Até 2050, haverá cerca de 5,6 bilhões de condicionadores de ar instalados em todo o mundo, contra os 1,6 bilhão em uso agora, de acordo com o relatório The Future of Cooling (O Futuro da Climatização, em tradução livre), estudo publicado em maio pela Agência Internacional de Energia (AIE).
Isso equivale a 10 novos equipamentos vendidos a cada segundo nos próximos 30 anos. “Com o aumento da renda, as vendas de aparelhos de ar condicionado tendem a disparar, especialmente no mundo emergente”, afirma o economista Fatih Birol, diretor executivo da organização não governamental (ONG) que reúne 30 países, incluindo o Brasil.
O ar-condicionado é um eletrodoméstico comum em nações como Japão, Coreia do Sul, EUA, Arábia Saudita e China. Mas apenas 8% das 2,8 bilhões de pessoas que vivem nas partes mais quentes do mundo dispõem dessa tecnologia de climatização.
Atualmente, o Japão possui 90 unidades de ar condicionado residenciais para cada 100 pessoas, enquanto a Índia tem apenas uma. A Coreia do Sul, revela o estudo, tem 30 milhões de condicionadores de ar residenciais – o dobro do Brasil, cuja população é quatro vezes maior que a do país asiático.
Por esse motivo, indústrias como a Gree – maior fabricante de sistemas de climatização do mundo – pretendem fazer novos investimentos para fortalecer sua presença no País.
Para este ano, a empresa chinesa projeta 30% de expansão, tanto no mercado brasileiro quanto no resto do mundo.
“Podemos atribuir esta forte expansão aos constantes investimentos em novas tecnologias e desenvolvimento de produtos inovadores, entre outros aspectos”, explica Alex Chen, diretor comercial da companhia no Brasil.
De acordo com a multinacional, os ares-condicionados estão se tornado cada vez mais populares no País.
Recuperação do setor
Após a queda geral nas vendas globais em 2016, principalmente devido ao impacto da desaceleração na China, o setor registrou recuperação em 2017, com vendas totais – de todos os tipos de ar-condicionado – atingindo US$ 102 bilhões, aponta um estudo da BSRIA, uma empresa britânica de pesquisas.
Segundo o documento, os aparelhos do tipo split continuam a dominar o mercado de climatização. No ano passado, foram vendidas cerca de 113 milhões de unidades externas em todo o mundo.
Devido aos recursos mais modernos, os splits oferecem maior capacidade de refrigeração, seus modelos chegam a 60 mil BTU/h com menor ruído ambiente, uma vez que a unidade condensadora é instalada na parte externa dos edifícios; e a tecnologia inverter, que proporciona mais economia no consumo de energia.
No ano passado, a China e os países da região Ásia-Pacífico responderam por 70% das vendas de splits.
“Olhando para os 10 principais mercados de ar condicionado do mundo, não houve muita mudança no topo deste ranking. A China continua a dominar o setor, seguida pelos EUA e, depois, pelo Japão”, diz David Garwood, analista de inteligência de mercado da BSRIA.
Segundo dados da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), os splits estão instalados em 72% das residências e empreendimentos que contam com ar-condicionado no Brasil, embora menos de 20% dos domicílios brasileiros tenham um aparelho do gênero.
De acordo com a entidade, o mercado nacional também voltou a crescer em 2017, após uma queda acumulada de quase 60% em 2015 e 2016.
“Esperamos uma retomada efetiva do segmento apenas a partir do ano que vem. Em 2018, devido às condições econômicas do País, acreditamos que nosso crescimento será de 10% em relação a 2017, valor ainda abaixo das expectativas dos fabricantes e revendedores”, informa o gerente de produtos da Panasonic, Luciano Valio.
Para o gerente de marketing e produtos da Daikin, Nilson Murayama, a retomada iniciada em 2017 mostra, entretanto, que a recuperação do setor não será tão lenta quanto todos esperavam. “O mercado está aguardando novidades para auxiliar no reaquecimento”, avalia.
Segundo ele, as vendas de equipamentos com inversores de frequência têm se consolidado e crescido a cada dia. “As tecnologias mais eficientes são a resposta da indústria para alcançar um crescimento sustentável nas próximas décadas”, ressalta.
Eficiência energética, o grande desafio
Em 2050, a quantidade de energia necessária para ligar todos os ares-condicionados instalados no mundo será igual à capacidade atual de geração dos EUA, da União Europeia e do Japão, aponta o estudo da AIE.
Enfim, o consumo de energia para climatizar ambientes deve triplicar nas próximas três décadas. Portanto, a busca por equipamentos mais eficientes tem sido a prioridade da grande maioria dos fabricantes.
O problema é que a eficiência energética entre os modelos de condicionadores de ar varia muito. Os vendidos na Europa e no Japão tendem a ser pelo menos 25% mais eficientes do que os comercializados nos EUA e na China, por exemplo.
