Hegemonia inabalável
O mercado brasileiro de ar-condicionado já viveu momentos bem melhores. Até 2014, a produção crescia de forma contínua, mas, infelizmente, essa trajetória foi interrompida abruptamente pela forte recessão econômica que abalou o País.
Sem nenhuma exceção, os agentes do setor – indústria, comércio e, principalmente, prestadores de serviços – sentiram os efeitos da crise. Como resultado desse cenário, a produção despencou, o varejo vendeu pouco e os técnicos fizeram menos instalações.
Dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) revelam que as empresas instaladas no polo industrial amazonense produziram 386.186 aparelhos de janela e 2.063.266 splits no ano passado.
Entretanto, já houve tempos em que as indústrias locais chegavam a fabricar mais de três milhões de unidades por ano e batiam recordes sucessivos de produção.
Em 2015 e 2016, as vendas de condicionadores de ar amargaram uma queda acumulada de 50%, em relação a 2014, segundo estimativas da Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação (Asbrav).
De acordo com a entidade, os splits estão instalados em 72% das residências e empreendimentos climatizados no Brasil, mostrando que sua hegemonia é cada vez mais forte e inabalável.
Esta é, contudo, uma realidade bem diferente daquela do final dos anos 1990, quando os aparelhos de janela dominavam a preferência dos consumidores, sendo responsáveis por 94% das instalações existentes.
Devido a seus recursos mais modernos, os splits oferecem maior capacidade de refrigeração, menor nível ruído, termostatos inteligentes e inversores de frequência, dispositivos que ajudam a economizar energia.
Enfim, o modelo ajudou a impulsionar o consumo de ar-condicionado, especialmente em 2012 e 2013, quando a situação econômica do País era bem melhor.
“Naqueles anos mais prósperos, o perfil do público consumidor dos aparelhos de ar condicionado ganhou o acréscimo das pessoas que ascenderam socialmente e aderiram ao produto, especialmente nas regiões mais quentes”, lembra o presidente da Asbrav, Eduardo Hugo Müller.
Como os sistemas de climatização passaram a ser considerados um artigo essencial para os brasileiros – até mesmo em cidades mais frias, por causa da função de aquecimento –, a expectativa da associação é que o mercado ganhe novo alento nos próximos meses.
Tendências e expectativas
Segundo o último estudo de inteligência de mercado da BSRIA, a indústria global de climatização encolheu 1% em 2016, movimentando US$ 92,6 bilhões. Em 2015, a queda foi de 5%. O último bom resultado foi registrado em 2014, quando o mercado cresceu 7%.
Na avaliação da consultoria britânica, o resultado de 2016 não foi tão ruim quanto inicialmente se esperava. A queda é atribuída, principalmente, à recuperação demorada do mercado chinês. O Brasil e a Arábia Saudita também contribuíram bastante para esse resultado.
De acordo com o estudo, as contínuas pressões sobre a economia brasileira fizeram com que os mercados de ar-condicionado fossem prejudicados, uma vez que o País vive a pior recessão de sua história, agravada por instabilidades no campo político.
Independentemente do cenário por ora não muito animador, o setor continua a apostar no desenvolvimento progressivo de novas tecnologias. Mundo afora, a adoção de várias políticas regulatórias acelera a demanda por sistemas eficientes em termos energéticos, tecnologicamente avançados e ecológicos.
O estudo revela que os equipamentos do tipo split representam 80% do mercado – de longe, o maior segmento do mercado global, avaliado em US$ 70 bilhões em 2016. Em termos de valor, os multi-splits representam 3% e as máquinas VRF abrangem 14% do mercado de climatização.
No ano passado, a indústria de splits produziu 100 milhões de unidades, um recuo de 1% em relação a 2015. A China, o maior mercado do mundo, registrou uma queda de 5%, restringindo o crescimento global.
Os mercados que mais cresceram foram a Coreia do Sul (35%), que se beneficiou de um verão quente, o Vietnã (16%), a Índia (11%) e os EUA (6%).
A aceitação dos aparelhos dotados de inversores de frequência acelerou em muitos mercados em 2016. De acordo com a BSRIA, o mercado europeu já é quase 100% inverter, com exceção da Rússia, onde a legislação não encoraja a adoção dessa tecnologia e as difíceis condições econômicas do país favorecem as vendas de produtos de baixo custo.
“O ano de 2016 foi surpreendente, tanto para o segmento de multi-splits quanto para o mercado de VRF, que verificaram taxas de crescimento de dois dígitos”, diz a consultora sênior Saziye Dickson.
“Os três maiores mercados de multi-splits – Itália, Coreia do Sul e EUA – registraram, respectivamente, expansão de 49%, 2% e 27%”, informa.
Segundo a especialista, o mercado de VRF é o único “à prova de recessão”. “A adaptabilidade do produto em novos projetos e retrofits para aplicações residenciais e comerciais leves provou ser fundamental nos últimos anos, assim como a automação embarcada nesses equipamentos”, revela.
A BSRIA calcula que os mercados de splits e sistemas VRF cresçam a uma taxa composta anual de 2% em termos de volume, entre 2015 e 2021.
