VRF ou água gelada? Faça sua escolha

A exemplo do que ocorreu décadas atrás, com o mercado ansioso por saber quais fatias caberiam aos pioneiros condicionadores de janela e aos splits, que acabavam de chegar, assiste-se hoje no HVAC brasileiro a um debate vigoroso envolvendo as centrais de água gelada e os sistemas VRF.

Publicidade

Igualmente semelhantes são os principais diferenciais competitivos exibidos pelos fabricantes de equipamentos com Volume de Refrigerante Variável, uma lista que inclui facilidade de instalação e maior eficiência energética, embora com um custo inicial um terço maior na média, outra coincidência em relação à disputa janela versus split.

Também existem problemas com os VRF, é claro, como a perda da capacidade conforme aumenta o trajeto percorrido pelas tubulações, e a difusão nos ambientes por meio de evaporadoras que não agregam a sempre desejável renovação do ar, tradicionalmente promovida pelas instalações dotadas de chiller.

Prós e contras à parte, o que se vê hoje é uma definição gradativa dos segmentos nos quais ambas as modalidades tendem a prevalecer.

“Em escritórios corporativos é visível o desaparecimento de sistemas de água gelada, enquanto em shopping centers, lojas de departamentos e data centers os chillers vêm mantendo sua hegemonia”, exemplifica o gerente de Produtos e Marketing da Daikin McQuay, Robson Previatti.

De origem japonesa, sua empresa criou o VRF há 30 anos – é a única, por sinal , que pode usar o termo original VRV – mas nem por isso se arrisca a antever a onipresença desse método.

“Prevemos um aumento da demanda de equipamentos de água gelada, principalmente em obras de grande porte com condensação a água. Mas hoje o VRV vem tomando espaço de mercados como os packages, que tem caído ano a ano”, acrescenta o engenheiro, cuja empresa atua com as duas modalidades de climatização, tendo no universo dos chillers 20% do seu faturamento anual.

E mesmo que o VRF ainda responda por cerca de uma quarta parte da demanda geral do mercado, ele considera significativo o fato de o crescimento na área ter sido de 40% no ano passado, em relação a 2011, ou seja, nada menos que o dobro na comparação com soluções adotando água gelada.

Embora reconheça haver casos em que essa opção seja mesmo a melhor, até mesmo nas obras maiores, a participação do VRF tem aumentado, de acordo com outro player importante da área, a Midea Carrier. ”A participação nos projetos do gênero passou de 2% para mais de 10%, segundo a Abrava, destaca André Santos, gerente nacional de VRF da multinacional.

Esta aceitação crescente, no entender do executivo, muito tem a ver com a flexibilidade na adaptação a qualquer tipo de layout, graças à distribuição das evaporadoras nos ambientes internos e condensadoras compactas e modulares, podendo ser instaladas no mesmo pavimento em pequenos espaços, ou então na cobertura, aonde chegam por intermédio de elevadores.

OBSTÁCULOS A TRANSPOR

As evidências em favor do VRF são tantas, que há no setor quem considere as grandes obras em curso dedicadas aos eventos esportivos como causa principal para não ter se invertido até agora o market share em favor da modalidade, já que a água gelada vem nadando de braçada neste polpudo nicho.

É o caso do gerente de Produto de Ar Condicionado Comercial da LG Electronics do Brasil, Thiago Arbulu, para quem cada produto possui seu tempo próprio de maturação no mercado. Mesmo assim, não faltam motivos para incentivar essa migração, no entender do profissional.

Ele aponta, por exemplo, o boom imobiliário das grandes cidades, envolvendo edifícios comerciais e residenciais; as novas instalações hoteleiras, especialmente no Rio de Janeiro, e os projetos com certificação de sustentabilidade, com destaque para as internacionais LEED e AQUA e a brasileira Procel Edifica.

Já uma barreira que vai muito além da cultural é apontada por Previatti, da Daikin. “O maior gargalo, sem sombra de dúvida, são os impostos, que fazem os sistemas produzidos no Brasil, como chillers e packages, serem ainda competitivos economicamente contra o VRF, que apesar de sua grande eficiência, ainda têm preços elevados”, pondera o gerente.

Em sua opinião, outro complicador são as características regionais, ou seja, alguns profissionais preferem trabalhar com outros tipos de sistema por terem mais domínio sobre fornecedores e, assim, conseguir vantagem competitiva, o que não ocorre com o VRF, cuja maior parte dos investimentos está nos equipamentos, algo em torno 60% do valor total da obra. Um quadro que tende a mudar, na avaliação de André Santos. “Um número cada vez maior de engenheiros e projetistas, sobretudo as novas safras, está entrando em contato mais facilmente com as vantagens de implantação, operação e manutenção dos VRF”, pondera o executivo da Midea Carrier.

FESTIVAL DE LANÇAMENTOS

Prova inconteste de que o mercado brasileiro de VRF tem grande potencial está na decisão de empresas que têm lançado aqui novidades mundiais do setor.

A LG Electronics, por exemplo, agiu assim no começo deste ano, ao fazer de sua subsidiária no País a primeira a apresentar o Multi V IV.

Segundo a empresa, trata-se de um equipamento com os maiores índices de eficiência energética do mercado, especialmente quando analisado em cargas parciais. Além disso, possui módulo único de até 20 HP, ocupa menor área de instalação e permite controle e monitoramento remotos, via computador e smartphone.

Igualmente recente no HVAC brasileiro é a chegada da linha Multi Tubular Inverter, com a condensadora para até cinco evaporadoras, possibilitando conexão de até 160%, com indicação para pequenos escritórios e residências.

A Daikin não faz por menos, acrescentando o novo iTouch Manager a uma linha cujo carro-chefe atual é o VRV III. Trata-se de sistema de automação para equipamentos de condicionamento de ar que a empresa afirma ser realmente inovador.

Com uma tela touch screen de 14 polegadas, ele conta com uma gama de recursos para facilitar a vida do usuário final e também dos profissionais envolvidos na manutenção.

Na Midea Carrier, que em abril último reeditou a prática de levar instaladores brasileiros para visitar sua sede na China, prossegue também o hábito de renovar constantemente suas linhas Midea e Toshiba.

Até junho, por exemplo, chegam aqui três lançamentos 100% inverter: MDV4+ S; MDV4+ W e MDV4+ R.

O primeiro, de acordo com a indústria, é um sistema com alta eficiência, a maior distância de tubulação do mercado, automação diferenciada e 72 HP de capacidade. Já no segundo caso, trata-se de uma solução com condensação a água indicada pela empresa para Retrofit em sistemas que busquem alta performance em energia. O MDV4+ R, por sua vez, destina-se à recuperação de calor, aquecimento e refrigeração simultâneos, primando também pelo baixo consumo de energia.