Compressores apostam no diferencial flexibilidade
Variação de velocidade no interior dos equipamentos e modulação de capacidade nas instalações dos clientes são termos cada vez mais ouvidos no mundo dos compressores.
Por trás dessas palavras, tratadas de forma peculiar pelos diferentes fabricantes da área, se encontra um único objetivo: fazer da precisão no funcionamento e da eficiência energética verdadeiras obsessões.
Em mais este Especial da Revista do Frio sobre um dos segmentos fundamentais do HVAC-R, fica igualmente claro que o mercado não abre mão, de forma alguma, dos baixos níveis de ruído, da sustentabilidade e, principalmente, de produtos confiáveis, capazes de garantir qualidade da refrigeração ou do ar climatizado nos mais diversos ambientes, muitos deles críticos nestes particulares.
Nesta e nas próximas páginas, preparamos para você um amplo mosaico de como as indústrias de ponta que atuam no segmento têm respondido, de forma corajosa e assertiva, a estes e tantos outros desafios, seja em seus laboratórios e linhas de montagem, seja no front igualmente aguerrido das negociações comerciais.
Trunfos marcantes
Não por acaso, um dos destaques atuais no portfólio da Danfoss, indústria de origem dinamarquesa com importante atuação neste nicho, é o compressor de Velocidade Variável com tecnologia inverter, equipamento cujo ritmo de funcionamento se adapta perfeitamente à demanda do ar condicionado, garantindo com isto precisão no ajuste do set point e economia de energia, conforme assegura o gerente de vendas Gustavo Vieira Asquino.
Responsável pela área comercial envolvendo contas globais neste campo, o engenheiro lembra que a segunda geração da revolucionária família foi apresentada oficialmente ao mercado durante a última Febrava, onde chamou a atenção de todos o motor de ímã permanente dos modelos VHZ, que além de performance e rendimento, oferece variação de velocidade de 25Hz até 100Hz, trabalhando com o fluido R-410A
“Esta tecnologia permite alcançar resultados concretos e mensuráveis nos clientes finais. Por exemplo, uma redução do consumo de energia de até 30% e precisão de 0,2ºC, quando comparada a alternativas existentes”, afirma Asquino.
Na Bitzer, por sua vez, a série New Ecoline é o lançamento mundial que o grupo de origem alemã resume como uma das maiores mudanças em termos de conceito e eficiência para aplicações em refrigeração comercial.
Além de reduzir o consumo de energia em até 10%, apresenta um sistema de modelação de capacidade que pode variar de 10% a 100%.
“Em função da demanda térmica, e através de um controlador PI, podemos abrir e fechar a porta de sucção variando o tempo em que o compressor comprime ou fica trabalhando em vazio”, explica o gerente industrial e de marketing, Eduardo Almeida.
Dentre os focos da nova série está o atendimento, de forma otimizada, do segmento de supermercados com padronização dos equipamentos em baixa e média temperaturas, simplificando com isso a instalação e os programas de manutenção.
A maior versatilidade dos compressores desta série, segundo a Bitzer, também permite atender os centros de distribuição, onde, dependendo do produto recebido, existe a necessidade premente de alterar a temperatura dos produtos armazenados, de congelado para resfriado e vice-versa.
Outro player de peso na área preocupado com a flexibilidade operacional oferecida aos seus clientes é a Emerson, por intermédio do compressor Copeland Digital para Controle de Capacidade.
Segundo a empresa, o modelo permite uma redução de 51% na variação de temperatura do glicol nos sistemas de expansão indireta (Propileno Glicol, água, Tifoxit), e de 70% na variação da pressão da sucção, em se tratando de sistema com expansão direta.
Ao mesmo tempo, a temperatura dos expositores pode variar em até 60%, com uma redução 10% acima desse índice no tocante ao número de partidas.
De acordo com o engenheiro de vendas e aplicação Rodrigo Miranda Porte, a combinação dessas características gera não apenas economia de energia elétrica, como também melhoria significativa na qualidade do frio alimentar.
