Valeu a pena!

Dificilmente quem foi à Febrava deste ano saiu do Centro de Exposições Imigrantes sem a sensação de ter vivido ali quatro dos mais úteis e produtivos dias de sua atividade profissional nos últimos dois anos.

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Impressão semelhante, aliás, à que se teve em 2009, ao término da 16ª edição. Mas agora havia a certeza de que o Brasil superou bem a crise internacional, naquela ocasião ainda uma incógnita.

Talvez isto explique porque desta vez, num cenário igualmente preocupante, sobretudo por conta de incertezas vindas da Europa, não houve muito clima para se falar em temores e ameaças, como muitas vezes já se fez nos corredores da feira, desde os seus tempos de Anhembi.

Longe de otimismo cego, começar assim mais uma reportagem sobre o principal evento latino-americano do HVAC-R apresenta como justificativa alguns números avaliados pelo presidente da Abrava, Samoel Vieira, como provas incontestes do quanto a Febrava está consolidada no posto de maior e mais importante evento de negócios do setor na América Latina.

Que lá estariam 550 marcas já se sabia, assim como a presença crescente de visitantes internacionais, depois contabilizados em exatos 627 pelo diretor da mostra, Nelson Baptista.

Um lado intangível nisso tudo, porém, é a opinião do público, algo tão significativo quanto os R$ 300 milhões em negócios fechados, ou em vias de serem nos próximos meses, conforme projeções do tradicional balanço que sempre sucede uma exposição assim.

É disso que falaremos nesta e nas próximas páginas. A forma como cada detalhe foi analisado dentro e fora do pavilhão, tanto na ótica de quem trabalhou em estandes, ilhas temáticas e eventos paralelos, como na de quem passou por esses lugares na condição de sua majestade o visitante.

Surpreendente

“Acredito que esta Febrava tenha surpreendido a todos”. Carla Silva, do departamento comercial da Fujitsu, resumiu com incrível simplicidade aquela que seria a tônica das respostas a uma surrada, porém inevitável pergunta: “o que você está achando desta feira?”

No caso dela, organização e estrutura chamaram a atenção, mas houve muitos outros motivos para surpresas por lá.

Rever antigas marcas expondo e novas surgindo, por exemplo, foi uma grata surpresa para o supervisor de vendas e marketing da Parker, Carlos Costa, que considera o fenômeno um estímulo à competitividade do mercado.

Até mesmo Ronaldo da Silva, da AF Brasil, que participa desde 1991, confessava-se admirado diante de tanto movimento e perspectivas de negócios. O otimismo do mercado com as obras de infraestrutura e a solidez do País frente as intempéries internacionais patrocinam esse cenário, no entender do gerente comercial.

“Na anterior enfrentávamos uma crise, e mesmo assim ela foi boa. Nesta aqui está excedendo as expectativas de uma forma muito interessante”, concorda o gerente geral da Polipex, Lineu Teixeira de Freitas Holzmann.

Até mesmo quem acredita na persistência da situação difícil, principalmente lá fora, vê nisto reflexos positivos quando o assunto é Febrava.

“Devido à crise mundial e o crescimento do mercado local, as empresas procuram por novas tecnologias para incrementar seus produtos e equipamentos”, comemorava em seu estande o gerente geral de vendas e marketing da Coel, Paulo Mariotto.

Foi grande também o movimento no sentido contrário, ou seja, empresas de fora querendo fornecer para as nossas. “Temos sido muito assediados por várias delas que estão chegando ao Brasil e querem nos oferecer alguma tecnologia, serviço ou produto para usarmos em nossas linhas” constatava o diretor superintendente da Trox do Brasil, Arnaldo Basile.

Segmentação do público, por sua vez, foi o grande mérito desta feira, na concepção de Roberto Mourato, que atua no Marketing da Elgin e teve impressão semelhante já na edição passada. “Estamos conseguindo atender desde fabricantes até revendas e mecânicos, todos muito qualificados”.

Na mesma linha, o diretor presidente da Servi-Control se dizia satisfeito ao ver expositores e visitantes tão amadurecidos, “com maior objetividade, usando a feira como forma de atender as suas necessidades e não apenas um evento institucional da categoria”, sentenciava Vagner Nhoqui.

Luciano Figueiredo, da Veco, aponta um exemplo concreto dessa melhora generalizada no nível do evento. “O pessoal de manutenção, que antigamente precisava só de uma manta para colocar no filtro, hoje já quer saber de eficiência, poder de acumulação de pó, vida útil, tratamento antimicrobiano e várias coisas que mostram a preocupação não só com o ar condicionado, mas também com a qualidade do ar que ele está fornecendo”, afirma o gerente comercial.

Segundo ele, esse comportamento, felizmente, já é visto desde uma simples instalação split ou janela até os grandes projetos.

