Apesar da crise, HVAC-R segue firme inovando
O agravamento da crise europeia e o arrefecimento das economias emergentes afetaram, diretamente, o desempenho da indústria este ano. A trajetória decrescente da produção, entretanto, não reduziu os esforços empenhados no desenvolvimento de novos produtos; pelo contrário.
Graças aos lançamentos apresentados em 2012, a gigante LG, por exemplo, está encerrando o ano com maior participação no mercado brasileiro. Um dos novos itens para o segmento de climatização residencial, o condicionador de ar com a tecnologia inverter, ajudou a marca a superar suas metas. Segundo o gerente de ar-condicionado da multinacional sul-coreana no Brasil, Mauro Apor, o menor nível de ruído, a redução do gasto energético e o novo conjunto de filtros agradaram em cheio o consumidor. “Na linha comercial, nossos sistemas VRF Multi-V marcaram presença em diversas obras de grande porte, entre as quais o estádio Arena da Baixada, na capital paranaense”, lembra o engenheiro mecânico.
Na avaliação do gerente de vendas de HVAC-R da Danfoss para a América Latina, Carlos Barbosa Navarro, a retração da atividade produtiva, reflexo da crise econômica global, dificultou o desenvolvimento das vendas de uma forma geral. “Mas os investimentos do governo federal em outros setores que não a indústria tornaram possível um crescimento modesto da economia”, analisa.
“O real, ainda bastante valorizado, e o elevado custo de produção interferem em nossa competitividade frente aos concorrentes internacionais”, acrescenta o gerente industrial e de marketing da Bitzer no Brasil, Eduardo Almeida.
Para superar esse cenário, a Mipal consolidou sua tecnologia de microcanais e fez alterações importantes em suas linhas de unidades evaporadoras e condensadoras, visando torná-las mais eficientes. “De uma forma geral, 2012 não foi um ano fácil para a indústria, mas, em função da força da nossa marca, tivemos um retorno positivo do mercado”, diz o diretor geral da fábrica paulista, Antônio Cláudio Palma, para quem as medidas adotadas pelo governo federal para fortalecer o setor produtivo são paliativas. “É necessário que se faça uma intervenção mais estrutural na economia, reduzindo o Custo Brasil e melhorando a competitividade das empresas”, avalia o executivo.
“Temos registrado um desempenho muito semelhante ao de 2011, o que, de certa forma, nos desagrada, pois, mais uma vez, o Brasil apresenta um ‘voo de galinha’, ou seja, cresce um ou dois anos e depois recua ou estagna por igual período”, lamenta o gerente comercial e de marketing da Harris, Anderson Araújo Fernandes.
Na tentativa de reverter esse quadro, sua empresa aposta no lançamento de produtos e na entrada em novos nichos. “Este ano lançamos o Pronto, conjunto portátil de corte e solda que, com algumas inovações, tem tido grande sucesso. Colocamos também no mercado o conjunto cilindro de gás MAP-Pro e maçarico, que foi rapidamente aceito pelos clientes”, salienta. A retração da economia doméstica também atingiu a Parker Hannifin, que trouxe este ano para o Brasil suas válvulas com orifícios intercambiáveis, uma demanda antiga de seus clientes.
“Por trabalharmos com projetos especiais e soluções inteligentes, tivemos um aumento de faturamento global e aquisições de novas empresas na Europa e Ásia. Na América Latina, no entanto, não houve crescimento significativo”, explica o vendedor técnico da multinacional no Brasil, Irineu Camargo.
Um dos fatores que atrapalharam o desempenho da empresa foi a concorrência desleal. “Continuamos tendo no País uma grande entrada de produtos chineses sem controle de qualidade”, alerta.
Embora tenha registrado um ano melhor que o anterior em termos de vendas de produtos para refrigeração, os negócios da Vibra-Stop também são afetados pelos produtos provenientes da China. “Por isso, continuamos a fabricar amortecedores de vibração com qualidade, além de ampliar o número de itens do nosso portfólio, para atender os mais diversos segmentos do mercado”, destaca a diretora da empresa paulista, Adriana Kolbe.
Outra que ampliou seu catálogo ultimamente foi a Airway. O BigFan, ventilador que agrega placas evaporativas, é o resultado dessa política de inovação. “Estamos investindo em novos produtos e em áreas nas quais não atuávamos, pois novidades sempre são bem-vindas e fazem parte da nossa cultura corporativa”, reforça o gerente de vendas e marketing da indústria de Caxias do Sul (RS), André Vasata.
A inovação é o segredo do sucesso também para a porto-alegrense Joape. “Somos criadores de produtos, e isso fornece a base do nosso crescimento sustentado”, diz o gestor João Henrique Schmidt dos Santos.