“Um aumento na penetração do ar-condicionado, especialmente nos países em desenvolvimento, combinado com a recuperação econômica na Europa, será o principal motor desse crescimento”, antecipa Dickson.
Para o gerente de produto da Midea Carrier, Nikolas Corbacho, o Brasil é um terreno fértil para o setor, sendo um dos maiores mercados mundiais no segmento residencial e o maior mercado de splits do tipo hi-wall das Américas.
“Continuamos confiantes em relação à recuperação econômica”, diz o gestor, lembrando que as indústrias têm a seu favor o baixo nível de penetração do eletrodoméstico nos lares do País.
“Acreditamos que o Brasil, apesar das recentes dificuldades nos cenários político e econômico, também irá seguir uma trajetória de recuperação e aumento de demanda”, reforça o diretor de soluções ductless da subsidiária brasileira da Trane, Matheus Lemes.
Novas tecnologias
Neste ano, a companhia do grupo Ingersoll Rand está introduzindo uma série de novos produtos no mercado brasileiro. “São muitas novidades”, observa o executivo de vendas da filial, Rafael Dutra.
“De maneira geral, podemos citar o novo split hi-wall com R410A, nas capacidades de 9 mil a 36 mil BTU/h e compressor de velocidade fixa com alta eficiência energética. Temos também a nova linha hi-wall com compressor inverter e capacidades variando de 9 mil a 24 mil BTU/h, com certificação AHRI e eficiência SEER 16”, informa.
Em breve, a linha inverter será capaz de se conectar à internet via rede wi-fi. “Outro lançamento para este ano é a atualização da nossa linha U-Match, na qual o usuário, com o mesmo modelo de condensadora, pode escolher ser irá instalar uma evaporadora cassete, piso teto ou duto, promovendo, assim, facilidade para manutenção e disponibilidade de peças”, acrescenta.
Por fim, a empresa está lançando sua linha de multi-splits inverter SEER 16. “Estamos promovendo um conceito mais amplo de eficiência energética, que reflete melhor o comportamento do equipamento quando em uso pelo consumidor final”, diz.
“De forma resumida, o SEER reflete bem o consumo de energia do equipamento em diferentes temperaturas, não somente em um ponto específico de operação, como a classificação de eficiência energética atualmente divulgada. Sistemas de classificação mais completos, como a Ashrae 90.1 e a EuroVent, usam o SEER para estabelecer comparações de equipamentos de até 54 mil BTU/h”, explica.
Em março, a LG agregou mais uma opção ao seu portfólio de aparelhos residenciais. Trata-se do Smart Inverter 31.000 BTU/h. Segundo a empresa, o produto é adequado às necessidades dos consumidores que buscam conforto térmico para grandes ambientes, atendendo dessa forma casas espaçosas e pequenos comércios.
“O modelo possui design arrojado e opera tanto refrigerando quanto aquecendo o ambiente. Além da tecnologia Smart Inverter, o aparelho é ultrassilencioso e conta com jato de ar que atinge até 20 metros de distância, o que potencializa a eficiência do produto”, diz o especialista de ar-condicionado da LG Electronics do Brasil, Carlos Estevam.
Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), a multinacional sul-coreana, primeira indústria a produzir aparelhos com a tecnologia inverter no Brasil, é líder de mercado nesta categoria.
Em geral, os sistemas de climatização desse tipo chegam a consumir até 60% menos energia que os aparelhos equipados com compressores de velocidade fixa.
“Além disso, os equipamentos inverter proporcionam melhor conforto térmico, pois a temperatura do ar de saída da unidade evaporadora é balanceada de acordo com a carga térmica do ambiente climatizado”, enfatiza a gerente de marketing da Electrolux, Silvia Tamai.
Os últimos splits de 9 mil e 12 mil BTU/h lançados pela empresa sueca no País possuem tecnologia inverter desenvolvida por seus engenheiros no Brasil, unidade externa mais compacta e de fácil instalação e controle remoto por wi-fi.
Outra companhia que tem introduzido sistemas inverter no País é a japonesa Daikin. “São produtos de alta eficiência energética, baixo consumo de energia e compressor Neodymium de última geração”, informa o gerente de marketing da subsidiária brasileira, Nilson Murayama.
“Por serem equipamentos robustos e de fácil instalação, eles proporcionam segurança para o instalador e oferecem o melhor equipamento para o cliente”, completa o gestor.
Quem também está embarcando na onda dos aparelhos inverter é a Agratto, que lançará modelos de 9, 12 e 18 mil BTU/h no segundo semestre do ano com a tecnologia. A empresa brasileira também vai lançar cortinas de ar e está finalizando o desenvolvimento de splits piso teto.
“Entramos no mercado de condicionadores de ar há pouco tempo e fomos muito bem recebidos. Por isso, vamos investir em novas tecnologias para lançar cada vez mais produtos com ótima qualidade e eficiência energética, e tudo por um preço adequado para o consumidor”, garante o gerente de marketing da companhia, Moisés Botelho.
