Tesouros digitais na temperatura certa
A acelerada evolução do setor de Tecnologia da Informação, acompanhada pela quantidade cada vez maior de empresas que delegam a terceiros a guarda e o acesso seguro aos seus dados digitais estratégicos, amplia também os negócios do HVAC no especializado e dinâmico mercado dos data centers.
Segundo estudo realizado pela IDC América Latina, a área de TI deverá receber neste ano 5,1% mais investimentos em relação a 2009 nesta parte do mundo, em decorrência de projetos reativados após a crise financeira internacional e das boas expectativas de consumo em massa que marcam o corrente exercício.
De acordo com a empresa especializada em consultoria e inteligência de mercado nas áreas de TI e telecomunicações, isso deve ocorrer devido à reativação de projetos parados em 2009 por causa da crise mundial e às boas expectativas de consumo em massa para 2010.
Na mesma linha, levantamento da Symantec — líder mundial no fornecimento de soluções de segurança, armazenamento e gerenciamento de sistemas, com 1780 gerentes de centros de dados espalhados por 26 países, mostra que metade das empresas fala em crescimento rápido
nesse mercado.
O próprio Fisco, com a adoção do Sistema Público de Escrituração Digital, tem obrigado as empresas a tornar virtual a emissão de documentos, o que, em muitos casos, cria a necessidade de pequenas e médias organizações contratarem centros de dados para guardar em segurança seus “papéis”.
CAMINHO ABERTO
Com o crescimento virtuoso do setor, abre-se uma série de oportunidades para o mercado de ar condicionado expandir seus negócios, desenvolvendo soluções completas para climatizar ambientes como estes, para lá de especiais.
A Emerson Network, por exemplo, produz em suas unidades localizadas nos EUA e Europa sistemas para as arquiteturas aberta (quando toda sala é climatizada); fechada — em que o rack tem uma climatização dedicada — e suplementar, direcionada a racks providos de alta densidade.
“Na arquitetura aberta, as unidades de precisão podem ter insuflação inferior ou superior, com expansão direta ou indireta, ou sistemas “in row” (CRV, nas capacidades de 35kW a 40kW)”, explica Eduardo Braga, gerente de produto Liebert da multinacional.
Uma das apostas da empresa é o sistema XD (Extreme Density), aplicado em racks com servidores de alta densidade térmica como climatização suplementar.
Lançado há cinco anos nos Estados Unidos, ele já foi utilizado em uma instalação no Brasil. Suas principais vantagens, segundo Braga, são a redução no consumo de energia elétrica, melhor aproveitamento do espaço físico no data center e economia na operação e manutenção do sistema.
Para assegurar a qualidade da instalação dos produtos da empresa, o engenheiro destaca uma série de procedimentos, dentre os quais a estrita obediência às recomendações do projeto, que deve sempre ser elaborado de acordo com a norma de ar condicionado para CPDs. “É importante também que o start-up seja feito pela equipe de serviços da Emerson”, ressalta.
Evitar paredes envidraçadas é outro aspecto altamente recomendável para que se economize energia elétrica.
Além disso, o especialista considera imprescindível o uso de materiais adequados, vedação em portas e janelas e uma barreira de vapor permeando o local, a fim de eliminar umidade.
“A adoção de insuflamento por baixo do piso elevado — que deve ter a altura adequada —, placas de qualidade bastante estanques e atenção com os furos de passagens de cabos no
piso do data Center são alguns cuidados adicionais que devemos ter”, ensina.
Ao listar os aspectos favoráveis para a empresa evoluir neste setor, o engenheiro destaca como diferenciais a divisão comercial composta por engenheiros e técnicos com treinamento específico em fábrica e produtos cujos aspectos construtivos levam em conta qualidade (Norma TIA 942); segurança (Norma UL) e eficiência térmica (ASHRAE).
No entanto, ele ainda percebe a visão imediatista de alguns clientes, principalmente em instalações de pequeno e médio portes, que muitas vezes optam por sistemas concorrentes de custo menor, mas se esquecem de avaliar os altos valores que terão de pagar com energia elétrica, operação e manutenção, gerados por aplicações de qualidade duvidosa. “Sem contar os prejuízos que podem causar caso haja uma parada de seu empreendimento”, acrescenta.
A principal tendência do setor, sob o seu ponto de vista, é que haja uma crescente reocupação com o consumo de energia, altas densidades de calor e meio ambiente, bem como a maior necessidade de monitoramento remoto.
POUPANDO ENERGIA
A Trane é outra que está antenada às exigências e avanços do setor de data centers, provendo soluções que envolvem desde a conceituação das necessidades de seus clientes, passando por um adequado projeto de engenharia, até o fornecimento de equipamentos e sistemas de controle e supervisão.
