Tubos, conexões e soldas: um mercado promissor
Os componentes de um sistema frigorífico por compressão de vapor são interligados um ao outro por meio de tubos conhecidos como linhas de sucção, de descarga e de líquido.
Segundo o professor José de Jesus Amaral Marques, autor do livro “Boas práticas no uso do cobre para refrigeração e climatização” (Senai-SP Editora), certas grandezas físicas, como velocidade, temperatura e pressão, devem ser analisadas durante o projeto de tubulações, a fim de garantir sua segurança, menor custo, maior durabilidade e funcionalidade do sistema.
Cada vez mais, as soluções tecnológicas que proporcionam eficiência energética e preservação do meio ambiente têm sido priorizadas pelo setor, o que vem resultando, por exemplo, na adoção de fluidos refrigerantes de baixo impacto climático, caso do propano (R-290) e do isobutano (R-600a) nas refrigerações doméstica e comercial.
“Nessas aplicações, o sistema de refrigeração trabalha com pressões positivas. Portanto, é necessário ter os mesmos cuidados nos pontos de solda e conexões para que não ocorram vazamentos de fluido para a atmosfera, que, dependendo da concentração, podem causar incêndios quando em contato com superfícies quentes, faíscas etc.”, explica.
“Diante dessas características, o material a ser empregado na fabricação das tubulações deve ser resistente à corrosão em contato com a atmosfera do local, e o meio a ser refrigerado não deve reagir quimicamente com os outros elementos do sistema, evitando vazamentos”, acrescenta.
As unidades evaporadoras e condensadoras dos sistemas de climatização com fluxo de refrigerante variável (VRF), mini-splits, multi-splits, máquinas self contained (condensação a ar), racks de compressores em paralelo e câmaras frias também possuem tubos de dimensões que variam de acordo com sua capacidade de refrigeração.
“Essas tubulações não saem prontas de fábrica, ou seja, elas são feitas na obra”, lembra. Por isso, é essencial que os refrigeristas dominem os processos de brasagem para o exercício da profissão.
Segundo o diretor comercial e técnico da Harris, Anderson Fernandes, os profissionais do setor sempre devem observar as boas práticas de climatização e refrigeração na hora de unir tubulações ou tapar fugas nesses sistemas.
“Primeiro, é preciso limpar a região da brasagem, pois realizá-la sobre partes sujas é garantia de falhas”, diz.
“Outra boa prática é manter as folgas nos diâmetros inferiores a 0,30 mm. Se for apenas um reparo de vazamento, o técnico deve efetuar uma boa limpeza que retire a gordura e a oleosidade, passar uma lixa fina e, em seguida, refazer a brasagem, sempre utilizando fluxo, mesmo que seja cobre com cobre, usando foscoper ou silfoscoper”, orienta.
Atualmente, a Harris é a única indústria que produz as varetas com gravação indicando a liga, o que evita misturas e enganos, com uso de liga com teor de prata errado, o que pode pôr em risco a qualidade do sistema.
“Quanto à solda prata, temos varetas revestidas de fluxo e arames tubulares, com fluxo na parte interna do arame. Para alumínio, temos duas opções, uma destinada aos OEMs, o Alumiflux, o qual é um arame tubular de alumínio/silício, e uma dedicada ao aftermarket, o Zincaflux, que é uma liga de zinco/alumínio de baixa temperatura. Ambos são tubulares e possuem em seu interior fluxos não corrosivos e que protegem as uniões de alumínio com cobre de corrosão galvânica. Para fluxos, lançamos o Super Fluxo Prata, o qual tem embalagem de 80 g, ideal para os mecânicos”, detalha.
De acordo com Fernandes, o alumínio ainda enfrenta muita resistência no mercado brasileiro de tubos, obstáculo já superado em mercados mais maduros. “É uma questão de tempo para essa barreira cair”, avalia.
“O alumínio não será capaz de substituir 100% o cobre, mas, em aplicações mais leves, certamente isso ocorrerá. A Harris, sempre se antecipando ao mercado, já possui uma linha de produtos para brasagem de alumínio há mais de 12 anos e, em 2017, iniciamos a produção desses produtos no Brasil, sendo a primeira e única empresa a produzir tais itens em nosso mercado”, afirma.
Outra indústria que sempre acreditou no potencial do alumínio é a Vulkan Lokring, apesar do baixo nível de qualificação da grande maioria da mão de obra que trabalha na área.
