HVAC-R conectado
Definitivamente os brasileiros amam as redes sociais. Diversas estatísticas provam isso. Com uma média diária de 3h43 navegando por elas, o Brasil está em segundo no ranking de tempo gasto nesse tipo de site, perdendo somente para as Filipinas
E a tendência é que isso continue crescendo. Com mais de dois bilhões de usuários ativos em todo o mundo, o Facebook é, de longe, a rede social mais popular do planeta.
Por aqui, as coisas não são diferentes. Afinal de contas, 139,1 milhões de brasileiros usam esta versátil rede social para se comunicar com amigos, familiares e colegas de profissão, além de se informar sobre os mais variados assuntos de seu interesse e fazer negócios.
Para muitos profissionais do setor de refrigeração, ar condicionado, ventilação e aquecimento, o site de relacionamento criado em fevereiro de 2004 pelo empresário norte-americano Mark Zuckerberg também já se tornou uma ferramenta de trabalho fundamental em seu dia a dia.
Nele, há diversas comunidades reunindo engenheiros, instaladores, mecânicos, projetistas, vendedores e empresários que costumam trocar experiências e informações relevantes para suas atividades.
Atualmente, os três grandes grupos especializados do setor no Facebook – Refrigeristas do Brasil, Refrigeração e Serviço Técnico em Refrigeração – já contam com cerca de 120 mil membros.
Os meios de comunicação também embarcaram nessa onda. Há três anos, a Revista do Frio lançou o Clube do Frio, fan page de notícias sobre o setor integrada a um blog homônimo no site da revista na internet.
Por meio desse canal, a publicação inovou a forma como produz e divulga seu conteúdo editorial, postando diariamente as últimas notícias do setor, com o objetivo de estabelecer um relacionamento mais estreito e frequente com os seus leitores.
Estratégias
Diante desta realidade tecnológica, as empresas do setor também vêm realizando ações de marketing no universo digital. Um ótimo exemplo de como uma indústria do setor usa as redes sociais para se comunicar melhor com seu público é a fan page do programa de relacionamento Clima LG.
Criado para atender profissionais de instalação, o espaço online oferece conteúdos e materiais exclusivos, treinamentos e aulas sobre aparelhos de ar condicionado e, além disso, proporciona diversos canais de comunicação aos profissionais que precisam entrar em contato com a empresa.
Um deles, o Facebook, recebeu atenção especial da LG, depois de constatado que a grande maioria dos instaladores tem por hábito acessar a plataforma, principalmente por meio de seus smartphones.
Dessa forma, a marca sul-coreana investiu em uma estrutura que permite responder rapidamente às mais diversas dúvidas dos instaladores, atendendo a seus pedidos por meio dos comentários nos posts ou por mensagens diretas, uma abordagem que ajuda a aproximar as pessoas à LG, aprofundando seu relacionamento com a marca.
Uma estratégia que tem se mostrado muito eficiente para atingir este objetivo foi a criação de Arthur Aires Bueno, um personagem fictício que sintetiza os mais diversos perfis do público da LG.
Atualmente com mais de 3 mil amigos no Facebook, Arthur se tornou um influenciador na rede social, ajudando a divulgar conteúdos exclusivos para instaladores do canal Clima LG, como agenda de eventos, palestras ao vivo, dicas e orientações técnicas sobre os sistemas de climatização da indústria.
Segundo a empresa, o feedback é, geralmente, positivo. “Percebe-se isso, principalmente, graças ao alto engajamento dos instaladores na fan page do Clima LG, o que indica que a plataforma está funcionando”, diz a gerente executiva de marketing da companhia, Bárbara Toscano.
“O fato de que esses profissionais sentem que podem colocar seus questionamentos no Facebook para serem atendidos mostra que o objetivo de aproximar as pessoas da marca está sendo cumprido, o que ajuda a solucionar dúvidas e oferece suporte ao público”, acrescenta.
Em sua opinião, o impacto das redes sociais em um setor tão específico como o HVAC-R ainda precisa ser mais amplamente entendido e avaliado. De modo geral, assim como em demais segmentos do mercado, é possível perceber que as plataformas criaram um canal de comunicação mais próximo para marcas, profissionais e consumidores.
“Investir nisso é uma ótima maneira de expandir o relacionamento da empresa com públicos estratégicos e, até o momento, isso tem funcionado muito bem para a LG”, afirma.
Investimento tangível
Quem também tem investido bastante nas redes sociais nos últimos dois anos é a Danfoss. “Analisamos que as páginas globais da companhia não atendiam completamente ao nosso público no Brasil e criamos nossas páginas locais para que pudéssemos nos comunicar com ele de maneira mais eficiente”, revela a gerente de comunicação e marketing para a América Latina, Paula Faria de Souza.
