Falhas na refrigeração de embarcações ampliam perdas e emissões, aponta relatório

Estudo do PNUMA e do IIR detalha desafios técnicos e ambientais na cadeia do frio da pesca mundial

O Cold Chain Technology Brief – Fishing Vessel Applications, publicado em 2025 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pelo International Institute of Refrigeration (IIR), apresenta um panorama técnico sobre sistemas de refrigeração utilizados em frotas pesqueiras e seus impactos ambientais. O documento é assinado por Kristina N. Widell, Eirik S. Svendsen, Souhir Hammami, Monique Baha, com revisão de especialistas como M. S. Dasgupta, Cecilia Gabrielii, Armin Hafner, Bruce Nelson, entre outro.

O relatório indica que a falta de resfriamento imediato após a captura contribui para perdas estimadas entre 30% e 35% da produção mundial, chegando a 50% em pescarias artesanais. Em 2017, o IIR calculou que 19% do pescado destinado ao consumo humano foi perdido por insuficiência da cadeia do frio. A Organização Marítima Internacional (IMO) estima ainda que o setor pesqueiro libera, anualmente, 1.589 toneladas de R-22, o que representa cerca de 2,88 milhões de toneladas de CO₂e, resultado de vazamentos recorrentes nas embarcações.

As tecnologias avaliadas incluem sistemas de água do mar refrigerada (RSW), congeladores de placas, produção de gelo e slurry, além de unidades com CO₂ (R-744) e arranjos híbridos como R-717/R-744. Em frotas norueguesas, sistemas de RSW baseados em amônia alcançam capacidades próximas de 1 MW por unidade. Em regiões tropicais, a eficiência do processo diminui devido às altas temperaturas da água do mar, aumentando a demanda energética para atingir o mesmo nível de resfriamento.

O relatório também apresenta experiências de países como Índia, que desenvolve sistemas de gelo slurry com R-290, e Indonésia, onde uma Avaliação de Ciclo de Vida mostrou menor impacto ambiental no uso de gelo produzido em terra em comparação com máquinas de flocos embarcadas. Nas Maldivas, a eliminação total do R-22 ocorreu apenas em 2023, apoiada pelo Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal.

As análises incluem ainda os desafios associados às hidrofluoroolefinas (HFOs), que, apesar de baixo potencial de aquecimento global, originam ácido trifluoroacético (TFA) — uma substância persistente classificada como PFAS. Tendências observadas incluem digitalização de sistemas a bordo, integração energética entre propulsão e refrigeração, armazenamento térmico e uso de combustíveis alternativos.