Indústria prevê forte crescimento em 2014, mas continua pedindo reformas

Recente pesquisa realizada pela Ashrae (American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers) constatou que o HVAC-R mundial está otimista em relação a 2014.

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Segundo a consulta respondida por mais de mil corporações, 79% dos fabricantes projetam um ano “excelente” (19%) ou “bom” (60%) para seus negócios, enquanto o restante das indústrias (21%) espera um ano “razoável”.

Esses números revelam uma melhoria significativa sobre a pesquisa anterior, já que nenhuma empresa respondeu desta vez que este será um ano “pior” que o anterior.

Em consonância com esse panorama positivo, 90% das organizações acreditam que suas vendas aumentarão – 32% esperam aumento superior a 10%; 31% preveem crescimento entre 5% e 10%; e 27% projetam incremento menor de 5%. O resto das companhias (10%) respondeu que suas vendas continuarão no mesmo patamar de 2013.

De acordo com a pesquisa, 72% das indústrias creem que o segmento de mercado mais promissor este ano será o de hospitais, que deverá ser seguido pelo de aplicações comerciais leves (63%), data centers e telecomunicações (59%), aplicações comerciais pesadas (58%), edifícios corporativos (53%), manufaturas (53%), restaurantes e hospitalidade (52%), setor residencial (51%), entre outros.

Cenário interno

No contexto nacional, o setor produtivo também está otimista. “Apesar de 2014 ser um ano de Copa do Mundo e eleições no País, fatores que o tornam difícil de ser analisado previamente, estamos trabalhando com projeção de crescimento”, revela o empresário Cláudio Palma, diretor da Mipal.

Muitas indústrias do HVAC-R, inclusive, têm metas elevadas para este ano. “Vamos trabalhar duramente para aumentar nossos negócios em pelo menos 15%, de modo a manter o mesmo patamar de crescimento dos últimos anos”, garante o gerente comercial da Apema, Hugo Matos.

Outra empresa com objetivos acima de dois dígitos é a Arkema. A gerente de vendas da unidade de fluorquímicos no País, Patrícia Dominguez Gómez, lembra que a multinacional francesa está implementando estratégias para se tornar mais competitiva no mercado brasileiro. “Nossas metas são agressivas e estão em ritmo crescente”, afirma.

Mas a professora de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Virene Matesco, considera que a alta dos preços ainda é motivo de preocupação para todos os setores econômicos. Por isso, ela prevê que o Banco Central eleve a taxa básica de juros da economia (Selic) em pelo menos mais 0,5 ponto percentual, podendo chegar a 11% ao ano.

“Não adianta colocar os juros em dois dígitos se o governo não controla gastos e se o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) continuarem soltando crédito” [o que estimula o consumo, e por consequência, a inflação], alerta.

Segundo a especialista, o governo “fez uma aposta ao reduzir as taxas de juros do crédito ao mesmo tempo em que a inflação estava em ascensão”. “Há uma intromissão política na política monetária. Precisamos de um Banco Central com autonomia”, defende.

Outros entraves também afetam diretamente o setor produtivo, lembra o empresário Wilson Cará, diretor comercial da Forming Tubing. “Infelizmente, as empresas são reféns de um sistema fiscal e tributário altamente burocrático e engessado”, critica.

Apesar dos entraves, a indústria paulista planeja crescer 30%. “Para atingirmos essa meta, contamos com o início do fornecimento de capilares para linhas de sucção para o principal fabricante de evaporadores do Brasil, assim como uma participação mais efetiva no Polo Industrial de Manaus”, explica.

Expectativas

Para acalmar o mercado financeiro e reduzir as especulações quanto ao cenário econômico de 2014, o Ministério da Fazenda antecipou para o terceiro dia do ano a divulgação do superávit primário do governo central (Banco Central, Tesouro Nacional e Previdência Social) em 2013. A economia ficou em R$ 75 bilhões, valor acima da meta ajustada (R$ 73 bilhões).

Na avaliação do ministro Guido Mantega, o Brasil continuará a crescer este ano, sobretudo devido ao melhor desempenho da economia internacional. Isso vai garantir, segundo ele, aumento das exportações.

“Estamos em trajetória positiva da economia brasileira, melhoria do investimento, do emprego, do consumo e das concessões. Tudo isso vai convergir para que tenhamos um 2014 melhor que 2013. As condições estão dadas para que isso aconteça”, diz.

Um dos segmentos que devem contribuir para o crescimento de diversos setores em 2014 é o turismo. Segundo estimativa do Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), os turistas estrangeiros devem injetar US$ 9,2 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) na economia brasileira.

Caso a previsão se confirme, isso representará um crescimento de 38,5% em relação a 2012, quando foram gerados US$ 6,64 bilhões (R$ 15,6 bilhões) em divisas internacionais.

Parte dos recursos previstos para 2014 será decorrente da Copa do Mundo da Fifa (Federação Internacional de Futebol), que ocorrerá de 12 de junho a 13 de julho em 12 cidades brasileiras.

Em todo o ano de 2014, são esperados sete milhões de turistas estrangeiros no País, um recorde.