“Os compressores digitais têm sido explorados pela Emerson na abertura de novos mercados, contribuindo para a conquista de novas redes do varejo em nossa carteira de clientes”, observa o profissional.
Flexibilidade na capacidade de modulação também é propriedade incorporada pelo York YVWA, um semi-hermético parafuso com variador de alta eficiência, que permite economizar energia simultaneamente ao aumento expressivo da vida útil do próprio compressor, características destacadas pelo gerente de Sistemas, Automação e HVAC da empresa, Celso Doná.
A Elgin não fica atrás e mostra, orgulhosa, o seu ECC, compressor alimentado por corrente contínua, destinado a pequenos sistemas de refrigeração, inclusive para transporte.
“Esses modelos são equipados com um módulo eletrônico protegido contra falhas da alimentação elétrica e instalação, possuem capacidade variável e sistema de diagnóstico de falhas com indicação por um LED, ou seja, grandes vantagens e inovações que os compressores comerciais convencionais ainda não possuem”, pondera o engenheiro de aplicação Otavio Nodomi.
Novo marketing
Os aprimoramentos são tantos no segmento de compressão que já existe montadora de produto final explorando as qualidades do componente em suas ações de marketing.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com a Art des Caves, um dos mais conhecidos nomes do país no setor de adegas climatizadas e cliente histórico da Embraco, grande nome mundial no fornecimento de compressores para este mercado.
“Toda a comunicação deles está baseada no compressor inteligente”, conta o diretor global de marketing da indústria, Natanael Kaminski.
Os motivos que deram origem a tal estratégia, segundo ele, são atributos das famílias VES e VEM, conceituadas como minis, e que pertencem a uma linhagem pioneira da indústria, que desde 1998 produz compressores de capacidade variável. Inicialmente chamados de VCC, hoje eles pertencem à série Fullmotion, que designa todos os aparelhos da indústria dotados de tal propriedade, tanto para o consumidor doméstico quanto o comercial.
Os motivos que levaram o cliente da Embraco a também sair na frente, ao decidir comunicar à clientela propriedades técnicas do coração do sistema de frio destinado à exigente conservação de vinhos, incluem funcionamento silencioso, estabilidade na temperatura e pouca vibração, esta última uma propriedade especialmente apreciada pela nobre bebida e seus adeptos.
“A Art des Caves enxergou isso e gerou uma repercussão muito grande, em mais de 40 veículos de comunicação, com direito a exposição na Casa Cor, a ponto de haver cliente chegando às lojas procurando adega com compressor inteligente”, relembra Kaminski.
A Fricon, cliente da Embraco desde 2001, também é só elogios a essa modalidade de equipamento. “A tecnologia Fullmotion proporcionou uma maior faixa de trabalho dos nossos equipamentos, uma vez que temos deficiência de tensão em alguns lugares do país e esta tecnologia permite o funcionamento normal evitando perda de produtos, refrigeração mais rápida, além da redução do consumo de energia”, resume o diretor-presidente deste renomado fabricante de freezers e expositores comerciais, Fernando Romaguera.
Segundo ele, a solução demonstrou-se igualmente pródiga em eliminar uma queixa antiga dos seus clientes no segmento de sorvetes, que antes amargavam perdas frequentes de produtos nos supermercados, provocadas por oscilações de tensão e as consequentes “não-partidas” dos compressores, conhecida causa de baixa produção de frio.
“Como os compressores com a tecnologia Fullmotion oscilam entre 165 volts e 270 volts, evitamos este tipo de problema e ofertamos aos nossos clientes um equipamento de maior eficiência e durabilidade. Na prática, o beneficio que o uso do produto trouxe para o nosso negócio foi a redução de queima dos compressores”, acrescenta o executivo.
