Aquecimento Solar: Mercado morno, porém com esperanças acesas

A desaceleração lenta e gradual da construção civil em 2011 refletiu-se diretamente no desempenho da indústria brasileira de coletores termossolares. Contudo, as obras da segunda fase do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), da Copa do Mundo e das Olimpíadas impulsionarão o segmento nos próximos anos, avaliam os fabricantes ouvidos pela Revista do Frio.

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Independentemente de seus altos e baixos, a tecnologia que reduz o consumo de eletricidade e as emissões de dióxido de carbono dos empreendimentos residenciais, comerciais e industriais ainda não decolou no Brasil. Segundo o Instituto Vitae Civilis, o País possui apenas 1,2 metro quadrado de placas solares para cada cem habitantes, uma média bem inferior à registrada em países com índices menores de insolação, como Áustria, Alemanha e Dinamarca, por exemplo.

O montante de 7,3 milhões de m2 de coletores garante ao Brasil o sétimo lugar no ranking da AIE (Agência Internacional de Energia). Atualmente, esse rol é liderado pela China, que possui impressionantes 145 milhões de m2 instalados.

Mas, graças à elevada radiação solar em suas cinco regiões, o País poderá ser alçado ao status de potência na geração de energia solar térmica ao longo dos próximos anos, fato que deixa a indústria brasileira otimista.

Para aproveitar esse potencial e reduzir a participação da hidroeletricidade e fontes fósseis na matriz energética brasileira, os especialistas apontam a importância dos instrumentos de estímulo ao aquecimento solar, caso dos mecanis-mos de financiamento para a aquisição dessa tecnologia.

“Como benefício direto de sua utilização, encontra-se a economia de até 80% no uso de energia para aquecer a água, representando redução de até 30% na conta de eletricidade de uma família de classe média, e de mais de 50% em famílias de baixa renda”, justifica o engenheiro Marcelo Mesquita, da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventila-ção e Aquecimento).

“Outro grande benefício é o ambiental, pois cada metro quadrado de coletor instalado e utilizado durante um ano evita, por exemplo, a inundação de 56 metros quadrados de áreas férteis para a produção da mesma quantidade de energia por hidrelétricas”, acrescenta o consultor, que coordena o Dasol (Departamento de Aquecimento Solar) da entidade.

No campo da energia solar, ainda há duas frentes latentes — a geração de eletricidade fotovoltaica e o pré-aquecimento de água para processos industriais — a serem exploradas pelas empresas instaladas no Brasil.

“Para crescer nesses nichos mais específicos, entretanto, as companhias brasileiras terão de buscar parceiros no exterior”, observa o gerente comercial da Transsen, Geovane Gajardoni.

Do ponto de vista da certificação, o programa voluntário de etiquetagem do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) tem garantido a qualidade e a isonomia competitiva entre os fabricantes nacionais.

“Gostaríamos, no entanto, que todos os equipamentos disponíveis no Brasil fossem testados e aprovados pelo órgão. Isso protegeria o fornecedor idôneo e nivelaria o mercado por cima”, sugere o gestor.

Estimativas extraoficiais indicam que os cerca de 200 fabricantes nacio-nais de coletores térmicos faturam, aproximadamente, R$ 500 milhões todos os anos. Por conta do “Minha Casa, Minha Vida” e de outros programas de habitação de interesse social, o setor vem desenvolvendo soluções específicas para esse segmen-to, embora nem todas as companhias forneçam tecnologias voltadas à baixa renda.

Atualmente, o fornecimento para projetos populares representa 15% do faturamento da Jelly Fish, que ampliou recentemente sua linha de coletores para piscinas.

“Em 2011, tivemos uma retração de 20% em nossas vendas. Porém, já estamos com superávit de 25% em relação ao ano passado. Até dezembro, nossa expectativa é crescer 40%”, informa o engenheiro Jamil Hussni Jr., gerente comercial da marca produzida pela empresa pertencente à Indústrias Tosi.

Além da obrigatoriedade do uso de aquecedores solares imposta pelos governos federal e estaduais em seus programas de habitação popular, as leis de incentivo ao aquecimento solar aprovadas em diversos municípios também alavancam o setor.

“O preço da energia elétrica no Brasil, um dos mais altos do mundo, está tornando mais curto o tempo de retorno do investimento nesse tipo de produto e aumentando o conhecimento técnico acerca dessa tecnologia”, lembra o engenheiro José Raphael Bicas Franco, diretor técnico da Soletrol, ressaltando que a elevação do custo das principais matérias-primas e a escassez de mão de obra para instalação, porém, são os principais entraves a preocupar o setor.

Contudo, esses aspectos negativos não impediram a empresa paulista de colocar no mercado sua linha de coletores solares com superfície seletiva, cuja maior vantagem competitiva é o melhor desempenho térmico. “Estamos na fase final do seu desenvolvimento para lançarmos, em breve, esse produto”, adianta o executivo.

O crescimento abaixo do esperado em 2011 também não desanimou a Komeco, que lançou duas linhas de placas coletoras no mercado nacional: a Premium, com aletas soldadas por ultrassom em cobre, e a City, um produto mais robusto.

“A crescente preocupação com o clima do planeta tem fortalecido, de forma consistente e sustentável, todo o nosso setor”, arremata o gerente comercial da linha de aquecedores solar da indústria catarinense, Alander Alves Brandão.