Profissionais do frio comemoram Dia do Refrigerista
Se por um lado, a pandemia do novo coronavírus, que desde março vem ceifando vidas e empregos, agravou os imensos problemas socioeconômicos brasileiros, de outro, passou a evidenciar a importância de uma gama de profissionais, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entregadores de delivery e, claro, os técnicos da área de refrigeração e ar condicionado.
O Dia do Refrigerista, celebrado informalmente hoje (7) pela indústria e comércio de refrigeração e ar condicionado; o Dia Mundial da Refrigeração, efeméride criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano passado e celebrada em 26 de junho; e o Dia da Refrigeração, comemorado em 20 de junho na cidade e no estado de São Paulo, também evidenciaram a relevância da profissão nas últimas semanas.
Ademais, ano após ano, a categoria vem ganhando mais reconhecimento, se fortalecendo no mercado e, cada vez mais, procurando se capacitar e conquistando direitos, especialmente por meio de meio de instrumentos legais que regulam sua atuação.
Em meio ao surto da covid-19, os refrigeristas têm mostrado por que são uma classe de trabalhadores essenciais, especialmente para os serviços de instalação e manutenção de sistemas de ar condicionado em unidades hospitalares e de câmaras frias para estocagem de vacinas e medicamentos.
“Eles são, em todos os sentidos da palavra, imprescindíveis para a sociedade, principalmente agora”, avalia o engenheiro Arthur Ngai, gerente de marketing e desenvolvimento de negócios da Chemours na América Latina.
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“Ventilação e filtragem de ar adequadas asseguram a boa qualidade do ar interno (QAI) nas edificações de uso público e privado, o que é crucial no combate à pandemia da doença respiratória”, diz.
“Por outro lado, nosso setor desempenha um papel fundamental na cadeia de distribuição de produtos alimentícios e farmacêuticos refrigerados”, completa Ngai, lembrando que, “nestes tempos difíceis, os refrigeristas têm trabalhado arduamente para manter chillers, túneis de congelamento, câmaras frigoríficas, refrigeradores e demais equipamentos do gênero a funcionar plenamente em fábricas, instalações hospitalares, supermercados e outros empreendimentos classificados como essenciais”.
“Afinal de contas, quando um equipamento de refrigeração ou climatização falha, os técnicos de serviços precisam consertá-lo ou substituí-lo o mais rápido possível”, justifica.
O presidente do CFT, Wilson Wanderlei Vieira, também avalia que a atuação dos técnicos, sejam da área de refrigeração e ar condicionado, mecânica ou eletromecânica, é de primeira importância para a entrega de um serviço de excelência à sociedade.
“Celebramos o Dia do Refrigerista e damos os parabéns a todos esses profissionais pelos serviços de altíssima importância prestados”, frisa o presidente da entidade de classe que há anos era sonhada pela grande maioria dos técnicos.
Atuação dos técnicos é de primeira importância para a entrega de um serviço de excelência à sociedade, Wilson Wanderley Vieira, presidente do CFT | Foto: Divulgação
Conquistas da categoria
As conquistas dos profissionais da refrigeração continuam em todos os lados. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Sindicato dos Trabalhadores em Refrigeração, Aquecimento e Tratamento do Ar (Sindigel-RS) obteve uma “convenção coletiva inédita para a categoria, completa como nunca antes no estado”, de acordo com o presidente da entidade, Adriano Porto Benevides.
O líder sindical lembra que, anteriormente, os trabalhadores gaúchos não tinham a guarida de uma organização representativa, uma vez que estavam pulverizados em outras entidades que não entendiam as demandas da categoria nem buscavam atendê-las. “A nossa convenção está trazendo muitos direitos para o trabalhador da área, que merece todas as congratulações pelo seu dia”, complementa Benevides.
Futuramente, os refrigeristas poderão ter outras conquistas. Isso porque o Sindigel-RS e o Sindgel-CE – presidido por Agenor Lopes da Silva – estão atuando conjuntamente em um grupo de trabalho em Brasília, montando uma comissão para dialogar com a Câmara dos Deputados, com o objetivo de transformar o refrigerista num profissional ainda mais reconhecido.
O novo patamar dos refrigeristas na sociedade também pode ser visto em iniciativas mais estruturais, como a do Sindicato dos Refrigeristas no Estado de São Paulo (Sindigel Paulista) e do Conselho Nacional dos Trabalhadores Refrigeristas (CNTR).
A ideia é que haja a mudança da palavra “trabalhador” para “técnico” na nomenclatura de ambas as entidades, cuja reformulação atende às novas exigências da estrutura sindical brasileira.
Esse processo é defendido pelo presidente de ambas as entidades, Sérgio Fernandes. Segundo ele, porém, o Dia do Refrigerista deveria ser comemorado não em 7 de julho, mas sim um mês antes.