Para driblar os efeitos da deterioração da economia lá fora, a Rohden Vidros apostou na internacionalização dos seus negócios, ao selar parcerias visando a importação de matérias-primas de alta qualidade, bem como investir em maquinário mais avançado.
“Em comparação ao mesmo período de 2011, nossa empresa já tem sinalizado um crescimento de aproximadamente 10%, graças à ampliação da carteira de clientes, ao aumento no portfólio de produtos fornecidos e à consolidação da marca no ramo de refrigeração comercial”, diz a gerente comercial da indústria catarinense, Edilene Marchi Kniess.
O ano de 2012 foi igualmente bom para os negócios da Sictell. “Registramos um crescimento de 20% e lançamos novos produtos”, informa o diretor industrial da empresa também sediada em Santa Catarina, Rafael Munhoz. Apesar das importações em alta e do câmbio desfavorável à indústria brasileira, a Termomecanica conseguiu manter o mesmo patamar de vendas de 2011.
A fornecedora de cobre investiu mais de R$ 45 milhões em uma nova fábrica para a produção de tubos por meio do processo cast and roll. “Queremos consolidar nossa liderança no mercado brasileiro e fortalecer a presença da nossa marca no mercado internacional”, justifica o gerente de vendas da companhia, Marcelo Silva.
Para contornar os obstáculos da retração econômica, a ebm-papst, por sua vez, continua a apoiar fortemente o uso de tecnologias que economizam energia no setor de refrigeração. “Apesar de lento, o conceito de redução de energia elétrica está se tornando uma realidade em alguns mercados. Nesse sentido, nos empenhamos para ajudar nossos clientes a obterem ganhos com a economia proporcionada pela utilização de nossos produtos”, comenta a diretora geral da empresa alemã no Brasil, Adriana Belmiro.
Semestre melhor
Talvez como poucos até aqui, este ano vai terminando com diferenças notáveis em cada uma de suas metades.
Claro exemplo disto se encontra em depoimentos como o do diretor geral da Deltafrio, Marcelo Marx, para quem o setor industrial está trabalhando a fim de cobrir os resultados fracos obtidos até junho. “Mas a atenção máxima aos detalhes de acabamento, que tem sido a pauta diária em nossa empresa, consolidou o posicionamento estratégico e ajudou-nos a ampliar nossa participação no mercado em 2012”, informa.
Para a Polipex, o ano manteve, até setembro, os resultados observados durante o mesmo período de 2011. “Contudo, os últimos meses têm nos proporcionado uma grata e inesperada surpresa, por causa do aumento do volume de vendas”, comemora o presidente da empresa, John van Mullem. A fim de atender a crescente demanda, a companhia também ampliou seu depósito e a capacidade produtiva, investindo ainda em novos equipamentos e renovando o contrato com sua parceira italiana, a L’Isolante K-Flex, que fornece toda a linha de espuma elastomérica em tubos e mantas para a indústria catarinense de termoisolantes de polietileno expandido distribuir com exclusividade no mercado brasileiro.
Os resultados do primeiro semestre também ficaram abaixo das expectativas para outros fabricantes nacionais, caso da Indústrias Tosi. “Mas estamos registrando um ótimo segundo semestre, devido ao fechamento de projetos que estavam sendo trabalhados há anos”, explica o empresário Márcio Tosi, lembrando que o Kit Solar foi uma das inovações desenvolvidas pela empresa para o segmento de água quente. “Uma vez que nosso foco foi realizar parcerias por meio de tecnologias energicamente eficientes, conseguimos estar presentes em obras que buscam a certificação verde, o que aumentou nosso market share nesse mercado”, diz. A indústria paulista também investiu em maquinário,adquirindo bens de capital que incluem uma central de usinagem para a fabricação de shell and tube, novas expansoras, injetoras e extrusoras plásticas para a linha de aquecedores solares de piscinas.
Este ano também foi melhor que 2011 para a alemã Armacell, que tem se beneficiado do bom desempenho da construção civil brasileira. O único fabricante de isolamento térmico em espuma elastomérica com produção no País deve registrar crescimento de 20% em suas vendas. “Mas não foi um período fácil, pois a conjuntura econômica sofreu muitas mudanças ao longo dos meses”, lembra o diretor regional para a América do Sul e Central, Rafael Lozovery Junior, acrescentando que sua empresa investiu fortemente no Brasil durante os últimos anos.
Já os negócios da Full Gauge no segmento de controles avançaram 26% em 2012, percentual acima do esperado. “Mantemos em nossa empresa a política de trabalhar cada vez mais com ações inovadoras, independentemente da conjuntura, e sempre aumentando o investimento em desenvolvimento de novos produtos e marketing”, ressalta o diretor executivo da companhia sulista, Antonio Gobbi.