“Hoje temos nossas fan pages no Facebook e no Instagram e showcase no LinkedIn. Em cada canal, utilizamos uma estratégia diferente, uma maneira diferente de nos comunicar e também uma segmentação específica de público-alvo dependendo do tema abordado. Exploramos formatos distintos – imagens, vídeos, texto, infográficos – e falamos tanto sobre produtos e novidades quanto tendências do mercado”, explica.
Segundo a gestora, o resultado de um estudo dedicado a essas plataformas, ajustes e estratégias assertivas é o aumento exponencial da sua base de seguidores, um alcance cada vez maior das publicações da empresa e um índice de engajamento bastante alto para empresas B2B.
Para ela, as redes sociais são a maneira mais rápida de atingir centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo. “Elas acabaram trazendo ao nosso setor uma certa oxigenação na forma com que nos comunicávamos. Nos obrigam a pensar de formas diferentes, a nos colocar no lugar dos nossos seguidores, a analisar o nosso mercado sob a ótica deles e a oferecer o mesmo conteúdo com novas roupagens”, exemplifica.
“Passamos a fazer uso de mais imagens, mais vídeos, comunicações mais curtas, mais diretas e mais simples. Junto com isso veio a necessidade de manter sempre conteúdos atualizados na nossa própria página web, revisitar o nosso acervo e mantê-lo completo e atual. Temos muitos projetos e novos conteúdos vindo por aí”, informa.
Em sua avaliação, quem hoje não explora as redes sociais a seu favor na estratégia de comunicação já está em desvantagem em relação à concorrência. “Qualquer empresa deve ter sua estratégia de comunicação totalmente integrada e isso inclui diferentes canais para diferentes públicos e perfis”, ressalta.
“Por mais conservador que seja o segmento, por mais empresas familiares que tenhamos entre nossos clientes, estamos justamente agora vivendo o momento de transição dessas direções e a geração que começa a assumir a liderança entre eles já cresceu em uma realidade digital – as mídias sociais já fazem naturalmente parte da sua cultura e do modo como se atualizam de tudo. Por isso, não podem ser ignoradas”, completa.
Como outra vantagem, Paula de Souza lembra que o investimento nos meios digitais é tangível. “Sabemos de fato a quantas pessoas chegamos, que perfil elas têm, quantos interagem conosco, o que buscam etc.”, salienta.
Pioneira nas redes sociais
Uma das empresas do setor precursoras no uso das redes sociais é a Full Gauge Controls. Em 2009, a indústria brasileira lançou sua conta no Twitter e, desde então, possui profissionais especializados em seu departamento de comunicação e marketing para cuidar dessa área.
“Antes disso, em 2007, já tínhamos criado nosso canal no YouTube. Naquela época, a maioria das empresas ainda nem pensava em usar as redes sociais como uma ferramenta para dialogar com seu público e clientes”, revela o analista de marketing Guilherme Gonçalves.
Atualmente, a Full Gauge realiza diversas ações de relacionamento no Facebook, que incluem sorteios, colaborações com influenciadores, grupos e outras empresas. “Um exemplo dessas ações foi uma parceria com o Cabify, na qual demos um código de desconto para os seguidores da empresa, em comemoração ao aniversário de 20 anos do nosso software Sitrad”, diz.
“Já durante a última edição da Febrava, realizamos uma atividade voltada aos integrantes do grupo Refrigeração, do Facebook, que conta com mais de 30 mil membros do Brasil todo. Os participantes foram presenteados com diversos brindes, entre eles pen-drives e camisetas feitas especialmente para a ocasião”, lembra.
O canal da empresa no YouTube é uma plataforma voltada a disseminar conhecimento, pois disponibiliza diversos vídeos explicativos a respeito de produtos e ainda tutoriais sobre melhores práticas para o setor de HVAC-R.
“Já no Twitter nosso objetivo é falar pontualmente sobre os lançamentos e as participações da empresa como expositora em feiras e treinamentos ao redor do mundo”, explica.
“Todos nós estamos cada vez mais envolvidos com as redes sociais e as empresas estão se adaptando a esta realidade. As pessoas estão usando as redes como uma maneira de se organizarem em grupos, por interesse ou afinidade, e isso não é diferente no segmento de climatização e refrigeração”, ressalta.
Engajamento alto
Para a Embraco, também não é de hoje que as redes sociais são canais fundamentais para a divulgação de conteúdos relevantes sobre o universo da refrigeração a todos os profissionais ligados ao setor, como clientes, técnicos e parceiros, além de instituições do terceiro setor e comunidade em geral.
“Nosso Facebook e LinkedIn são plataformas globais que informam o público em uma linguagem didática sobre o que e como fazemos, dividindo histórias sobre nossa inovação e a tecnologia empregada em nossas soluções. Também publicamos participações em eventos, prêmios, conquistas, lançamentos e discutimos tendências de inovação e refrigeração”, diz o diretor de marketing da indústria de compressores, Guilherme Almeida.
