio com pintura anodizada, com tecnologia e matriz 100% nacionais.

“Também inovamos ao introduzir o conceito de ‘ilhas de conforto’ em dutos têxteis, propiciando a ventilação em estações de trabalho com excelente resultado”, acrescenta Mühle.

Na nordestina Jaboatão dos Guararapes, a Arcoduto é outra empresa da área que revela ter mudado a forma de fazer as coisas, em busca sempre das melhores soluções.

“Foram feitas melhorias em todos os processos, com o objetivo de fornecer aos clientes melhor qualidade e menor custo de fabricação, treinando nossa equipe e adquirindo novos equipamentos”, declara o diretor de produção da indústria pernambucana, Adriano Paulo de Mattos Brito.

Também alavancou bastante a evolução da empresa, segundo ele, a certificação ISO 9001/2008, colocada em prática aos longo dos últimos quatro anos. “As auditorias internas e externas nos ajudam a estar sempre atentos a não conformidades que possam haver dentro dos produtos e dos processos, proporcionado um rastreamento permanente que muito nos têm ajudado”, assegura Brito.

Dentre os resultados obtidos desde então ele frisa a redução do índice de desperdício, de algo em torno de 15 % para uma faixa entre 8,5 % e 10%, que a empresa pretende reduzir mais ainda, graças a recursos que incluem uma máquina inteligente de corte à plasma e uma linha de corte contínua, que otimiza ao máximo cada bobina de matéria-prima utilizada.

TENDÊNCIAS

Leveza e estanqueidade combinadas a boa resistência mecânica tem sido, sem dúvida, exigências cada vez mais frequentes do mercado consumidor de dutos.

Todas essas características, no entanto, conduzem à satisfação de um pré-requisito igualmente recorrente: a busca por eficiência energética e, consequentemente, instalações de ar condicionado que possam realmente ser consideradas ambientalmente sustentáveis.

“Dutos bem construídos evitam o desperdício de energia por serem mais estanques, e o de material, por serem mais leves”, resume o diretor da Powermatic, Dílson Carlos Carreira.

Localizada em Brotas (SP), sua empresa produz esse item em vários formatos e modalidades, assim como acessórios e máquinas para a própria fabricação dos dutos.

A Refrin também aposta na sustentabilidade como bola da vez atual e futura. “Por isso estamos trazendo ao Brasil um sistema inovador para a vedação de dutos redondos, revela o diretor comercial da empresa paulistana, Marcelo do Vale.

Trata-se do Giroguard , desenvolvido para atender à demanda crescente dos usuários pela certificação Leed para prédios verdes, condição obtida após rigorosas inspeções do Green Building Council (GBC).

Segundo o engenheiro mecânico, o sistema possibilita o encaixe dos Girotubos por pressão, com a utilização de um anel/junta de borracha nas extremidades das uniões, o que possibilita fácil desmontagem em caso de manutenção.

“Complementam o sistema um padrão construtivo das conexões, cujo corte é executado por equipamentos a plasma de grande precisão, com emendas cravadas (sem soldas) e orifícios tratados contra vazamentos”, acrescenta Marcelo.

Pioneira na introdução dos dutos super flexíveis no País, a Multivac igualmente considera fundamental uma obra ser sustentável hoje em dia, razão de ser do seu MPU, painel de alumínio pré-isolado com espuma rígida de poliuretano para a fabricação de redes de dutos.

“As principais vantagens desse sistema são rapidez na fabricação, baixo peso (aproximadamente 20% em relação a um duto metálico tradicional), baixa perda, excelente isolamento térmico e grande estanqueidade, resultando num duto altamente competitivo e vantajoso para o instalador e o usuário final”, define o diretor da empresa, Robert van Hoorn.

A também paulistana Rocktec é outra empresa da área que considera o pré-isolamento imprescindível para um duto ser realmente sustentável.

O material que utiliza para tal é o poli-isocianurato (ALU-PIR) que, segundo o representante da empresa, Dalton Luiz de Luca Rothen, apresenta como vantagens estanqueidade, menor perda de carga, bom acabamento, facilidade de montagem, leveza e operação silenciosa.

Diante de tantos testemunhos demonstrando a preocupação com a qualidade, parece óbvio: no que depender dos dutos, as instalações brasileiras de ar condicionado têm tudo para colocar o setor entre os que ajudam o País a ter obras comprometidas não apenas com resultados imediatos, mas principalmente o futuro do planeta.