Da calçada à Casa Cor
Natural de Duque de Caxias (RJ), o refrigerista Job Ney Palmeira se tornou, em poucos anos, um dos mais renomados profissionais brasileiros, reconhecido por continuamente contribuir para o desenvolvimento do setor.
Pouco mais de uma década e meia após se formar em refrigeração no Centro Educacional Integrado (CEI), em 2002, o refrigerista Job Ney Palmeira conseguiu construir uma carreira sólida, atingindo ao longo do tempo um patamar que poucos profissionais do mercado do frio conseguiram.
Nascido em 1985 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ele começou a trabalhar ainda durante o curso, aos 17 anos de idade, quando atendia clientes residenciais para a limpeza de aparelhos de ar-condicionado de janela, lavando e limpando esses equipamentos na calçada de casa.
Apaixonado pela profissão, Job Ney lembra que um incidente em seu primeiro dia de estágio quase o fez desistir de tudo. Com um colega, iniciou a manutenção de um aparelho peso-pesado – um Springer Admiral de 30 mil BTU/h.
“Quando estava descendo da escada, toda lama de sujeira veio em cima de mim. Disse que nunca mais voltaria a trabalhar com ar-condicionado. Mas quando chegamos à oficina, fizemos todos os procedimentos de limpeza. Quando vi o termostato, o compressor e a serpentina funcionando, refrigerando o ambiente, aquela frustração passou na hora”, recorda. “É por isso que sempre digo: foi a refrigeração que me escolheu, não o contrário”.
Após completar o estágio, o primeiro emprego de Job Ney foi em uma empresa que atendia a prefeitura de Duque de Caxias, onde ficou por seis anos, até 2008.
Naquele mesmo período, aproveitou para se capacitar ainda mais, fazendo o curso de self e comandos elétricos no Senai Euvaldo Lodi, em Benfica. E não parou por aí, sempre incentivado pelo professor Valdemir de Oliveira, a quem chama de mentor, pois lhe mostrou que a refrigeração é “muito mais que uma carga de fluido”.
Foi assim que Job Ney graduou-se técnico em mecânica, com direito ao Crea, no Cetepis no Rio. Já no Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento do Ar do Estado do Rio de Janeiro (Sindratar-RJ), em treinamento chancelado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), obteve o diploma de projetista de ar-condicionado. Além disso, também capacitou-se em VRF em curso promovido pela Hitachi.
Mais tarde, o profissional foi além das fronteiras brasileiras, levado pela multinacional LG (por meio do projeto Esquadrão do Clima) à Coreia do Sul (2018) e ao Panamá (2019). No país asiático, fez um curso geral sobre os equipamentos e a tecnologia inverter da LG. Na América Central, assistiu, segundo ele, à melhor aula sobre VRF de sua vida.
Também aterrissou em Dubai, Emirados Árabes Unidos, onde verificou como são feitas as aplicações de climatização naquela nação do Golfo Pérsico, cujas temperaturas facilmente atingem os 50 ºC.
“Lá, utilizam muito o sistema de água gelada, pois os canos ficam muito quentes. Em alguns locais, a água da torneira já vem resfriada por meio de um sistema de chiller”, lembra.
Tamanha dedicação levou Job Ney a lecionar no Serae Rio em 2017 e 2018 – prática que teve de abandonar por falta de tempo – e a criar a Hotmart, plataforma on-line voltada a profissionais de climatização que queiram aprender a resolver problemas em equipamentos inverter, tecnologia considerada o futuro do mercado.
A primeira turma, com 150 alunos, foi fechada em dezembro de 2019, e oito novos treinamentos já estão planejados para os próximos meses. A ideia, segundo o empresário, é realizar cursos com turmas semestrais.
Rumo ao topo
Especializada em manutenção preventiva e corretiva, a Job Refrigeração, em operação há alguns anos, começou a se destacar no mercado pela prestação de serviços a grandes clientes. Além de Job Ney e de um engenheiro responsável, a empresa é composta por mais dois sócios e quatro funcionários.
Em 2018, por exemplo, o garoto que lavava aparelhos na calçada de casa era responsável pela instalação de mais de 150 equipamentos nas unidades da Casa Cor de São Paulo, Porto Alegre, Recife e Brasília, trabalhos que consumiram quatro meses e renderam muitos elogios dos arquitetos, inclusive reportando essa satisfação à LG.
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No ano seguinte, começou a prestar serviços para a Petrobras, conhecida pela rigidez na seleção de seus fornecedores. A execução do trabalho levou nove dias, durante o carnaval, período em que a empresa instalou nove equipamentos de teto do tipo cassete, cada um com 48 mil BTUs.
A Job Refrigeração também tem entre seus maiores clientes um grupo de restaurantes do Rio e uma franquia de sapataria.
Internet
Sem a intenção de se tornar um influenciador digital ou de arregimentar uma legião de seguidores em seu canal no YouTube – Job Refrigeração (11 mil inscritos e em torno de 400 mil visualizações no começo de 2020) –, Job Ney costuma postar apenas um vídeo mensalmente, voltado exclusivamente para os profissionais do HVAC-R.
“Eu não tenho interesse que o meu canal tenha 500 mil inscritos. Ele é só uma maneira de ajudar os meus amigos refrigeristas. Afinal, não posso ligar para todo mundo e explicar como funciona cada coisa, então o canal me deu essa possibilidade de retribuir a ajuda que me foi dada no passado”, enfatiza.
Os vídeos do canal abordam temas do dia a dia dos refrigeristas, que acabam tendo dúvidas variadas, como a realização de reparos de equipamentos, entre os quais o VRF.
Traz também entrevistas com uma série de personalidades do mercado do frio, a exemplo do engenheiro de aplicação Marcos Euzebio (Bitzer) e dos professores Américo Martins (Thermo Cursos) e Amaral Gurgel (Chemours e Danfoss), além de Luiz Fernando Gaivota e Deivi Homem.
“Não quero nada em troca. Não quero dinheiro. Apenas desejo que as pessoas evoluam profissionalmente. O Brasil precisa de refrigeristas cada vez mais qualificados, mão de obra em que o cliente possa confiar tranquilamente, sem precisar buscar informação na Internet em caso de dúvidas”, conclui.