Enfim, o que ocorreu com os tubos de alumínio há alguns anos no mercado de ar condicionado reforça a preocupação dos fabricantes com as gambiarras feitas por “penduradores” e “mexânicos”.
“Ninguém tem dúvidas de que o alumínio é um metal excelente. Senão, sequer entraríamos em um avião ou não confiaríamos no ar-condicionado dos nossos carros”, diz Mauro Mendonça, diretor de vendas da divisão de conectores livres de chama para união de tubos metálicos.
“O fato é que um trabalho mal planejado do passado, somado à entrada de metais de baixa qualidade, vindos da Ásia, e sem as ligas corretas, trouxe uma imagem de vilão aos tubos de alumínio no mercado de climatização”, argumenta.
“Tanto é verdade que, no mercado de geladeiras, o alumínio é um enorme sucesso há mais de 40 anos”, exemplifica.
Mas, então, onde está a diferença? “Na geladeira, estamos falando de grandes empresas, linhas de produção e departamentos de qualidade totalmente envolvidos. Nas instalações de ar condicionado, infelizmente, essa não é a realidade por aqui”, reforça
“Conheço bons técnicos de ar condicionado que ainda hoje utilizam tubos de alumínio em ar-condicionado, economizam muitíssimo com isso e não têm nenhuma reclamação de clientes”, afirma o executivo, lembrando que os conectores Lokring fornecem segurança contra vazamentos, alta performance e produtos de última geração em termos de uniões metálicas, não só para refrigeradores, mas para toda a linha de ar condicionado.
“Além dos anéis Lokring, existem as comumente chamadas no nosso meio de juntas Lokring, que são mais adequadas àquelas conexões de baixa escala, ou seja, por serem mais práticas que a aplicação dos anéis Lokring, geralmente são as preferidas para a montagem manual e não em produção em série. Estamos falando, por exemplo, de reparos em qualquer tipo de refrigerador, mas principalmente do mercado que mais cresce neste uso em termos percentuais, que são as aplicações para condicionadores VRF”, explica.
Alguns países no mundo já utilizam mais sistemas Lokring que soldas para estas aplicações, tais como Estados Unidos, Coreia do Sul e França. “E isso não será diferente no Brasil num futuro próximo. Nosso crescimento por aqui já atinge 300%”, salienta.
“Isso porque as vantagens, além do custo total menor, são muito grandes. Por exemplo, a diminuição do tempo de instalação pela metade, a possibilidade de realização das obras mesmo em horário comercial, sem necessidade de interrupção do expediente de trabalho, e sem necessidade de autorização de bombeiros e equipamentos de proteção individual (EPIs) especiais, uma vez que não há fogo envolvido”, completa.
A união pelo sistema Lokring é, realmente, muito simples. Mesmo um iniciante, com bom treinamento, é capaz de fazê-la. “Contudo, é aí que mora o perigo. Se um aventureiro resolver entrar neste negócio sem treinamento, ele fará besteira e, seguramente não assumirá a culpa por eventuais problemas, colocando-a no Lokring, ou na tubulação ou no fabricante do ar-condicionado”, avisa.
“A Vulkan é muito preocupada com tudo isso. Tanto que, no caso de juntas para VRF, a empresa não tem disponibilizado esses produtos diretamente nas revendas, mas somente para clientes devidamente treinados e certificados por nós”, ressalta.
Tendência irreversível
Na avaliação do coordenador de vendas de tubos da Hydro, Marcio Bianchini, a utilização de tubos de alumínio no HVAC-R é uma tendência irreversível.
“O custo é muito interessante, a oferta de alumínio é muito maior que a do cobre e as inovações nessa área têm permitido o surgimento de produtos que atendem ao exigente mercado, mantendo as mesmas características de instalação que os produtos concorrentes”, afirma, lembrando que a qualificação e o aprimoramento da mão de obra são fatores importantes para ampliação do uso dessas novas tecnologias.
Segundo o executivo, os tubos fornecidos pela Hydro são produzidos com liga Hylife, cuja composição permite uma maior resistência à corrosão quando comparada a ligas convencionais de mercado.
“Adicionado a esta característica, aplicamos uma proteção mecânica sobre o tubo impedindo que as impurezas do meio onde ele é aplicado entrem em contato com o alumínio e promovam a aceleração do processo de corrosão que venha a causar furos e perda do gás refrigerante em instalações de ar condicionado split”, informa.