Fernandes lembra que a ata de fundação da cooperativa designada Associação dos Refrigeristas, Técnicos em Lava Roupas e Ar Condicionado de Campinas e Região, “a primeira entidade de profissionais do setor no Brasil, foi registrada em 7 de junho de 1983, conforme publicado na então revista Bola Preta, editada pela Embraco”.
“O comércio precisa respeitar essa conquista e, nesse caso, se necessário, fazer a devida correção. Afinal, é uma data histórica e não vamos abrir mão dela”, afirma.
“Para uma data comemorativa existir, é necessário um acontecimento ou uma causa. Não sei quem mudou o Dia do Refrigerista para julho, mas vamos lutar pela correção, divulgando essa informação histórica”, acrescenta.
Oficialmente, o Brasil aderiu à Convenção de Viena e ao Protocolo de Montreal sobre Substâncias Destruidoras da Camada de Ozônio em 7 de junho de 1990. Muitos dizem que, também por isso, o Dia do Refrigerista costumava ser celebrado nessa data até alguns anos atrás.
Foi também no início dos anos 1990 que, por sugestão do jornalista Oswaldo Moreira (in memoriam), fundador da Revista do Frio, o deputado estadual Mantelli Neto apresentou à Assembleia Legislativa de São Paulo o projeto de lei (PL) que instituiu no calendário de datas comemorativas do estado o Dia da Refrigeração, celebrado em 20 de junho desde 1995.
À época, o parlamentar justificou “que seria de justiça reconhecer a inegável importância do ar condicionado e o papel da refrigeração como elemento-chave do progresso e desenvolvimento da humanidade”.
Um PL apresentado à Câmara Federal em 1992 pelo então deputado Fábio Meirelles tentou estabelecer 20 de junho como Dia Nacional da Refrigeração, mas acabou sendo arquivado.
Em 1997, o deputado federal Arnaldo Faria de Sá reapresentou à mesa diretora da Casa o PL do colega, alegando que “é realmente inegável a importância da refrigeração na vida do cidadão e da sociedade”, e que o segmento “tem prestado relevantes serviços à causa pública”.
Depois de mais de 20 anos de tramitação, o PL foi arquivado novamente, em janeiro do ano passado. Enfim, a indústria do frio continua sem o merecido reconhecimento de sua relevância em nível nacional, mas, logicamente, motivos não faltam para os profissionais do setor comemorarem hoje, ou em qualquer outra data do calendário, o seu dia.
Profissão valorizada
Uma das mais respeitadas técnicas em refrigeração e ar condicionado do mercado nacional, Carmosinda Santos salienta que o Dia do Refrigerista serve para valorizar uma das profissões mais importantes para a sociedade.
“Basta tirar da nossa vida tudo o que envolve refrigeração, como a produção de cerveja e iogurte, a estocagem de carne e legumes congelados, e tudo ficará mais difícil. Até mesmo a embalagem plástica que envolve os produtos necessita passar por um sistema de refrigeração durante sua produção. Fora da área alimentícia, temos os sistemas de refrigeração dos grandes data centers, imprescindíveis para a transmissão e armazenagem de dados. A refrigeração está presente em praticamente todos os locais com circulação de pessoas, como shopping centers, ônibus, hospitais, enfim, em tudo”, diz.
A técnica lembra que a refrigeração faz parte da evolução da sociedade, e os bons profissionais acordaram para essa realidade e entenderam que é importante realizar os procedimentos corretos e estabelecer normas técnicas para o exercício do trabalho.
A mesma visão tem Deivi Homem, outro profissional do mercado, para quem não há mais espaço para se discutir a importância da refrigeração e da climatização para pessoas e empresas.
No Dia do Refrigerista, “lembramos de um dos profissionais mais importantes do mundo moderno, visto que hoje ninguém consegue mais sobreviver sem um ambiente climatizado, seja para a conservação de alimentos e processos de produção na indústria de medicamentos e fábricas em geral. O mesmo vale para o controle de temperatura em centros de usinagem ou a climatização de ambientes residenciais e comerciais”, comenta.
Sua colega de profissão, a técnica em refrigeração e climatização Marilon Barbosa entende que, em meio ao grave momento pelo qual o País atravessa, o profissional do HVAC-R será lembrado também pelos serviços essenciais prestados à sociedade.
“Um deles é o PMOC, que visa eliminar o risco de doenças causadas por fungos, ácaros e bactérias presentes nos sistemas de climatização, quando não existe uma rotina de manutenção adequada”, argumenta.
Da mesma forma como ocorre em diversos outros setores da economia, o mercado do frio tem, no avanço das tecnologias de refrigeração e climatização, uma de suas maiores tendências para os próximos anos.
“E esse progresso vem exigindo que os profissionais busquem mais conhecimento, frequentando cursos, treinamentos, redes sociais e sites, mas como não poderia deixar de ser, a maior dificuldade encontrada pelos técnicos na hora de capacitar-se é que nem todos têm acesso a todas essas oportunidades”, pondera Marilon, reconhecendo que vontade de fazer a diferença na sociedade é uma virtude que não falta aos refrigeristas brasileiros.