Sustentabilidade é outro ponto forte identificado pela Embraco na popularização crescente de recursos assim, que Kaminski compara aos freios ABS, um dia aparentemente muito distantes do motorista comum, e hoje prestes a se tornar item obrigatório da frota nacional.
“Com os 30% de economia de energia que ele pode proporcionar, nossos números mostram um ganho, até hoje, equivalente ao consumo de uma cidade do tamanho de Washington (EUA) em um período de um ano”, compara o diretor.
Remanufatura também muda
Vista por muitos com reservas no passado, a remanufatura de compressores não só conta com o aval do mercado nos dias de hoje, como também de alguns fabricantes, que acabaram se rendendo à excelência dos serviços prestados neste campo, a ponto de se tornarem parceiras de nomes altamente respeitáveis do segmento.
Diante dessa evolução, algumas empresas da área foram além da mera sobrevivência e acabaram se expandindo em todos os sentidos. A Reposul é uma delas. Começou em 1977, no bairro paulistano da Mooca, de onde partiu há quase 15 anos rumo a Ibitinga, no interior paulista, cidade na qual a remanufatura de compressores semi-herméticos para refrigeração e ar-condicionado acabaria se expandindo para a fabricação de racks destinados a supermercados e indústrias alimentícias.
“Trabalhamos sempre com a força de servir e oferecer o melhor em qualidade”, justifica o diretor-fundador da empresa, Vilson Marques dos Santos, ao falar da posição de destaque desfrutada pela sua empresa, hoje uma presença notável em feiras como a da Associação Paulista de Supermercados (APAS).
Sua expansão inclui ainda uma segunda unidade, a Casa dos Compressores Refrigeração e Ar Condicionado, localizada na mesma cidade e igualmente atendendo todo o território nacional.
Fazer diferente também foi uma excelente opção para a K.R.A Kompressor. Se não propriamente naquilo que esta empresa de Franco da Rocha (SP) oferece ao mercado, mas na forma como leva seus serviços ao cliente, ou seja, onde o compressor estiver instalado.
Tal diferencial faz um sentido todo especial ao se imaginarem volumosos equipamentos dos tipos semi-hermético, parafuso, aberto e hermético, cujo deslocamento demanda quase sempre muito tempo e gastos expressivos com frete.
“Quando montei um compressor parafuso de 120 TR no próprio local, a equipe de manutenção do cliente ficou olhando surpresa, ao ver que algo assim poderia ser feito num equipamento daquele porte”, define o coordenador técnico da empresa, Osmar Alonso, ao recordar um dos feitos emblemáticos dessa maneira incomum de atuar.
Outro nome expressivo do ramo que tem primado pela expansão de suas atividades é a paulistana Frimar, onde a remanufatura de compressores, iniciada em 1977, hoje divide espaço com a reforma e automatização de chillers.
É justamente neste último segmento que o gerente administrativo Marco Antônio de Souza aponta a mais nova faceta da casa: um projeto de CLP desenvolvido em parceria com uma empresa de software para a automatização de instalações de água gelada.
“O mercado tinha necessidade deste produto, porém ele estava nas mãos dos fabricantes, sendo que para muitas máquinas antigas já não existem peças de reposição, e quando se acha alguma, custa muito caro”, explica o gestor.
Fatos assim, segundo ele, já deram origem a muitas compras desnecessárias de máquinas pela falta de um módulo de comunicação, por exemplo.” Podemos substituir todo o quadro do CLP que esteja desatualizado”, assegura Souza para validar sua tese.
Agindo dessa forma, ele reconhece que a Frimar acabou trazendo para o âmbito das centrais lógicas programáveis a mesma filosofia reinante desde o início na remanufatura de compressores, ou seja, buscar sempre a melhor relação custo-benefício possível, passando longe da palavra desperdício.
Perguntado se a sua empresa é a única a oferecer essa opção, Marco Antônio esclarece: “algumas pessoas fazem, mas compram CLP importado, e assim o custo de aquisição nem sempre compensa”, conclui o profissional.