Finalmente, um bom verão
Um rápido giro pela Alameda Glete, em São Paulo, e outros pontos espalhados pelo País onde existem revendas de peças, componentes e equipamentos de refrigeração e ar condicionado, deixa claro haver hoje um estado de ânimo bem diferente do encontrado nesses lugares a partir de 2014, quando as crises econômica e política explodiram.
Balcões vazios aos poucos retomaram o movimento, telemarketings trocaram o silêncio pelo saudável burburinho das consultas e vendas em ritmo acelerado e até mesmo os estacionamentos, ultimamente repletos de vagas disponíveis, voltaram a ficar disputados como antes.
Entretanto, certeza mesmo de que as coisas mudaram – e para melhor – a gente só tem ao conversar com personagens da área como Luiz Henrique Cardoso, gerente comercial há dois anos da Zeon Ar Condicionado e Refrigeração.
“Talvez, desde que estou aqui, esse tenha sido o nosso melhor Verão”, declara o profissional, apontando como motivo de sua tese um crescimento de 100% nas vendas, com destaque até mesmo para os condicionadores de ar, segmento que nunca foi o forte da empresa.
A melhoria da situação econômica ele afirma ter se manifestado intensamente com a volta das construtoras, que estiverem em compasso de espera durante 2017 e 2018 inteiros. “Finalmente, retornaram as obras de prédios grandes, com infraestrutura de ar condicionado”, comemora Cardoso.
Para uma ideia do impacto positivo trazido por tudo isso, ele diz que a loja faturou em fevereiro, com 28 dias, mais do que costumava faturar em meses cheios. Até mesmo o fechamento de um concorrente vizinho ajudou os negócios.
Os resultados proporcionados por essa somatória de aspectos favoráveis foram tão positivos, que a Zeon já está colocando em prática providências para aproveitar melhor ainda a boa maré e sua provável continuidade, a reboque de acontecimentos muito aguardados pelo setor produtivo como as reformas da Previdência e tributária.
“A gente pretende manter o cliente dentro da loja por não mais que meia hora, além de ter mais um carro, para as entregas na capital passarem a ser diárias, pois atualmente as terças e quintas são dedicadas ao interior e litoral sul”, explica o gerente, lembrando ainda que “estamos mexendo os pauzinhos no nosso galpão, para poder suportar uma demanda maior ainda no Verão 2020, pois só estamos esperando coisas boas”, revela.
Sérgio Dias, da Bandeirantes Refrigeração, vai na mesma linha, pois teve o prazer de constatar uma tendência de alta já em dezembro do ano passado, mantida na casa dos 30% nos dois primeiros meses de 2019.
O empurrão extra dado pela ausência de chuvas em janeiro teve repercussão positiva em fevereiro e só mesmo em março o empresário identifica um certo recuo, por ele atribuído ao carnaval, como de costume, e às turbulências políticas em Brasília.
Mas também foi da capital da República que Sérgio Dias afirma ter vindo um dos sopros de esperança para o surgimento de um quadro tão melhor no comércio do HVAC-R.
“Todo mundo ficou aliviado com a saída do PT do governo e passou a enxergar uma luz no fim do túnel. Eu, pessoalmente, acredito que teremos uma gestão melhor em comparação às passadas, é uma questão de tempo, porque não se arruma um país de um dia para o outro”, pondera.
Embora esteja acostumado a fazer do otimismo uma de suas bandeiras ao longo dos últimos trinta anos, a Bandeirantes não brincou com a sorte e tratou de reforçar seus estoques de condici-onadores de ar, segmento onde identifica grandes oportunidades, em virtude da popularização crescente desse luxo de antigamente, hoje uma necessidade.
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O importante papel do clima também foi ressaltado pelo diretor da Disparcon, Luiz Alberto Do Casal. “Em janeiro do ano passado choveu em 25 dos 31 dias”, diz ele, ao lembrar o contrastante início de 2019, sem uma gota sequer.
A consequência inevitável desse empurrãozinho de São Pedro foi aquilo identificado por ele como “explosão”, representada pela atitude de boa parte dos clientes, que só vinha fazendo reparos na última hora e em pequeno volume.
“Eu cheguei a entrar em agência bancária sem ar-condicionado”, exemplifica Do Casal, para mostrar que até mesmo esse setor historicamente estratégico para o HVAC teve queda expressiva no auge da crise.
A eleição de Bolsonaro igualmente trouxe bons ventos, no entender do empresário, embora nuvens carregadas no campo político já tenham provocado, por exemplo, a elevação do dólar para a casa dos R$ 4,00, “o que é ruim, porque vários itens do ar condicionado são importados”, justifica Luiz, demonstrando preocupação especial em relação aos compressores.
Mesmo assim, as construtoras – sobretudo pequenas e médias – têm garantido bons números à Disparcon, que identifica, em contrapartida, um certo aumento da inadimplência, cujo perfil pouco mudou ao longo desses 44 anos de mercado da empresa.
“Muitos mecânicos saem dos seus empregos para trabalhar por conta própria, compram bastante pensando em pegar muito serviço e nem sempre isso acontece”, diz ele, lembrando o dilema que muitas vezes representa recusar crédito a quem está dando seu primeiro passo.
Na também paulistana A.Dias, o diretor Comercial Rafael Dias vai além, ao definir o que foram os últimos meses. “Nossas expectativas e previsões foram superadas e fizemos o melhor Verão da história”, assegura.
Altas temperaturas, combinadas às facilidades para a compra dos aparelhos, são as causas apontadas por ele para tal sucesso, que espera se repita pelo menos em parte durante Outono e Inverno.
“Estamos criando novas estratégias e planos de negócios diferenciados”, garante, além de manter inalteradas práticas como a busca permanente do crescimento do time e a busca de melhoras contínuas. “Assim, a cada dia, as pessoas que fazem acontecer são mais reconhecidas, têm mais engajamento e, consequentemente, colheremos melhores resultados”, acrescenta.
Mais modesto ao comparar o Verão de 2019 ao anterior, o diretor geral da Capital Refrigeração, Vinícius de Morais, enxerga apenas uma ligeira melhora.
O forte calor foi respondido pela empresa com a correta previsão de compras, aspecto que garantiu estoques bem servidos durante toda a estação.
Para repetir a dose no ano que vem, Vinícius afirma que a Capital vai prosseguir firme na filosofia praticada já há quatro décadas, isto é, melhorar processos de negócio e planejar com muita atenção o futuro e, principalmente, atender muito bem o cliente. “Afinal, a única diferença entre o cliente e Deus é que Deus perdoa”, conclui sorridente.