Um dos canais de maior interação com o público, e que ilustra esse propósito da Embraco de compartilhar conteúdo e conhecimento de forma educativa e técnica, é o portal Clube da Refrigeração, que apresenta informações técnicas e educativas, como por exemplo, o melhor produto para determinada aplicação; orientações sobre como fazer a manutenção preventiva de sistemas frigoríficos; normas técnicas; vantagens de cada tecnologia; benefícios dos refrigerantes naturais; entre outros assuntos.
Segundo Almeida, a fan page da Embraco conta com um público fiel que interage e compartilha ideias. “Por ser um canal global, os posts relacionados ao Clube da Refrigeração são produzidos em três idiomas.
Outro canal que reforça nosso perfil educador é o YouTube. Só para citar um exemplo, o vídeo ‘Troca de Compressor’ já tem mais de 100 mil visualizações”, informa.
“Em 2017, alcançamos mais de três milhões de pessoas na página do Facebook. No Linkedin, cerca de dois milhões. Atualmente, o Brasil é o país que reúne o maior número de seguidores da Embraco”, acrescenta o executivo, salientando que a taxa de engajamento e interação nas redes sociais é alta.
“Frequentemente, recebemos feedbacks positivos destacando nossa qualidade e credibilidade no setor da refrigeração comercial, residencial e de distribuição e revenda”, revela.
“No Clube da Refrigeração, todos os dias recebemos dúvidas de técnicos refrigeristas, vendedores de lojas de refrigeração, entre outros profissionais, e respondemos a todas elas contando com o apoio do time de engenharia, quando necessário. No caso das redes sociais, também mantemos um frequente diálogo com o nosso público, respondendo todas as dúvidas”, explica.
Influenciadores
Responsáveis por exercer uma grande influência em seu público – ou seguidores –, os influenciadores digitais, fortemente presentes nas redes sociais, por meio de canais de vídeos e notícias, também estão despontando com força no mercado do frio.
Nascido em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense, no Rio, o técnico Job Ney Palmeira Júnior atua há 16 anos no mercado e participa ativamente das redes sociais, especialmente o Facebook, onde já atingiu o limite de cinco mil amigos, enquanto 600 aguardam que suas solicitações de amizade sejam aceitas.
Dono de uma loja que presta serviços para empresas e realiza consultorias e suporte técnico, Job Ney começou a gravar vídeos para ajudar outros técnicos a solucionar problemas do dia a dia e as gravações foram um sucesso, atingindo 15 mil, 20 mil visualizações.
Em outubro do ano passado, ele criou o Job Refrigeração, canal no YouTube que já chegou a 3.357 inscritos, número que pode ser considerado expressivo para o HVAC-R.
Membro do Clima LG, projeto da multinacional sul-coreana considerado um divisor de águas no mercado do frio, no tocante ao desenvolvimento profissional dos técnicos brasileiros, por meio de treinamentos, tecnologias, campanhas institucionais e conteúdos, Job Ney é um entusiasta da área.
“Eu acho que o mercado de refrigeração está mudando para melhor com essa difusão do conhecimento realizado pelas empresas do setor, como a LG, cuja iniciativa está mudando os rumos do mercado. Na verdade, já mudou. Em 16 anos, nunca vi um treinamento colocar 600 pessoas dentro de uma sala, no horário comercial, com 35ºC de temperatura, para assistir uma aula. É impressionante”, afirma.
Fenômeno
Outro fenômeno da internet, a técnica mecânica pelo Senai Carmosinda Santos, formanda em engenharia mecânica pela Unip, começou há pouco mais de um mês a postar vídeos nos grupos fechados do Facebook “Refrigeristas do Brasil”, com 56 mil membros, e “Refrigeração e Climatização”, com 6,8 mil integrantes.
O sucesso foi tão grande, inclusive com um dos vídeos obtendo sete mil visualizações, que semanas depois ela criou um canal no YouTube que já conta com quase 400 inscritos e não para de crescer.
“Faço vídeos voltados somente a equipamentos de grande porte, como chillers, selfs e fancoils. Normalmente não faço postagens sobre máquinas de pequeno porte, como split, pois meu trabalho é ligado à linha de água gelada, resfriadores de líquidos”, explica.
Lotada em um dos maiores datacenters do país, na região de Tamboré, a profissional trabalha com equipamentos de 40 TR, 50 TR. Sua expertise vem dos quase dez anos de atuação no mercado do frio, com passagens marcantes por Emerson Liebert e Carrier.
