Crescimento na medida
As medidas tomadas pelo governo federal para proteger a indústria nacional já estão repercutindo positivamente no mercado de compressores. Após o aumento do imposto de importação dos condicionadores de ar residenciais, os fabricantes de componentes destinados a este segmento viram a concorrência internacional cair significativamente nos dois últimos meses.
Mas, longe de ficar restrito apenas a um setor, o cenário favorável tem abrangido as áreas de refrigeração comercial, industrial e doméstica, impulsionadas pelo bom momento da economia brasileira e as expectativas animadoras em relação aos grandes eventos que o País receberá nos próximos anos.
Quem duvida do forte vigor destes nichos, basta observar o otimismo das fabricantes de compressores em relação à situação atual e ao que deve vir pela frente, para mudar rapidamente de ideia.
“Estimamos um crescimento de 3 a 4 % para aplicação comercial leve, se comparado ao ano de 2010. O mercado se mantém aquecido, impulsionado pelos fabricantes de refrigerantes, cervejas e sorvetes, além de contar com o incentivo de redução do IPI (de 15% para 0% ) no País para estes produtos, prorrogada até 31 de dezembro de 2012. Alguns novos fabricantes, inclusive, estão se instalando no Brasil, motivados por uma expectativa de crescimento”, analisa Erivan Piazera, diretor de distribuição e pós-venda da Embraco.
O panorama é praticamente o mesmo na Elgin, que produz e comercializa compressores herméticos – e suas respectivas unidades condensadoras – do tipo recíproco para aplicação em instalações como balcões e expositores frigoríficos, resfriadores de líquido e câmaras frigoríficas.
“O mercado de refrigeração comercial está apresentando crescimento, pois a redução na perda de alimentos tem se tornado cada vez mais uma preocupação desse setor, bem como o crescimento devido aos investimentos ligados à ampliação de rede hoteleira, restaurantes etc. Verifica-se um crescimento importante no mercado de resfriadores de leite”, exemplifica Omar Martins Aguilar, gerente comercial da divisão de refrigeração da empresa.
Mais comemoração
Na Danfoss, é o ar condicionado o principal responsável pelos bons resultados que vêm sendo obtidos neste ano no campo dos compressores. Na avaliação do diretor de vendas da divisão de refrigeração da multinacional de origem dinamarquesa, Peter Young, uma série de fatores tem pesado para essa expansão.
A começar pelo aumento da renda do brasileiro, passando pelo crescimento da demanda interna com as novas construções em preparação à Copa do Mundo de 2014 e, claro, a preocupação com a economia de energia elétrica.
Para nós está boa a demanda de ar-condicionado comercial e industrial devido às construções de hotéis, aeroportos e shoppings em geral. As aplicações mais específicas para bancos e supermercados também vêm na onda de crescimento. Esse tipo de aplicação mais especializada tem maior exigência em termos de precisão, controle de capacidade e necessita de mais tecnologia, o que acaba sendo interessante para nós”, explica o executivo.
Experiência semelhante tem vivido a Marubeni, agente e distribuidor no Brasil da Shanghai Hitachi Electrical, que fabrica compressores rotativos de 3.000 a 65.000 BTU aplicados em ar condicionado residencial e light comercial.
O diretor adjunto da empresa, Jose Luis Feier, identifica uma forte tendência para o aumento da comercialização dos compressores rotativos destinados aos condicionadores de ar.
“Com o recente aumento do imposto de importação estabelecido pelo governo brasileiro para aparelhos acabados e em CKD e SKD, muitas indústrias locais estão pensando em substituir as importações por unidades fabricadas no Brasil”, salienta.
“Durante a última Febrava, houve muitos anúncios de fabricantes estrangeiros de ar condicionado, empresas que ainda não têm fábrica no Brasil, dizendo que vão se apressar em produzir aqui em reconhecimento à importância do mercado brasileiro”, complementa.
Novos fluidos
O desenvolvimento do setor não se deve apenas ao aumento da fabricação e comercialização de compressores, mas também – e principalmente – ao surgimento de novas tecnologias e fluidos refrigerantes cada vez mais sustentáveis.