Embora ainda seja uma marca pequena, que chegou ao mercado em 2015, a Agratto não se deixa intimidar pelos gigantes do setor. “Temos números que comprovam que, mesmo em meio à crise, fomos uma das empresas que mais cresceram nesse período”, acrescenta.
Este ano, a japonesa Fujitsu lançará no mercado brasileiro evaporadoras de 18, 24 e 27 mil BTU/h, cuja produção também será nacionalizada.
Segundo a analista comercial Priscila Ferreira Rocha, as unidades possuem novo design, trazendo elegância para espaços mais amplos, sem deixar de lado a eficiência e economia dos produtos inverter da marca.
“Todos os modelos novos possuem classificação energética A pelo Inmetro”, ressalta.
Adeus, vento frio
A eficácia da tecnologia Wind-Free, desenvolvida pela Samsung, promete revolucionar o mercado mundial de condicionadores de ar. Lançada na Coreia do Sul em novembro do ano passado, a inovação foi um dos grandes destaques da marca na última AHR, mostra internacional da indústria de climatização e refrigeração promovida nos EUA.
Segundo a empresa, o split AR9500M proporciona um clima interior mais fresco e ótima eficiência energética, evitando o desconforto térmico causado pelo jato de ar frio lançado diretamente sobre as pessoas, dispersando suavemente o ar climatizado através de 21 mil micro-orifícios localizados na parte frontal do evaporador.
A companhia revela que o modo Wind-Free distribui o ar condicionado a uma velocidade inferior a 0,15 m/s e reduz em até 72% o consumo de energia, em relação ao modo de resfriamento rápido do aparelho.
Isso ocorre em função do novo Digital Inverter 8-Pole e da tecnologia PowerBoost. O motor de oito polos – que tem oito ímãs, em vez dos habituais quatro – gera menos flutuações de torque, o que reduz a energia total necessária para seu funcionamento. Já o PowerBoost encurta o tempo necessário para o compressor atingir sua velocidade máxima.
Outra grande vantagem do aparelho é a comunicação wi-fi, que permite ao usuário regular a temperatura remotamente, ajustar as configurações, receber atualizações em tempo real sobre o desempenho e o consumo diário de energia e solucionar problemas quando o reparo é necessário.
Segundo o gerente de produto da Samsung no País, Thiago Dias Arbulu, a novidade será introduzida em breve no mercado brasileiro. “Esta linha também conta com o maior nível de filtragem da categoria, o que garante um ar mais puro, além do conforto térmico desejado”, enfatiza.
Comércio eletrônico planeja faturar R$ 1 bilhão até 2020
A CentralAr.com alcançou 90% das metas propostas no âmbito organizacional em 2016, o que resultou no pagamento de bônus a todos os seus colaboradores. Além disso, a empresa registrou um crescimento de 0,9% nas vendas e redução de 0,5% nos custos, após a implantação de um programa de excelência em gestão.
Em função desse crescimento sustentável, a companhia já sonha faturar R$ 1 bilhão até 2020. “Temos a expectativa de retomada do mercado em relação a 2015, e de um consequente reflexo em nosso desempenho já em 2017”, diz o diretor executivo da companhia, Fernando de Castro da Silveira.
Atualmente, a empresa está posicionada entre os 15 maiores e-commerces em faturamento no Brasil, com R$ 300 milhões registrados em 2015, e possui 9% de market share no pulverizado varejo de ar-condicionado brasileiro, com mais de 170 mil produtos comercializados ao ano e média mensal de um milhão de visitas ao site.
Fusão mexe com o varejo de ar-condicionado
A Poloar e a STR decidiram unir suas forças. Segundo os envolvidos na operação, o negócio entre as duas empresas de origem familiar – da mesma família, aliás – resultou na formação do maior grupo distribuidor de ar-condicionado do País.
O anúncio sobre esta fusão foi feito pelo empresário Sidney Tunda, da Poloar, em 11 de maio, num vídeo postado nas redes sociais.
“A finalidade dessa junção é fortalecer nosso grupo, ou seja, nos tornar cada vez mais fortes”, explicou o empreendedor, destacando que a fusão será “bem positiva” para o setor.
A notícia sobre a união entre as duas gigantes do varejo foi bem recebida pelas indústrias. “Também enxergarmos esta fusão de maneira muito positiva, pois o fortalecimento do mercado vai proporcionar aos consumidores um atendimento com maior profissionalismo e qualidade”, avaliou o especialista de ar-condicionado da LG, Carlos Estevam.
“A Daikin Brasil parabeniza a Poloar e a STR pela fusão e deseja muito sucesso para ambas nessa nova fase”, ressaltou o gerente de marketing da multinacional japonesa no País, Nilson Murayama.
Para a Agratto, a junção das duas companhias deve consolidá-las ainda mais no setor, uma vez que ambas são bem-conceituadas e reconhecidas. “Acreditamos, porém, que o mercado nacional tem espaço para todas as empresas que fazem um trabalho honesto e de qualidade”, disse o gerente de marketing da indústria brasileira, Moisés Botelho.