FRANÇA – Parisienses repensam uso do ar-condicionado diante de ondas de calor

Temperaturas extremas, impacto ambiental e resistência cultural marcam debate sobre climatização residencial na capital francesa

FRANÇA – O aumento das temperaturas no verão está levando moradores de Paris a reconsiderar a instalação de ar-condicionado em apartamentos, rompendo com uma resistência histórica ao equipamento. A prática, comum em escritórios e grandes lojas, nunca foi norma nas residências da capital francesa, onde é vista como prejudicial ao clima e desnecessária.

Especialistas apontam que ondas de calor mais frequentes, agravadas pelo aquecimento global, têm impulsionado essa mudança. Segundo a Agência de Planejamento Urbano de Paris (APUR), o uso residencial de aparelhos está “em pleno desenvolvimento”, embora a aquisição de unidades portáteis dificulte a medição precisa do crescimento.

Ruben Arnold, 47, pai de crianças pequenas e chefe de uma startup de gestão energética, afirmou ter instalado ar-condicionado para suportar o calor, mesmo conhecendo seu custo climático. Marion Lafuste, moradora do nordeste de Paris, registrou 41 °C em casa durante a última onda de calor e cogitou adquirir o equipamento, apesar de objeções ideológicas.

Martine Bontemps, que vive no último andar, recorre apenas a ventilador de teto. Sophie Julini, 53, optou pelo ar-condicionado para oferecer conforto diário à mãe, de 86 anos, durante o verão.

A Meteo France prevê ondas de calor de até 50 °C em Paris até 2050, além de noites tropicais mais frequentes, que dificultam a recuperação térmica do corpo. Em 2003, um terço das mortes de idosos relacionadas ao calor ocorreu em domicílios.

Para Karine Bidart, diretora da Agência Climática de Paris (APC), e Dan Lert, responsável pelo plano climático da cidade, o crescimento do ar-condicionado residencial é “problemático”, pois pode elevar em até 2 °C a temperatura externa. A APC recomenda soluções como reformas estruturais e mudanças nos telhados de zinco, embora estas sejam muitas vezes barradas por órgãos de preservação do patrimônio.

Frederic Delhommeau, diretor de energia residencial da APC, defende que o ar-condicionado seja usado apenas em último caso para pessoas vulneráveis. A pesquisadora Anne Ruas considera inevitável sua expansão e propõe o desenvolvimento de sistemas menos prejudiciais.

Fonte: AFP