Antenadas a tudo isso, as empresas se dizem preparadas para as constantes evoluções nestes aspectos e prometem ainda mais novidades. É o caso da Bitzer, tradicional indústria de origem alemã que produz compressores reciprocantes semi-herméticos para aplicações em refrigeração comercial, industrial de médio porte e ar condicionado.
“Por sermos uma empresa multinacional e presente em todos os continentes, estamos preparados com tecnologia de ponta para atender a necessidade de cada região, quer seja no âmbito de retrofit, como também sistemas capazes de operar com os novos refrigerantes e fluidos naturais, com aumento comprovado de eficiência em relação aos atuais”, assegura Eduardo de Almeida, gerente industrial e de marketing da companhia.
“Também temos a consciência de que, com a vinda destes novos refrigerantes, temos de preparar nossos profissionais para responder as necessidades que surgirão. Com esta visão, investimos nos últimos três anos em um Centro de Treinamento e Pesquisa para novos fluidos, incluindo o CO2, único nas Américas que já treinou mais de 1500 profissionais do Brasil e do exterior”, completa o profissional.
A Tecumseh Europe, que se diz vanguardista no uso de fluidos ambientalmente corretos, desde quando começou a utilizar unidades condensadores com o R-134a, em 1995, também comemora os resultados deste tipo de estratégia e garante estar sempre de olho nas novidades sobre este aspecto primordial.
“Aumentamos nossas vendas com os fluidos diferenciados ecológicos e não paramos mais. Estamos nos preparando com os novos fluidos, a partir de exaustivos testes de eficiência em laboratório e campo”, afirma o agente Brasil-Bolívia da empresa, Vincenzo Fiore Savino.
Do ponto de vista de Erivan Piazera, da Embraco, as maiores mudanças vêm acontecendo na refrigeração comercial, “em que os refrigerantes HFC podem migrar para diversos fluidos alternativos, como o Propano (R290), CO2 (R744) e, mais recentemente, o R1234YF. Dispomos de compressores para uso com estes três novos refrigerantes”, destaca.
Segundo o executivo, atualmente a sua empresa lidera o mercado mundial de freezers para sorvete equipados de componentes compatíveis com o propano, por meio dos modelos das famílias EM, F, NE e NT.
Ele ressalta ainda que a escolha do refrigerante mais adequado tem dependido da filosofia de cada cliente.
“Alguns estão mais receptivos ao uso de refrigerantes inflamáveis, como o R290, ou com pouca flamabilidade, como o R1234YF. Outros já preferem um alternativo que não seja inflamável, caso do CO2”, frisa.
Existe refrigerante ideal?
Peter Young, da Danfoss, enxerga a falta de padrão internacional em relação ao fluido ideal destinado a cada tipo de operação. Na Europa, por exemplo, ele vê como tendência clara o uso do CO2 e do carbono em aplicações de baixa temperatura, enquanto os chineses fazem pressão para que o ar-condicionado use o R32. Já no Brasil, assim como nos Estados Unidos, o R-410A tem surgido como principal solução ecológica.
“Parece que hoje em dia cada um está querendo puxar a tecnologia para o seu lado e não há uma solução perfeita. Não sei se tem a ver com cultura, pois em países vizinhos como Argentina e Colômbia é usado o R-404A, mas isso deve acontecer por questões comerciais. O grande movedor desse mercado dos refrigerantes é o preço”, observa. “A Danfoss está proibida de realizar investimento em qualquer produto dirigido exclusivamente para o uso do R22”, acrescenta.
Aqui no nosso país, o grande problema envolvendo essa questão é a falta de estímulo por parte do governo federal, avalia Jose Feier, da Marubeni. Para ele, deveria haver incentivos fiscais para motivar os fabricantes de ar condicionado e consumidores finais a optarem pelo R-410A.
Na sua avaliação, ainda é necessário ampliar a conscientização ambiental em todas as pontas da cadeia se quisermos, de fato, ser um exemplo quanto à preocupação ecológica neste setor.