A Daikin McQuay também não pode reclamar, já que simplesmente quintuplicaram suas vendas no mercado brasileiro, ao conquistar diversas obras importantes, principalmente instalações de sistemas VRV. “Edifícios comerciais e obras da Copa do Mundo foram nossos nichos mais relevantes este ano”, revela o gerente de produtos e marketing da multinacional japonesa no Brasil, Robson Previatti. No caso da Panasonic, além da linha split, foi introduzida no país a GHP, composta por sistemas VRF movidos a gás natural e outros itens para atender o setor corporativo.
A multinacional japonesa também aumentou sua estrutura para suportar o incremento de negócios visando o crescimento futuro do setor, tendo em vista os grandes eventos esportivos locais desta década. “No primeiro semestre não foi possível mantermos nossas metas de rentabilidade devido à pressão de estoques elevados e preços baixos. Já no segundo, este fator foi minimizado, mas ainda está aquém de nossa necessidade”, diz o gerente de produto da Panasonic no Brasil, Luciano Valio.
De acordo com o gerente de negócios da DuPont Fluorquímicos para a América Latina, Maurício Pinheiro Xavier, os resultados dos primeiros seis meses do ano foram afetados pela queda acentuada da produção de equipamentos de climatização. “A companhia, porém, registrou alta nas vendas no segundo semestre”, afirma o engenheiro.
Para a Belmetal, um dos maiores distribuidores de manufaturados e semi de alumínio do País, o quadro destoou da média, já que o ritmo acelerado das vendas no primeiro semestre não se repetiu na segunda metade do ano. “O cenário externo desfavorável resultou em estagnação”, diz o gerente industrial da marca, Afrânio Furtado da Silva. “O governo federal tem adotado medidas pontuais de correção, mas elas privilegiam apenas alguns setores e, por isso, não favorecem a economia de uma forma mais ampla”, lamenta.
Apesar do fraco desempenho da economia brasileira, a empresa continuou a desenvolver novos produtos e negócios, caso da entrada no segmento de tubos para instalação de splits, que considera uma de suas principais ações em 2012. Durante este ano, a indústria paulista também inaugurou unidades de distribuição em Belém (PA), Goiânia (GO) e Vitória (ES), além de iniciar a construção de um centro logístico em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Desafios e inovação
As previsões de expansão de muitas empresas do HVAC-R não se concretizaram em 2012. No setor de veículos comerciais, a motorização Euro 5, mais moderna e menos poluente, elevou o preço dos motores, o que retraiu os investimentos em renovação de frotas equipadas com sistemas de refrigeração (caminhões) e ar-condicionado (ônibus).
No segmento de automação, a concorrência com os produtos importados afeta o desempenho e perspectivas de crescimento das empresas nacionais, que, por falta de incentivos, acabam optando por não produzir no País. “Para nós, o bom ano de 2011 gerou expectativas de uma demanda ainda maior em 2012. Portanto, realizamos grandes investimentos renovando nossa fábrica e adquirindo uma linha de montagem totalmente automática”, diz o gerente comercial da Globus, Luís Fernando Ruschel. “Mas a expectativa não se confirmou integralmente e, por isso, estamos fechando o ano com um baixo crescimento”, acrescenta o gestor da empresa gaúcha especializada no desenvolvimento de controles eletrônicos para sistemas de conforto térmico e refrigeração.
A falta de uma política de crescimento consistente e de longo prazo para o País também preocupa no setor. “O que temos visto são ações pontuais e que beneficiam segmentos específicos, como por exemplo, a redução do IPI para automóveis. O baixo índice de investimentos em infraestrutura continua sendo um grande entrave ao crescimento mais sustentado da economia brasileira”, afirma, por exemplo, o presidente da Heatcraft do Brasil, João Eduardo Navarro de Andrade. “Também vejo com preocupação o aumento do protecionismo, que pode ser muito danoso no longo prazo, bem como interferências no mercado de câmbio. Outro grave problema é a falta de mão de obra qualificada”, completa o executivo.
Apesar de tantos entraves, a multinacional norte-americana fez fortes investimentos no Brasil em 2012, aumentando em mais de 60% o capital investido no País, em comparação a 2011. “Continuamos colhendo os frutos das estratégias de segmentação de mercado, estruturação de equipes por segmentos de atuação, investimentos em desenvolvimento de novos produtos e na ampliação do portfólio que iniciamos em 2009”, justifica Andrade.
Nos últimos anos, a Microblau optou por investir na implantação do Sistema Lean nas áreas de pesquisa e desenvolvimento da empresa paulista do segmento de automação. “Sempre investimos em tecnologia e processos de inovação”, ressalta a diretora de marketing da companhia, Luciana Kimi.
Sem dúvida, 2012 vai chegando ao fim de forma bem menos retumbante do que o memorável 2010, por exemplo. Mas também fica evidente que as empresas do HVAC-R resolveram substituir a reclamação pura e simples pela ousadia de continuar acreditando no Brasil.