“Nós podemos, inclusive, fornecer soluções em regime turn key, que garantem ao cliente eficiência energética e confiabilidade dos sistemas projetados”, assegura o gerente de instalações e controles da empresa, Antonio de Almeida. “Estamos desenvolvendo atualmente projetos e estudos para os maiores data centers a serem implantados no Brasil, sempre envolvendo otimização de custos de implantação, operação e energia”, complementa o engenheiro.
Uma das grandes armas da empresa neste setor é a unidade centrífuga série CVHF que, aliada ao conceito Trane “Earthwise”, proporciona redução no consumo de energia. Conjugado ao sistema de controle e supervisório “Trane Tracer Summit”, pode controlar monitorar e gerenciar os chillers, assim como bombas, torres de resfriamento, unidades condicionadoras de ar e demais periféricos.
Outro produto que se destaca no portfólio da empresa voltado aos centros de dados é o controlador Adaptview, que passou a ser incorporado aos chillers Trane. Num ambiente como este, que não tolera falta de refrigeração, esse dispositivo desempenha um papel de fundamental importância, ao permitir que as centrífugas sejam reacionadas em menos de dois minutos. “Em algumas situações conseguimos religar nossos equipamentos em 43 segundos, sendo que os nossos concorrentes conseguem obter a melhor situação em torno de 7 inutos”, revela Almeida.
Na sua avaliação, o cumprimento de regras como a norma TIA – Telecommunications Industry Association e as respectivas classificações TIER são as maiores necessidades do setor.
As normas brasileiras para CPDs, segundo ele, ainda pecam pela superficialidade e merecem uma nova análise, principalmente no que se refere a requisitos rígidos de umidade e baixas temperaturas de água gelada, para que possa responder à altura ao crescimento do setor no País.
“Eu considero que o Brasil está no momento do boom dos data centers, pois a transmissão de dados e os respectivos meios já estão em seu limite de utilização”, ressalta. “Acontecimentos como Copa do Mundo e Olimpíadas estão criando a necessidade de expansão deste segmento. É o momento do Brasil e isso deve gerar o incremento tecnológico, o que é benéfico para o mercado de ar condicionado”, completa.
FRANCA EXPANSÃO
O setor de informática, realmente, deve experimentar uma expansão acima do normal desde já. Prova disso são as inúmeras obras anunciadas e outras que vêm sendo concluídas visando sustentar o imenso volume de dados gerados pelas empresas brasileiras.
A Locaweb, por exemplo, acaba de inaugurar o segundo módulo de seu data center, com capacidade para 6,4 mil servidores. O novo espaço faz parte do plano de ampliação da estrutura da empresa, que deve investir mais R$ 111 milhões nos próximos sete anos apenas em infraestrutura de centro de dados.
O ar condicionado recebeu atenção especial na instalação. Refrigerado com expansão direta a gás, o sistema mantém a temperatura a 21ºC. Segundo a companhia, uma eventual falta de refrigeração poderia elevar a temperatura em até 45ºC num período inferior a dez minutos.
Por isso, optou por abrir o bolso e adquirir um sistema a gás com UPS, que dá mais segurança operacional, além de ser ambientalmente responsável.
A preocupação com o meio ambiente também foi tratada como prioridade pelo UOL, que recentemente inaugurou seu novo data center, na região central de São Paulo.
Baseado em práticas de computação verde, o sistema instalado num prédio de oito andares, com capacidade para 30 mil servidores físicos, gera um consumo menor de energia e reduzida emissão de resíduos.
A IBM igualmente investiu pesado numa nova estrutura de centro de dados. A empresa desembolsou nada menos do que US$ 10 milhões em sua unidade recém-instalada na cidade de Hortolândia, interior de São Paulo.
Numa área de 800 metros quadrados, o local foi construído com piso elevado em todo o espaço. Sua infraestrutura elétrica é capaz de suportar sistemas de ar condicionado inteligentes, com estrutura de redundância permitindo manutenção segura.
CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL
No próximo ano, a construção de data centers no País deverá seguir uma série de procedimentos para que o edifício seja ambientalmente sustentável.
Especialistas brasileiros da PriceWaterhouseCoopers, do Ministério do Meio Ambiente e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), dentre outros, estão traduzindo e adaptando as especificações da Certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), que tratará de parâmetros como disposição física dos servidores, isolamento térmico e distribuição dos aparelhos de ar condicionado em áreas ou salas de dimensões menores.
De acordo com o gerente sênior da PriceWaterhouseCoopers no Brasil, Norberto Tomasini, a certificação Leed será oferecida a consultores e auditores no País, dando condições para que avaliem os projetos de data centers que poderão receber o selo.