Mercado do frio busca diminuir perdas na conservação de alimentos
Fundamental para um país de clima tropical como o nosso, a correta conservação de alimentos perecíveis – do fabricante ou produtor, passando pelo distribuidor e transporte até o ponto de venda – tem sido um desafio grandioso para o mercado do frio.
Este gargalo promove um dos maiores desperdícios do mundo, com o Brasil jogando fora 1,3 bilhão de toneladas ao ano – um terço dos alimentos produzidos –, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A partir desta rápida análise, conclui-se que a redução dessas enormes perdas econômicas geradas pelo desperdício de alimentos perecíveis no país pode ser obtida com a integração dos elos produtivos por meio de uma rede frigorífica bem estruturada.
“Quanto mais adequado for o transporte, armazenamento e manuseio, da produção à venda, melhor será a qualidade do alimento e sua vida de prateleira. Isso permitiria ao consumidor ser mais atraído para a compra de produtos hortifruti pela melhor apresentação desses produtos em mercados, feiras ou sacolões, gerando um consumo maior e refletindo em melhores aspectos nutricionais da alimentação. Com isso, diminuiríamos o desperdício, algo inaceitável para o mundo de hoje”, comenta Roberto Hira, coordenador de planejamento de vendas e operações da Thermo King no Brasil.
A demanda é tão complexa que passa, primeiramente, na opinião do executivo, por um rearranjo de nossas legislações tributárias, trabalhistas e previdenciárias e da infraestrutura logística do país.
Este segundo item é formado por malhas rodoviária, ferroviária e de navegação de cabotagem sucateadas e subaproveitadas, além de uma frota de caminhões, que tem, em média, 18 anos de idade (motoristas autônomos) e 10,2 anos (transportadoras), segundo pesquisa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
“Temos de nos organizar melhor para diminuir o custo dos produtos para o consumidor, a fim de melhorar a capacidade de investimento dos transportadores. Por exemplo, a chamada ‘lei do motorista’ estipula as horas trabalhadas, porém a estrutura nas rodovias dificulta o planejamento das paradas do caminhão para cumprimento desta lei. Outro fator estrutural são as condições das rodovias, que impactam diretamente no custo do transporte por conta de acidentes, baixa velocidade média, seguros de carga”, reforça Hira.
Segundo ele, no aspecto operacional, é fundamental capacitar todas as operações da cadeia do frio, desde quem carrega, transporta, recebe e vende até a conscientização do consumidor.
“Em uma cadeia do frio perfeita, o carregamento é feito de forma adequada com embalagem correta, o transportador configura a unidade de refrigeração para manter a temperatura ideal, quem armazena mantém em condições adequadas e o consumidor mantém ao máximo os cuidados devidos para que o produto esteja em boas condições até o consumo”, idealiza.
O diretor de marketing de poliuretanos da Dow, Marcelo Fiszner, reforça esta tese ao ponderar que os processos de deterioração dos alimentos ao longo da cadeia estão diretamente relacionados à temperatura ambiente do produto.
“Os problemas se concentram em duas etapas importantes: durante o transporte, com uma refrigeração que poderia ser melhor controlada no decorrer de todo o percurso, e nos diversos meios de transporte utilizados, para não gerar perdas de calor; e durante o armazenamento, com câmaras frias inadequadas que não utilizam os melhores isolantes do mercado ou não estão na temperatura correta. É essencial que o produto mantenha a mesma temperatura ao sair do setor de armazenagem, ser transportado e depois armazenado no seu destino final”, salienta.
Inovações
Pródigo em apresentar soluções inovadoras, o HVAC-R tem buscado incessantemente ferramentas contra o desperdício, seja de alimentos, seja de energia elétrica. Tendência no mercado, a interação entre o equipamento e dados on-line tem se mostrado eficiente para a preservação de alimentos.
A Thermo King, por exemplo, tem investido na chamada Internet das Coisas, que permite a verificação on-line das condições em que a carga está sendo transportada, de modo que o problema possa ser identificado no momento em que ocorre, permitindo a manutenção ou ajuste, evitando assim a perda dos produtos.
“Além disso, a tecnologia de monitoração da Thermo King é a garantia de que a carga está sendo mantida dentro da temperatura acordada, para todos os envolvidos na operação. Além da tecnologia da informação, temos avançado nas questões ambientais, desenvolvendo sistemas e serviços e atendendo o mercado brasileiro com equipamentos que consomem cada vez menos combustível e que atendem às exigências de emissões da Europa e Estados Unidos”, exemplifica Hira.
Paralelamente, o mercado de isolantes também tem se beneficiado com a maior consciência dos players, como gestores e operadores logísticos, sobre a importância de se combater o desperdício.
“A Dow procura incentivar os clientes a utilizar os melhores materiais isolantes. Temos produtos para isolamento para as diferentes necessidades do mercado, como os sistemas de poliuretano Voracor e Voratherm, que oferecem excelente isolamento, são estruturalmente sólidos e resistentes ao fogo e proporcionam leveza aos painéis de isolamento”, afirma Fiszner.
Os produtos podem ser utilizados em painéis para máquinas de refrigerantes e grandes eletrodomésticos, veículos e tanques refrigerados, além de paredes e painéis para telhados. As propriedades finais da espuma rígida garantem o preenchimento total das cavidades, bem como evitam o desperdício de energia.
A companhia também leva ao mercado o Pascal Pro, sistema e processo de poliuretano que aumenta significativamente o desempenho da eficiência energética nas aplicações da cadeia fria profissional, sem afetar negativamente o design e melhorando substancialmente a produtividade.
“As formulações de poliuretano são desenvolvidas sob medida e o sistema de processos de injeção sob pressão reduzida fazem com que o enchimento da cavidade de isolamento do painel seja mais eficaz e consistente”, explica o executivo da Dow.
Expectativas para 2018
O Brasil sempre foi um mercado promissor para a cadeia produtiva do frio, e as expectativas têm crescido, visto que o País já começou a se recuperar. Tanto a Thermo King quanto a Dow esperam um 2018 positivo.
“O mercado brasileiro é um grande desafio, pois requer experiência para entender as necessidades das diferentes regiões e operações logísticas, e a responsabilidade de atendê-las com eficiência, ética e transparência. Temos, há alguns anos, um grande foco no atendimento prestado por nossos representantes ao longo do país, pois entendemos que nosso trabalho não se encerra após a venda”, disse Hira, da Thermo King.
Já Marcelo Fiszner, da Dow, acredita que os investimentos em infraestrutura voltarão, e em 2018 a cadeia do frio para alimentos também sairá ganhando, “pois estimamos que o volume de perdas tende a diminuir”, acrescenta.
“Isso porque o segmento de transporte refrigerado tem como principal desafio a falta de infraestrutura nas rodovias. Problemas desde falta de qualidade do asfalto à segurança nas rodovias impactam os resultados. Atualmente, apenas 15% das vias do nosso país são pavimentadas. Por isso, melhorar a infraestrutura das estradas de um território com dimensões continentais como o nosso é essencial”, reforça.