Essa solução não exige utilização de ferramentas especiais e porcas em alumínio para sua instalação. “O instalador utiliza as mesmas condições de instalação e ferramentas que está acostumado a utilizar nas instalações com cobre”, diz.
Quem também acredita no futuro do alumínio é a Termomecanica. “Nossos tubos de alumínio são manufaturados a partir de metal de alta qualidade, apresentando excelente resistência à corrosão, alta capacidade de troca térmica e de conformação para aplicação em sistemas de refrigeração, ventilação, ar condicionado, evaporadores e trocadores de calor automotivos, sempre com ótima compactação, leveza e economia”, destaca o superintendente de vendas da empresa, Marcelo Silva.
Cobre em foco
A empresa também tem a expectativa de continuar investindo em tecnologia e se manter líder no mercado de semielaborados de cobre e suas ligas. “Fornecemos tubos de cobre em barras ou em bobinas do tipo LWC. Esses tubos podem ser recozidos ou encruados em barras. Os recozidos permitem a realização de dobras e, como são fornecidos em bobinas, permitem trechos maiores em comprimento sem a necessidade de emendas”, informa.
Recentemente, a TM inaugurou uma fábrica de tubos de cobre com ranhuras internas em Manaus (AM). Estes tubos são utilizados para a fabricação de ar-condicionado. “Com a nova fábrica, é possível estar próximo dos maiores fabricantes do segmento no País e, adicionalmente, esta unidade permite a fabricação de bobinas do tipo Jumbo, que conferem aos nossos clientes mais produtividade, pois são maiores e, portanto, reduzem o número de abastecimento (setups) dos equipamentos”, revela.
Outra gigante do setor que continua apostando no cobre é a Paranapanema, produtora de tubos sem costura, seguindo as normas ASTM. A empresa trabalha com a tecnologia Cast & Roll, que é a mais avançada atualmente no mercado mundial.
Os tubos da marca são fabricados por extrusão, fundição contínua ou trefilação, podendo ser fornecidos nos formatos reto, panqueca, bobina e carretel, com diversas dimensões dentro de um limite de fabricação amplo.
“O produto tem uma grande margem de segurança, que lhe permite resistir a picos de pressão e temperatura com alta condutividade térmica e facilidade de instalação”, diz o coordenador de vendas de tubos para refrigeração da Paranapanema, Sandro Navarro
“Os tubos de cobre ranhurados sem costura (Inner Grooved) são fabricados por meio da mais alta tecnologia existente, que tem como objetivo aumentar a performance de troca térmica”, acrescenta.
Fornecido no formato de LWC, o produto é recomendado para projetos que necessitam de maior eficiência em troca térmica, podendo proporcionar uma compactação superior dos equipamentos e eficiência energética, ressalta a empresa.
“Se o objetivo é garantir qualidade de uma obra, o cobre é a melhor opção, pois é um condutor de calor mais eficiente e apresenta um melhor desempenho que os demais metais. O cobre atinge a temperatura desejada mais rápido e possui maior eficiência energética, gerando menor consumo”, avalia Navarro.
Expectativas
Apesar da recessão profunda vivida pelo segmento de ar condicionado em 2015 e 2016, somada a um crescimento pífio no ano passado, as expectativas das indústrias do setor de tubos, conexões e soldas são positivas.
“O Brasil será um mercado promissor, onde os negócios serão alavancados pelos ramos de construção civil, automobilístico, alimentício e de conforto térmico”, avalia o empresário Fernando Cardoso, sócio da DFM, fabricante de conexões de cobre e de latão para sistemas de refrigeração e ar condicionado.
Outro fabricante de componentes de cobre animado com o desempenho do segmento é a Forming Tubing. Em algumas famílias de produtos, como capilares, filtros secadores e linhas de sucção, a empresa espera um aumento de demanda na ordem de 30%.
“Isso se deve, principalmente, às novas linhas de produção e à nova política de vendas”, explica o diretor comercial da companhia, Wilson Cará, ressaltando que os produtos da marca são produzidos rigorosamente de acordo com a norma ASME B 16.22 e com equipamentos de última geração, o que possibilita alta produtividade com repetibilidade.
“Nossos produtos também são produzidos para atender rigorosas exigências do processo de brasagem recomendados pelas normas DIN e AWS”, completa.