Fatos assim mantiveram o estande da Embraco repleto praticamente o tempo todo. “Temos percebido uma grande busca por conhecimento”, reconhece o diretor de negócios Ernani Pautasso Nunes.

Esse quadro anima Sheila Camargo, da área de vendas da Projelmec, para quem a busca por eficiência foi mesmo a grande causadora da excelente qualidade dos visitantes e expositores este ano.

Até mesmo o relativo afastamento do pavilhão, em relação às regiões mais centrais, é apontada como fator favorável a esta seleção natural do público, na análise do diretor geral da Vulkan do Brasil, João Paschoal Trevisan.

Preocupações muito mais pessoais do que propriamente tecnológicas, casos da saúde e do bem estar humanos, são motivações igualmente expressivas para essa melhora generalizada nas demandas do mercado e, consequentemente, no desenvolvimento de novos produtos. É no que acredita Cristina Toledo, do departamento de Marketing da Testo, para quem a divulgação nos meios de comunicação também tem pesado a favor da Febrava.

Colabora igualmente para o sucesso da feira o fato de ela ser realizada apenas a cada dois anos, na opinião do gerente de vendas da Munters. “Isto cria sempre novas expectativas, além de não cansar nem o público nem os expositores”, analisa Mariovaldo da Silva, que vê ainda neste aspecto um convite ao surgimento de soluções realmente inovadoras.

Por essas e outras, gente como Ariane Rodrigues, do departamento comercial da Agramkow, e Neir Maia Peres, engenheiro consultor da Curva e Cobre, não relutaram em dizer que esta Febrava foi a melhor de todas, sobretudo a reboque dos bons ventos soprados pela economia.

Para Rafael Munhoz, da área comercial da Sictell, o crescimento da construção civil brasileira está por trás disso tudo.

Mas tantos fatores positivos do atual momento brasileiro e do próprio HVAC-R não fazem o gerente de qualidade e suprimentos da Termointer se esquecer de certos riscos, mesmo reconhecendo que ar condicionado e refrigeração tendem a continuar crescendo bastante em todo o País.

“Nosso único adversário, que ficou bem característico nesta feira, é a presença do produto chinês, de menor qualidade e sem especificação técnica, chegando ao mercado a preços inferiores aos do produto nacional, proporcionando assim um desequilíbrio do mercado interno e incentivando a importação”, reclama Guilherme Andriolli.

Para Hugo Matos, da Apema, há providências que a organização do evento pode tomar em benefício dos players locais. “A refrigeração industrial vem perdendo espaço na feira, mas se algumas ações específicas forem realizadas visando atrair esse segmento, o quadro poderá mudar nas edições futuras”, argumenta o gerente comercial.

Boas estreias

Por mais que a Febrava seja tradicional no setor, a própria dinâmica dos segmentos nela representados se encarrega de abastecer cada nova edição de alguns estreantes.

Desta vez a Panasonic do Brasil foi uma delas, na esteira de sua recente entrada no mundo do ar condicionado, por meio de splits e uma linha de VRF movida a gás natural, dentre outros itens.

“O resultado foi positivo, uma vez que a visitação ao estande ultrapassou 400 pessoas por dia e, em alguns casos, com a geração de negócios”, constata o chefe de marketing Luciano Valio.

Outro nome consagrado dos eletroeletrônicos que vincula sua primeira participação na Febrava à própria estreia no setor é a Samsung.

“Não podíamos ficar de fora desta feira, o mercado todo de ar condicionado está aqui, alguns países da América Latina também a visitam, é uma vitrine, uma exposição da marca extremamente importante”, justifica o gerente de produto na linha de ar condicionado, Álvaro Ruoso.

O foco de sua empresa foram os grandes instaladores e distribuidores especializados em ar condicionado, e alguns parceiros comerciais que igualmente expõem na feira.

“A gente veio com uma exposição de produto, e a recepção está sendo tão positiva que vamos estudar a introdução de mais itens nesse mercado”, acrescenta.

Satisfação pelo sucesso da estreia também não faltava no estande do WebArcondicionado, o mais novo site abordando os temas do setor. “Está sendo um sucesso, nossa expectativa para depois da feira é que dobre o número de acessos”, previa o diretor de tecnologia e desenvolvimento Juliano Berlitz.

O engenheiro de vendas Samer Sammour, da Hydro, foi outro expositor que gostou muito de participar. “É uma chance excelente para um fabricante mostrar seus produtos e lançamentos, além de posicionar sua marca”, diz ele.

No estande da Masterduct, Edson Souza traduzia em números a agradável surpresa que teve. Afinal, segundo o diretor de negócios da empresa, mais de 2,5 mil pessoas passaram por lá durante os quatro dias de exposição.

Contabilidade igualmente positiva é a da Komeco, que estreou em 2007 e agora repetiu a dose. “Dá para avaliar que o investimento está dando um bom retorno”, resume o gerente nacional de vendas, Joycenir Sarmento Souza.

