Caminho livre para o crescimento

Se dependesse de motivos para comemoração após os resultados do ano passado, o HVAC-R teria ressaca para curtir pelo menos até o final de 2011.

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Isso porque, enquanto o mundo ainda ressentia os reflexos da crise financeira internacional, as empresas brasileiras construíam novas unidades, ampliavam instalações e, de uma forma geral, superavam o mau momento em grande estilo.

Levado por essa toada, o setor fechou o ano com um crescimento médio ao redor de 12%, segundo estimativas da Abrava, e entrou no novo exercício com a expectativa de chegar a uma expansão de no mínimo 9%, na esteira da evolução igualmente acelerada de segmentos compradores como a construção civil.

Por essas e outras, o otimismo continua em alta entre as companhias do Frio, que fazem planos ambiciosos para aproveitar da melhor maneira possível a boa fase do mercado brasileiro.

É o caso da Rheem, que promete vir com tudo para ganhar ainda mais espaço nos segmentos de ar condicionado e aquecimento.

“Esperamos um crescimento agressivo e, para isso, investiremos em nossos distribuidores e parceiros. Vamos lançar uma linha completa de bombas de calor Premium com titânio para aquecimento de piscina, além de míni-splits inverters, ar condicionado de janela e uma série de splitões comerciais de 6.5 a 20 TR”, destaca Marcelo Zeppelini, diretor geral da empresa.

A ebmpapst é outra que prepara novidades para esse ano, como a expansão de seu portfólio e até mesmo a instalação de uma fábrica no Brasil, plano acalentado já há algum tempo. “Uma das novidades é que traremos o complemento dos ventiladores eletrônicos”, ressalta Adriana Belmiro, diretora geral da empresa.

Com o mesmo objetivo de aumentar a sua participação no mercado brasileiro, a Tecumseh Europe também prevê lançamentos para os próximos meses, segundo o seu agente Brasil/Bolívia, Vincenzo Fiore Savino. “Esperamos manter o passo na manutenção das vendas e ampliar as metas na refrigeração comercial. Devemos ter disponíveis rotativos com utilização de gás R-22 e fluido ecológico ao mesmo tempo, tendo em vista nosso compromisso com a ecologia e o meio ambiente”, explica.

A Rohden Vidros, cujo faturamento cresceu 40% no ano passado, faz planos igualmente grandiosos. “Esperamos um crescimento sólido e contínuo e, para isso, estamos investindo em novos produtos, qualificação de mão de obra e aquisição de equipamentos”, pontua o gerente de vendas José dos Santos Junior.

Na Heatcraft, as perspectivas são semelhantes. “Estamos fazendo investimentos em aumento de capacidade e modernização e também adicionaremos alguns profissionais ao quadro da empresa, para melhor apoiar mais este ano de expansão. As metas estão em fase de formulação e devem oscilar, no geral, em torno de 15% a 20% de crescimento”, revela Eduardo Navarro, diretor geral da empresa.

Gargalos

Apesar do cenário convidativo apresentado pela economia nacional para 2011, o fato de países europeus ainda estarem mergulhados na crise pode vir a atrapalhar o crescimento do Brasil.

Além disso, o País corre o risco de não suportar o excesso de demanda que vem por aí, com o início das obras para os grandes eventos esportivos que sediará, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

“Vejo uma perspectiva mais complicada na economia europeia, com vários países enfrentando dificuldade de pagamento e aumento dos juros. E agora são economias maiores como Espanha e Itália, e não mais apenas Irlanda, Portugal e Grécia que apresentam este quadro, e isto pode desaquecer a economia brasileira também”, analisa Maurício Xavier, gerente de negócios da Dupont para a América Latina.

Pedro Evangelinos, diretor executivo da RAC Brasil, alimenta a mesma sensação quanto ao mercado externo, mas vê boas chances de países em desenvolvimento, como o nosso, aproveitarem para se sobressair nesse momento.

“Até mesmo a economia americana, com os mais de US$ 600 bilhões injetados em 2010, não vai ter um ano melhor. Brasil, Rússia e China passam a ter mais visibilidade”, avalia.

Nessa conjuntura, o grande desafio será suportar a maior procura pelos produtos brasileiros, dificuldade que já vinha surgindo em 2010.

“Na área de fluidos refrigerantes, não só no Brasil, mas em todos os países em desenvolvimento, está crescendo muito a demanda. As mudanças de política em Manaus incentivaram novamente a fabricação de splits e o mercado de ar condicionado não para de crescer”, enfatiza Maurício Xavier, da Dupont. “O Brasil tem uma legislação que limita a importação de R-22, o gás ainda mais utilizado. Em paralelo, há uma falta de fluidos refrigerantes em geral no mercado mundial, o que pode limitar o crescimento do setor na área de fabricação de equipamentos. Vejo um estresse grande nesse sentido este ano, inclusive na parte logística”, complementa.

De olho nessa tendência, a Polipex pretende praticamente duplicar os quase 12 mil metros quadrados da sua fábrica em São José (SC). “Claro que não dá para realizar tudo isso em apenas um ano, mas agora em janeiro já começamos a planejar essa ampliação”, afirma John Johannes van Mullem.

Sob nova direção

A mudança na presidência da República é outro fator que deve interferir nas vendas do HVAC-R, pelo menos no início do ano, avalia John.

Segundo o empresário, faz parte da cultura do empreendedor brasileiro esperar os primeiros meses de um novo governo para, de fato, fazer investimentos mais expressivos.

“Mesmo com a Dilma Rousseff sendo sucessora do presidente Lula, os empresários ficam apreensivos no começo e já tenho percebido isso nas viagens que faço Brasil afora”, diz ele.

Evangelinos é outro que mostra estar com um pé atrás, mesmo confiando em um ano quase tão bom quanto o anterior. No seu caso, a preocupação maior é o possível aumento da carga tributária.

“Nesse ano de início de governo, o que me deixa um pouco apreensivo é novamente aquela promessa nos feita em 1994, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, de reduzir a carga tributária. Quando ele assumiu, os impostos consumiam 28% do PIB, e esse número foi a 32% no final do seu mandato. Já o Lula, que assumiu em 2002 com a bandeira pela produção e emprego com menores juros e carga tributária, deixou o País com um índice de 37% de tributos sobre o Produto Interno Bruto”, adverte.

Mesmo com esses possíveis percalços, não restam dúvidas de que a nova presidente assume com uma economia sólida e capaz de se expandir. Por mais que nesse começo de governo o ímpeto da indústria possa dar uma breve arrefecida, o fato é que o País caminha para outro período bem-sucedido, levando consigo as empresas de refrigeração, ar condicionado, aquecimento e ventilação que se dispuserem a enfrentar os desafios e investir na economia nacional.