“A presença deles significa, provavelmente, a geração de recursos superiores ao da indústria automobilística e da indústria de papel e celulose no Brasil, mostrando a importância econômica do turismo e, portanto, a necessidade de haver investimentos públicos e privados, como vem ocorrendo na expansão da rede hoteleira”, diz o presidente do Embratur, Flavio Dino.

Embora o pico das encomendas por conta da Copa do Mundo da Fifa já tenha resultado em negócios para muitas empresas do HVAC-R, o Brasil tem ainda uma gama de obras a realizar, principalmente em se tratando de infraestrutura aeroportuária. Essa é a perspectiva, por exemplo, da catarinense Polipex, que projeta crescimento de 13% este ano.

“Por meio de nossa parceria com a italiana K-Flex, já emplacamos o fornecimento de isolantes térmicos para as obras do Centro de Transmissão Internacional do evento esportivo, além dos estádios do Maracanã (RJ), Corinthians (SP), Atlético Paranaense (PR), Arena Pantanal (MT), Beira Rio (RS) e aeroportos internacionais do Galeão (RJ) e Manaus (AM)”, ressalta o gerente geral da empresa, Lineu Holzmann.

Outro player confiante na expansão do segmento é a Armacell. “Existe um amplo potencial para as vendas de isolamento térmico para os mais variados empreendimentos e instalações que serão reformados e construídos. É o caso de hotéis, aeroportos, centros esportivos, indústrias, edifícios de escritórios, shopping centers, hospitais e outras obras”, avalia o diretor de negócios da companhia alemã para a América do Sul, Márcio Nieble.

“Para atender a essa demanda maior, continuaremos a investir em nossa fábrica, nosso Centro de Distribuição na Região Nordeste, nossos distribuidores e nossa equipe”, acrescenta.

O diretor comercial e de marketing da Heatcraft do Brasil, Paulo Eduardo, espera que os grandes acontecimentos do ano – Copa do Mundo e eleições – não reduzam o ritmo dos negócios. “Para este primeiro semestre, esperamos que o torneio da Fifa impulsione investimentos nas obras de pequeno e médio porte”, informa o gestor da multinacional norte-americana.

“Estamos prevendo para este ano um cenário positivo de crescimento para o setor de refrigeração, tendo em vista a realização de um grande evento esportivo no País”, completa Maurício Pinheiro Xavier, diretor da DuPont Fluorquímicos para a América Latina.

Apesar da confiança no crescimento do HVAC-R em 2014, a Vulkan do Brasil faz projeções conservadoras para 2014. “Acreditamos que os meses da Copa do Mundo e das eleições não serão muito produtivos para os negócios”, pondera o diretor comercial empresa, André Eduardo Corrêa de Oliveira.

Para o empresário Robert van Hoorn, diretor da MultiVac, este será um ano cheio de desafios. “Entretanto, vamos ter crescimento pela frente, dado o caráter inovador e as vantagens de nossos produtos”, afirma.

A espanhola Soler e Palau, que chegou ao Brasil em 2011, também espera continuar crescendo no País. “O mercado está muito aquecido. Por isso, vamos implantar uma nova fábrica em São Paulo, para atender melhor o mercado brasileiro e suas demandas”, adianta a gerente de marketing da companhia, Denise Ferreira Ehlers.

De olho no crescimento do setor em 2014, outra indústria do HVAC-R brasileiro que vai investir na expansão de sua planta produtiva é a Full Gauge. “Vamos trabalhar forte na divulgação dos nossos últimos lançamentos e inaugurar um novo espaço em nosso complexo industrial”, diz o diretor da empresa, Antonio Gobbi.

Macroeconomia

No cenário macroeconômico, não há consenso entre os especialistas. Os otimistas preveem que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil deverá crescer 3% em 2014. Já os pessimistas acreditam em não mais que 1,5%.

De qualquer maneira, ambos os cenários preocupam. “O ano de 2014 promete ser complicado no campo econômico. Fechamos 2013 com uma perspectiva de crescimento muito baixa, quando comparada com os países do G20, mostrando que há algo errado com nossa estratégia de crescimento”, analisa o professor Marcio Salvato, coordenador do curso de economia do Ibmec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais) em Minas Gerais.

Já o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirma que as perspectivas da economia brasileira em 2014 são melhores do que em 2013. E que serão mantidas a política cambial e a meta de inflação de 4,5%.

Segundo ele, há perspectiva de aceleração moderada e gradual da economia nos próximos anos. Para Tombini, a recuperação dos Estados Unidos vem ganhando força e representará um crescimento do comércio mundial que vai beneficiar a todos, inclusive os países emergentes. O maior desafio, diz ele, é passar por esta fase de mudanças sem sobressaltos.

“O Brasil tem bons fundamentos macroeconômicos e se preparou para enfrentar essa transição. Somos atualmente credores internacionais líquidos e contamos com um nível confortável de reservas internacionais. Nosso passivo externo é menos vulnerável a choques do que no passado, porque agora contamos com uma parcela maior de investimentos estáveis e duradouros”, salienta.

De forma geral, o setor produtivo brasileiro espera que o baixo crescimento do PIB registrado em 2013 não se repita este ano.