Populações cada vez mais urbanas e envelhecidas provavelmente querem mais sistemas de climatização, e se a temperatura global continuar subindo como esperado, isso aumentará o consumo de ar-condicionado, prevê o documento.
Uma vez que áreas consideráveis do planeta devem sofrer aumentos de temperatura além do que o ser humano pode suportar, os sistemas de climatização tendem a tornar o mundo mais tolerável – ou até seguro – para se viver.
“Milhões de pessoas morrem todos os anos por falta de acesso a tecnologias de refrigeração, seja por perdas de alimentos, vacinas estragadas ou impacto do calor severo”, lembra Rachel Kyte, chefe da ONG Energia Sustentável para Todos (SEforALL, em inglês).
Anualmente, as ondas de calor matam cerca de 12 mil pessoas em todo o mundo. Até 2050, as mortes ocasionadas por esse tipo de desastre climático poderão atingir 260 mil pessoas por ano, a menos que os governos – principalmente as cidades – se adaptem a essa ameaça agravada pelo aquecimento global, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Produtividade e conforto térmico também estão inter-relacionados. Até 2050, projeta-se que as perdas de horas de trabalho em alguns países cheguem a 12% nas regiões da África subsaariana e da Ásia mais afetadas pelas mudanças climáticas, revelam dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
O grande paradoxo é que as emissões de dióxido de carbono (CO2) provenientes das plantas de produção de energia para manter os condicionadores de ar ligados ajudam a aquecer o planeta, tornando algumas dessas regiões quentes do globo ainda mais cálidas e o clima menos previsível, alerta a EIA.
“Estabelecer padrões mais elevados de eficiência para os sistemas de climatização é uma das medidas mais fáceis que os governos podem tomar para reduzir a necessidade de novas usinas, diminuir as emissões de CO2 e cortar custos ao mesmo tempo”, lembra o diretor executivo da ONG, Fatih Birol.
“É essencial que o desempenho dos sistemas de climatização seja priorizado. Os padrões de eficiência para a maioria desses novos equipamentos são muito menores do que deveriam ser”, acrescenta.
A AIE também alerta que grandes investimentos em novas usinas para atender à demanda de pico de energia durante a noite são necessários, e que a tecnologia solar fotovoltaica não será suficiente para supri-la.
De acordo com cálculos da ONG, padrões obrigatórios de desempenho energético poderiam reduzir pela metade o consumo dos ares-condicionados e economizar até US$ 2,9 trilhões em investimento, combustível e custos operacionais.
Novas tecnologias
Devido à necessidade de reduzir a demanda por energia, grande parte das indústrias do segmento tem colocado no mercado equipamentos com níveis cada vez maiores de performance energética.
Recentemente, a Trane lançou no Brasil uma linha de splits hi-wall de 9 mil a 24 mil BTU/h com compressor inverter e taxa de eficiência energética sazonal (SEER, em inglês) 16.
A eficiência sazonal é uma nova forma de medir a verdadeira eficiência energética dos sistemas de climatização ao longo de todo o ano. Esta nova medida proporciona uma indicação mais realista do desempenho energético e do impacto ambiental de um equipamento.
“Também lançamos nossa linha de multi-split inverter SEER 16, que promoverá a flexibilidade nas instalações, aliada à alta eficiência energética deste tipo de sistema”, informa Matheus Lemes, diretor de soluções ductless da subsidiária brasileira.
A linha Econavi – com modelos inverter nas capacidades de 9 mil, 12 mil, 18 mil e 22 mil BTU/h – é o destaque da Panasonic para o segmento de splits.
Segundo o fabricante, o inversor de frequência, em conjunto com a tecnologia Econavi – um sensor de presença inteligente que ajusta automaticamente a temperatura e evita o desperdício durante a ausência de pessoas no ambiente climatizado –, proporciona até 60% de economia de energia em relação aos modelos convencionais.
O Eco Garden Inverter, um dos destaques da Gree na Eletrolar Show deste ano, também pode gerar economia de energia de até 60%, segundo o fabricante.
As máquinas dessa linha possuem ainda as tecnologias blue layer e gold layer, que são utilizadas nas aletas dos aparelhos e aumentam a sua durabilidade contra a corrosão e oxidação, o que facilita o escoamento da água residual e evita a criação de camada de gelo.
Outro diferencial dos aparelhos da linha Eco Garden é que eles possuem quatro filtros em um, cujos agentes químicos são capazes de eliminar bactérias presentes no ar.
Durante sua primeira participação na maior feira de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e eletroportáteis da América Latina, a LG apresentou ao mercado seus splits dotados do compressor Dual Inverter.
“Esta tecnologia exclusiva da marca proporciona estabilidade e controle da velocidade mais amplo, o que garante um resfriamento até 40% mais rápido e até 70% de economia de energia”, ressalta o supervisor de produto de companhia no Brasil, Carlos Estevam.