“Se esta ação não vier do governo, dificilmente virá dos fabricantes de ar condicionado, que tendem a continuar a fabricando produtos com R22, por questões de preço”, aponta.
Outros gargalos
Além dos conhecidos problemas fiscais, que afetam praticamente todos os empreendimentos brasileiros, o segmento de compressores tem enfrentado outros obstáculos.
Um deles é a falta de mão de obra qualificada na instalação de sistemas de frio. Até mesmo a Danfoss, cujo histórico no mercado dispensa comentários, sofre com isso.
“Quando o cliente instala nosso produto em um equipamento fechado é muito difícil acontecer alguma falha. Porém, quando é uma instalação em campo, em que o mecânico de refrigeração compra o compressor em uma loja e vai fazer o trabalho, infelizmente o nível de qualidade desse procedimento deixa muito a desejar”, salienta Peter Young.
Como a própria legislação acaba protegendo o instalador, frequentemente a empresa tem de trocar o equipamento, acarretando assim um custo maior ao consumidor final.
Para combater isso, a Danfoss tem contado com programas do Senai em São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Goiânia e Recife, por meio de cursos de boas práticas de refrigeração de 40 horas, ministrados em cinco dias.
“Isso é um problema no Brasil todo, devido à nossa mania de pechinchar o preço. Mas já vi situações similares em outros países. Pode ser que em médio e longo prazos essa situação mude. Antigamente se concertava alguns aparelhos, hoje é muito mais fácil e barato se trocar por um novo, caso das geladeiras, por exemplo”, comenta o diretor de vendas da multinacional dinamarquesa.
Lançamentos
De qualquer forma, os empecilhos não têm chegado nem perto de impedir o desenvolvimento de novas tecnologias e equipamentos cada vez mais sofisticados.
A Tecumseh do Brasil, por exemplo, acaba de lançar o compressor TA, para aplicações globais em refrigeração doméstica e comercial leve, dentro das exigências de menor consumo de energia elétrica, de acordo com a fabricante.
Dentre as suas principais características, destacam-se o consumo de óleo até 35% menor que seu antecessor e o fato de ter melhor performance com os refrigerantes hidrocarbonetos R600a e R290, além de ser mais silencioso.
Já na Embraco a bola da vez são os compressores NTU com capacidade de 10000 a 18000Btu/h (Check Point ASHRAE 46 HBP /60Hz) e eficiência energética entre 9 e 11,3 BTU/Wh, ou seja, até 30% mais eficientes do que os compressores da família NJ, na mesma faixa de capacidade.
“Além das características de performance, este produto conta com melhorias de projeto que aumentam significativamente a robustez do compressor em caso de retorno de líquido pela linha de sucção. O mercado norte-americano é o que mais compra este produto atualmente e as principais aplicações são coolers para bebidas e máquinas de gelo”, pontua Erivan Piazera.
A Bitzer é outra que tem novidades, caso dos compressores semi-herméticos Varispeed, cujos variadores de velocidade permitem adequar a necessidade frigorífica à rotação do compressor, variando de 20Hz a 87Hz. Com isso, mantém-se o alto rendimento, mesmo em cargas parciais.
“Temos ainda a linha Ecoline, lançada para atender os sistemas que visam um grande aumento de eficiência utilizando o R-134a”, complementa Eduardo de Almeida.
Velocidade variável também é palavra de ordem na Danfoss, que já tem compressores dotados dessa tecnologia e planeja ampliar o seu portfólio a partir da linha VRJ, de 3 a 5 TRs, que virá em 2012.
“As grandes vantagens da velocidade variável estão no fato de não precisar ter um equipamento calculado pelo pico, que é temporário e pode girar mais rápido que o normal, reduzindo o consumo quando se tem pouca carga”, enfatiza Young.
Com tudo isso, não há como negar: o setor de compressores vive uma de suas fases áureas e, o melhor de tudo, com muito espaço para crescimento. Basta o governo ajudar um pouco mais e as empresas seguirem firmes na constante busca pela inovação.