Também na feira pela segunda vez, a Eluma, que em outras edições participou da Ilha Temática Cadeia do Frio, apreciou a constância de um grande público todos os dias. “Isso proporcionou maior divulgação da marca e estreitamento de relações com os nossos clientes”, informa a analista de marketing da Paranapanema, Luciene Almeida.

“Estamos muito satisfeitos com o resultado da feira”, garante o gerente geral da Belimo, Hilton Reche do Nascimento, cuja empresa participou este ano de sua segunda Febrava, feira que considera fundamental e a mais compensadora até hoje.

Por outro lado …

A 17ª Febrava teve lá os seus percalços, um deles incrivelmente relacionado à atividade principal de boa parte dos próprios expositores: a climatização.

Insuportável durante alguns períodos, o calor em todas as dependências do pavilhão foi tão intenso quanto o ritmo dos negócios nos estandes e salas do Centro de Exposições Imigrantes.

“Nem parece uma feira de ar condicionado, está muito quente, eu acho que deveria se pensar nisso nas próximas”, reclamava, por exemplo, o engenheiro Robson de Souza, do departamento de vendas da Encon, embora se dissesse satisfeito com o público seleto recebido no evento.

“É uma grande incoerência”, concordava Edson Luiz Zago, da Epex. “Talvez seja uma estratégia para que todos percebam a importância do ar condicionado”, arriscava em tom bem-humorado o gerente nacional de vendas, para quem o “movimento fantástico” da feira valeu o sacrifício do desconforto térmico enfrentado numa semana onde a temperatura em São Paulo chegou aos 30 graus em alguns momentos.

Mais contundente em sua crítica, o diretor comercial da Serraf, Vanderson Scheiber, disparava: “não dá para admitir mais a falta de climatização numa feira da importância da Febrava, com o seu alto nível de expositores e visitantes, ainda mais sendo nós fabricantes desses componentes”, desabafou.

“Quando tirávamos as portas de inspeção dos nossos dutos para mostrar um novo sistema de vedação, tinha gente que aproveitava para se refrescar ficando perto da máquina”, ilustra Wagner Kohn, gerente comercial da Refrin.

Não menos indignado com o imenso desconforto térmico reinante no local, Renato Tavares, gerente comercial da Ductbusters, resumia em poucas palavras a gravidade de o fato ocorrer justamente numa feira como a Febrava. “difícil de acreditar”.

Para o gerente Mauro Apor, da LG, o próprio tamanho do Centro Imigrantes deve selar a sua sorte quanto às edições futuras, a não ser que novos salões sejam abertos e a infraestrutura passe por um belo upgrade, deixando assim o local compatível à qualidade do seu público.

Até o acesso ao estacionamento pode melhorar, na opinião de Anderson Fernandes, da Harris-Brastak. “A gente usa muito maleta com rodinhas e o cascalho, no lugar do que deveria ser asfalto, atrapalha um pouco”, observa o gerente de vendas e marketing, por mais que reconheça ter sido a melhor Febrava de todos os tempos, devido à quantidade e o excelente perfil de sua visitação.

Teve ainda quem visse dificuldade de circulação no lado de dentro do pavilhão. “Os corredores estreitos dificultam a movimentação nos estandes e a própria visualização da feira”, pontua o gerente de marketing da Cennabras, Thiago Alves, contente porém pela substituição dos especuladores do passado por visitantes realmente interessados em ver novidades e fazer negócios.

Outro espaço — o de tempo — é que poderia crescer na feira, no entender do gerente de vendas Maurício Guilhen, da Asten. “Uma idéia interessante seria torná-la anual ou talvez acrescentar mais um dia ao evento”, diz ele, com base na possibilidade de se otimizarem os resultados em função dessa mudança.

As únicas diminuições defendidas pela gerente comercial e de marketing da Ageon, Luciana Catão, são o custo do metro quadrado e os preços da praça de alimentação, que ela considera simplesmente absurdos.

No caso da Brasbom, a queixa se estende ao fato de não serem aceitos cartões de crédito nas lanchonetes, sem falar no atendimento no Centro de Apoio ao Expositor (CAEX), “com poucos atendentes, ainda por cima mal treinados, deixando os expositores um tempão embaixo do sol no dia da abertura”, constata Érica Cristina, do setor administrativo da empresa.

Já para Elisangela Cará, da Forming Tubing, embora a Febrava estivesse muito boa, a comunicação entre a área comercial do evento e os seus expositores deixou a desejar antes da feira. “Quase ficamos de fora, pois entramos em contato várias vezes e nos disseram que as inscrições ainda não haviam se iniciado, o que nos impediu de reservar espaço a tempo. Isso acabou gerando muitas discussões e desgaste, até que finalmente conseguíssemos um lugar”, lamenta a empresária.