Eficiência na ponta dos dedos revoluciona o setor

O mesmo impulso que popularizou entre os consumidores brasileiros os cartões de crédito com chip, as reservas de ingresso pela internet, torpedos por celular e muitas outras facilidades contemporâneas vem favorecendo a aceitação no HVAC-R pelos chamados equipamentos inteligentes.

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Embora também vise aumentar o conforto e a segurança dos usuários, o “intelecto” neste caso vai muito além da qualidade técnica que racks de refrigeração e instalações climatizadas possam apresentar.

Para explicar melhor essa história, o seleto time de players responsável pela autêntica revolução em curso na forma de se controlar eletronicamente temperatura, umidade e outras variáveis fundamentais no setor ocupa novamente as nossas páginas, falando de suas principais alegrias, inquietações e perspectivas alimentadas com relação ao futuro.

Aliás, motivos não faltam para que as previsões sejam as melhores possíveis, conforme demonstra mais esta incursão da Revista do Frio no maravilhoso mundo da automação.

Vantagens intrínsecas

“Controladores microprocessados têm maior precisão, possibilidade de monitoramento e confiabilidade superior para manter os produtos armazenados nas condições de temperatura, pressão, e tudo mais que eles necessitam”, define o gerente da Carel Sud América, Roberto Possebon Junior.

Aspectos assim tão favoráveis, gerados pelas propriedades intrínsecas aos controles eletrônicos, somam-se a outros de origem externa, porém não menos importantes.

“A conjuntura econômica atual se mostra favorável a investimentos e abre uma oportunidade bastante grande para que se ofereçam soluções destinadas ao conforto térmico”, pontua o gerente comercial da Globus, Luis Fernando Ruschel.

No seu entender, os sistemas do gênero exigem cada vez mais inovações eletrônicas devido aos anseios, igualmente em alta no mercado, pelo uso eficiente e racional da energia elétrica. “Isto obriga os projetistas e fabricantes de controles e equipamentos a desenvolver soluções que atendam estas necessidades”, acrescenta.

Em nichos específicos, há quem identifique um momento mais precioso ainda. “A competitividade das redes de supermercados é apertada e isto não é segredo. Uma alternativa para melhorar a lucratividade na área é a redução de custos operacionais, contexto onde a energia elétrica é a grande vilã”, observa Higor Almeida, gerente de negócios da Emerson Climate.

Com a experiência de quem acompanha a movimentação desse setor há mais de dez anos, ele identifica até nas pequenas e médias redes uma preocupação crescente com o melhor aproveitamento da energia elétrica, redução de despesas com manutenção e melhor qualidade de armazenamento dos produtos perecíveis. “Para que se atinjam estes objetivos, a automação é fundamental”, pondera o profissional, ao prever crescimento acelerado e vida longa para os bons negócios da área.

Somado a tudo isto, Almeida identifica uma mudança de postura igualmente expressiva por parte das empresas contratantes. “Nota-se que há uma forte tendência em investimentos na automação ou ‘tecnologização’ dos equipamentos e sistemas de HVAC-R”, analisa.

Em outras palavras, investimentos que antes eram projetados para novos tipos de compressores, aplicação de válvulas mecânicas e conceitos físicos de projetos, por exemplo, agora são voltados para concepções de controle mais tecnológicas e com muita eletrônica.

“É um mercado em franca expansão. Qualquer processo ou ambiente precisa ser controlado hoje em dia, concorda o gerente comercial da Novus, Valério Galeazzi, argumentando ainda que as novas tecnologias estão barateando custos e tornando viáveis novos investimentos.

O fato de o Brasil estar acompanhado a forte tendência internacional pela busca das certificações de eficiência energética em seus produtos e soluções também merece ser lembrado, quando se fala no bom momento vivido pelos controles.

“Essas certificações estão muito bem alinhadas com a atual tendência global de sistemas e produtos ecologicamente sustentáveis. Num empreendimento onde uma certificação de eficiência enérgica seja desejada, existem muitas oportunidades para os controles de HVAC, pois a climatização de um edifício comercial é responsável por grande parte do seu consumo energético”, avalia o gerente de contas da Honeywell Building Automation, João Paulo Gomes Botelho.

Por mais que toda essa conjunção de aspectos positivos seja promissora, fatores comportamentais também merecem consideração. “Somente através da troca de informações entre fabricantes, projetistas, consultores, instaladores, usuários e clientes haverá uma conscientização maior ainda sobre as vantagens da automação e a consequente valorização deste mercado”, raciocina o diretor da Full Gauge Controls, Antonio Gobbi.

Inquietações

Apesar de tanta coisa boa acontecendo no universo da automação, seria ingênuo imaginar que nada mais reste a ser conquistado na área.

Uma das preocupações recorrentes do setor tem sido a deficiência de mão de obra apta a manusear dispositivos realmente de ponta, e até mesmo por parte dos clientes, ao considerar nem sempre de maneira correta o retorno proporcionado pela automação ao longo do tempo, em detrimento do maior investimento inicial que instalações bem supridas neste particular costumam implicar.

A solução para contornar tais problemas passa, invariavelmente, pela maior oferta de programações educativas dos mais diversos matizes.

“Estamos investindo em desenvolvimento de pessoas internamente para promover treinamentos nesta área de automação para clientes do HVAC-R. Inclusive, estamos remodelando todo o nosso laboratório para suportar estes treinamentos em todos os níveis, desde a seleção, passando pela programação e até a instalação”, afirma Eduardo de Castro Drigo, coordenador de vendas da Danfoss do Brasil no Segmento de Eletrônicos.