“O objetivo dos vídeos é ajudar a valorizar a nossa profissão, atingindo todo tipo de profissional, seja mecânico, técnico, tecnólogo ou engenheiro, o importante é também mostrar aos clientes que nossa profissão é fundamental, pois a refrigeração está em todos os lugares – no supermercado, açougue, shopping, na farmácia, no transporte coletivo urbano, no avião etc., estamos sempre trabalhando em prol da sociedade”, reitera Carmosinda.
E-commerce
Embora as vendas do mercado do frio brasileiro por meio de ferramentas de e-commerce tenham crescido nos últimos anos, este modelo não afetará a comercialização de produtos nas lojas físicas.
Isto porque o público do HVAC-R tem como características a preferência por comprar diretamente no balcão, ver e tocar o produto e ser atendido por vendedores treinados. Além disso, o tempo de entrega e o preço do frete são dois aspectos que acabam prejudicando as vendas pela internet, pois quem trabalha com refrigeração tem pressa e não dispõe de uma margem de lucro muito grande.
Entretanto, os varejistas continuam apostando não somente no e-commerce com site próprio e nos marketplaces, mas também na divulgação nas redes sociais, inclusive com vídeos voltados a ampliar a notoriedade da loja, seja institucionalmente, seja explicando as funcionalidades de uma peça ou equipamento.
“O impacto nas vendas da Eletrofrigor no e-commerce não cresceu tanto quanto eu esperava. É verdade que muitas vezes a pessoa não clica no link e realiza a compra on-line, mas acaba chegando à loja por meio do site, por que encontrou o produto que precisava. Investir no ambiente de vendas on-line funciona como um cartão de visitas. afinal, ninguém hoje pode estar fora da internet”, explica a presidente da Eletrofrigor, Graciele Davince Pereira.
A ideia da empresária é continuar aprimorando o site da loja para atingir cada vez mais pessoas e converter visitas em vendas. “O volume de acessos aumentou dez vezes nos últimos dois anos, especialmente pelo smartphone, em detrimento do uso do desktop”, salienta.
Sediada em Niterói e com uma filial em São Gonçalo, ambas no estado do Rio de Janeiro, a Eletrofrigor tem desenvolvido sua presença também nas redes sociais. No Facebook, a página da loja já foi curtida 8 mil vezes e possui um pouco mais do que isso em número de seguidores.
A empresa também mantém um blog constantemente atualizado com matérias e vídeos, alimentado por uma equipe técnica que busca, por exemplo, ajudar os profissionais do setor a se capacitar ainda mais. “Quando o técnico é qualificado, o cliente percebe essa diferença e paga mais pelo agregado no serviço”, complementa Graciele.
Vanguarda
Primeira loja física a figurar, em 1999, no ambiente on-line de peças para refrigeração, ar-condicionado e eletrodomésticos no Brasil, a carioca Polipartes já passou por cinco plataformas de e-commerce e hoje investe em televendas e nos principais marketplaces.
“Gosto muito de tecnologia e sempre estudei o e-commerce, ajudando os sistemas por onde passamos. A Polipartes foi copiada em toda a sua trajetória, por meio de suas imagens, textos, estratégia comercial, sistemas, leiautes, slogans e nomes”, explica o presidente Eduardo Silva.
“O e-commerce no Brasil foi muito desenvolvido por causa dos marketplaces, pois com poucos recursos, num curto prazo e sem obrigações fiscais e tributárias, o pequeno enxergou um mercado gigantesco à sua frente. Isso não é bom, porque não contribui com a formalização do mercado em geral. Hoje vivemos num desafio de altos custos de ferramentas e mão de obra, além dos operacionais, como logística e atendimento”, argumenta.
O futuro do mercado do frio na internet será um grande desafio para as empresas do setor. “O concorrente do revendedor será seu próprio fornecedor, o omnicanal requererá muita inteligência, e as ferramentas científicas para concorrer com os grandes serão muito caras”, acredita o presidente da Polipartes, cuja página no Facebook já ultrapassou cinco mil curtidas e seguidores.
Mundo digital
Vale ressaltar que um bom site é o início para a empresa se destacar na internet. A web está repleta de ferramentas que podem ajudar no desenvolvimento de um ambiente de vendas para o mundo digital.
“Mas é preciso ser muito bem projetado para falar com o seu cliente. Mesmo que você não tenha uma loja virtual, ainda sim é possível criar canais de ofertas e oportunidades de negócio no seu site. Em conjunto com ações em redes sociais, é possível até gerar vendas”, comenta Genivaldo Oliveira de Jesus, graduado em estatística e pós-graduado em comunicação e hipermídia.
Especialista em soluções digitais e fundador da Welcome Digital, empresa de soluções web, ele elabora e executa projetos on-line para vários players do mercado do frio, com destaque para JetFrio, SR Frio e Brasmak.