“Nossa nova linha residencial conta com três grandes novidades: o LG Dual Inverter, o LG Dual Inverter Power e o LG Dual Inverter Artcool”, informa o gerente de ar condicionado residencial da empresa no País, Marcel Souza.
Seguindo com o conceito de casa conectada, o modelo LG Dual Inverter Artcool conta com o SmartThinQ, outra tecnologia exclusiva da multinacional. O modelo possui conectividade wi-fi e, por meio de um aplicativo, o usuário pode controlar, a distância, o funcionamento do ar-condicionado.
“É possível controlar o gasto de energia, receber notificações de uso e alertas de limpeza dos filtros do produto, por exemplo”, diz Souza.
Outro destaque no estande da empresa foi o Multi Inverter, sistema que alia design e conforto com economia de espaço, podendo agregar até cinco unidades internas a uma externa.
“Além do controle individualizado de temperatura, as máquinas desta linha podem ser conectadas aos sistemas de automação e controle dos edifícios”, salienta o gerente de vendas da área de ar condicionado comercial da LG, Anderson Bruno, lembrando que elas também contam com a tecnologia Smart ThinQ.
Outra empresa do setor que aposta na conectividade de seus produtos é a Elgin. “Lançamos recentemente o dispositivo wi-fi como um opcional para a unidade split Eco Power. Com ele, é possível fazer toda a programação da unidade a distância, como ligar, desligar, acionar o timer, o air swing etc. É muito fácil para o consumidor final configurar o wi-fi com a unidade instalada. Basta fazer o download do aplicativo no smartphone ou tablet e seguir as orientações em tela”, conta a gerente de produtos da empresa, Andrea Lima.
Recentemente, a Elgin também lançou uma condensadora de piso-teto compacta de 58 mil BTU/h. Com a tecnologia de microcanais, o tamanho do condensador foi reduzido em 35% e o peso está 30% menor, o que facilita sua instalação. Outra vantagem é a redução na quantidade de gás refrigerante no aparelho.
“Em breve, vamos lançar o Multi Split Total Inverter com um sistema de até cinco evaporadoras por unidade externa. O diferencial é que a unidade é totalmente inverter, ou seja, a máquina tem compressor inverter, motores de corrente contínua, válvula de expansão eletrônica e motor de passo para as aletas com corrente continua. Toda essa tecnologia se traduz em mais conforto com menos gasto de energia elétrica”, destaca.
No início deste ano, a Fujitsu introduziu no mercado brasileiro sua condensadora multiflexível compacta para seis ambientes, que dispensa o uso da caixa de distribuição e o tubo separador.
Segundo a empresa, o equipamento, que possui 45 mil BTU/h de capacidade, tem um compressor DC inverter 40% mais econômico que o dos aparelhos de ar condicionado convencionais da marca.
O fabricante informa que este sistema multiflexível ainda possibilita 148 combinações com evaporadoras distintas para atender aos requisitos dos mais diversos tipos de projeto de climatização residencial ou comercial.
Além disso, a máquina é adequada para espaços menores, devido às suas dimensões reduzidas – 99,8 cm de altura x 97 cm de largura x 37 cm de profundidade.
A evacuação do sistema ainda pode ser feita a partir de uma válvula centralizada, o que poupa bastante tempo na hora da instalação, destaca a indústria.
Split com R-32 no Brasil
O próximo hi-wall inverter a ser lançado pela Daikin no mercado brasileiro virá com o fluido refrigerante R-32, que possui apenas um terço do potencial de aquecimento global (GWP, em inglês) do R-410A.
O equipamento, que tem 32 mil BTU/h de capacidade nominal, também contará com a classificação A de eficiência energética atestada pelo Selo Procel.
Segundo o fabricante, a máquina possuirá um sensor de presença com a nova tecnologia Intelligent Eye de duas áreas, filtro de titânio, controle remoto completo com iluminação (backlight), entre outras tecnologias.
Mas o maior destaque do aparelho fica por conta mesmo do R-32, fluido cuja pressão de trabalho é similar à do R-410A.
Segundo a Daikin, o R-32 possui capacidade de refrigeração volumétrica superior e densidade inferior às do R-410A, o que resulta em menor massa de fluido refrigerante para um sistema de mesma capacidade, reduzindo ainda mais o impacto ambiental.
Estima-se que, em todo o mundo, já existam mais de 6,5 milhões de splits com R-32, presentes em 28 países da Europa, no Oriente Médio, Ásia e Oceania. “O Brasil, certamente, não ficará de fora dessa tendência mundial”, afirma o gerente de marketing e produtos da empresa no País, Nilson Murayama, lembrando que a substância possui propriedades superiores, sendo a escolha natural para a substituição do R-410A.
“O R-32 tem performance energética excelente em equipamentos de ar condicionado. Além disso, o ferramental requerido é compatível com o do R-410A”, destaca.