Também de olho na decisão do cliente, a Every Control Solutions tem procurado reduzir o período de payback dos seus produtos. “Economia de energia elétrica e também na manutenção contribuem para o alcance desses objetivos”, afirma o diretor da empresa, Fabio Cardoso.

A Full Gauge Controls igualmente acredita na importância da conscientização por meio de ações diferenciadas como o “Direto ao Ponto”, um programa da indústria por meio do qual parte de sua equipe passa o dia em revendas tirando as dúvidas de técnicos e instaladores.

Soma-se a este trabalho o Master Full Gauge, treinamento prático gratuito sobre o uso de instrumentos digitais nas áreas de refrigeração e aquecimento, realizado em vários países. O mesmo se aplica ao apoio dado pela empresa a escolas de refrigeração e às palestras, treinamentos em feiras e outros eventos, vários deles também promovidos junto às revendas. “Enfim, não medimos esforços para disseminar o conhecimento”, resume o diretor Antonio Gobbi.

Pesquisa & Desenvolvimento é outra prioridade na área, conforme exemplifica Luis Fernando Ruschel, da Globus. “Nossa empresa sempre se caracterizou em ter uma estrutura de engenharia focada neste campo, tanto é que lançamos uma média de cinco novos produtos para HVAC-R por mês para atender às necessidades de nossos clientes, tanto no mercado nacional quanto no internacional”, assegura o engenheiro.

Com preocupação semelhante, a Emerson adquiriu meses atrás a italiana Dixell SPA, empresa líder em desenvolvimento e produção de controladores eletrônicos para o HVAC-R.

“Nosso principal objetivo é estar preparados para o crescimento da tecnologia embarcada nos equipamentos e sistemas hoje projetados”, justifica Higor Almeida, lembrando ainda a existência de um plano de treinamento técnico especializado para clientes, parceiros, funcionários e usuários finais.

A lista de inquietações do promissor segmento de automação no Brasil inclui ainda a competição predatória promovida pela “entrada indiscriminada de produtos de baixo custo e com qualidade duvidosa”, conforme reclama João Paulo Botelho, da Honeywell.

“Esses controladores algumas vezes são fisicamente semelhantes ou até mesmo iguais aos produtos já consagrados no mercado e, evidentemente, com preços abaixo da média”, prossegue.

O combate ao problema em sua empresa tem no segmento de P&D um dos pontos fortes, juntamente com o foco no atendimento ao cliente priorizando os aspectos prazo de entrega, suporte técnico e garantia.

Até mesmo respeitáveis nomes globais têm aportado por aqui, diante da queda econômica em outros continentes, lembra Almeida, da Emerson.

Galeazzi, da Novus, também enxerga ameaças consideráveis vindas de fora. “As principais preocupações vêm do mercado externo e as políticas fiscais adotadas pelo governo. Com o real valorizado e o Brasil sendo a bola da vez, é necessário que o governo desonere os setores produtivos para melhorar nossa competitividade aqui e no exterior”, defende.

Contudo, isto não significa que sua empresa esteja de braços cruzados esperando uma ajuda oficial. “Estamos investindo em máquinas e pessoal qualificado. No último ano, por exemplo, inauguramos uma segunda linha de montagem SMD (pick and place) completamente automatizada”, relata.

Novas fronteiras

Mas quem pensa que os controladores do HVAC-R já chegaram ao clímax certamente ainda terá muitas surpresas pela frente, diante das muitas tendências sinalizadas por este mercado.

Na Staefa Control System, por exemplo, a compatibili-dade entre os produtos de várias marcas tem tudo para continuar se expandindo

“Os clientes não desejam que suas instalações fiquem na dependência de um único fornecedor. Por isso temos investido na capacidade de integrar nossos produtos aos de outros fabricantes, com a adoção de protocolos de comunicação abertos e padronizados”, afirma o diretor técnico da empresa, Rogério Infante Zanotta.

A Weg Automação, por sua vez, considera um caminho sem volta a nova conotação assumida pelos motores de alto rendimento e inversores de frequência. “Se antes sua utilização se baseava na eficiência energética, hoje, além deste fundamental aspecto, temos visto nascer outra tendência, ou seja, esses componentes responderem pelo controle do processo do CLP, supervisionando e também protegendo os equipamentos acionados”, constata o diretor presidente da empresa, Umberto Gobbato.

Na Danfoss, o domínio da tecnologia para a utilização do CO2 como fluido refrigerante, em instalações destinadas a refrigeração industrial e comercial, também está nos planos de suas equipes de engenharia e desenvolvimento.

“Temos mais de 3 mil plantas do gênero, instaladas em países como Brasil, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Alemanha, Itália, França, Rússia, Croácia, Espanha e EUA, funcionando com a nossa linha voltada a este segmento”, garante Eduardo Drigo.

Já os sensores sem fio e os softwares de última geração constituem metas prioritárias na Novus, estratégia semelhante à da Full Gauge, empresa visivelmente entusiasmada com a força assumida pela automação nos nichos predial e comercial, assim como no crescimento expressivo registrado pelas aplicações residenciais.

“A utilização de softwares de gerenciamento remoto é a grande tendência que está se consolidando cada vez mais, pois além de serem uma tecnologia à disposição, eles constituem uma ferramenta facilitadora, um meio de expandir o controle a distância e desvinculá-lo da presença humana no local das instalações, sem substituir a atuação de um técnico, mas facilitando bastante o seu trabalho”, analisa Antonio Gobbi.

Numa realidade tão fortemente marcada pelas conexões remotas via internet, a diretora de marketing da Microblau, Luciana Kimi, não tem dúvida: celulares, notebooks e afins cada vez mais vão compor o cenário da automação no HVAC-R brasileiro, o que faz do gerenciamento wireless e das tecnologias GSM e GPRS pontos altos hoje em sua empresa.